quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Romero Rodrigues, candidato ideal para Veneziano

Romero Rodrigues: candidato ideal para Veneziano?
Ninguém duvida da sagacidade política de Cássio Cunha Lima, mas se ele não começar a agir para fugir da armadilha que o prefeito Veneziano Vital construiu a partir da entrada em cena da candidatura de Tatiana Medeiros à prefeitura de Campina Grande (clique aqui para ler o que eu já escrevi sobre isso), o ex-governador e atual Senador pode experimentar mais uma derrota na cidade, novamente depois de ter conquistado expressiva vitória em 2010.

Enquanto insistir em manter a candidatura do deputado federal Romero Rodrigues, Cássio estará apenas corroborando a estratégia venezianista centrada no esforço de evitar que a disputa de 2012 na Rainha da Borborema descambe para o tradicional embate entre os grupos políticos da cidade.

E as medidas de Romero Rodrigues parecem se encaixa perfeitamente no manequim com o qual Vital do Rego pretende vestir as roupas do tradicionalismo político, falando para aquele eleitorado que já deve estar cansado dos embates puramente familiares.

Acreditando na força de sua administração e na jovialidade de sua liderança – atributos que Tatiana Medeiros parece representar com perfeição, – Veneziano Vital mostra sua ousadia ao apostar numa personagem que pretende ser uma novidade política.

Mulher, médica, Secretária de Saúde de Campina e sem ter participado até agora do jogo eleitoral, Tatiana provoca a sensação de ares novos que a política brasileira, e nordestina em particular, respira por todos os lados.

Já Romero Rodrigues parece ser o oposto disso. A começar pelo parentesco que tem com Cássio Cunha Lima. O que em outros tempos poderia ser uma vantagem, hoje pode soar muito pouco impessoal, cheirando mesmo a familismo, situação que é cada vez mais incompatível com a política das grandes cidades. As famílias que não se ”modernizam” na política estão nítida decadência no Nordeste.

E o estilo briguento, sem mostrar conteúdo, faz Rodrigues parecer inevitavelmente antipático e arrogante, o que, caso se consolide, é uma imagem perigosa demais para qualquer candidato que dispute uma eleição majoritária.

Nesse ponto, Romero Rodrigues, por exemplo, é o avesso de Cássio Cunha Lima, cujo poder de sedução política vai muito além do que ele exerce sobre as mulheres.

Entre outros erros canhestros, por exemplo, Romero foi contra, sem argumentos plausíveis, o fim do lixão de Campina Grande e a criação de um aterro sanitária fora das fronteiras de Campina Grande.

O eleitor deve ter se perguntado imediatamente: como um parlamentar pode se opor ao fim de um lixão na cidade que deseja administrar? Ou seja, fazer oposição não parece ser o forte de Romero Rodrigues.

Para completar, Romero Rodrigues tem toda a chance de ser engolfado pela antipatia crescente do eleitorado campinense em relação ao governador Ricardo Coutinho.

Prisioneiro da aliança e dependendo da máquina estadual para enfrentar a disputa em Campina Grande, o PSDB terá de partilhar esse desgaste, purgando o ônus para ter direito ao bônus. E Rodrigues, deputado do partido, se encaixa perfeitamente no papel de judas que o eleitorado pode escolher para dar a resposta a RC em Campina.
Em suma, Cássio precisa urgentemente de outro candidato. Ou candidata.

Eu volto depois para tratar dela.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Milona, asma e encontro de saberes: porquê essa questão interessa à Paraíba

Segundo me informou por telefone, a professora Margareth Diniz recebeu, desde a última sexta-feira, centenas de mensagens de pessoas acometidas por doenças respiratórias e de pesquisadores brasileiros que atuam no Brasil e no exterior, parabenizando-a pela pesquisa científica que resultou na descoberta de um tratamento para asma, a partir da utilização da planta Milona, ou Orelha de orça.

É o reconhecimento da importância da referida descoberta, apresentada a todos o país no Globo Repórter na última sexta-feira. Independente de questões políticas, insisto que a sociedade paraibana deveria tratar essa questão como ela realmente merece, cujo interesse social é insofismável. 

Milona, asma e encontro de saberes
Quantos paraibanos sofrem de asma hoje? Quantas crianças padecem desse mal causando noites insones e preocupadas para os pais? Todos tem a dimensão do que representa a descoberta de um tratamento eficaz para essa doença, tão nociva ao bem estar físico e mental das pessoas?

E para nossa autoestima de paraibanos, tão depreciada nos últimos tempos? Um grupo de pesquisadores paraibanos, de uma universidade paraibana, pesquisando uma planta do nosso bioma mais característico e que forma parte de nossa identidade de nordestino, diante dos resultados de uma pesquisa cujo nascedouro se localiza no uso secular que as pessoas mais simples do Sertão paraibano fazem para tratar seus males respiratórios.

É disso que também se trata: desse encontro magnífico entre o saber popular e o saber científico, das verdades empíricas dos usos naturais "escondidos" na natureza e passados de geração em geração pela tradição oral das pessoas mais simples, elas próprias aparentemente tão distantes da ciência.

Nessa descoberta, por mais importância que tenham os pesquisadores, é o povo mais simples, cuja cultura e tradição são normalmente desprezadas, o principal sujeito desse conhecimento. É nessa sabedoria que encontramos o começo de tudo.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Walter Santos quer partidarizar eleição para Reitor da UFPB

A UFPB não depende do Governo do Estado 
para cumprir seu papel
O jornalista Walter Santos publicou matéria no site de notícias de sua propriedade (WSCom), “repercutida” imediatamente em sua coluna, fazendo ilações a respeito de uma possível intromissão do governador Ricardo Coutinho na eleição para reitor da UFPB.

É interessante registrar que a UFPB se tornou de repente objeto de grande interesse do citado jornalista, que vem se notabilizando em “noticiar” e comentar “fatos” que digam respeito à eleição para reitor que se aproxima. 

Aliás, o que não é nenhuma novidade, pois há exatamente quatro anos Santos procedeu da mesma maneira, noticiando e comentando com a mesma “isenção” que pratica hoje, sempre em benefício da atual administração da UFPB.

Intromissão? A pergunta é cabível porque Walter Santos não pertence à comunidade universitária da UFPB, mas age como se a ela pertencesse, tal a ânsia em divulgar fatos, notoriamente relacionados à candidata do reitor Rômulo Polari. 

Não que um jornalista ou qualquer cidadão seja impedido de expressar qualquer opinião sobre a UFPB. Aliás, defendo enfaticamente que não apenas pode como deve, porque, além de um órgão público, trata-se de uma universidade, que deve estar sempre de portas abertas e à serviço da sociedade. Mas, como jornalista e como cidadão o que se espera é que ele trate a instituição com um mínimo de isenção.

Falando nisso, eu não vi, por exemplo, uma linha sequer, nem muito menos qualquer matéria no WSCOM tratando de uma reportagem de grande interesse público e relevância social exibida no Globo Repórter da última sexta-feira tratando de pesquisas científicas com plantas de uso medicinal e tratamentos fitoterápicos.

Essas pesquisas estão sendo desenvolvidas por diversas universidades no país e podem, no futuro breve – algumas já com resultados positivos e práticos, – ajudar a milhões de pessoas com problemas de saúde.

Um dos destaques da reportagem foi o trabalho realizado por um grupo de pesquisa da UFPB com a Milona, uma planta originária da caatinga nordestina, cujo mecanismo de ação é eficaz no combate a doenças respiratórias, entre elas, a asma. Entre os pesquisadores, Margareth Diniz figurava com destaque.

Imagino que esse seria uma pauta interessantíssima para o WSCOM, não? Infelizmente, a resposta é negativa. Pelo jeito, o jornalista Walter Santos se interessa mais, como se diz por aí, pelo rame-rame da política partidária, pelo interesse mesquinho dos grupos políticos paraibanos, pela eterna disputa entre eles. 

Como parte expressiva da imprensa paraibana vem se notabilizando pelo partidarismo de suas posições, talvez Walter Santos sonhe em tornar a eleição da UFPB uma extensão dessa disputa, provavelmente para tirar de foco o que realmente estará em jogo na eleição para Reitor da universidade: os 20 anos em que um mesmo grupo administra a UFPB, cujo resultado tem sido uma progressiva perda de importância relativa de nossa universidade entre as universidades federais do país. 

Eu rejeito enfaticamente esse tipo de estratagema, e escrevo isso com a autoridade de um crítico do governador Ricardo Coutinho e do seu governo, postura oposicionista que, aliás, eu só identifiquei recentemente no WSCOM. 

E cheguei a essa conclusão porque sei que Margareth Diniz é candidata não por conta de qualquer força externa à universidade, mas por ser ela uma inquestionável liderança universitária e acadêmica que, mesmo em meio às atribuições de administradora, continua a dar aulas, orientar e fazer pesquisas, como comprova a mencionada reportagem do Globo Repórter.

Por fim, cabe um último registro. A UFPB não depende do Governo do Estado nem de qualquer Prefeitura para funcionar e exercer o papel social que a ela é – ou deveria ser – reservado. Sendo Ricardo Coutinho, Cássio Cunha Lima ou José Maranhão a UFPB continuará a desenvolver seu trabalho, porque felizmente esse é um trabalho que não depende de ninguém, a não ser dos milhares de docentes, servidores e estudantes que trabalham e estudam na instituição.

E mesmo diante do Governo Federal, deve manter a autonomia necessária, assegurada pela Constituição brasileira e pela união de sua comunidade. E será esta última, e só ela, quem definirá os destinos da UFPB na eleição que se aproxima. Por mais que alguns desejem o contrário.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pesquisa da UFPB exibida pelo Globo Repórter mostra relevância social da universidade

Na noite da última sexta (24/02), o Globo Repórter exibiu uma reportagem sobre pesquisas científicas com plantas de uso medicinal e tratamentos fitoterápicos e os bons resultados deles no melhoramento da saúde dos pacientes envolvidos nas pesquisas.

São extraordinários exemplos que demonstram tanto a importância e a relevância social da universidade quanto o aproveitamento do conhecimento popular para a ciência. Todos os medicamentos apresentados, em espaços tão distintos quanto Santa Catarina e Paraíba, foram resultado desse encontro salutar entre o conhecimento científico e o conhecimento acumulado por gerações, cuja base é a empiria do povo em sua experiência secular. Quem não sabe de um chazinho que cura esse ou aquele mal?

No caso do Globo Repórter de ontem, a divulgação desses trabalhos mostra a importância e a relevância social da universidade pública e de uma pesquisa que enfrente os principais dilemas do país, mas, especialmente, em um estado como o nosso. E, mais ainda, o quanto é importante que a sociedade reconheça a importância que tem a universidade. 

No caso da UFPB, a reportagem destacou pesquisas realizadas com a Milona, uma planta da Caatinga nordestina, que no sertão é conhecida como orelha de onça. Depois de 20 anos de trabalho, o grupo de pesquisadores, que inclui Margareth Diniz, a atual diretora do Centro de Ciencias da Saúde, está prestes a anunciar resultados que prometem revolucionar o tratamento de doenças respiratórias, entre elas a asma, e a depressão.

Um fato a destacar é a reconfortante constatação de que, mesmo com as imensas atribuições de uma diretora de centro, Margareth Diniz não abandonou suas pesquisas que, como demonstrou a matéria em que Diniz é destaque, continuam a pleno vapor e com grandes resultados para a sociedade. 

Veja abaixo parte da reportagem exibida ontem pelo Globo Repórter.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Luiz Couto pode ser candidato caso candidatura própria do PT seja aprovada?

Luiz Couto tem hoje apenas um ou dois caminhos?
O interminável embate interno do PT continua a todo vapor. Nese partido as feridas passadas ao invés de sararem com o tempo parecem se tornar cada vez mais vivas e doloridas.  

A situação é tão grave que já não é tão absurda a consideração de que, na Paraíba, não se pode mais considerar o PT um partido, a não ser num sentido puramente formal, especialmente se considerarmos a condição que o PT ostenta hoje. 

Nesse imbróglio existem muitas dúvidas, mas especialmente uma tem me incomodado nos últimos dias: o PT continuará dividido em qualquer hipótese ou existe alguma possibilidade  do partido construir uma mínima unidade interna? 

Não me parece racional e nem politicamente justificável, principalmente quando se trata, repito, de um partido com as tradições do PT, que seja considerado quase como uma fatalidade que, qualquer que seja o resultado da disputa que se realiza no dia 18 de março – dia em que os filiados petistas vão às urnas para decidir se o partido lança candidatura própria para prefeito de João Pessoa ou se mantém a aliança com o PSB pessoense – o partido se mantenha dividido e em palanques distintos.

Entretanto, um detalhe pouco mencionado por aqueles que observam de longe e de maneira interessada os destinos do PT pessoense é esse: se a margem de manobra dos que são favoráveis ao lançamento da candidatura própria, em caso de derrota, são limitadíssimas – a não ser torcer pela remotíssima e improvável hipótese de uma intervenção da direção nacional, – no caso da vitória da tese do lançamento da candidatura própria, a margem de manobra do grupo liderado pelo deputado Luiz Couto ainda existe, e são bastante plausíveis.

Considerando essa última hipótese, a decisão petista do próximo dia 18 não será se lança ou não Luciano Cartaxo candidato a prefeito, mas se lança ou não um candidato. Essa será a primeira batalha que Cartaxo e seu grupo terão que vencer. Mas, pode ser que não seja a última, nem a mais difícil. 

E se Luiz Couto, inquestionavelmente a maior liderança petista de João Pessoa – e que foi o deputado federal mais votado da capital na última eleição – resolve finalmente apresentar o seu nome para a disputa depois de aprovada a tese da candidatura própria? Essa é uma hipótese pode ser descartada? Acho que não e vou explicar porquê.

Primeiro, porque será essa uma tese que ainda tem e terá muita força interna, tanto pela liderança de Couto quanto pela perspectiva que ela aponta: a de ter um candidato com maior viabilidade eleitoral, promover a “unidade petista” já que ela viabilizaria, finalmente, um ponto de unidade que poderia levar o PT a se unir em torno de um projeto comum a todos os grupos, além de oferecer o que muitos petistas desejam hoje – a volta do tal retorno ao “protagonismo petista”. 

Esse movimento funcionaria, inquestionavelmente, como uma espécie de xeque-mate no grupo oposicionista que apoia a candidatura de Luciano Cartaxo, que nem de longe teria as qualidades eleitorais que ostentaria a de Luiz Couto. Com o adicional de que, se a candidatura de Luciano Cartaxo amplia na direção de Cícero Lucena e José Maranhão, a de Luiz Couto amplia na direção do bloco que apoia o governador Ricardo Coutinho.

Uma segunda motivação que poderia justificar esse movimento seria para assegurar que a candidatura do PT em João Pessoa não seja de oposição, evitando colocar o tempo de TV do partido a serviço da crítica à gestão do PSB, e venha a evitar, caso não obtenha êxito no primeiro turno, que ela não componha o bloco oposicionista no segundo. 

Um terceiro e último aspecto que não pode ser desprezado tem a ver com a aliança nacional do PT com o PSB, que seria fortemente reforçada em caso de vitória em João Pessoa de um prefeito petista defensor da manutenção da aliança com Eduardo Campos – e de sua candidatura a vice-presidente na futura chapa de Dilma Rousseff, – em prejuízo da aliança com o PMDB, que é a raiz das tensões entre PSB e PT desde 2010.

Enfim, quem queria uma resposta para o silêncio de Luiz Couto dos últimos dias, pode encontrar uma resposta tanto no erro que RC comete ao não oferecer antecipadamente a vaga de vice ao PT, fragilizando o grupo de Couto na disputa interna, como na preparação para um movimento que se consolida tanto quanto se fortalece a tese da candidatura própria no interior do PT. 

Ou seja, para quem acha que a querela interna do PT terminará em 18 de março pode ter uma surpresa: ela pode estar apenas começando. E capítulos muito mais interessantes podem estar por vir. Vamos esperar para ver no que isso vai dar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Resultado da eleição em Campina define futuro da aliança Cássio-Ricardo

Até quando veremos esses sorrisos amarelos?
Em dificuldades políticas, mas sem alternativa, Cunha Lima está entre a cruz e a espada. Apoio decisivo na eleição de RC, em 2010, o ex-governador mantem-se equidistante das polêmicas que envolvem decisões do atual governo.

Cunha Lima prefere o silêncio, justificado pelas dificuldades de saúde do pai, quando a única posição cabível seria a crítica; ou uma uma postura apaziguadora, quando importantes aliados seus, como a reitora da UEPB, Marlene Alves, estão em rota de coalizão com o governador.

Cunha Lima, enfim, voltou a se sentir como um reles mortal, depois que os meses no limbo da indefinição sobre seu futuro político por conta da lei do Ficha Limpa permitiu-lhe a pose de São Sebastião martirizado pelas flechas da justiça e dos adversários políticos.

De posse do mandato de Senador, Cássio poderia exercitar de vez em quando a independência que uma posição dessa relevância lhe confere para se posicionar sobre temas de grande importância para a Paraíba. Ao contrário, Cunha Lima faz-se de morto, desejando ardentemente ser temporariamente esquecido, especialmente por seus aliados mais desamparados, pelo menos até o fim de 2012.

Sem ter onde acomodar a imensa corte que o cerca, a não ser no governo estadual, Cunha Lima é hoje, na realidade, um prisioneiro da aliança com Ricardo Coutinho, mesmo que isso lhe custe um imenso desgaste político, que pode crescer tanto quanto diminua a popularidade de RC. Além da acomodação de quadros, Cunha Lima não pode prescindir do peso da máquina do governo estadual na eleição campinense.

Como Cunha Lima parece não estar acostumado a enfrentar disputas eleitorais apenas com suas próprias forças, mesmo na cidade onde tem imensa e inquestionável liderança, ele tende a engolir em seco as dificuldades políticas causadas pela aliança e o apoio que mantém ao atual governador, especialmente do seu grupo na Assembleia Legislativa, principal suporte parlamentar do governo RC. E o motivo é o caráter estratégico que se reveste a eleição de Campina Grande para o futuro do projeto cassista.

Uma possível vitória do candidato apoiado pelo ex-governador alterará substancialmente a relação de forças no campo da aliança Cássio-RC. Com a prefeitura na mão, Cunha Lima não dependerá tanto de RC e terá mais “liberdade” para assumir posicionamentos políticos mais convenientes do ponto de vista político, especialmente porque a partir daí estará em pauta as composições visando a reeleição de RC. Ou seja, fortalecido Cássio, é provável que RC comece a compartilhar mais as decisões administrativas.

Caso derrotado, Cunha Lima tanto pode aumentar sua dependência política em relação a RC, como, paradoxalmente, pode leva-lo rompê-la, pois a manutenção dela se constituirá num fardo político pesado demais a ser carregado até 2014.

Nesse caso, passa a ser factível um novo movimento cassista: agora em direção a Veneziano Vital, justificado em nome dos interesses maiores de Campina Grande.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Campina, Veneziano e Tatiana

Tatiana Medeiros: mulher, técnica e candidata de Veneziano
Fui professor da UEPB em Campina Grande por quase quatro anos antes de vir para UFPB em março de 2003. Nesse período, tentei entender a cidade e, principalmente, seu comportamento político.

A primeira impressão, que se consolidou com o tempo, é de que maioria dos habitantes de Campina é envolvida por um amor quase que filial ao seu território, um apego aos valores de uma grandeza que remonta a meados do século passado quando a cidade foi uma das maiores do interior nordestino e, em termos econômicos e culturais, a mais importante da Paraíba.

O campinismo é um fenômeno cultural que merece um largo estudo, especialmente por conta de suas ramificações com a política eleitoral. A família Cunha Lima, por exemplo, soube com muita competência mobilizar esse sentimento em favor de seus projetos eleitorais, ajudada, claro, por ter tido a oportunidade de lançar para o Governo da Paraíba candidatos que eram não apenas “campinenses”, mas fortemente identificados com esse “espírito”: Ronaldo, em 1990, e Cássio por duas vezes, em 2002 e 2006, que disputaram aquelas eleições contra “forasteiros”.

Por algum tempo, o “campinismo” foi identificado com “cunhalimismo”, e isso ajudou a criar o mito de que os Cunha Lima eram imbatíveis em Campina Grande, cidade que governaram de forma ininterrupta por 20 anos. Isso até Veneziano Vital entrar em cena na eleição para prefeito de 2004.

Veneziano foi a pessoa certa, no tempo e lugares certos. Encarnando a renovação diante de um ciclo político que dava claros sinais de esgotamento, ciclo que aparentemente se rejuvenescera depois da esmagadora vitória cassista na cidade em 2002, Veneziano soube mobilizar a cidade e conquistar a alma do campinismo que não era cunhalimismo e vencer uma batalha que, no começo, parecia impossível.

Nascia ali uma liderança que, finalmente, podia rivalizar em prestígio com a família Cunha Lima, prestígio que foi confirmado em 2008, quando Veneziano Vital foi reeleito enfrentando o peso da máquina estadual e a figura em pessoa do então governador Cássio, que se mudou de mala e cuia para participar da campanha na cidade.

Em 2010, Veneziano Vital sofreria nova derrota eleitoral na cidade, novamente para o governo, o que levou alguns a concluírem como certa a derrota do candidato/a do prefeito campinense em 2012 e o inevitável retorno da Prefeitura de Campina Grande ao controle da família Cunha Lima.  

Assim como acontecera nas duas eleições anteriores (2004 e 2008), que foram precedidas também de grandes derrotas eleitorais para o governo do estado (2002 e 2006), a eleição de 2012 em Campina apresenta-se hoje aberta. Primeiro, porque será um enfrentamento entre “campinenses”; segundo, porque a gestão de Veneziano Vital terá o que mostrar aos eleitores; terceiro, porque o desgaste do governador Ricardo Coutinho, cuja votação obtida na cidade foi decisiva para que este vencesse a disputa de 2010, pode ter um efeito negativo para os seus aliados na cidade.

Associado a esses aspectos, Vital do Rego recusou estrategicamente o enfrentamento pretendido pelos adversários e fugiu da armadilha de uma confrontação entre tradicionais políticos da cidade, lançando a Secretária de Saúde, Tatiana Medeiros.

Tatiana tem vários atributos valorizados em candidatos depois da ascensão de Dilma Rousseff à presidência. O primeiro deles é que ela não é um candidato, mas uma candidata; o segundo é que Tatiana nunca disputou uma eleição e sua ascensão decorre do fato de ser ela um quadro “técnico” da equipe com a qual Veneziano Vital administra a cidade, o que vem a ser esse um terceiro atributo.

Ou seja, Tatiana Medeiros vai ser valorizada por ser mulher, técnica e não pertencer a nenhuma família tradicional da política campinense. Esses aspectos, obviamente, não decidem eleição, mas ajudam na estratégia de focar o debate no julgamento da administração de Veneziano Vital, e não na disputa entre os grupos políticos na cidade, o que, como eu disse, seria uma armadilha difícil de ser superada.

Além disso, Tatiana Medeiros, pelo que já escutei em entrevistas, tem uma boa retórica, mostrando-se capaz de expor com clareza os dados e avanços da administração de Veneziano Vital.

Esse é o principal passaporte para a candidata para vencer as eleições e é disso que resulta a força de sua candidatura: expor o portfólio administrativo de Veneziano Vital e confrontá-lo com o do seu principal antagonista, Romero Rodrigues, deputado federal do PSDB e primo de Cássio Cunha Lima.

Essa é a disputa real em Campina e essa é a polarização que interessa a Tatiana Medeiros.

O que me remete a uma última observação: Tatiana Medeiros deve esquecer Daniela Ribeiro, cujo fôlego limitado não a credencia para ir ao segundo turno. Polarizar com a deputada do PP só interessa a esta última, que tem como objetivo inicial impedir que sua candidatura seja consumida pela polarização entre o Tatiana Medeiros e Romero Rodrigues.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Proposta de pesquisa é senha para Bandeira sair do páreo

Bandeira orienta RC em debate: RC precisa dele tanto quanto ele de RC
A recente declaração do vereador do PPS, Bruno Farias, ratificada em seguida pelo próprio Nonato Bandeira, em defesa de uma pesquisa para solucionar o que parecia ser um impasse na base ricardista em João Pessoa é a senha para a retirada da candidatura de Nonato Bandeira. 

Antes, o tom era de que Bandeira seria mais uma opção do eleitor e dos partidos da base de apoio ricardista, ou seja, que o Secretário de Comunicação do Governo da Paraíba iria para a campanha independente da benção de RC.

A mudança sinaliza muito mais do que uma alteração no discurso, mas a senha para a desistência de Nonato Bandeira, não por acaso anunciada imediatamente após uma viagem de alguns dias em que Bandeira e RC estiveram juntos, e conversando muito.

A presumível desistência de Bandeira é, a rigor, um reconhecimento de suas limitações para seguir em frente. Confrontar o governador na eleição da capital significava, para Bandeira, mais do que uma simples divergência, seria um perigoso diversionismo em relação aos objetivos estratégicos do governador.


Além de rachar a base de apoio governista, a candidatura de Bandeira colocaria em risco a estratégia de RC de conduzir a disputa para uma polarização, se possível com o menor números de candidatos.


A proposta de pesquisa é, na realidade, pode ser encarada como uma saída honrosa que o governado ofereceu para Nonato Bandeira, cujos serviços são e continuam imprescindíveis a RC. 

Mas é só o que vai parecer. No final dessa pendenga, Nonato Bandeira, mesmo na desistência, sairá fortalecido. Mostrou que não é submisso às determinações do governador, que foi confrontado publicamente e forçado a fazer um acordo com seu secretário.

Além disso, Bandeira conseguiu, como grande articulador que é, unir em torno de si uma grande quantidade de lideranças e partidos, inclusive Cássio Cunha Lima, principalmente, e mostrou que sua presença é fundamental para o governo, que perdeu várias batalhas de comunicação durante sua ausência.


Nonato Bandeira aparentemente foi submetido, mas é preciso considerar o contrário: RC é que foi obrigado a se dobrar diante do seu mais importante assessor. Bandeira abriu as asas para voos mais altos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Manoel Jr. quer um palanque, mas o desafio do PMDB é vencer a eleição em JP

Manutenção da candidatura de Manoel Jr serve mais ao PMDB ou a RC?
Numa eleição, a viabilidade de um candidato é medida pela expectativa de vitória que ele desperta, especialmente quando se trata de um partido nos moldes do PMDB, onde o que vale mesmo é a capacidade de arregimentar votos de cada candidato.

No PT, por exemplo, isso é diferente. Em 2000 e 2004, o partido tinha Ricardo Coutinho com excepcional potencial eleitoral em seus quadros, mas o partido o dispensou nessas duas ocasiões para atender interesses externos à legenda. Hoje, ao contrário, a banda do PT que preteriu RC prefere viver à sombra da frondosa árvore da prefeitura e do governo do estado controladas pelo ex-petista. Coisas do PT...

Quanto ao PMDB, o partido vive hoje um aparente dilema. Eu digo aparente, porque não se trata de um problema real: se lança um candidato que já larga com 20% nas pesquisas, José Maranhão, ou se aposta em outro, Manoel Jr., que capenga abaixo dos 5%, sem demonstrar claramente que pode crescer durante a campanha ao ponto de se tornar competitivo.

Manoel Jr. defende a tese, em seu próprio benefício, de que as pesquisas qualitativas lhe beneficiam, o que é quase um silogismo: se Maranhão é mais rejeitado e Manoel Jr. menos, logo Manoel Jr. é o melhor candidato.

Não que a rejeição deva ser um dado a ser desprezado. Maluf, por exemplo, que tem hoje algo próximo aos 40% de rejeição em São Paulo, dificilmente pode almejar qualquer possibilidade de vencer uma eleição majoritária na cidade. 

Não é o caso de José Maranhão, que pontuou na última pesquisa 19% de rejeição, um ponto a mais que Cícero Lucena, que teve 18%. Para alguém com o tempo de exposição que tem José Maranhão na política, que já foi governador por oito anos, ter esse nível de rejeição não é nada de anormal.

Qual a rejeição de Cássio Cunha Lima, o ídolo de todas as torcidas paraibanas hoje? Fosse por isso, Lula jamais teria sido eleito. Até 2002, Lula manteve quase que inalterada uma rejeição que nunca foi inferior aos 30%, o que levava muita gente a avaliar que o petista jamais seria eleito.

Se invertermos o raciocínio, se 30% rejeitavam Lula, 70% estavam não desconsideravam a hipótese de dar-lhe o voto. E foi assim que Lula teve 61,2% dos votos em 2002, mesmo mantendo um índice de rejeição de 30% durante toda a campanha. O Brasil naquele ano votou em Lula, mas votou também contra o governo de FHC.

O agravante, no caso de Lula, era – e continua sendo – que uma parte dos que o rejeitavam derivavam sua avaliação de um preconceito de classe. Não é o caso de Maranhão, apesar de que uma parte da classe média de João Pessoa lhe torce o nariz por conta de alguns vícios de linguagem (“trankilo” e etc).

Assim, o mesmo que vale para Lula, em tese, vale para José Maranhão. Porque imagem tanto pode ser construída como pode ser desconstruída. Isso vai depender da campanha. Maranhão tanto pode sair da campanha com uma nova imagem de político consistente, associada a de bom administrador que já tem, como pode sair arruinado definitivamente e com a aposentadoria política decretada por antecipação.

Por outro lado, aquilo que é a fonte da rejeição maranhista – a exposição – é também aquilo que impulsiona sua votação inicial, mesmo sem a campanha nas ruas, trunfo que Manoel Jr. nem de longe tem.

O deputado federal tem uma imagem ainda a ser “construída”. Como ninguém sabe o que pode sair do caldeirão dos marqueteiros, que tal essa: o que o peemedebista tem a oferecer ao eleitorado? Sua experiência administrativa, que se resume a ter sido prefeito de Pedras de Fogo, uma cidade com menos de 30 mil habitantes? Sua trajetória partidária? Ou ele acha que a exposição de seu jovem rosto por si só resolve o problema, desconsiderando o fato de que o atributo político “juventude” está desmoralizado desde Collor de Melo, apesar de a Paraíba tê-lo tardiamente revigorado em 2010?

Enfim, ao que parece, o deputado Manoel Jr. – essa hipótese não deve ser afastada também quando se fala da candidatura de Luciano Cartaxo, no PT – parece querer apenas um palanque para recauchutar sua liderança num projeto que, para o PMDB, pode se converter numa aventura, cujo resultado mais previsível pode ser mais um desastre eleitoral no maior colégio paraibano.

Quanto à candidatura de José Maranhão, mesmo que ele permaneça estacionado nos 20%, ela ajuda a assegurar pelo menos a realização de um segundo turno num quadro de acirramento e afunilamento da disputa, caso os dois principais candidatos da oposição sejam mantidos no páreo, o que, a preço de hoje, é que tende a acontecer. Mesmo para o projeto da oposição, a candidatura de Maranhão é mais interessante.

E para um partido de larga tradição política na Paraíba e com pretensões de retomar o controle do estado em 2014, como o PMDB, ter um candidato competitivo em João Pessoa é estratégico.

Um palanque forte em que não apenas tenha um candidato majoritário forte, mas que também ajude na eleição dos vereadores, algo que Manoel Jr. não pode, por enquanto, oferecer. Além de outros apoios que um candidato com viabilidade eleitoral tende a receber.

Enfim, a maneira mais clara de Manoel Jr. ajudar seu partido é retirar sua candidatura e evitar dar continuidade ao “fogo amigo”, que sempre é potencializado pela imprensa governista. Diferentemente disso, ele será apenas joguete nas mãos dos ricarditas. Consciente ou inconscientemente.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Estelizabel não é um poste

Estelizabel Bezerra: de besta ela não tem nada
Quem imaginava que Estelizabel Bezerra não tinha qualidades como candidata pode começar a mudar de opinião após ter assistido à entrevista que a candidata do PSB à prefeitura de João Pessoa concedeu ontem ao programa Conexão Master.

Para quem não a conhecia – e isso inclui muita gente, – foi surpreendente se defrontar com a desenvoltura da escolhida de RC. Tranquila, didática e, por vezes, irônica, Bezerra também mostrou que sabe seguir bem um script.

Tratou de vários temas – alguns que certamente serão espinhosos durante a campanha, – mas em nenhum momento mostrou-se abalada ao responder aos entrevistadores e twitteiros que participam do programa.

Sobre a defesa da descriminalização do aborto, por exemplo, Estelizabel não fugiu do assunto e enfrentou-o sem medo. Mostrou dados que estabelecem a relação entre as tentativas de abortos mal feitos e a mortandade de mulheres, especialmente as mais pobres, tentando afastar o argumento moral que normalmente constitui a base dos que condenam a prática, acrescentando – no início da conversa – que era contra o aborto, mas que este deveria, para além do julgamento moral, ser tratado como uma questão de saúde pública.

Enfim, nesse ponto é bom os adversários terem cuidado ao levantar o tema durante a campanha para evitar serem empurrados para o gueto do conservadorismo, como aconteceu a José Serra em 2010.

Entretanto, Estelizabel que se cuide: seu argumento não acrescenta nada a esse verdadeiro embate de surdos que é a discussão sobre o direito a um aborto seguro e, se essa questão não frequentar os programas de TV, ela deve aparecer com força nas igrejas na forma de sermões de pastores e padres mais radicais.

Um outro assunto que a candidata de RC tratou foi a desapropriação da Fazenda Cuiá. Sem entrar no mérito de suas justificativas, Bezerra mostrou que fez bem o dever de casa, inclusive porque a ação da prefeitura passou por suas mãos, como ela mesma disse, ao relacionar o “Caso Cuiá” a outros processos de desapropriação que a Prefeitura fez durante a sua gestão na Secretaria de Planejamento.

Durante a entrevista, Estelizabel deixou claro que pretende evitar que o debate sobre corrupção ganhe relevo no seu discurso eleitoral. A candidata do PSB propôs enfaticamente que o debate programático seja priorizado, aliás, nada mais conveniente para um candidato de situação, o que sugere uma tática corretíssima. Só faltou alguém perguntar porque RC, o padrinho de Estelizabel, não seguiu esse conselho em 2010, detonando como pôde o governo de José Maranhão.

Uma outra escorregada que ela poderia ter dado foi quando, por outras razões alheias ao debate, surgiu a discussão sobre “nepotismo” e, sem ser instada a falar, Bezerra ensaiou uma crítica a essa prática, falando em impessoalidade, mas esquecendo que seu tutor político manteve irmãos na prefeitura, especialmente o mais dileto, Coriolano Coutinho, em cargos estratégicos da administração. Seria interessante que ela respondesse, por exemplo, por que a PMJP nunca fez aprovar na Câmara de Vereadores uma “lei antinepotismo”. Ah, que inconveniente essa coisa de comparar o discurso com a prática...

No frigir dos ovos, Estelizabel Bezerra passou com folga no seu primeiro teste, mostrando que ela tem atributos, além de ser da confiança do governador, aspecto que deveria por fim ao oba-oba oposicionista que parece indicar que a disputa será fácil, entre outras coisas, por conta da candidata situacionista.

Estelizabel mostrou potencial para o debate. E esse é o primeiro atributo de uma boa candidata, coisa que Luciano Agra, por exemplo, nunca teve. Mas, se ela vai resistir à artilharia pesada de uma campanha, às contradições de sua própria administração e à comparação entre o discurso de campanha e a prática administrativa do seu partido, isso é uma outra história.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

As chances de Maranhão

Maranhão: o novo contra o "moderno"?
Existem vários motivos para que parte da estratégia ricardista se concentre em tentar polarizar a disputa para prefeito de João Pessoa entre a sua candidata, Estelizabel Bezerra, e o Senador do PSDB, Cícero Lucena – estratégia que Lucena corrobora porque lhe beneficia.

O primeiro deles é esvaziar outras potenciais candidaturas, especialmente a do ex-governador José Maranhão.

No esforço de escolher seus adversários, Estelizabel Bezerra, assim como já tentara fazer Luciano Agra, praticamente desconhece em suas entrevistas e declarações o candidato do PMDB, como se fosse natural desconsiderar um candidato que parte com 20% das intenções de voto.
Isso sem ter feito lá grande esforço. Ao contrário. Maranhão passou mais da metade do ano passado fingindo-se de morto e fugindo propositadamente da imprensa, e só colocou as orelhas de fora (ou o bigode, mais protuberante), quando, oxigenado pelas pesquisas, começou a notar que o sangue voltava a correr em suas veias de político.

Assim como fizera com Cícero Lucena, RC ressuscitara José Maranhão, ex-aliado e que tornou-se seu principal antagonista da eleição de 2010. Isso apenas tentando desconstruir no início do governo a imagem de bom administrador que, mito ou não, Maranhão soube cultivar durante suas passagens pelo governo estadual, erro que também cometeu Cássio Cunha Lima ao assumir o governo em 2002.

Foi assim que RC caiu em sua própria armadilha. Se Cícero Lucena é seu maior adversário em João Pessoa, no imaginário do eleitor pessoense Maranhão ainda o é no plano estadual. E não é por outro motivo que são os dois os maiores beneficiários do desgaste que o atual governador amealha em sua impopularidade crescente.

Especialmente em João Pessoa, que concentra a maior parte do funcionalismo público estadual. Como bom cristão novo, RC faz questão de renegar suas crenças anteriores para afirmar seu novo credo.

E isso ele faz com o ardor dos novos convertidos para que seus pares ideológicos não tenham dúvidas de qual é sua nova religião – e, para que ninguém se apresse em empreender um tom religioso ao dito acima, adianto que a metáfora é estritamente ideológica, mesmo que para muitos o liberalismo seja uma religião.

Mas, não foi só na confrontação com os servidores, cuja megalomania impede que o govenador enxergue o grave erro (político e administrativo) que comete, certamente emprestando seus ouvidos a essa turma de burocratas que infesta o governo na administração e nas finanças.

RC perdeu na opinião pública o primeiro embate, que, de tão simbólico, deve marcar não apenas o início, mas toda a obra ricardista: a “permuta” dos terrenos, onde ficou clarividente a opção oligárquica do seu governo – para os que pensam que oligarquia tem a ver apenas com coronelismo, como Jaldes Meneses bem lembrou em debate realizado pelo programa Polêmica Paraíba, do qual participei com ele e meu colega Derval Golzio: “oligarquia” é, etimologicamente, um governo de poucos.

Forma oligárquica que eu mesmo descrevi no meu livro Sudene e desenvolvimento sustentável:

“A indústria se fez [no Nordeste]. E, em vez dos antigos coronéis da cana-de-açúcar e do algodão, vestidos em seus casacos brancos, exercendo sua autoridade patriarcal, lustrosos empresários urbanos, metidos em seus ternos bem cortados, exercem, em associação com os capitais externos à região, um mandonismo impessoal tão implacável sobre governos e governados quanto o foi o poder dos antigos coronéis protegidos pelo poder familiar.”

Eis como um termo que sempre teve um uso quase unívoco ganha atualidade no moderno governo de RC. Só falta ele acusar seus adversários de “populistas”. Mas, isso é assunto para o fim do governo. Por ora, fiquemos na imprevisibilidade das disputas eleitorais que se avizinham.

Pois bem, assim como acontece com Cícero Lucena, Maranhão também extrai sua força eleitoral do desgaste ricardista. E a candidatura de Maranhão serve menos para o contraponto que RC quer fazer em 2012.

O embate no plano administrativo

Mesmo tendo governado a Paraíba por oito anos (1996-2002 e 2009-2010), José Maranhão não se desgastou como administrador. Seu desgaste provem da longevidade de sua liderança política e, claro, da idade, num ambiente político fortemente marcado por uma lógica cultural que valoriza de forma quase fetichista o “novo”.

Nas duas administrações que fez como governador, José Maranhão pode apresentar ao eleitor um portfólio das obras de seus governos. Além disso, deu continuidade e concluiu as obras de governos que sucedeu.

E, diferentemente do primeiro governo, quando manteve uma relação pouco amistosa e, por vezes, autoritária com os sindicatos de servidores e suas reivindicações, no segundo governo, Maranhão soube exercitar o diálogo e a negociação.

Certamente isso aconteceu devido a ampliação de sua base social de apoio, que passou a incluir sindicalistas por conta da aliança com o PT, o que destoa da postura arrogante e, como gosta de se referir a oposição, “imperial”, do atual governador, ele próprio originário do sindicalismo, o que se configura, para muitos, uma contradição incompreensível.

Além disso, Maranhão deu mostras de sua capacidade de administrar as finanças públicas em situação de crise. Tendo herdado apenas o “bônus” de pagar todos os planos de carreira aprovados no apagar das luzes do governo de Cássio Cunha Lima quando assumiu o governo no auge da crise de 2008-2009, Maranhão não tergiversou um minuto sequer em pagá-los, horando todos os compromissos herdados e, mais do que tudo, consolidados por ele.

Nem esse beneplácito é concedido a Maranhão pelos sindicatos de servidores ao ex-governador: ter sido ele o principal responsável pela efetivação e consolidação de uma conquista histórica para várias carreiras do serviço público estadual.

São aspectos que, apresentados aqui de maneira superficial apenas para dar suporte ao que o ex-governador peemedebista pode apresentar em seu favor no âmbito desse debate, compõem a trajetória administrativa de José Maranhão. Se serão transformados em trunfos ou não só o debate eleitoral pode dizer.

Enfim, se RC e o PSB buscarem uma comparação com Maranhão só poderá fazê-lo em termos estaduais, já que o ex-governador nunca foi prefeito de João Pessoa. E, nesse ponto, pelo menos por enquanto, RC perde feio.

O embate no plano ético

Não tenho conhecimento de nenhuma ação judicial que questione a idoneidade moral do ex-governador José Maranhão. Qualquer dúvida sobre isso não pode ter por base conjecturas ou presunções, muitas vezes fundadas no preconceito contra todo e qualquer político. Maranhão é honesto? Não tenho meios, claro, para responder com certeza que sim, mas também não tenho para responder que não.

Ou seja, diante do mar de lama que se aproxima, não ter nesse nenhuma acusação grave de corrupção no currículo, mesmo tendo assumido o governo estadual em três ocasiões, é uma vantagem inquestionável.

Senão, vejamos. Do que os ricardistas acusam Cícero Lucena? De ser o candidato da “Confraria”; em troca, recebem hoje um golpe que anula suas pretensões de continuarem sendo os guardiões da ética (alheia): há um rosário de suspeitas que pesam sobre a administração municipal e, pelo menos, uma certeza: os indícios de corrupção no Caso Cuiá se transformaram numa ação do Ministério Público contra a atual administração.

Nesse embate, Maranhão passa ao largo porque, principalmente em campanha, é recomendável não acusar os adversários sem prova. Ou seja, se o debate “ético” dominar a campanha, Maranhão, e também Luciano Cartaxo, podem colher os frutos de uma polarização ensaiada pelos dois outros candidatos, cujo debate sobre corrupção pode acabar não interessando, mas que pode se tornar inevitável.

A capacidade de ampliação no segundo turno

José Maranhão pertence ao PMDB, um partido central na aliança nacional do PT e no bloco de apoio ao governo da Presidenta Dilma Rousseff. Diferentemente, por exemplo, de Cícero Lucena, que é de um partido de oposição. O que estará em jogo num presumível segundo turno entre situação e oposição? Os votos do PT, se Luciano Cartaxo conseguir ser candidato.

A capacidade de agregar no segundo turno será um fator fundamental para manter os partidos de oposição unidos. Caso seja Cícero Lucena a ir para o segundo turno, como eu já afirmei aqui quando analisei as chances de Cícero, é quase certo que o PT, obedecendo a uma orientação nacional, apoie a candidata do PSB.

Mas, se for Maranhão, além do apoio inquestionável que receberá de Cícero Lucena, as chances do ex-governador receber o apoio do PT são muito maiores, a começar pelo discurso oposicionista que o PT empreenderá na sua campanha em João Pessoa.

Depois, ser de um partido da base de apoio a Dilma Rousseff ajuda no discurso dos que se opõem a RC no interior do PT. Além disso, tem a força nacional do PMDB, associadas às dúvidas do PT em relação a Eduardo Campos. 

Os problemas de Maranhão

Maranhão, entretanto, terá de superar o principal empecilho que o derrotou em 2010: sua longevidade política que o associa à condição de político “tradicional”.

Esse pode ser o principal óbice que Maranhão deverá enfrentar e transpor em 2012 e que, em grande medida, o levou à derrota em 2010.

Diante de um cenário cheio de possibilidades para a oposição pessoense, a dúvida que se mantém em relação à candidatura de Maranhão é se, num embate com Estelizabel Bezerra, o eleitor estará mais propenso a votar contra RC, em função do desgaste do governo deste, ou contra Maranhão, em função do desgaste da liderança do ex-g0vernador.

Essa é uma questão que só será respondida durante a campanha, quando os programas de TV entrarem no ar. Nessa, mais do que em qualquer outra, a TV terá uma serventia definitiva para esclarecer o eleitorado das dúvidas que certamente persistem. Dessa disputa “imagética”, José Maranhão poderá ser ressuscitado ou enterrado politicamente de vez.

Mas, essa não pode se tornar uma disputa entre marqueteiros. José Maranhão deve ter aprendido em 2010 que se marqueteiro fosse importante para definir uma eleição, elas terminariam invariavelmente empatadas.

É a política, é o bom senso político a principal arma do candidato para perceber movimentos que são alheios às pesquisas qualitativas. Maranhão não foi capaz disso em 2010, mas em 2012 ele pode ter uma outra chance se atacar RC naquilo que ele tem de mais frágil: suas ideias e sua consistência política.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Nova vítima? RC agora enfrenta a UEPB

Fim da autonomia financeira interessa a quem?

Em junho de 2009, poucos meses depois de José Maranhão ter assumido o Governo da Paraíba, fiz questão de registrar dois importantes legados deixados pelo ex-governador Cássio Cunha Lima. (Clique aqui para ler)

O primeiro foi a Lei Anti-nepotismo, aliás, nunca adotada na Prefeitura de João Pessoa. O segundo, a Lei que assegurou a autonomia financeira da UEPB. Sobre esse segundo legado, transcrevo ipsi litteris o que escrevi:

“Uma outra importante e corajosa atitude do ex-governador [Cássio] foi a iniciativa, convertida na lei 7.643/2004, que concedeu autonomia financeira à Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).” (Clique aqui para acessar a lei)

Segundo essa lei, a universidade tem assegurada para o seu financiamento, inclusive para gastos com pessoal, um percentual mínimo de 3% que tem como fonte os recursos ordinários do Estado.

Foi essa iniciativa que permitiu que a UEPB tivesse um grande crescimento, tanto qualitativa como quantitativamente. Em termos qualitativos, a UEPB pode, com a autonomia, entre outras coisas, tanto investir na qualificação dos seus docentes como atrair para seus quadros jovens mestres e doutores formados pelas Pós-Graduações brasileiras – e mesmo estrangeiras, – o que deu um impulso na produção intelectual da instituição, fator essencial para as avaliações e reconhecimento da universidade.

Em termos quantitativos, a autonomia financeira permitiu que a UEPB se consolidasse como universidade. De um lado, concentrando os cursos de Campina Grande, antes espalhados por várias faculdades, em um único campus universitário, o que constitui importante avanço para a consolidação de um ambiente universitário.

De outro, a UEPB se viu em condições de expandir sua presença por importantes regiões do estado, inclusive em João Pessoa. Antes restrita aos campi de Campina Grande, Lagoa Seca e Guarabira, depois de 2004 a UEPB chegou a João Pessoa, Catolé do Rocha, Monteiro, Patos e Araruna, o que não apenas promove a ampliação do acesso ao ensino superior público, seguindo o que acontece no plano nacional, como inquestionavelmente ajuda o desenvolvimento econômico, social e cultural dessas regiões.

É bom lembrar que em 2009, em plena crise financeira mundial - a maior desde 1929 - que levou a uma redução relativa do PIB brasileiro que, naquele ano, cresceu pouco mais que 0 %, e, como consequência, levou a um aperto orçamentário, o então governador José Maranhão chegou a ensaiar um corte no orçamento da UEPB, redução que ele teve que executar em outros setores do governo. 

A reitora da UEPB, Marlene Alves, a mesma que hoje se levanta contra essa ação de RC, reagiu e confrontou o governo denunciando um corte anual (anual) no orçamento da universidade de R$ 16 milhões! Maranhão recuou e manteve o que estava projetado no orçamento daquele ano para a UEPB.

O atual governador não apenas ensaia hoje movimentos pró-federalização da UEPB – coisa que ele não só se opôs como denunciou durante a campanha de 2010, – como promove um corte de nove milhões de reais (por mês) nos repasses determinados pela lei da autonomia financeira. E com a UEPB cheia de planos de expansão, alguns em plena execução.

UEPB constrói "Central de Aulas" de vários andares. Isso seria possível sem a autonomia financeira?

Além disso, existe a questão política e administrativa para a comunidade universitária da UEPB e para o futuro da instituição. O fim da autonomia financeira é uma porta aberta para a volta da tutela política das administrações por parte do governo do estado. 

Como eu já disse aqui antes, a "intervenção estatal sobre a universidade tem origem em outra e mais significativa limitação imposta e ela que é o controle sobre o seu financiamento, sem o qual as outras formas de controle dificilmente se efetivariam." A autonomia financeira também permite mais autonomia política e administrativa para a universidade. As atitudes de Marlene Alves em defesa pública da UEPB comprovam isso.

Com essa ação, RC apenas confirma uma mudança de rumos na sua concepção de Estado e de administração pública. A lógica que permeou ações anteriores – como a transferência para a administração privada do Hospital de Traumas de João Pessoa e, como pretende RC no futuro, de todos os hospitais públicos de referência da Paraíba – foi a obsessiva busca do governador pelo controle de gastos, mesmo com a projeção de expressivo crescimento da arrecadação pública no ano, assim como também aconteceu em 2011.

O fim da autonomia financeira da UEPB, enfim, compõe infelizmente aquilo que pretende ser apenas um quadro no que será o conjunto da obra ricardiana em termos de Estado: redução de suas atribuições e ampliação da participação da iniciativa privada nas atividades econômicas da Paraíba.

Por que, a quem interessa interromper o processo de consolidação e o fim da expansão da UEPB na Paraíba?