Os números da primeira pesquisa de intenção de voto realizada
depois do anúncio do rompimento entre o senador Cássio Cunha Lima e governador
Ricardo Coutinho (Cássio, 40,8%; RC, 23,9%; Veneziano, 12,15%) nos permite pelo
menos uma projeção: teremos uma disputa acirradíssima em 2014, repetindo o que
aconteceu nas três últimas eleições.
Com a diferença de que, dessa vez, teremos três candidatos
com chances de irem para o segundo turno.
Ainda falta a divulgação dos índices de rejeição de cada um
para aferirmos melhor o potencial de cada um deles na disputa. Fiquemos por ora
na análise das intenções de votos.
Cássio
Confesso que achei os números do senador e ex-governador
tucano um tanto decepcionantes, considerando a competente movimentação política
dos últimos anos e a espetacularização do anúncio do rompimento com RC, fato
ocorrida há poucos dias.
Se considerarmos que, no campo da imagem, Cássio não fez
nada nos últimos três anos não ser cultivar a dubiedade necessária na sua
relação com o governo, de quem era apoiador e partícipe, os números de Cássio
aferidos em um momento tão favorável devem acender o sinal de alerta entre os
tucanos. Cássio não está com essa bola toda, como se imaginava.
Em 2010, Cunha Lima posou de vítima perseguida pelas forças malévolas
do maranhismo, o que o ajudou a desviar o foco tanto da avaliação a respeito do
seu governo, quanto dos motivos que levaram a sua cassação.
Tanto uma coisa como outra, se bem apresentadas ao eleitor, poderiam
gerar grandes problemas para o tucano, mas o PMDB não soube aproveitar esse
flanco aberto em 2010.
Por outro lado, a aliança com RC permitiu tanto que Cássio quebrasse
a unidade do bloco liderado pelo PMDB, como essa aproximação com um político com
uma imagem fortemente positiva no meio do eleitorado, ajudou o ex-governador a
suavizar e a reconstruir sua própria imagem.
A vitória de 2010, numa situação inicialmente muito
desfavorável, mostra o quanto a estratégia cassista foi correta, no que ela foi
ajudada pelos erros primários cometidos por José Maranhão, especialmente
durante a campanha.
Após a vitória de 2010, Cássio preparou com paciência o
anúncio do rompimento com RC e o anúncio de sua própria candidatura. Sempre
dúbio em relação ao governo, Cássio foi capaz de, mesmo de corpo inteiro no
governo, manter-se palatável até para o mais empedernido antiricardista. Coisas
da política paraibana...
Os 40% obtidos pelo tucano representam um número próximo ao
que ele obteve nas eleições de 2002 e 2006, considerando os votos nulos e
brancos. A questão é saber se esse é o teto cassista ou se ele pode crescer além
disso. Por isso, os dados da rejeição são tão relevantes agora.
É bom considerar que Cássio correu livre e solto nos últimos
três anos. Paparicado pela oposição, que ansiava pelo rompimento, e sem poder
ser atacado pelo ricardismo, imobilizado diante da esperança de ainda manter a
aliança, Cássio manuseou com a habilidade costumeira as expectativas de
potenciais adversários em relação a ele.
Depois do rompimento, a situação mudou. E para pior. A
máquina de comunicação do governo vai tentar a todo custo desconstruir a imagem
do ex-governador. Líder nas pesquisas e, hoje, a ameaça principal tanto ao
ricardismo quando ao PMDB, Cássio vai penar sob pesada artilharia.
Ou seja, a tendência é Cássio perder fôlego e alguns dos votos
incorporados ao espólio nos últimos anos, o que não tende a inviabilizar sua
candidatura, mas igualá-la em potencial a dos principais adversários. Só
durante a campanha teremos uma percepção mais clara se o tucano será presença
garantida no segundo turno.
Ricardo
Coutinho
Para um candidato que está há três anos sentado na cadeira
de governador, a situação de Ricardo Coutinho não é nada confortável. Os 24%
das intenções de voto o colocam numa posição muita frágil, seja porque esse
resultado indica que o seu governo não anda bem avaliado, seja porque sua liderança
não parece ainda consolidada no estado.
E RC tem uma dificuldade mais grave para superar essa
situação. A sua força aglutinadora parece localizada quase que exclusivamente
no controle da máquina administrativa, o que tem lá sua importância, mas é
insuficiente para levar um candidato à reeleição à vitória, como 2010 já
demonstrou.
Do ponto de vista da estrutura partidária, RC não dispõe de
uma que possa lhe dar suporte nos principais municípios, à exceção de João
Pessoa. E é nesses municípios de grande porte onde RC tem mais contestação e
mais insatisfações com seu governo.
Mesmo na Capital e região metropolitana, o PSB perdeu muito
da força acumulada depois que o ex-prefeito Luciano Agra e seu grupo romperam
com o governador. Aqui, RC pode viver o pesadelo de ter que dividir por igual o
eleitorado da Capital, vendo anulado aquele que foi seu principal colégio
eleitoral.
Em Campina, o segundo colégio eleitoral RC tende a ser
engolido pelo campinismo e sofrer uma pesada derrota eleitoral para seus
principais adversários, que são campinenses. É improvável que Rômulo Gouveia,
mesmo na vice, consiga abrir o coração de Campina para “forasteiros”.
Do ponto de vista dos grupos políticos, RC tende a ficar
fora da polarização em Patos e Sousa, bem como em Guarabira e Monteiro. Em
Cajazeiras, onde conta com o apoio de Carlos Antônio e seu grupo, RC disputa,
mas sem grandes perspectivas de obter uma vitória que anule as derrotas em
outros grandes municípios.
RC dependerá, enfim, do seu desempenho nos pequenos
municípios, onde, aliás, venceram todos os candidatos à reeleição. É preciso
saber se cada prefeito desse que está anunciando apoio ao governador entregará
a rapadura como prometido.
Mas, é bom não subestimar Ricardo Coutinho. Além de contar
com uma poderosa máquina administrativa e de comunicação, RC tem um portfólio de
obras para mostrar interior adentro. Além disso, Coutinho tentará se apresentar
como o político anti-oligarca, fato reforçado pelo tradicionalismo político e familiar
dos outros dois candidatos.
Enfim, RC não está fora do jogo, mas terá grandes
dificuldades nessa campanha, especialmente no segundo turno, se ele conseguir
chegar lá. RC tem de torcer para o seu candidato a presidente não passar para o
segundo turno com Dilma. Nesse caso, ele não terá a quem pedir apoio.
Veneziano
Dos três candidatos ao governo, Veneziano é hoje o menos
conhecido e o único que ainda não foi governador. De um lado, isso significa
que ele tem potencial de crescimento quanto mais o eleitorado paraibano passe a
conhecê-lo. Sem ter sido governador, restará aos adversários a crítica à gestão
de oito anos do peemedebista em Campina Grande.
E é bom Vital do Rego se preparar para esse debate para não
transformar essa experiência administrativa no seu “calcanhar de Aquiles”.
A imagem que ficou para parte expressiva do eleitorado,
especialmente em João Pessoa, foi a dos últimos três meses de gestão, marcada
por um clima que tentava traduzir uma situação de caos e abandono de Campina
Grande.
Artificial ou não essa imagem se converte hoje em um fator
de resistência de parte do eleitorado à candidatura do Cabeludo. Seu maior
desafio será mostrar que esses últimos três meses não representam o que foram
os seus oito anos de administração.
E Veneziano tem um poderoso argumento. Se sua administração
era tão ruim, como foi que sua candidata à prefeitura, a desconhecida e pouco
habilidosa, Tatiana Medeiros, obteve mais de 40% dos votos em 2012, superando a
conhecida deputada Daniela Ribeiro, do PP?
Ou seja, o desempenho eleitoral de Veneziano em 2014 estará
intimamente ligado a esse debate. Se seus adversários conseguiram corroborar como
marca da gestão a imagem que ficou dos últimos três meses de gestão em Campina,
Veneziano dificilmente se viabilizará. Caso contrário, ele entra no jogo com
grandes chances de vitória.
Por vários motivos. Veneziano deve ter o apoio do PT e de parte
do “blocão” – 0 PP dificilmente vem, mas aí Aguinaldo Ribeiro vai provavelmente
inviabilizar sua continuidade no ministério em caso de da reeleição de Dilma, –
e de outros partidos, como o PR, o que dará uma poderoso arma eleitoral: o
maior tempo de TV.
Por outro lado, Veneziano tem ao seu dispor uma formidável
estrutura partidária, a
maior da Paraíba, enraizada por todo o estado devido à longevidade
política do PMDB. De João Pessoa a Cajazeiras, o PMDB dispõe de lideranças que
rivalizam em cada município com outros grupos.
Veneziano, além disso, contará com o suporte político de uma
candidatura aliada à campanha de reeleição de Dilma Rousseff e com o apoio e a
presença de Lula, um poderoso reforço ao seu palanque.
Diferentemente de 2010, quando RC usou a influência de
Eduardo Campos para neutralizar o apoio de Dilma e Lula a José Maranhão, em
2014, Campos será o nome a ser batido no Nordeste. E Lula tratará disso com toda
atenção e carinho.
Por fim, Vital do Rego tem discurso. Ele será o único
candidato que pode com legitimidade se mostrar ao eleitorado como oposição.
Cássio será tratado pelos dois adversários como o oportunista, aquele que se
aproveitou do governo até o último instante para depois abandoná-lo.
2014 promete
Enfim, a eleição de 2014 promete muitas emoções. Um prato
cheio para quem gosta e acompanha a política.