Uma imagem vale por mil palavras também na política? Às vezes
sim, às vezes não. Mas, em política, uma das maneiras de falar é o silêncio. Ou um ato. Ou uma imagem.
Quando o prefeito Luciano Cartaxo resolveu fazer, no último
sábado, uma visita ao camarote da Prefeitura de Campina Grande no Parque do
Povo, onde foi recebido por Romero Rodrigues e devidamente anunciado ao grande
público, para em seguida a dupla fazer um périplo pelos camarotes, é de dar o
que falar, não é mesmo?
Alguns dirão que se trata apenas de um ato de cortesia, de
civilidade política. Que é sempre bom não misturar questões pessoais com
política e não exigir tanto do prefeito petista quando o assunto for suas
incursões na vida social. Quem sabe o prefeito petista queria apenas conhecer
aquela bela festa? Quem sabe?
Se não for por isso, talvez seja adequado pensar que Cartaxo
não dá lá muita importância ao que o líder de Romero Rodrigues, Cássio Cunha
Lima, diz e faz no Congresso, sempre com grande destaque da mídia, desde que a
Presidenta Dilma tomou posso para cumprir o seu segundo mandato presidencial –
Cartaxo nem sequer deixou esfriar a repercussão da última visita que a trupe de
senadores comandada por Aécio Neves, que Cássio compôs, fez à Venezuela para
constranger o governo brasileiro, num ato da mais pura provocação e
desmiolamento político.
Talvez Luciano Cartaxo não consiga ver relação entre sua
condição de prefeito petista e a de Romero Rodrigues de prefeito tucano em um
Brasil conflagrado pela radicalização política, onde os mais altos dirigentes
petistas declaram que o objetivo tucano – e da mídia e seus parceiros – é
destruir o PT e impedir a candidatura de Lula em 2018, mesmo que para isso tenham
de prendê-lo.
Será que estamos diante de mais um caso de autismo político?
Como eu não costumo subestimar a sagacidade política de ninguém, especialmente de
alguém que se elegeu prefeito da maior cidade do estado, nem a capacidade de
ler e ver a realidade – mesmo que seja ao seu modo, – vou considerar que
Cartaxo quis mandar um recado.
A visita de Luciano Cartaxo ao Parque do Povo foi antecedida
por um aumento da pressão política, proporcionada pelas visitas e inaugurações
de obras do governo do estado em João Pessoa, levando muita gente a crer que
estavam diante de mais um capítulo da esgarçada aliança entre PT e PSB na
Paraíba.
Talvez – é bom ressaltar: talvez – haja na iniciativa de Luciano
Cartaxo um recado que insinua a possibilidade de que, sem o PSB, outras
alianças podem dar suporte ao projeto político do prefeito, que é se reeleger
abrigado numa chapa puro-sangue.
Se for isso mesmo, o recado de Cartaxo funciona não como um
antídoto, mas um estímulo, e mesmo uma justificativa, para o rompimento de uma
aliança que, se não deu frutos eleitorais para o PT, em 2014, ajudou a transformar
o governador Ricardo Coutinho na principal liderança a defender a presidenta
Dilma e a denunciar o golpe branco, parlamentar, que está em pleno andamento.
Enquanto o PSDB e determinados seguimentos da política
paraibana fazem pesada oposição a RC, a principal liderança do PT no estado se
desloca da capital para participar de uma festa promovida por uma administração
tucana, cujo prefeito é primo do líder da oposição no Senado e homem de
confiança da principal liderança oposicionista no Brasil, hoje.
Nesses tempos sombrios em que vivemos na política nacional,
que podem resultar em perigosas rupturas institucionais, é necessário não
subestimar o significado de determinadas atitudes políticas.
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