O impasse gerado entre os chamados estados produtores e não
produtores por conta da forma como os Royalties do petróleo recentemente
encontrado na camada do Pré-Sal brasileiro serão distribuídos, pode abrir uma
oportunidade histórica para o Brasil e os brasileiros finalmente empreenderem
um caminho sólido para um desenvolvimento com mais igualdade social.
De olho exclusivamente no aumento de suas receitas e sem uma
clara discussão sobre o que fazer com elas, governadores e prefeitos se
engalfinham numa disputa que não leva em conta o futuro do Brasil como nação.
Como sempre, o que prevalece é uma míope visão de curto prazo que, no máximo,
se projeta para o horizonte do término dos seus mandatos.
De outro lado, a sociedade brasileira talvez não tenha
calculado com clareza o tamanho da riqueza que ela tem em mãos depois da
descoberta do Pré-Sal: são 100 bilhões de barris de petróleo! Em reservas que
permitirão a exploração por mais de 70 anos. O Brasil, que já é autossuficiente,
duplicará sua produção de petróleo e se colocará entre os 10 maiores
produtores.
O problema é que essa riqueza acaba, como vai acabar um dia
o petróleo árabe e toda as reservas do planeta. Se não investirmos essa riqueza
de maneira acertada, pensando no presente e no futuro, uma riqueza que pode gerar
mais de 8 trilhões de dólares e produzir uma arrecadação de quase 2 trilhões de
dólares em 70 anos, pode ir pelo ralo do mau uso do dinheiro público, seja pela
forma equivocada de utilizá-lo, seja pela corrupção.
Vejam o caso paradigmático do Rio de Janeiro, que é o maior
produtor de petróleo do Brasil e é responsável, sozinho, por 74% da produção
petrolífera do país. Macaé e Campos são duas cidades cariocas. Esses dois
municípios tem em comum, além de pertencerem ao mesmo estado, o fato de serem duas
grandes cidades produtoras de petróleo do Brasil.
Mas não é só isso. Mesmo
disponde dessa riqueza, tanto Campos como Macaé se posicionam em lugares vergonhosos
no ranking do IDH* (Índice de Desenvolvimento Humano): enquanto Macaé fica na
806º, Campos, que vem a ser a maior produtora de petróleo do Brasil, ocupa o 1812º.
O que vem a ser um aparente paradoxo. Mas não é,
especialmente quando se trata de petróleo e, mais ainda, quando se trata de
Brasil. Países que são grandes produtores de petróleo, como Nigéria e
Venezuela, por exemplo, entre outros, tem uma pobreza proporcional ao tamanho
de suas reservas de petróleo, ou seja, esses países não tiraram proveito do
imenso potencial dessa riqueza energética para transformá-la em qualidade de
vida para os seus povos, e uma minoria, aliada às grandes petrolíferas
internacionais, acabaram se apropriando dessa riqueza.
No Brasil, cuja natureza do seu desenvolvimento sempre foi
enriquecer concentrando renda, não é nenhuma novidade constatarmos imensos
hiatos entre riqueza e pobreza, que acabam sendo faces de uma mesma moeda.
Aqui, como se costuma dizer, o bolo cresceu, mas as promessas de que um dia ele
vai ser melhor distribuído é sempre adiada.
Mesmo com Lula, que melhorou a
distribuição de renda, especialmente por conta de uma maior participação dos
salários na formação da riqueza nacional, a desigualdade social parece ser
ainda um abismo intransponível.
Por conta disso, a sociedade brasileira não pode perder a
oportunidade histórica que se abriu por conta do impasse entre estados da
Federação. A solução encontrada pelo Governo Federal para superar o impasse é
destinar os 100% dos royalties do petróleo extraído do Pré-Sal para a educação,
o que significa dobrar os gastos nesse setor que, em sete anos, pode chegar a
215 bilhões de reais a mais e atingir a meta de investir 10% do PIB em
educação.
Os países que mais investem em educação, como Islândia,
Noruega e Suécia, respectivamente, destinam mais de 7% dos seus PIB.
No caso do
Brasil, que ainda precisa estruturar um sistema educacional público de
qualidade, especialmente nos ensinos básico e médio, as demandas são imensas e
a exigência de mais recursos também, o que envolve infraestrutura das escolas, formação
e salários. O fato é que, em um país que em breve será a 5ª maior economia do
mundo, é inaceitável, mesmo com as melhoras verificadas nos últimos anos, que ainda
ostente índices de qualidade na educação tão precários.
Portanto, o desafio é que o Congresso aprove a proposta do
governo que destina 100% dos royalties do petróleo para a educação. Não podemos
perder essa oportunidade. Chegou a hora de pensar no futuro, na nossa juventude
e no nosso país.
*O IDH é elaborado a partir de variáveis como renda,
longevidade e acesso à educação. Considerando-se esses aspectos , chega-se a
uma nota que vai de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1 melhor é a
qualidade de vida de um município, estado ou país.
Que tal para a Saúde? Se for usado o dinheiro da Educação com inteligência tudo será melhor. O Brasil precisa pensar-se como um todo e nessa matéria os professores, servidores e estudantes das Universidades não podem pensar em seu próprio umbigo, em ganhar mais... têm que pensar o todo - saúde, amigos. Saúde é o que interessa; o resto não tem pressa.
ResponderExcluirMarcelo Henrique
UFPB