A mudança no secretariado promovida pelo
governador Ricardo Coutinho na semana passada, seguida de fatos que a
sucederam, são um sintoma claro de que o ex-governador e atual senador Cássio
Cunha Lima passa a ter uma influência no governo estadual proporcional à
importância que teve na eleição de 2010. Cunha Lima já indicara nomes de
importantes secretários, mas a maioria situada na equipe técnica, ou seja, secretários
de pouca capacidade de ação política.
Com a indicação de Harrinson Targino para a
Educação, por exemplo, uma Secretaria que sozinha concentra ¼ do orçamento
estadual, o governador Ricardo Coutinho atende tanto ao apetite cassista para
ter mais espaço no governo, quanto a busca de uma solução negociada para o
conflito com a UEPB, que lhe tem produzido um sério desgaste em Campina Grande.
É certo que Targino, nem muito menos Cássio, não aceitariam tal incumbência
para dar seguimento a uma pendenga que só cria desgaste para o governo. Com um
cassista na secretaria, Cunha Lima assume para si a não apenas a
responsabilidade de superar o impasse, mas também o compartilhamento de um
possível desgaste. Cássio aceitou tanto compartilhar o governo quanto os
problemas de ser governo.
Tanto que o que se viu em seguida ao anuncio foi
um Cássio Cunha Lima em plena vitalidade retórica, saindo do autoexílio em
que se encontrava desde o início de 2011. Cássio falou muito na semana passada.
Deu entrevistas, polemizou e entrou no debate sobre a a lei da autonomia da
UEPB com a autoridade de ter sido o seu criador. E a favor da posição governo.
Numa dessas entrevistas, discordou, sem esquecer das amabilidades com que
sempre trata os aliados políticos, de ninguém mais que a reitora Marlene Alves,
pivô do confronto que opôs a comunidade da UEPB e o governo RC. Disse que,
mantida a interpretação da UEPB, chegará um tempo que a universidade terá para
si 100% do orçamento. Cássio deu a senha e um acordo deve ser produzido em
breve sobre a questão.
Essa é uma mudança importante que certamente terá
reflexos no futuro das disputas políticas no estado. Acena antes de tudo para a
consolidação da aliança de Cunha Lima com RC, que até então parecia estremecida
por conta da forte concentração político-administrativa nas mãos do governador.
Se for isso mesmo, temos uma injunção óbvia como consequência: RC será o
candidato de Cássio em 2014, numa aliança eleitoral que começa desde já. O
Calcanhar de Aquiles cassista (Campina Grande) vai ser protegido para evitar
tanto a derrota do PSDB quanto a vitória do principal adversário do projeto de
reeleição do governador.
A eleição de Campina era uma equação política de
difícil resolução para RC: uma vitória cassista em Campina, sem o apoio do
governador, aumentaria em demasia a autonomia de Cássio; uma derrota, por outro
lado, significaria aumentar o peso da oposição no xadrez eleitoral do estado.
Com o ex-governador tucano inelegível, mas ainda influente o bastante, um
Ricardo Coutinho encalacrado numa crise que impede o governo de produzir frutos
políticos, a alternativa que restou ao governador foi compartilhar a
administração com Cunha Lima.
O próximo desafio a ser enfrentado por Cássio é
ajudar no impasse em que se encontra a base parlamentar governista na
Assembleia Legislativa, acuada pela dificuldade de defender medidas
impopulares, especialmente as que atingem o funcionalismo.
Cássio terá que
“domar” o estilo bonarpatista de Ricardo Coutinho – esse será um capítulo da
história política paraibana que merecerá estudos, – que, sem força política
própria e agindo no puro voluntarismo, acaba governando de crise em crise. Mas
essa talvez seja uma questão de sobrevivência para RC.
Se Cássio veio para
ficar, resta o governador se adaptar. E acho que ele está cada vez mais
propenso a isso. Portanto, é lícito também supor que RC é cada vez menos RC.
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