O PT da Paraíba pensa grande e, como dizia antes, vai à luta |
A semana que passou foi de muitas
definições dentro do Partido dos Trabalhadores da Paraíba.
Depois de intensas e variadas conversas,
que envolveram até mesmo a participação de Lula, as principais lideranças
petistas chegaram a conclusão de que o chamado “Blocão” precisa urgentemente definir
um nome para ser lançado ao governo.
O agrupamento de partidos que,
por enquanto, inclui o PT, o PP e o PSC, corre o risco de se esvaziar na medida
em que permanece a indefinição sobre se terá ou não um candidato a governador.
Por isso, o PT resolveu não mais
esperar pela definição do Ministro e Deputado Federal Aguinaldo Ribeiro, que a
cada aceno de uma possível candidatura ao governo é desmentido pelo próprio pai,
Enivaldo Ribeiro, que reafirma a intenção do filho de se reeleger deputado
federal no próximo ano.
Nem de Leonardo Gadelha, também Deputado
Federal, cujo potencial como candidato a governador é indiscutível, mas que também
está limitado pela decisão familiar de manter a cadeira que detém na Câmara dos
Deputados.
A rigor, todos defendem que o “blocão”
lance candidato, mas ninguém se dispõe a disponibilizar seu nome para enfrentar
a batalha. Com isso, a depender da estratégia, perdem – ou ganham – tempo.
Por isso, cansado de esperar pela
definição dos aliados, o PT resolveu se mover para tornar esse objetivo
possível.
Espaços vazio a ocupar: João Pessoa
Há inquestionáveis espaços vazios
a serem ocupados e que, seja em razão do discurso, da contrapropaganda da mídia
governista, ou da distância temporal da campanha, o candidato do PMDB,
Veneziano Vital, ainda não conseguiu ocupar.
Primeiro, o espaço vazio deixado
pela liderança de Ricardo Coutinho em João Pessoa.
Os passos dados por RC desde 2009,
quando anunciou a disposição de aliar-se ao PSDB de Cássio Cunha Lima a ao Dem
de Efraim Moraes, deixaram órfãos um percentual expressivo do eleitorado
pessoense que via no atual governador um novo modelo de político e de fazer
política.
Eleito governador mobilizando em
grande medida o largo sentimento antimaranhista, RC promoveu um fratura com seu
passado e com o eleitor que foi o principal responsável por sua ascensão
política.
RC se mostrou incapaz de
dialogar, seja com os servidores, seja com a Assembleia, seja com os movimentos
sociais de quem era, até chegar ao governo, um aliado inconteste.
Tanto que na eleição seguinte,
Coutinho enfrentou uma pesada rejeição, associada à implementação de práticas administrativas
de seu governo que o afastaram ainda mais de sua trajetória pregressa, e viu
sua candidata naufragar na onda anti-ricardista tão bem mobilizada por Luciano
Cartaxo e Luciano Agra em 2012.
"Protagonismo" em ação: eleições de Luciano, Charlinton e Lucélio deram asas ao PT |
Ou seja, o PT e Luciano Agra
conseguiram ocupar na Capital o espaço que era monopólio de RC desde a morte de
Antônio Mariz, em 1995. Esses dois têm perfis e histórias semelhantes a de RC,
falam e representam um certo tipo de eleitorado que cresce a cada eleição, e não
apenas em João Pessoa, e que quer se ver representado nas disputas eleitorais
paraibanas.
O receio no embate que se
avizinha é se, sem um candidato pessoense e que não tenha o perfil adequado, RC
possa recuperar o terreno perdido e, sem opção à altura, o eleitor pessoense seja
compelido a reeleger o atual governador.
O anti-ricardismo
Uma outra faixa do eleitorado que
anda órfã é a do eleitor antiricardista, aquele que vota em qualquer um candidato
menos no atual governador.
Esse eleitor é o que atualmente engorda,
por mais paradoxal que pareça, os altos índices de intenção de voto do tucano
Cássio Cunha Lima, tanto em João Pessoa quanto em Campina Grande.
Esse eleitor tem origem,
principalmente, no funcionalismo público estadual.
Não é maioria, mas na eleição de
2014 tende a assumir a condição de militante da causa anti-RC, e deve
representar um expressivo exército não remunerado que atuará em cada espaço do
debate eleitoral, seja no trabalho, seja no cotidiano.
Uma “militância” que impulsionou
RC em 2010 em cada roda de conversa que se criava.
O problema, por exemplo, do PMDB é
que ele não tem encontrado meios, ou criado fatos políticos, para falar a esse
eleitor, que hoje vê em Cássio Cunha Lima o instrumento mais eficaz para derrotar
RC.
O PT tem meios tanto para polarizar
com o atual governador – coisa que o Prefeito Luciano Cartaxo, por exemplo e ao
seu estilo, tem protagonizado – quanto para aglutinar forças em torno de si.
Ajudado, claro, tanto pelo espaço
que detém em João Pessoa como pela força de uma candidatura nacional empurrada
pela força do governo federal. E o “blocão”, com boas possibilidades de ainda ser
engordado pelo PPS, PTB e PCdoB, é o exemplo mais cabal disso.
Um programa de desenvolvimento para a Paraíba
O PT vai tentar um movimento para
ocupar o espaço de principal força de oposição no estado o que deve implicar, por
mais que muitos desprezem esse debate, uma contraposição consistente e
inovadora em termos programáticos.
O governo Ricardo Coutinho se
esvai sem que ele tenha deixado claro qual sua estratégia de desenvolvimento,
se é que algum dia ele tenha elaborado uma. RC é o exemplo cabal do desprezo
pelo debate de ideias e pelo pragmatismo mais desedeologizado.
Mais ainda: em muitos aspectos,
RC regrediu, a exemplo do plano de terceirizar os hospitais públicos do estado,
o que representou para muitos uma surpresa, especialmente se considerarmos a
origem de sindicalista da área da Saúde Pública do atual governador. Para quem
sempre defendeu o SUS...
Vejam os conflitos com o MST,
cujas raízes vão além das dificuldades de diálogo com o movimento, e se
relaciona com uma opção conservadora de desenvolvimento rural.
Para o semiárido, o governo RC se
encerrará sem ter contribuído em nada para o avanço de políticas de convivência
com a seca.
Enfim, esses exemplos mostram a
falta de consistência programática do atual governador e representam um flanco
aberto para uma candidatura que seja capaz de protagonizar um debate que vá
além da velha dicotomia política e eleitoral do estado.
O povo quer novidade e está
aberto a ela. E o PT é, inquestionavelmente, um partido que tem legitimidade
para propor e liderar esse debate.
De olho em 2018
Observada a partir da conjuntura
desse final de ano, a estratégia do PT de lançar candidato para a eleição do
próximo ano leva em conta três movimentos:
1) a eleição presidencial, prioridade
máxima em 2014;
2) derrotar Ricardo Coutinho, principalmente
depois do lançamento da candidatura de Eduardo Campos;
3) projetar o partido para 2016 e
2018, eleições irremediavelmente interligadas num projeto de poder que tem como
horizonte final a conquista do governo paraibano.
Quem não levar em conta esses
três movimentos para o PT não será capaz de vislumbrar o que orienta o partido
hoje e o que estará em jogo em 2014.
Por isso, Veneziano Vital não
deve contar com o apoio do PT. Não até que seja testada a viabilidade política
e eleitoral da estratégia atual.
O PMDB deve, por isso, construir
sua própria estratégia sem levar em conta o apoio e a participação do PT em uma
chapa comum no primeiro turno, o que deve aumentar a pressão no interior do
partido de Veneziano Vital.
Só depois da indicação de Vital
do Rego Filho para o Ministério da Integração Nacional, se isso vier acontecer
mesmo, ficará mais claro o nível da relação política entre o PT e o PMDB.
Mas, o lançamento de uma
candidatura do PT pode não ser de todo ruim para Veneziano Vital, caso ele
consiga ir para o segundo turno contra RC. Nesse caso, uma estará formada uma “frente
única” contra Coutinho e isso pode ser um pesadelo para quem disputa uma
reeleição.
Por isso, RC também estará de
olho. O lançamento de uma candidatura do PT, mesmo que não logre êxito, aumenta
muito as chances de a eleição ir para o segundo turno, especialmente com as
perdas que o atual governador sofrerá em João Pessoa.
Mas, a candidatura de RC será
objeto de análise em futuro breve. Por ora, a grande novidade é a entrada do PT
no jogo eleitoral, que está apenas começando.
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