A falta de paciência é um dos maiores defeitos dos políticos amadores.
Não saber esperar o momento certo, ter sangue-frio para agir diante situações
marcadas pela indefinição, calcular as repercussões negativas dos movimentos projetados e as consequências políticas deles. Tudo isso pode representar a
separação entre a vitória e a derrota política.
Foi o que faltou a Luciano Cartaxo e a seu grupo nesse malfadado episódio
que resultou no anúncio do apoio do PT à reeleição de Ricardo Coutinho.
Pressionados pelos “boatos” de uma iminente aliança PMDB-PSB que poderia
resultar no isolamento do PT, os Cartaxos não souberam esperar e anteciparam um
movimento, mesmo restando cinco dias para o prazo final para as convenções.
Só isso mostra a falta de paciência dos petistas, o medo de perder o
bonde e a oportunidade, como se apenas isso importasse numa decisão que traria
inevitavelmente sérias implicações políticas para a imagem do PT, para a
política paraibana.
Não bastou o desmentido do PMDB de que não faria aliança com RC e a
afirmação da candidatura própria, nem mesmo o anúncio da desistência de Veneziano
Vital, submetido à uma impiedosa fritura pública por “aliados” e adversários, e
sua substituição pelo irmão, Vital do Rego Filho.
Por incrível que pareça, vieram dos peemedebistas a firmeza da afirmação
de um projeto oposicionista, marcado por mais de três anos de firme oposição ao
governo RC na assembleia e fora dela, movimento que foi incorporado e
legitimado pelo PT.
Destaco aqui a correção de deputados como Raniery Paulino, do PMDB, que
em todos os momentos mostrou-se leal à candidatura de Veneziano Vital e à linha
oposicionista. Paulino, em todas as entrevistas que eu ouvi de sua parte, demostrou
preocupação com a opinião do eleitorado com a mudança brusca de posição.
Diferente de Anísio Maia, do PT, talvez o mais “radical” deputado
oposicionista. Anísio, em entrevista da qual eu participei na CBN, no final da
manhã de ontem, desdobrou-se para justificar o injustificável: de uma hora para
outra deixar a bancada de oposição, da qual foi líder, para passar a compor a
bancada da situação. Triste e risível ao mesmo tempo...
AS CONSEQUENCIAS DA
DECISÃO DOS CARTAXOS
Uma primeira questão é referente internamente ao PT da Paraíba. O partido
está submetido agora às decisões e aos interesses de grupos e indivíduos? Onde
foi parar a democracia interna, marca diferenciadora do partido?
Como é que um pequeno grupo anuncia uma decisão de graves consequências,
à revelia das instâncias partidárias, que haviam decidido por uma aliança com o
PMDB?
Uma segunda questão, talvez mais grave porque desconsidera a estratégia
nacional e os interesses maiores do PT e da sociedade brasileira: a decisão unilateral
de aliar-se ao PSB rompeu com o projeto nacional do PT, que tem entre seus
principais adversários Eduardo Campos, do PSB de Ricardo Coutinho.
Caso essa decisão prosperasse, o PT deixaria pelo caminho um aliado
nacional, o que praticamente inviabilizaria o palanque de Dilma Rousseff na
Paraíba. Em nome de quê? De um acordo que leva apenas em conta os interesses localizados,
que submetem hoje o PT, um partido cujo familismo é negado cotidianamente pelo
sentido mais legítimo de sua existência republicana.
Mais do que isso. Esse movimento atabalhoado pode ter inviabilizado a
candidatura de Lucélio Cartaxo, a partir de agora submetida ao vexame de uma
mudança tão repentina de posição.
Esse movimento pode ter ajudado a expor publicamente essa face oculta do
pragmatismo político que não vê diferença entre ser de esquerda e ser direita, que
converte a política a um teatro discursivo e a permanente e triste mise-en-scène cuja consequência é ajudar
a enterrar a própria política. O paradoxal em tudo isso foi o apelo à unidade da
“esquerda” contra a “direita” na Paraíba, como se isso esse acontecimento
carecesse de justificativa e bases históricas. De ditador e autoritário, RC
voltava a ser como num passe de mágica. de esquerda.
RC é outro que sai chamuscado do evento, pois fez esse movimento um tanto
desesperado, buscando sair do isolamento a que se submeteu durante o seu
governo. Isolado à direita com DEM e PSD, faltava a RC base social e política,
o que poderia levar ao naufrágio de sua candidatura diante de uma conjuntura de
radicalidade entre esquerda e direita que promete dividir o país em 2014.
Sem o PT, RC esterá de voltar ao antigo gueto, mas conseguiu em parte seu
intento de dividir o PT e enfraquecer a alternativa do PMDB à polarização que
ensaia com Cássio Cunha Lima. Mas pode ter inviabilizado qualquer possibilidade
de ter o apoio do PMDB no segundo turno, caso Vital do Rego Filho não esteja
lá.
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