O anúncio da candidatura ao governo da advogada pessoense
Nadja Palitot provocou ontem um imenso rebuliço na já agitada política
paraibana. Não apenas pela surpreendente indicação, já que Palitot não figurava
em nenhuma lista de candidatáveis e, se passou a figurar em alguma, isso só veio
a acontecer nos últimos dias.
A indicação da combativa advogada obedece a uma estratégia
do PT que tem alcances temporais variados. No curto prazo, ela evita a fragmentação
do chamado “blocão”, o agrupamento de partidos que reúne o PT, o PP e PSC. Com
um bom poder de fogo, até então o “blocão” se mantinha incapaz de apresentar à
Paraíba um nome que desse impulso ao seu projeto eleitoral.
Enredado pelos vai-e-vem do Ministro Aguinaldo Ribeiro e do
Deputado Federal Leonardo Gadelha, cuja dúvida impedia todo o agrupamento de
avançar para não ser engolfado pela tradicional polarização entre grupos e
partidos tradicionais que divide a Paraíba desde sempre, o PT cansou de esperar
pela definição dos seus aliados e colocou seu time em campo.
Ousadia
Trata-se, sem dúvida, de uma ação ousada, mas são lances de
ousadia que tem marcado grandes e surpreendentes vitórias na política paraibana
nos últimos anos. Vejam o caso de Veneziano Vital, que derrotou quase sozinho o
império dos Cunha Lima na cidade de Campina Grande, em 2004. Ou de Ricardo
Coutinho, cujas chances de vitória sobre e então governador José Maranhão eram
tidas como muito improváveis quando ele lançou sua candidatura em 2010. Ou do
próprio Luciano Cartaxo, que, apesar de desacreditado no início, acabou derrotando
duas grandes lideranças políticas paraibanas e a máquina do governo estadual em
João Pessoa, naquela cidade que fora, até então, o principal e único reduto do
atual governador, que amargou um constrangedor terceiro lugar. O eleitor
paraibano está cada vez mais imprevisível.
Enfim, essas experiências mostram que nenhuma vitória
eleitoral pode ser decretada até que as urnas sejam abertas e mostrem a vontade
popular da maneira que só uma eleição pode mostrar.
Candidata mulher
Nadja Palitot tem alguns atributos como candidata que podem
render votos e dor de cabeça para os adversários. Dona de uma verve ácida – que
precisa ser dosada – Palitot, que é advogada, jornalista e professora,
demonstra dispor de uma didática clareza quando fala. Bem trabalhada, essa
característica pode ser de grande utilidade no guia eleitoral e nos debates que
acontecerão durante a campanha.
Acrescida do fato de ser mulher, a candidatura de Nadja
Palitot pode agregar um charme que nenhum governador até hoje teve na história
da Paraíba. Numa campanha estadual que estará integrada à campanha nacional,
que tem outra mulher como protagonista principal, Dilma Rousseff, candidata à reeleição,
essa particularidade paraibana tem potencial, e certamente será muito bem
explorada pelos marqueteiros petistas.
Agregue-se a tudo isso a condição de ser Nadja Palitot a
candidata do atual prefeito de João Pessoa, cuja administração ostenta ótimos
índices de avaliação, diferente do que ocorre com o atual governador, além do
estilo negociador e apaziguador que é torna Cartaxo o oposto de RC. Todas essas
qualidades podem ou não ser transformadas em voto. Se isso vai acontecer é
outra história. Mas, o potencial da candidata está claro que existe.
Avançar a partir de João
Pessoa
Mesmo sem combinar com o PMDB, a estratégia petista permite atacar
pelos flancos o atual governador nos dois principais colégios eleitorais da
Paraíba. Com uma candidata pessoense, o PT pretende ser o contraponto
competitivo a Ricardo Coutinho em vários campos, seja no político, eleitoral ou
administrativo.
O mesmo acontecerá em Campina Grande, desta vez com
Veneziano Vital, do PMDB, nesse caso, com o agravante para RC de que este, além
de não ser campinense, enfrentar um campinense, o que é algo que o eleitor da
Rainha da Borborema sempre considera como um critério de grande relevância para
decidir seu voto. Além disso, RC tem altos índices de rejeição na cidade.
Ou seja, RC pode ter grandes dores de cabeça em João Pessoa
e Campina Grande, que concentram sozinhas quase 30% do eleitorado paraibano e
que foram decisivas para dar-lhe a vitória em 2010. A estratégia petista
pretende, num primeiro momento, ocupar o espaço vazio existente em meio ao
eleitorado paraibano, especialmente na Capital, para depois avançar interior
adentro.
Numa eleição com apenas dois candidatos, persistiriam as dúvidas
sobre se Veneziano Vital, do PMDB, até então o único candidato da oposição, teria
condições hoje de conquistar esse eleitor, o que seria um risco para o projeto
oposicionista no estado.
Com Nadja Palitot, João Pessoa estará coberta pela oposição.
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