Acuã: suas águas estariam abastecendo Campina se Cássio assim tivesse desejado |
A coluna de Rubens Nóbrega da última
quinta-feira, publicada neste Jornal da Paraíba, trouxe uma colaboração do
imprescindível engenheiro Francisco Sarmento sobre as possibilidades de Campina
Grande vir a passar novamente pelo drama do racionamento d’água que a cidade
viveu em 1997, ao ponto de quase entrar em colapso de abastecimento.
O ex-Secretário de Recursos Hídricos da
Paraíba trouxe à tona um problema que Campina parecia ter esquecido e que só a
ausência de planejamento e visão de longo prazo, associada à mesquinhez
política, explica a sua repetição. Em 2002, como rememorou Sarmento, o governo
do estado inaugurou a Barragem de Acauã, cuja capacidade de armazenamento chega
a 450 milhões de metro cúbicos. Com a ascensão de Cássio Cunha Lima ao governo,
o projeto que tinha o abastecimento de Campina como prioridade foi refeito e a
cidade excluída do sistema adutor que levaria a água de Acauã à Rainha da
Borborema, o que a deixaria livre em definitivo dos problemas de racionamento.
Nunca é demais lembrar que Campina Grande é uma cidade de 400 mil habitantes
encrustada em pleno semiárido paraibano, portanto, sujeita às secas cíclicas
que atormentam aquela população desde que os primeiros habitantes ali chegaram.
Como explicar, então, que um governador
que vive a declarar seu amor por Campina e seu povo tenha sido capaz de uma
mesquinharia dessas, ou existe outro termo menos duro para designar tamanha
falta de espírito público? Ora, apenas porque um adversário a quem sucedeu
construiu Acauã, o então governador preferiu deixar que boa parte da água
acumulada na barragem evaporasse - assim como o dinheiro público que a
financiou, – sem serventia para o povo de Campina Grande a quem a obra fora, não
exclusivamente, mas, principalmente, destinada. O que aconteceu
também, não esqueçamos, com hospitais, escolas e estradas construídas no
governo anterior.
Para sorte do ex-governador, não
tivemos grandes secas desde 2002. Mas, como a seca tarda, mas não falha,
Campina vive hoje esse drama. Os primeiros a sofrer serão os produtores
agrícolas que tem suas atividades dependentes da irrigação das águas do
Boqueirão, cuja quebra na produção, além de dificuldades econômicas, tenderá a
aumentar os preços dos produtos que em parte abastecem as feiras de Campina
Grande. E, se São Pedro continuar inclemente com o Nordeste, em breve sofrerão
todos os 400 mil habitantes da Rainha da Borborema, que continuam a presentear
os Cunha Lima com sua paixão e confiança.
Campina poderia estar como Patos, hoje,
que afastou o fantasma do racionamento desde a construção da adutora
Coremas-Mãe d'água, também no governo de José Maranhão. Aliás, a cidade de
Patos já fez alguma homenagem ao ex-governador peemedebista digna desse grande
serviço que ele prestou à cidade de 100 mil habitantes? Se não fez, acho que
deveria, mesmo que eu não seja dado a apoiar esse tipo de homenagem. Os
patoenses estariam seguindo os passos dos pessoenses, só que com mais senso de
justiça. João Pessoa, que nunca recebeu qualquer obra estruturante do
ex-governador Cássio, acabou de conceder a este o título de cidadão pessoense. E,
vejam só!, “pelos relevantes serviços prestados ao povo da capital”. É por
essas e outras que a política paraibana parece presa no tempo, incapaz de olhar
para futuro, como se fosse "a imagem móvel da eternidade imóvel"
(Platão), imersa num tempo circular e cíclico.
Por isso, viva o passado!
Caro Flávio, excelente a sua abordagem. Veja o que escrevi no domingo passado tratando da relação de Campina Grande com os açudes que lhe serviram e serve. Lá tem o link de colegas nossos da UFCG que trata mais profundamente da questão.
ResponderExcluirSim, o que escrevi tá no blog ricardonpedrosa.blogspot.com