sexta-feira, 26 de maio de 2023

NILVAN FERREIRA NO MDB? Não descarte essa hipótese


Durante a entrevista concedida ao programa Arapuan Verdade, o senador Veneziano Vital (MDB) teve de responder a uma pergunta do jornalista Clilson Jr. que pode render muita discussão daqui para frente.

Antes de perguntar, Clilson Jr. fez um preâmbulo em que lembrou que o radialista Nilvan Ferreira, hoje desempregado e filiado ao PL, foi do MDB e por esse partido foi candidato à Prefeitura de João Pessoa, em 2020, quando foi ao segundo turno da eleição para ser derrotado pelo atual prefeito, Cícero Lucena (PP). 

Clilson Jr. então foi direto ao assunto: como Nilvan Ferreira corre o risco de ser preterido pelo ex-ministro Marcelo Queiroga na disputa para ser o candidato do PL de Jair Bolsonaro à Prefeitura de João Pessoa, as portas do MDB estariam abertas para o radialista representar o partido numa aliança com Ruy Carneiro ou Pedro Cunha Lima, em 2024?

Veneziano disse que achava difícil a filiação de Nilvan ao MDB em razão do distanciamento ideológico do partido com o bolsonarista. Veneziano na certa esqueceu que uma das lideranças mais proeminentes do partido, Michel Temer, foi um dos conselheiros do ex-presidente e atuou como bombeiro durante uma das mais críticas crises com o STF, em setembro de 2021, quando  — Temer até ajudou Bolsonaro a redigir o documento em que então presidente se retratou dos ataques feitos ao STF, em especial a Alexandre de Moraes. Aliás, além de ter sido majoritariamente base parlamentar de Bolsonaro no Congresso, o MDB sequer apoiou Lula no segundo turno de 2022.

No estúdio, alguém que lembrou que não seria novidade alguma Nilvan Ferreira mudar de posição. Assim como o hoje bolsonarista foi em passado recente do MDB, foi também "comunista" na juventude. - Nilvan Ferreira foi militante do PCdoB quando morava em Cajazeiras.

Como tem muita água para rolar debaixo dessa ponte, vai ser necessário ainda observa o amadurecimento do quadro de candidaturas para a eleição de prefeito de João Pessoa no próximo ano. E a volta de Nilvan Ferreira ao MDB não deve ser descartada. 

Ruy Carneiro observa à distância essa movimentação.



sexta-feira, 12 de maio de 2023

APOIO A CÍCERO: Jackson Macedo é criticado na Paraíba pelos mesmos petistas que defendem as alianças de Lula

Uma das primeiras nomeações feitas por Lula na Paraíba, depois de assumir a Presidência, foi a do superintendente dos Correios, Jackson Silva, por indicação do senador Efraim Filho, do União Brasil. Ambos, como é do conhecimento até das piscinas naturais de Areia Vermelha, votaram e fizeram campanha para Jair Bolsonaro. Bolsonaristas mais ideológicos, como o ex prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, tiveram seu naco de poder no governo petista.

Em minoria no Congresso, essas atitudes podem até ter criado insatisfações em setores do eleitorado de Lula, mas nenhum desses eleitores pode afirmar que foi surpreendido. Desde antes de lançar sua candidatura, o atual presidente defendeu a formação de uma frente ampla, a começar pela indicação do candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin, antigo adversário do PT. Lula continuou fazendo acenos ao centro e à direita. Na Paraíba, Lula e o PT apoiaram a candidatura do emedebista Veneziano Vital, com quem Ricardo Coutinho dividiu o palanque ao lado de Maísa Cartaxo.

Sobretudo no segundo turno, Lula deu ao seu palanque a amplitude que, nem de perto, antecipava o que seria o perfil do seu governo e das alianças que Lula se obrigaria a fazer em razão da situação que passou a enfrentar no Congresso desde a posse, onde uma maioria conservadora domina.

Ontem, Lula nomeou o ex-deputado federal Heitor Freire, do Ceará, para uma Diretoria na Sudene. Freire foi eleito, em 2018, pelo PSL e se dizia um discípulo de Olavo de Carvalho, o ideólogo do bolsonarismo, que, ironicamente, morreu de Covid, a doença que ele duvidou existir.

Não se ouvirá, entretanto, um pio sequer de crítica a Lula daqueles que, na Paraíba, rejeitam a postura do presidente estadual do PT, Jackson Macedo, em defesa de uma aliança com o atual prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena. Isso mesmo depois da coleção de fracassos eleitorais do partido, principalmente em João Pessoa, e do perigo real de um bolsonarista vencer a eleição no próximo ano no maior colégio eleitoral do estado.

Esse exclusivismo não combina muito nem com a situação nacional do PT e do governo Lula, nem com o histórico eleitoral recente do partido, que em 2018 não conseguiu eleger um único deputado estadual para a Assembleia Legislativa. 

quinta-feira, 4 de maio de 2023

As opções de João Azevedo


O governador João Azevedo revelou, ontem, em entrevista ao repórter Fernando Braz, que ele tem três alternativas eleitorais para 2026: “Meu nome tá posto, sem dúvida. Ou encerro a carreira como governador, ou saio federal ou senador”.


A declaração do governador não contém, a rigor, nenhuma novidade, porém, ao não ter como objetivo já traçado disputar uma das duas vagas para o Senado, João Azevedo revela os impasses vividos pela base política que o elegeu, em 2022. 


Senão, vejamos. Não é incomum, muito pelo contrário, que a opção de qualquer governador, após o exercício do mandato, seja conquistar um mandato de Senador. 


Tanto que as únicas exceções desde o retorno das eleições diretas para governador, em 1982, foram os ex-governadores Tarcísio Burity (1990) e Ricardo Coutinho (2018), que, por razões diferentes - nenhuma delas incluía falta de vontade, - não se lançaram candidatos ao Senado. Wilson Braga, Ronaldo Cunha Lima, José Maranhão e Cássio Cunha Lima trabalharam para se eleger ao Senado, e apenas Wilson Braga não logrou êxito, em 1986. Enfim, se depender exclusivamente da vontade de João Azevedo, ele será candidato a senador, em 2026, sobretudo porque serão duas vagas em disputa. 


Por que, então, o governador não fechou ainda questão sobre seu futuro político após concluir o mandato?


As tensões entre Republicanos e Progressistas, tornadas públicas já em 2022, não apenas se mantiveram como tendem a se aprofundar quanto mais 2026 se aproxime. No centro desse embate estão objetivos que parecem inconciliáveis entre a família Ribeiro e o agrupamento liderado por Hugo Motta. A indicação de Lucas Ribeiro para a vaga de candidato a vice-governador de João Azevedo, em 2922, deixando o presidente da Assembleia, Adriano Galdino, na mão, aprofundou ainda mais as diferenças entre os dois agrupamentos políticos, opção de colocou o ex vice-prefeito de Campina Grande na linha de sucessão, tornando-o peça-chave em 2026. 


Caso João Azevedo decida renunciar ao governo abrirá caminho para Lucas Ribeiro assumir o cargo e se candidatar à reeleição. Dessa possibilidade, que é bastante factível, decorre o segundo impasse. O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, sem dúvida, o nome preferido de João Azevedo, se tornará candidato natural caso consiga a reeleição. 


As dúvidas de João Azevedo decorrem, na verdade, desse impasse, e sua candidatura ao Senado, em grande medida, dependerá de um acordo que acomode as principais lideranças do bloco governista: Lucas Ribeiro, Cícero Lucena, Hugo Motta e o próprio João Azevedo - já disse, em outra ocasião, que temos aí uma chapa, digamos, geopoliticamente bem distribuída. O problema será convencer Cícero Lucena a desistir de sua provável candidatura ao governo, sempre considerando a hipótese de reeleição do atual prefeito de João Pessoa.


Caso Cícero Lucena se reeleja e decida se lançar ao governo, o racha na base de João Azevedo passará a depender do rumo que João Azevedo deve tomar. Caso decida permanecer no governo, isso significará o fim da candidatura de Lucas Ribeiro, já que o jovem vice-governador depende da máquina do governo para viabilizar sua candidatura. Sem ela, Lucas vira carta fora do baralho. Nesse caso, Daniella Ribeiro volta a ser o nome a constar em uma das chapas majoritárias, e, nesse caso, pode não ser a da oposição. O caminho fica aberto para Cícero Lucena, que se torna o candidato de consenso do bloco governista. João Azevedo  indicaria o candidato a vice ou à segunda vaga para o Senado ao lado de Hugo Motta.


João Azevedo está mesmo disposto a fazer esse sacrifício para viabilizar a candidatura de Cícero Lucena? Se a resposta a essa pergunta for negativa, outra se impõe.

Sem a máquina do governo, João Azevedo teria condições de entrar na disputa para o Senado? 


O governador terá três anos para responder.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Cícero Lucena acende uma vela para Jackson Macedo e outra para Cabo Gilberto?



A presença do deputado federal Cabo Gilberto, do PL, em evento político da Prefeitura de João Pessoa, ocorrido hoje pela manhã, em Mangabeira, causou surpresa e desconfianças nas lideranças bolsonaristas. 

O deputado foi ao evento em homenagem ao aniversário do maior bairro pessoense não como um transeunte ou curioso qualquer. Chamado a falar, Cabo Gilberto chegou a elogiar, na frente do prefeito Cícero Lucena, ações da prefeitura no bairro.


Se o critério para julgar certos comportamentos políticos, entretanto, fossem as alianças nacionais, que deveriam orientar as alianças locais, o comportamento de Cabo Gilberto não causaria nenhuma surpresa. O PL, partido do deputado federal, se alinha no Congresso ao Progressistas, de Cícero Lucena, no mesmo campo que faz oposição ao governo do presidente Lula.

Ciro Nogueira foi ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro e é presidente nacional do Progressistas 


Aliás, o Progressistas compôs, junto com o Republicanos - este o primeiro partido a antecipar apoio à reeleição de Cícero Lucena, - a coligação em apoio à reeleição de Jair Bolsonaro, do PL, na eleição presidencial do ano passado. Portanto, não se pode dizer que, do ponto de vista estritamente partidário, Cabo Gilberto agiu com incoerência.


A atitude do Cabo Gilberto talvez faça parte de um movimento para evitar que Cícero Lucena saia do Progressistas e caminhe rumo ao PDT, partido da base de Lula. Nesse caso, se a decisão do prefeito de João Pessoa de permanecer no Progressistas já estiver tomada, as conversas com Jackson Macedo, que gerou confusão no PT, e o convite de hoje a Cabo Gilberto, que resultou em críticas de Nilvan Ferreira e Wallber Virgolino, a estratégia de reeleição de Lucena objetiva dividir os principais partidos que ameaçam seu projeto político. Ao acenar para os lados opostos e inconciliáveis  do espectro ideológico nacional, Cícero Lucena pode colher frutos temporários, mas ajudará a colocar pulgas atrás das orelhas, sobretudo do PT.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Governo Lula e a geopolítica dos golpes


A última visita do presidente do Brasil, Lula, a Xi Jinping, da China, pode resultar na consolidação de uma aliança global estratégica entre os dois países, caso o Brasil aceite participar da Nova Rota da Seda chinesa, que financia projetos de infraestrutura de transportes em vários continentes, no qual os chineses já investiram US$ 1 trilhão de dólares.

O encontro entre os dois aconteceu três semanas após outro encontro bilateral, este de mais largo alcance, envolvendo a China e a Rússia de Vladimir Putin. Nos dois casos, a China resolveu colocar em prática o movimento estratégico que pretende tirar dos Estados Unidos a vantagem de ter sua moeda como o padrão de conversibilidade, que é o dólar, mesmo depois dela ter sido descolada do ouro há pouco mais de 50 anos. 

Ou seja, há mais de cinco décadas os Estados Unidos controlam, através de sua moeda, a maior fatia do comercio internacional, isso sem as responsabilidades e as restrições do padrão-ouro, que limitava, por exemplo, a qualquer país que a ele aderisse, a capacidade de emissão de moeda, artifício que os norte-americanos usaram mesmo antes de 1971, quando, através de emissões sem lastro, inundaram o mundo de dólares. Descolado do ouro, o dólar virou uma mercadoria cujo preço “flutua” de acordo com a demanda. E que alta demanda! É essa a principal razão para tanta gritaria dos nossos “analistas econômicos”, porque nossa dependência do dólar tem relação direta com a dependência deles dos juros altos.

A China finalmente resolveu acabar com a festa dos Estados Unidos. O primeiro passo foi compor uma aliança, o BRICS, com as mais importantes economias ditas “emergentes”, estrategicamente espalhadas por todos os Continentes: o Brasil, a Rússia, a Índia e a África do Sul. O segundo passo foi a fundação do Banco de Desenvolvimento do BRICS, um banco de financiamento que, sem as amarras — inclusive ideológicas —  do odiado e nosso velho conhecido, FMI, criado para financiar projetos públicos ou privados de iniciativa dos seus membros. Enquanto o FMI agiu nas últimas décadas para acorrentar as economias que a ele recorriam, o Banco do BRICS visa a cooperação financeira para apoiar políticas de desenvolvimentos econômico. O terceiro, é abandonar o pagamento em dólar nas transações comerciais com a China, que se tornou o principal parceiro comercial do Brasil. O mercado chinês já representa 27% de todas as exportações brasileiras, com um superávit comercial que se aproxima dos US$ 30 bilhões anuais. O problema é que essas trocas comerciais continuam a reproduzir a velha hierarquia das vantagens comparativas que marcaram a economia brasileira até os anos 1930, e, ao invés de café, borracha, algodão, cacau e açúcar, hoje o país exporta soja, minério de ferro e carnes, com o agravante de ter o Brasil uma população que vive majoritariamente da economia urbana.

De toda maneira, China parece querer nos ensinar que ela voltou a 1944 com a disposição de dar ouvidos ao que Lord Keynes disse em Bretton Woods, quando os Estados Unidos eram a superpotência militar e industrial e a Inglaterra não tinha mais como deter a decadência em curso. 70 anos depois, o mundo acompanha novamente uma troca de papeis. A China em vias de assumir o papel dos Estado Unidos e começou a fazê-lo depois da década de 1970, quando trocou Mao — não seria correto dizer Marx — pela economia política de John Maynard Keynes, que, vejam só, é considerada pela grande mídia de extrema-esquerda! Enquanto a China apostava na produção de riquezas materiais, no emprego massivo do capital e do trabalho, os Estados Unidos se deixavam governar cada vez mais por Wall Street e pelo Pentágono, pelo sistema financeiro e pela indústria bélica. E, paradoxo dos paradoxos, a tal “globalização” inventada pelos Estados Unidos foi a arma da China para entrar nos mercados de todo o mundo, inclusive norte-americanos.

Enfim, o mar não está para peixe, principalmente para quem se encontra numa “área de influência” dos Estados Unidos. E ambiente das relações internacionais é crítico, marcado pelo aumento das tensões entre Estados Unidos e China, e da consolidação da aliança estratégica deste último país com a Rússia, depois do encontro entre Xi Jinping e Putin. Logo depois, Lula acena em palavras atos que tem interesse de aprofundar suas relações comerciais e geopolíticas com a China, o que inclui, numa questão crítica como a guerra Rússia-Ucrânia, uma posição que é mais próxima da chinesa. 

Enfim, da mesma maneira que a participação dos Estados Unidos na Lava Jato, que começou não como uma obra do acaso em 2014, está amplamente documentada, que se desdobrou no golpe parlamentar que depôs Dilma Rousseff, é possível que comecemos a assistir novamente a esse filme, agora com novos personagens e novas circunstâncias.  

Por último, porém não menos importante, pode não ter sido um acaso que as imagens divulgadas, ontem, tenham caído nas mãos da CNN, que mostram o ex-ministro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Gonçalves Dias, agindo de maneira passiva dentro do Palácio do Planalto no 8 de janeiro, dia da tentativa de golpe bolsonarista. Pode ser que a pretensão não seja ainda derrubar Lula, porque a alternativa ao petista é o trumpista Jair Bolsonaro ou alguém da turma dele. Mas, fragilizar Lula a ponto de impedi-lo de avançar na sua agenda externa e consolidar a aliança com a China.

terça-feira, 11 de abril de 2023

2024? Disputa pela vaga de vice na chapa de Cícero Lucena tem mais a ver com 2026


Por não ter acumulado forças para escolher um candidato vice-governador de sua preferência na disputa do ano passado, João Azevedo pode ter ajudado a criar uma equação de difícil solução para 2026, quando será obrigado a se afastar do cargo para se candidatar seja ao Senado seja à Câmara Federal. 

Se uma das incógnitas no bloco que elegeu João Azevedo já tem um valor conhecido previamente - Lucas Ribeiro será candidato a governador, - a outra - Cícero Lucena, - não. Não apenas porque o prefeito de João Pessoa precisa ainda passar pelo desafio da reeleição, e esse talvez seja o menor dos seus desafios. 

Caso reeleito, Cícero Lucena terá condições de peitar a pretensão dos Ribeiro de governar a Paraíba?

Quando Ricardo Coutinho bancou sozinho uma chapa puro-sangue na eleição de 2008, em João Pessoa, deixou claro qual era seu projeto para a eleição seguinte. Quando Luciano Cartaxo aceitou Manoel Jr. como seu candidato a vice-prefeito, em 2016, jogou pela janela o projeto de se candidatar a governador dois anos depois. Cartaxo foi menos esperto que Coutinho? Talvez menos ousado e corajoso, o que, no caso do hoje deputado estadual, nunca foi uma novidade. Cartaxo só optou pelo caminho mais seguro para se reeleger. 

Qual desses dois scripts Cícero vai seguir? Quando escolher seu candidato a vice-prefeito, em grande medida, Cícero Lucena também estará anunciando uma decisão não apenas sobre a composição, mas sobre o futuro político que ele planeja para si e seu grupo político. E esse jogo já se revela metaforicamente sangrento, vide as críticas incomuns que setores da imprensa fazem hoje à administração pessoense - que ninguém se engane, nenhum elogio ou crítica a "gestores" públicos são gratuitas. 

E o motivo é que os Ribeiro querem a vaga de vice tanto quanto quer João Azevedo. Nos dois casos, não se tratará de mera indicação partidária, porque o critério definidor será ao da confiança pessoal, o que deixará quase todo mundo de fora, a começar pelo atual vice-prefeito. No caso de João Azevedo, que ficará na chuva caso se afaste do governo para se candidatar em 2026, ter alguém de sua confiança na prefeitura de João Pessoa é mais estratégico. A dúvida que resta nesse caso é saber se a indicação de um nome ligado a João Azevedo não fortalecerá Lucas Ribeiro quando começarem de verdade as negociações para montagem das chapas em 2026. Assim como aconteceu com Luciano Cartaxo, Cícero pode se imobilizar na armadilha que ele próprio montou.

Como ficou demonstrado em 2022, João Azevedo não tem ainda - pode ser que isso mude nos próximos três anos - liderança própria para entrar numa disputa eleitoral sem contar com o apoio de uma máquina - e tanto ele como Ricardo Coutinho sabem como um ex perde prestígio e poder longe do cargo de governador. 

Cícero terá condições de bancar sozinho seu candidato a vice, como fez Ricardo Coutinho em 2008? Na conjuntura de hoje, é difícil que ele se arrisque? 

Cícero Lucena pode ousar apostando numa composição partidária à esquerda, com Lula, o PT, o PCdoB e o PV, numa aliança que envolva um projeto de mais longo prazo, o que, claro, só pode se viabilizar se for vantajoso para os dois lados. 

Com Lula como patrono desse acordo, Lucena pode ter mais segurança de que ele vai ser cumprido.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Cícero Lucena ficará mesmo no Progressistas?

 


O enigma partidário de Cícero Lucena: “Decifra-me ou te devoro”

Ontem, o deputado federal Messinho Lucena disse que ele e Cícero Lucena não pretendem sair do Progressistas, partido que é comandado na Paraíba pelo deputado federal Aguinaldo Ribeiro e atribuiu a mera especulação a possibilidade do prefeito pessoense mudar de partido.

O debate público sobre mudança de partido não e conveniente para ninguém que tenha essa pretensão, porque, por si só, ela antecipa estratégias. Não é segredo para ninguém que um político que assume a cadeira de prefeito de João Pessoa, o maior colégio eleitoral da Paraíba, estabeleça como próximo objetivo de sua carreira concorrer ao cargo de governador.

Foi assim com próprio Cícero Lucena, em 2002, que não foi candidato porque teve se ceder a vaga para Cássio Cunha Lima, rejeitando assim um acordo com o então governador, José Maranhão, que defendia sua candidatura. Aconteceu também com Wilson Braga, em 1990, com Ricardo Coutinho, em 2010, e com Luciano Cartaxo, em 2018. Ter um objetivo não significa realizá-lo. A realização de um objetivo como esse depende, como sempre, das circunstâncias, de uma boa leitura da realidade, mas, também, de uma boa dose de coragem, que sobrou a Coutinho, em 2010, e faltou a Cartaxo, em 2018.

Será inevitável que, caso se reeleja prefeito de João Pessoa no próximo ano, Cícero Lucena se tornará um candidato natural à sucessão de João Azevedo. E, a julgar pelo retrospecto, Cícero é o grande favorito a vencer a disputa na Capital — desde que o direito à reeleição passou a valer, nenhum prefeito de João Pessoa (Cícero Lucena, em 2000, Ricardo Coutinho, em 2008, e Luciano Cartaxo, em 2016) foi derrotado quando se recandidatou ao cargo.

Trata-se apenas uma hipótese, porém, bastante factível. Caso reeleito e disposto a realizar o velho sonho de governar a Paraíba, adiado por duas vezes em 2002 e 2010, o mais provável é que Cícero Lucena tenha como principal adversário o atual vice-governador, Lucas Ribeiro, que deve assumir o governo, em 2026. Lucas, como todos/as sabem, é sobrinho de Aguinaldo Ribeiro, e só não será candidato na remotíssima hipótese do atual governador não se afastar do cargo para se candidatar ao Senador ou à Câmara dos Deputados.

É tanto uma lei tanta da física quanto da política que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço simultaneamente. Isso quer dizer que, para ser candidato a governador, Cícero Lucena terá de sair do Progressistas e encontrar um partido que não represente qualquer risco ao seu objetivo.

Nesse caso, não existem muitas opções partidárias à disposição do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, tão boas quanto o PDT, que tem ministro no governo Lula e negocia a formação de uma Federação com o PSB de João Azevedo, ou seja, cai como uma luva na estratégia de polarização com os candidatos bolsonaristas. Candidato pelo Progressistas, a tarefa de Cícero Lucena fica muito mais difícil.

O prefeito pessoense só precisa levar em conta o timing. Desde que a família Feliciano deixou o partido para se abrigar no União Brasil, o PDT se encontra sob intervenção da direção nacional e, portanto, à espera de uma liderança estadual com tamanho nacional.

O PDT vai persistir assim até quando?

2024: Veneziano antecipa apoio a Ruy Carneiro e joga na mesa suas melhores cartas

 

O senador do MDB, Veneziano Vital do Rego, antecipou na semana passada o apoio do MDB à candidatura do deputado federal Ruy Carneiro a prefeito de João Pessoa. O anúncio foi feito de viva-voz durante um evento político na cidade de Logradouro: “Se Deus quiser, a capital da Paraíba haverá de ter Ruy Carneiro como gestor em 2024″, disse ele ao microfone.


Não sei se Veneziano notou, mas ele acabou de perder parte considerável do seu cacife político, sobretudo em um estado marcado por reviravoltas de última hora na política de aliança, como a que envolveu o próprio Veneziano, em 2022, quando o grupo do emedebista se aliou aos Cunha Lima depois de décadas de disputa pela hegemonia política em Campina Grande.


Já analisamos aqui os movimentos de aproximação entre Veneziano Vital e o grupo Cunha Lima, este reanimado pelo desempenho de Pedro nas eleições para governador no ano passado. O inesperado apoio de Veneziano, que foi também candidato ao governo da Paraíba, ao tucano no segundo turno foi importante porque evitou que a estratégia de João Azevedo de carimbar o tucano como um candidato bolsonarista se concretizasse, o que ajudou a manter Pedro numa posição de neutralidade no segundo turno da eleição presidencial.


Ao antecipar seu apoio à candidatura de Ruy Carneiro, Veneziano jogou na mesa suas melhores cartas, sem ter tido ainda qualquer sinalização a respeito da posição do MDB na montagem das chapas majoritárias nos dois principais colégios eleitorais do estado, principalmente em João Pessoa.


De qualquer maneira, trata-se de um má notícia para Cícero Lucena, que vê o fortalecimento de um terceiro nome para a disputa do próximo ano, o que dificulta sua estratégia de apostar tudo na polarização com o bolsonarismo e resolver a disputa já no primeiro turno – o que ainda não está claro é se Ruy Carneiro conseguirá repetir o mesmo desempenho da eleição passada.


E é péssimo para os grupos do PT que apostam no lançamento de uma candidatura própria em João Pessoa na eleição para prefeitura de João Pessoa. O apoio antecipado do MDB a Ruy Carneiro isola ainda mais o partido, que perde na Paraíba o principal aliado de 2022.

quarta-feira, 22 de março de 2023

NOVO LULA? Presidente enfrenta "vozes do mercado" e pauta debate sobre novo modelo econômico


Talvez porque tenha evitado sempre o debate aberto com o mercado (financeiro), que manda e desmanda no país há décadas, Lula não tinha medido ainda o poder de convencimento e arregimentação de sua liderança em enfretamentos dessa natureza. Desde que tomou posse em janeiro, entretanto, o petista está testando sua força no embate contra as "vozes do mercado" na imprensa e no Congresso e, ao que parece, tem conquistado vitórias animadoras, sobretudo quando o assunto é política de juros do Banco Central, fixada hoje em 13,7% - 8% real, considerando a inflação de 2022, que foi 5,79% (IPCA), - de longe a maior taxa de juro real do mundo.  

Na entrevista concedida ontem à TV 247, do site Brasil 247, Lula aumentou o tom das críticas, lembrando que a crise bancária em curso nos Estados Unidos e na Europa já afetou gigantes do sistema financeiro a um custo de bilhões de dólares aos cofres públicos, como no caso do Credit Suisse, que vai receber US$ 280 bilhões (R$ 1,5 trilhão) do Banco Central da Suíça para financiar a fusão com outro banco do país, o UBS, e impedir a bancarrota. Lula poderia ter lembrado o que aconteceu na crise de 2008-2009, a maior crise financeira do capitalismo provocada pela completa ausência de regulação aos tais mercados. 

Naquela crise, os "liberais" estadunidenses, que rejeitam como heresia qualquer "socialismo" intervencionista, aceitaram como normal o aumento da participação do Estado dos EUA para 60% na GM, resultando num "aporte" de US$ 50 bilhões, e de 12% do governo canadense ("aporte" de US$ 9,5 bilhões). No caso da Chrysler, a participação do governo dos EUA na empresa chegou a 8%. A empresa foi repassada à Fiat, que, sem aporte algum, passou a controlar 20% da empresa (clique aqui). Ser liberal é bom, né?

Lula ontem lembrou que os bancos no Brasil vivem mais dos juros extraídos do setor público, pagos com recursos do orçamento, sobretudo federal, e emprestam muito pouco às empresas do país. Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, os gastos do governo federal apenas com o pagamento de juros e amortizações da dívida pública somaram, em 2022, R$ 1,879 trilhão, 46,3% do Orçamento Federal Executado, ou seja, devidamente pago. 

A gritaria em defesa da manutenção da autonomia do Banco Central, bem como o teto de gastos, tem a ver com a manutenção da reserva orçamentária para pagamentos desses "serviços financeiros", reserva que cresce a cada ano em proporção ao PIB, para pagar juros a quem já tem dinheiro demais. É o direito sacrossanto dos bancos e dos "investidores". A gritaria do "jornalismo econômico" não é a mesma quando se trata de uma reserva orçamentária destinada aos mais pobres. 

Lembram que faltou recurso no orçamento federal de 2023, entre tantos cortes feitos pelo governo ("antissistema") anterior, para o pagamento do benefício de R$ 600,00 do Bolsa Família a quem vive abaixo da linha da pobreza e estava passando fome? Lembram do escarcéu da grande imprensa, pelos comentaristas de economia, porque o governo desejava mexer no "teto de gastos"? Pois bem, para essas pessoas, pode faltar dinheiro para quem passa fome, mas, jamais para os bancos, que no ano passado lucraram R$ 96,2 bilhões, um aumento nominal de 6,3% em relação a 2021, que foi R$ 90,5 bilhões! 

Lula já venceu o debate sobre o absurdo que é a taxa de juros do país que ameaça a economia brasileira, sobretudo em um momento de crise. Alguns jornalistas agora até concordam com as críticas do presidente, mas esbravejam contra essa ousadia de Lula torná-las públicas. É medo, na realidade, de Lula avançar mais e politizar - no ótimo sentido da expressão, que significa indicar quem ganha e quem perde com certas decisões estratégicas - o debate sobre política econômica, superando os restritos círculos em que é decidida.  

Lula sabe que estamos em um momento de viragem histórica que as crises anunciam e que o sucesso do seu governo dependerá da disponibilidade orçamentária para fazer investimentos em infraestrutura, políticas públicas que melhorem a vida dos mais pobres e retomada de um projeto de reeindustrialização do país. Lula já deve ter compreendido que, talvez, a arrecadação com as exportações não seja suficiente para financiar o novo modelo.

O primeiro passo Lula já deu. O segundo, acho, depende do apoio das ruas, porque Lula é Lula, mas não é Deus.

terça-feira, 21 de março de 2023

Jackson Macedo: força do bolsonarismo em João Pessoa vai exigir unidade do campo progressista em 2024


A entrevista concedida por Jackson Macedo à rádio Arapuan sobre as eleições do próximo ano tem preocupações que devem ser levadas a sério. Jackson avalia que o bolsonarismo saiu fortalecido em João Pessoa na eleição de 2022, vencendo no primeiro turno para governador (Nilvan Ferreira, 31% dos votos), para senador (Sergio Queiroz, 28%), para deputado federal (Cabo Gilberto, 14%) e deputado estadual (Wallber Virgolino 7,6%).

Embora não acredite na união desses nomes em 2024, Jackson considera que, caso ocorra, a vitória de um candidato bolsonarista em João Pessoa passa a ser uma hipótese bastante factível, o que vai exigir de uma candidatura do PT, segundo ele, capacidade de se viabilizar eleitoralmente para unir o campo progressista, nesse momento dividido.

O alerta de Jackson Macedo, mais uma vez, deve ser levado a sério. Já analisei por aqui o potencial eleitoral da candidatura de Sérgio Queiroz, que deve merecer a devida atenção dos democratas paraibanos, portanto, não pode ser subestimada. O perfil de Sérgio Queiroz difere muito de perfis como os de Nilvan Ferreira, Cabo Gilberto e Wallber Virgolino, bolsonaristas-padrão, ou seja, acostumados a falar para a bolha de 20% de ultradireitistas.

O problema é saber quais dos possíveis candidatos não petistas já lançados têm capacidade de aglutinar essas forças. Ruy Carneiro? Pelo que o deputado federal já disse, sua estratégia não comporta alianças com a esquerda no primeiro turno.

Como eu não acho que o PSB vá romper a aliança em João Pessoa e lançar candidato/a, resta Cícero Lucena como alternativa. Se a disposição do atual prefeito pessoense for mesmo fazer aliança com a esquerda, o que significa uma aposta para resolver a parada já no primeiro turno, Lucena precisa enfrentar pelo menos dois problemas até o fim do ano.

O primeiro deles é o partido, como Jackson Macedo já antecipou semanas atrás. O Progressistas se identificou muito com a administração de Jair Bolsonaro e foi um dos partidos que compuseram a coligação em apoio à reeleição do ex-presidente. Não se trata de uma equação fácil para Cícero Lucena, porque uma mudança de partido praticamente anteciparia o rompimento com os Ribeiro e seria uma sinalização muito clara de sua pretensão de se candidatar a governador em 2026. Contra Lucas Ribeiro. Ficar no PP, entretanto, ajudaria a alimentar o discurso dos que defendem lançamento de candidatura própria dentro do PT.

Um segundo problema para Cícero Lucena será oferecer ao seu governo uma cara para que o PT possa chamar minimamente de sua, o que significa, por exemplo e antes de qualquer coisa, engavetar definitivamente o projeto de engorda das praias. Ir à frente com esse projeto é bater de frente não só com a resistência dos movimentos ambientalistas dentro e fora do PT, mas contra um traço da identidade e da alta-estima da cidade. Seria uma loucura sem tamanho com riscos políticos incalculáveis.

Não é uma equação fácil, como se vê, mas também não é de solução impossível. 

terça-feira, 14 de março de 2023

2024: Com apoio do MDB, Ruy Carneiro entra definitivamente na disputa para vencer a eleição em João Pessoa

O anúncio do apoio do MDB à candidatura de Ruy Carneiro à prefeitura de João Pessoa, na eleição do próximo ano, tem um significado que vai além do óbvio fortalecimento da postulação do deputado federal, eleito pelo PSC, mas em pleno voo de volta ao ninho tucano. Carneiro foi candidato a prefeito de João Pessoa em 2020 pelo PSDB e ficou a pouquíssimo votos de tirar o segundo lugar de Nilvan Ferreira.

A adesão antecipada do MDB ao projeto tucano em João Pessoa, que também deve se repetir na eleição de Campina Grande em apoio à reeleição de Bruno Cunha Lima, é um mais que evidente indicativo de que o apoio de Veneziano Vital do Rêgo, candidato a governador pelo MDB, a Pedro Cunha Lima ( PSDB) no segundo turno da última eleição de governador, deve consolidar a aliança entre os dois partidos, e não só pá a 2024. Pedro, que teve um desempenho surpreendente em 2022, quase vencendo a eleição, ou Bruno Cunha Lima, um dos dois será o candidato a governador apoiado pelo MDB, em 2026, com Veneziano ocupando uma das duas vagas para o Senado. 

Não sei se existe qualquer exigência do MDB, mas não resta dúvida de que o partido espera uma compensação pelos apoios em Campina e João Pessoa, como, por exemplo, a indicação da Ana Cláudia Vital do Rêgo para a vice de Bruno Cunha Lima, o que já pode já pode ser entendido como uma antecipação de quem será o candidato a governador dessa aliança PSDB-MDB.

Com a provável reeleição de Bruno Cunha Lima, em Campina, a disputa em João Pessoa assume um caráter estratégico para os projetos dos dois partidos, em 2026. E a julgar pelos desempenhos de Pedro Cunha Lima para governador, e do próprio Ruy Carneiro, em 2020, que, por "uma peinha de nada", não foi ao segundo turno com Cícero Lucena, e na condição de amplo favoritismo para vencer aquela eleição. 

Acho que a antecipação do apoio do MDB à candidatura de Ruy Carneiro indica que os tucanos pretendem repetir a estratégia centrista vitoriosa de Pedro Cunha Lima, mantendo-se afastado tanto do bolsonarismo quanto do petismo. E o apoio de Veneziano é uma janela aberta para futuras negociações com o PT para o segundo turno, ocasião em que a postulação do senador campinense ao cargo de presidente do Senado já estará definida.

Ruy Carneiro entra no jogo na eleição do próximo ano, em João Pessoa. E para vencer.



sábado, 11 de março de 2023

Por que Cícero Lucena erra ao defender aliança com o PT já no 1º turno?


A Comissão Provisória Municipal do PT de João Pessoa se reuniu ontem e, como previsto, decidiu manter o partido na oposição à administração de Cícero Lucena, além de desautorizar qualquer negociação do partido para compor a base de apoio do prefeito pessoense e que "terá candidatura própria" à prefeitura de João Pessoa. Temos aí uma confrontação aberta entre as instâncias municipal e nacional, já que o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, declarou que não descarta a possibilidade o PT apoiar a reeleição de Cícero Lucena. E, como se sabe, Jackson Macedo não exprime nenhuma opinião relevante que não tenha o respaldo de Gleisi Hoffman.

De toda maneira, Cícero conseguiu o que queria: desgaste. Ele pode até conseguir do PT na eleição do próximo ano, mas é questionável se ter o apoio antecipado do PT agrega mais do que cria dificuldades para ao projeto do prefeito pessoense.

Sobre a resposta à pergunta do título, talvez ela esteja embutida na resposta à outra pergunta? Por que a estratégia de Pedro Cunha Lima deu certo em 2022? Quem analisa estratégias eleitorais prestando atenção apenas no resultado está sujeito a cometer erros grosseiros. Pedro Cunha Lima foi derrotado na eleição, mas sua estratégia foi vitoriosa. Por quê?

Comece comparando o tamanho político de Pedro Cunha Lima antes e depois da eleição. Quem imaginaria, no início de 2022, que o então deputado federal que enfrentaria grandes dificuldades para se reeleger, iria ao segundo turno e ameaçaria a reeleição de João Azevedo, perdendo por uma margem de apenas 117 mil votos, considerando o contingente de mais de 3 milhões de eleitores que foi às urnas na eleição passada? 

No caso da eleição de 2024, interessa ainda mais o resultado obtido por Pedro em João Pessoa. Na capital paraibana, o campinense Pedro Cunha Lima colocou mais de 70 mil votos de frente sobre João Azevedo no segundo turno, ou 16,22% em termos percentuais. 


Tudo bem, 2024 será outra eleição, mas, sobretudo nesses estranhos tempos em que parte do eleitorado continua a frequentar e acreditar como real o multiverso do Whatapp e Telegram, não é recomendável afastar a hipótese de que 2024 ainda será fortemente marcada pelo que aconteceu em 2022.

A questão mais importante a ser respondida é como Pedro Cunha Lima conseguiu sair da armadilha da tal “polarização”, que, por exemplo, esmagou a candidatura de Veneziano Vital do Rego, que enfrentou a concorrência da máquina política, administrativa e midiática de João Azevedo, que também apoiou Lula.

Em outra circunstância, a candidatura de Pedro Cunha Lima também teria sido esmagada tanto por João Azevedo quanto por Nilvan Ferreira. E não foi porque Pedro falou ao “centro”. Primeiro, evitou apoiar um dos candidatos da polarização na eleição nacional — sem fazer disso o centro da sua estratégia, como fizeram Veneziano e Nilvan Ferreira, o tucano declarou voto em Ciro Gomes, incorporando a seu projeto, por exemplo, o modelo educacional cirista. 

Segundo, evitou o bate-boca com outros candidatos, razão pela qual foi pouco atacado por seus adversários. 

Terceiro, Pedro ousou ao confrontar certos e escandalosos privilégios do parlamento estadual e federal, além de criticar evidentes distorções orçamentárias — a comparação entre os orçamentos da UEPB e da Assembleia Legislativa foi um foi um dos pontos altos de sua campanha. Não esqueçamos que o combate a esses privilégios foi, em algum longínquo momento do passado, uma bandeira do PT. Havia muita mise-em-scène, é certo, temperada com o moralismo que a nossa classe média tanto aprecia, mas é inegável que Pedro foi capaz de combinar sua juventude, que um dia foi atributo político, por exemplo, de Veneziano, com uma bem calculada dose de rebeldia — existem muitos “sistemas” a serem combatidos no Brasil.  

Enfim, a estratégia de Pedro Cunha Lima foi claramente uma estratégia de candidato de “terceira via”, que raramente deu certo no Brasil, com a exceção do Rio Grande do Sul, onde candidatos/as de terceira via emergem sempre na reta final para vencerem a eleição. Na Paraíba, deu certo por conta do cenário inusitado de fragmentação de candidaturas, que dispersou o eleitorado. O mesmo cenário deve se repetir em João Pessoa.

E Cícero?

Prefeito de João Pessoa, Cícero não pode falar, por óbvio, em terceira via e nem é disso que se trata. Trata-se de evitar se enredar antecipadamente na polarização entre “direita” e “esquerda”, quando o perfil político de Cícero Lucena nada tem a ver com o campo nacionalmente liderado pelo PT. Essa “conversão“ seria totalmente artificial e de difícil compreensão para o eleitorado, podendo ser entendida com uma adesão oportunista. 

Por outro lado, o bolsonarismo continua vivo e tende a ser o principal adversário de Cícero Lucena na eleição. A “direita” fascista virou um movimento e está enraizada, sobretudo na classe média de todo o estado. Como é mais numerosa em João Pessoa e tem grande influência, continuará a ter muito peso. E tem o eleitor, digamos, de “centro”, que não é bolsonarista, mas guarda ainda um ranço antipetista — lembremos que, em João Pessoa, a diferença de Lula para Bolsonaro foi inferior a mil votos! 


No melhor dos mundos para Cícero Lucena, Nilvan Ferreira será o candidato único dessa direita. Se Cícero Lucena consolidar a aliança com o PT, ele corre o risco de deixar o campo aberto para que Ruy Carneiro, o possível candidato do PSDB, avance sobre esse eleitorado de “centro” — Carneiro obteve 16,37% para prefeito de João Pessoa, 2020, e por um triz não foi para o segundo turno. 


Se o segundo turno parece ser o cenário mais provável, parece muito arriscado para Cícero Lucena a incorporação do PT à sua base, porque isso atrairá para sua candidatura forte desgaste na classe média, sem que se traduza necessariamente em voto do eleitorado petista. 

Ao que parece, com esse movimento para atrair o apoio do PT, Cícero Lucena parece apostar tudo na possibilidade de resolver a eleição já no primeiro turno. Esse cenário pode acontecer na eleição, claro, mas, como já disse, é o menos provável. Seria mais útil para a estratégia cicerista que o PT continuasse a desempenhar seu papel na polarização com o bolsonarismo. Com o apoio das máquinas da prefeitura e do governo do estado, Cícero é nome certo no segundo turno. Se for contra um candidato bolsonarista, o voto do PT ele já pode contar como certo.


sexta-feira, 10 de março de 2023

PT de João Pessoa se reúne hoje para debater eleição de 2024: Marcos Henrique confirma pré-candidatura

O presidente da Comissão Provisória do PT de João Pessoa, Antônio Barbosa, confirmou via Whatsapp, reunião da instância do partido, que acontecerá nesta sexta, à tarde. Na pauta da reunião consta a discussão a respeito do lançamento de candidatura própria à Prefeitura de João Pessoa. 

Um dos membros do Diretório Municipal, Wilson Aragão, professor aposentado da UFPB, registou em comentário no Instagram, respondendo a um interlocutor que questionava a falta de autonomia das instâncias do PT na Paraíba para decidir sobre alianças na Paraíba, que vai defender na reunião de hoje que o PT apresente “uma chapa de oposição ao governo municipal” e que o partido “tem nomes como: Marcos Henriques, Estela Bezerra, Aparecida Ramos, Luciano Cartaxo”.

O vereador pessoense Marcos Henriques confirmou que seu nome está à disposição.

Aragão lembra da Federação que o PT compôs com PCdoB e PV no ano passado e a necessidade de compor com esses partidos. O problema é que esse é outro óbice para o lançamento de candidatura própria do partido em João Pessoa, maior e mais estratégico colégio eleitoral do estado. Como o PCdoB apoiou a reeleição de João Azevedo e tem cargos na administração estadual, o partido deve receber convite para compor a administração de Cícero Lucena, em João Pessoa. É improvável, portanto, que haja unidade entre os diretórios municipais do PT e do PCdoB, em 2023. 

Ou seja, a existência da Federação reforça ainda mais a posição da Direção Nacional do PT na resolução do impasse que tende a se afirmar. Esse problema existiu em 2022 — o PCdoB paraibano apoiou João Azevedo para o governo, enquanto o PT, via Direção Nacional, defendeu a candidatura de Veneziano Vital. A situação foi resolvida pela ampla desproporção de forças entre esses dois partidos, reforçada ainda mais depois da eleição de à Presidência, Enfim, a Federação joga contra a estratégia dos que defendem lançamento de candidatura própria em João Pessoa se a Direção Nacional do PT não for convencida de sua viabilidade eleitoral. A fragmentação de candidaturas, por outro lado, pode enfraquecer essa estratégia.

Como eu disse, ontem, porém, existe um longo caminho a ser percorrido até que chegue a hora da onça beber água, e essa distância favorece quem defende o lançamento de candidatura própria em João Pessoa. De qualquer maneira, depois da reunião de hoje do Diretório Municipal do PT de João Pessoa, não será possível fazer de conta que as candidaturas até agora lançadas não existem.

Ao acomodar a banda minoritária do PT em sua administração, como Cícero Lucena anunciou que fará, ontem, o prefeito de João Pessoa corre o mesmo risco que correu João Azevedo, em 2022, que comprou o peixe que a banda do PT governista lhe ofereceu e a mercadoria ficou pelo caminho. Azevedo apostou alto para ter o PT em sua coligação, o tempo de TV do partido, e, claro, a cereja do bolo, que era Lula no palanque. De lambuja, ainda impediria a candidatura de Ricardo Coutinho ao Senado. João Azevedo acabou chupando o dedo.

A conjuntura é outra, claro, mas, mesmo assim, não há nenhuma segurança de que Cícero Lucena terá o PT em seu palanque, sobretudo se for com a intenção de apenas fornecer o lustre “progressista”, como quis João Azevedo no ano passado. 


quinta-feira, 9 de março de 2023

Cida Ramos mantém pré-candidatura para evitar que o PT fortaleça “grupos conservadores”

Mesmo depois da reunião do Diretório Regional do PT que decidiu apoiar formalmente o governo João Azevedo — o que já resultou na nomeação de vários petistas, — a deputada estadual petista, Cida Ramos, encaminhou mensagem, hoje, ao blog do jornalista Tião Lucena em que reafirma sua disposição de disputar a condição de candidata do PT à Prefeitura de João Pessoa na eleição do próximo ano.

Cida deixa a entender na nota que seu mandato não deixará os movimentos sociais órfãos e que sua pré-candidatura à prefeita obrigará o PT a debater a cidade e diz expressamente que não pretende permitir, com a política de alianças à direita adotada pelo PT paraibano, “fortalecer grupos conservadores” e, com isso, anular as possibilidades do partido se tonar uma força política alternativa a esses grupos. Cida lembra ainda que faz política “para mudar as relações sociais”.

Pode ser que a disposição de Cida Ramos em manter sua candidatura à prefeitura de João Pessoa seja inútil, isso se considerarmos, apenas, as decisões da burocracia partidária e dos arranjos nacionais para formar e consolidar a base parlamentar do governo Lula.

Com mais de um ano pela frente para abertura do calendário eleitoral, a candidatura de Cida Ramos pode se constituir em pólos de aglutinação. Interno, se ela mostrar capacidade de mobilizar a insatisfação de parte da militância do PT com a possibilidade de adesão a um antigo adversário, e externo, se ela conseguir atrair o numeroso eleitorado progressista pessoense, que não se sente representado por uma candidatura com o perfil de Cícero Lucena.

É sempre bom lembrar, por exemplo, que a votação de Ricardo Coutinho, em João Pessoa, cresceu de 39 mil votos, quando ele foi candidato a prefeito, em 2020, para a quase 76 mil votos para senador, em 2022, quase dobrando a votação, portanto, entre uma eleição e outra. Isso com todas as dificuldades provocadas pela campanha pelo voto útil que o PSB realizou e que afetou fortemente o desempenho do ex-governador em seu principal reduto. O crescimento da votação de RC pode revelar o início da sua reabilitação política e torná-lo um eleitor de peso no próximo ano. Portfólio ele tem para mostrar. 

Vai ser necessário considerar ainda a avaliação do governo Lula daqui a um ano, o que deve impactar positiva ou negativamente a votação das/os candidatas/os do PT.

Enfim, a resistência de Cida Ramos ao projeto de reeleição de Cícero Lucena promete criar dificuldades e constrangimentos políticos internos e externos para a banda do partido que defende a adesão do PT à reeleição do atual prefeito de João Pessoa.

Política nunca foi mesmo uma operação matemática.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Às feministas

Nem sempre as mulheres receberam homenagens no dia 8 de março. Antes de 1975, quando a ONU finalmente se rendeu à luta feminista, operárias, donas de casa, estudantes e intelectuais do mundo todo tiveram de lutar muito pelo direito mais básico à igualdade jurídica, depois de todos os privilégios de classe serem abolidos após a Revolução Francesa, a maior de todas as revoluções: o direito ao voto. Depois, o direito a ser educada, a frequentar a universidade, o direito à liberdade sexual, à ocupação de postos de direção nas empresas, à igualdade salarial.

Nesse viagem de volta ao século XIX na qual embarcamos - alguns pastores prefeririam que fosse de volta aos tempos pré-bíblicos, - muitas mulheres são obrigados a deixar de lado a conquista por direitos civilizatórios para lutarem pelo direito de continuarem vivas.

Minha homenagem ao movimento feminista que arrombou as portas fechadas por milênios às mulheres pelos homens.

terça-feira, 7 de março de 2023

SEGUNDO PASSO: Cícero acena para o PT e diz não ver "dificuldade alguma" para fazer aliança


O primeiro passo para a realização de uma aliança em João Pessoa foi dado no fim de semana, quando o Diretório Regional do PT se reuniu para formalizar apoio ao grupo do governador João Azevedo. O segundo foi dado ontem, durante entrevista concedida ao jornalista Luís Torres, durante o programa Frente à Frente, da TV Arapuan. 

O prefeito de João Pessoa deixou claro que pretende repetir a estratégia de “frente ampla” para enfrentar os candidatos bolsonaristas na eleição do próximo ano na capital paraibana, quando tentará a reeleição.

A pergunta de Torres foi direta e feita nesses termos:

— O senhor falou no governador e falou em parcerias. No campo político, vocês estão na mesma base, todos no leque de aliança do PSB do governador João Azevedo. Entre esses partidos, que foi, inclusive, oficializado esse final de semana, está o Partido dos Trabalhadores, o PT do presidente Lula. O senhor acha que tem condições de avançar, junto com o governador, num convencimento de ter o PT no seu palanque à reeleição ou isso é muito difícil?

A resposta de Cícero Lucena também foi direta. Ele não enxerga dificuldade alguma para que essa aliança com o PT prospere em João Pessoa porque, segundo ele, “tem os mesmos propósitos de Lula, que é de cuidar das pessoas”, dando a entender que tem proximidades programáticas com o presidente já que sua administração tem projetos que deverão ser implantados nacionalmente — Lucena citou um programa destinado aos quilombolas, a redução do ITB para população de baixa renda e o programa de ensino integral que segue a linha do que foi originalmente criado na cidade de Sobral, no Ceará. Esses seriam exemplos de uma aproximação programática com Lula e o PT.

Ou seja, se faltava uma senha para que a aliança entre PT e o grupo do governador João Azevedo, formalizada no fim de semana passado, se estenda para João Pessoa, não falta mais. E como Cícero parece apressado para formar a “frente ampla”, depois de receber o apoio do Republicanos, antecipado pelo deputado federal Hugo Motta, no último domingo — ele deixou claro na entrevista que não pretende sair do Progressistas, — o PT deve, cedo ou tarde, seguir inevitavelmente o mesmo caminho, já que não há disposição interna de enfrentar a Direção Nacional petistas e outros grupos políticos, que poderiam representar uma contraposição nacional às investidas do PSB e de Cícero Lucena, mantêm-se imobilizados. E qual deve ser o próximo passo de Cícero? Um convite para que o PT participe, também, da administração municipal.

Ah, Cícero Lucena disse na entrevista que pretende manter a indicação do candidato a vice-prefeito em sua chapa na mão do PSB de João Azevedo.

Veja a resposta do prefeito de João Pessoa no vídeo abaixo, a partir do 3m45s.



domingo, 5 de março de 2023

Diretório Regional do PT ratifica posição antecipada por Jackson Macedo e formaliza entrada na base de João Azevedo: Cícero Lucena comemora

Não foi exatamente uma novidade o resultado da reunião do Diretório Regional do PT, realizada ontem. A resolução foi resumida em nota assinada pela instância partidária. Afora as formalidades mal alinhadas sobre a conjuntura, a decisão principal foi essa:

A reeleição de João Azevedo representa a “perspectiva de construção de um projeto político renovador para a Paraíba” e sua reeleição “uma trincheira de resistência ao ambiente conservador” do país “desde o Golpe de 2016”, razão pela qual o Partido dos Trabalhadores da Paraíba é “partícipe do Governo João Azevedo” tanto quanto apóia, participa e contribui com ele.

Enfim, nada de novo no front, porque a dita reunião apenas formalizou a posição do presidente estadual do PT, Jackson Macedo, antecipada para imprensa antes do carnaval, o que foi feito depois de uma reunião com o governador. 

Obviamente, o que também faz parte do script, haverá questionamentos à decisão.

Tanto da banda governista do partido que apoiou o governo durante os quatro anos e, na eleição de 2022, fez campanha para os candidatos do PSB ao governo e ao senado, mesmo com o apoio público de Lula às candidaturas de Veneziano Vital (MDB) ao governo e de Ricardo Coutinho, para o Senado, este último candidato pelo PT. Essa banda, claro, não discordaria da resolução caso tivesse participado dela para manter os espaços já conquistados no governo. Concordam na política, discordam no método. Pelo visto, vão ter mesmo de pedir a bênção a Jackson Macedo, o que não deixa de ser uma ironia. 

Já a banda ricardista, que representa o setor do partido que tem voto, base e inserção social, vai, claro, também reclamar. Aliás, como antes faziam os que negociaram o apoio do PT a João Azevedo, mas não entregaram a fatura. Hoje, o deputado federal Luiz Couto e a deputada estadual Cida Ramos informaram ao blog do jornalista Tião Lucena que não pretendem aderir à base do governador e que, portanto, discordam da decisão.

Ricardo Coutinho mantém-se à distância, em Brasília, cuidando da vida. RC sabe que não há muito o que fazer e que, pelo mesmo método, contou com o apoio de Lula e Gleisi Hoffmann para seus projetos eleitorais na Paraíba. Caso tivesse vencido a eleição para o Senado, a situação seria totalmente diferente. Depois de duas derrotas, de uma correlação de forças nacional que virou, da reeleição de João Azevedo, e de Lula na Presidência precisando construir uma base parlamentarz que, na Paraíba, é completamente hostil a Ricardo Coutinho no Congresso. Mais do que ninguém, Ricardo Coutinho sabe do jogo que sempre foi jogado com o PT da Paraíba. Ele só não pode dizer que Lula e o PT lhe faltaram nas nas últimas eleições.

É estranho que um partido como o PT funcione assim, ou seja, na base de resoluções que não são debatidas amplamente e, portanto, não levam em conta o que pensa a maioria dos filiados e militantes. Esse, porém, como já disse mais de uma vez por aqui, tem sido o modus operandi da tomada das grandes decisões do PT na Paraíba. Em 2020 e 2022, essas decisões tomadas por cima beneficiaram Ricardo Coutinho e seu grupo; em 2024, a ser mantido o mesmo modus operandi, o beneficiário será João Azevedo e, por extensão, Cicero Lucena, em João Pessoa. Alguém duvida?

Isso porque Jackson Macedo tem sido apenas o operador das decisões tomadas pela cúpula da direção nacional do PT, o que inclui o próprio Lula. E o jogo que está sendo jogado no Brasil é bruto.

quinta-feira, 2 de março de 2023

Por que Cícero Lucena teme a candidatura de Sérgio Queiroz a prefeito de João Pessoa

Se fosse do arbítrio de Cícero Lucena escolher a quem enfrentar na eleição do próximo ano em João Pessoa, ele escolheria Luciano Cartaxo (PT) e Nilvan Ferreira (PL). 

Cartaxo porque seria uma candidatura que, além de dividir o PT mais do que o partido sempre esteve, foi o último prefeito de João Pessoa. A memória de sua administração, porém, pouco remete à identidade com a qual o partido do presidente Lula busca se associar, sobretudo em capitais - não preciso lembrar os episódios que marcaram sua saída do PT, no auge da crise que levou só impeachment de Dilma Rousseff.

Nilvan Ferreira padece do mesmo problema. O radialista e apresentador de TV bolsonarista dificilmente conseguirá unir a extrema-direita em torno de sua candidatura. E os resultados eleitorais mostram isso, a começar pela eleição de 2020, a eleição que ressuscitou Cícero Lucena para a política com a ajuda imprescindível de Nilvan Ferreira, que foi ao segundo turno com uma votação de pouco mais de 16% no primeiro.. 

Em 2022, essa situação se explicitou ainda mais. Mesmo sendo o candidato único do bolsonarismo, Nilvan Ferreira obteve no primeiro turno 31% dos votos para governador em João Pessoa, enquanto Jair Bolsonaro chegou aos 44,48% - com mais uma semana de campanha, o campinense Pedro Cunha Lima (PSDB) teria certamente ido além dos 26,5% obtidos na capital. Fica cada vez mais evidente que o "perfil" de Nilvan Ferreira não cai muito bem em setores da classe média de João Pessoa.

O perfil de candidato bolsonarista à prefeitura de João Pessoa que Cícero Lucena deve temer de verdade é o de Sérgio Queiroz. O pastor da Cidade Viva e procurador da Fazenda Nacional foi um fenômeno eleitoral em João Pessoa na eleição de 2022. Sem apoio de nenhuma estrutura administrativa e partidária relevantes, Queiroz foi o candidato a senador de quase 30% (28,02%) dos eleitores do maior colégio eleitoral da Paraíba.

E um dos motivos para esse bom desempenho eleitoral Queiroz tem a ver com algumas qualidades que faltam ao camaleônico Nilvan Ferreira. Sérgio Queiroz foi capaz de transitar nos vários segmentos da capital. Mesmo pastor, ele mostrou nos debates capacidade de falar também aos católicos. Mesmo um conservador assumido, tentou, e, de alguma maneira conseguiu, ir além do vínculo com o ideário, se é que podemos chamar assim, bolsonarista, o que não deixa de ser um feito dentro de um movimento tão carente de lideranças com algumas qualificação intelectual.

Enfim, acredito que Sérgio Queiroz seja o único candidato conservador com capacidade para vencer a próxima eleição de João Pessoa. Queiroz deixaria pouco espaço para Cícero Lucena no eleitor mais conservador - o atual prefeito de João Pessoa sempre transitou na direita paraibana e ainda mantém sólidos laços com o bolsonarismo (quem tiver alguma dúvida, é só observar seu secretariado e a base parlamentar na Câmara de Vereadores). É por essa razão que ele torce pela candidatura de Nilvan e conta com a imprensa para para continuar a incensá-la, enquanto esquece a de Sérgio Queiroz.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

O nome de João Pessoa: a tragédia que ainda nos assombra


Aqui morava um rei

Aqui morava um rei quando eu menino

Vestia ouro e castanho no gibão,

Pedra da Sorte sobre meu Destino,

Pulsava junto ao meu, seu coração.

 

Para mim, o seu cantar era Divino,

Quando ao som da viola e do bordão,

Cantava com voz rouca, o Desatino,

O Sangue, o riso e as mortes do Sertão.

 

Mas mataram meu pai. Desde esse dia

Eu me vi, como cego sem meu guia

Que se foi para o Sol, transfigurado.

 

Sua efígie me queima. Eu sou a presa.

Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa

Espada de Ouro em pasto ensanguentado.

 

O soneto acima é de Ariano Suassuna. O “rei” do poema é João Suassuna, governador da Paraíba entre 1924 e 1929. Ariano nasceu em 1927, portanto, durante o governo do pai, e ele gostava de lembrar que correra nu pelos corredores do Palácio da Redenção, onde, à época, residia a família do “presidente da Paraíba”, hoje chamado governador.

Ariano Suassuna homenageia o pai perdido para o ódio político e para as rixas familiares, quando mal tinha começado a viver. A dor que lateja em cada verso foi descrita, em um depoimento dado para um documentário sobre a Guerra de Princesa, como um punhal que ele imagina enterrar-se em seu coração sempre que pedem para recitá-los.

É por essa razão que, sempre que lembro a origem do nome atribuído à capital da Paraíba, lembro que se trata também de uma homenagem aos eventos que nos levaram até ele. É como se essa tragédia shakespeariana continuasse a nos assombrar quase um século depois. Sempre que esse debate volta — e ele sempre volta — os que não conhecem a nossa história política, e os embates familiares ainda tão presentes, continuam a se perguntar sobre a razão de sua existência, e, com alguma razão, imaginam sua inutilidade.

Por isso, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba daria uma contribuição decisiva para que os habitantes de João Pessoa possam, finalmente, superar o trauma da tragédia que o nome de sua cidade rememora — e homenageia. Aliás, seria a oportunidade para finalmente atender ao que os deputados estaduais decidiram durante a elaboração do Constituinte da Paraíba, que, defrontados novamente com a dilema 30 anos atrás, resolveram transferir a decisão para o povo pessoense, através de um plebiscito que jamais foi realizado.

Seria um importante estímulo para o povo da capital conhecer sua história, ou parte importante dela.

Um nome marcado pela tragédia, pelo sangue e pelo luto

Depois de deixar o governo da Paraíba, João Suassuna se elegeu para mais um mandato de deputado federal e tinha fortes ligações políticas com João Dantas, o advogado que em 26 de julho de 1930, assassinou João Pessoa na Confeitaria Glória, em Recife. O assassinato de João Pessoa deflagrou a Revolução de 1930, que começaria dois meses depois, em 3 de outubro. Apesar do assassinato ter motivação passional, o crime mobilizou o país como um crime político. João Pessoa havia se tornado uma figura-chave na política nacional. Ele tinha acabado de participar e ser derrotado da eleição presidencial ocorrida em março de 1930, na condição de candidato a vice na chapa liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas. Eram recorrentes as denúncias de que a vitória do governador paulista, Júlio Prestes, candidato apoiado pelo então presidente, o também paulista Washington Luiz, tinha sido fraudada, o que não seria nenhuma novidade. João Suassuna era da base de apoio do “perrepista” Washington Luiz no Congresso e apoiara Júlio Prestes.

O que levou João Dantas à Confeitaria Glória naquela manhã de julho, entretanto, foi a divulgação de cartas e poemas eróticos da professora e poetisa cabedelense, Anayde Beiriz, sua amante, que o advogado guardava em seu escritório. As cartas foram encontradas pela polícia no escritório depois de uma invasão e disponibilizadas ao público, o que causou, claro, um escândalo que resultou numa sucessão de tragégias: primeiro, o assassinato de João Pessoa, por João Dantas; depois, do próprio João Dantas, morto na cela em que estava preso, em Recife, no dia em que começou a Revolução de 1930 (3 de outubro), e, 19 dias depois (22 de outubro), no suicídio de Anayde Beiriz, que fugira para Recife. Entre a morte de João Dantas e Anayde Beiriz, morreu João Suassuna, também assassinado numa manhã movimentada em pleno centro do Rio de Janeiro, quando se deslocava do hotel onde se hospedava para a sede da Câmara dos Deputados, no Palácio Tiradentes.

Enfim, o sangue representado pela metade vermelha da atual bandeira da Paraíba, que divide com o preto do luto, não jorrou apenas do coração de João Pessoa, atingido pelas balas da arma de João Dantas.

A morte de João Pessoa, claro, causou uma imensa comoção na cidade e protestos populares resultaram em incêndios de residências e perseguições a políticos do antigo Partido Republicano da Paraíba. Aproveitando o clima de comoção provocado pelo assassinato do popular governador da Paraíba, foi proposto foi à Assembleia Legislativa a mudança do nome secular da capital paraibana: de Parahyba do Norte para João Pessoa. Cinco dias depois, o erro história estava consumado. A Paraíba ganhou uma nova bandeira para representá-la, com as faixas vermelha, a nos lembrar do sangue derramado, e preta, o luto da tragédia. E o NEGO, que relembra o apoio que João Pessoa negou à candidatura de Júlio Prestes, uma atitude política corajosa, sem dúvida, mas que teria se perdido nos escaninhos da História não fosse a tragédia passional e os ventos tempestuosos que ela ajudou a soprar.

Apesar de achar improvável que seja aprovada qualquer mudança de nome, considero que é hora de nos debruçarmos sobre esse dilema para enfim tentar superá-lo. Nomes de cidades não são alterados sem o calor dos grandes acontecimentos, a não ser que haja um inconformismo majoritário na população, o que não é o caso.

Conhecer mais a fundo um capítulo da história da cidade é uma boa justificativa para o plebiscito que o advogado Raoni Vita pede que o TRE realize no próximo ano sobre a manutenção ou não do nome da capital paraibano em atendimento à determinação constitucional.