Agra estará na chapa da oposição. Resta saber em que lugar |
Na última
vez em que abordei a decisão do ex-prefeito Luciano Agra de se filiar ao PEN e
as consequências desse ato, finalizei o texto com uma constatação: “Agra entrou
definitivamente no jogo”. O jogo a que me refiro, claro, são as eleições de
2014, quando os paraibanos irão às urnas, entre outras coisas, para eleger um novo
governador e um novo senador.
Portanto,
Luciano Agra tem três alternativas à sua disposição, já que, pela estatura política
que adquiriu depois de derrotar o governador Ricardo Coutinho em João Pessoa, pode escolher entre uma das vagas disponíveis na formação da chapa da
oposição que ora se constrói: governador, vice-governador ou senador.
Para governador, Agra, que era um dos possíveis candidatos quando o ano começou, não
demonstrou fôlego para levar à frente esse projeto, e um dos motivos foi a ausência de uma base partidária que
desse lhe desse suporte.
O PT perdeu um forte candidato ao
governo
O PT
paraibano, no seu costumeiro hegemonismo e na recente e risível mania de grandeza, associado
a uma forte dose de autismo político de suas lideranças, fez questão de não
oferecer a necessária segurança para o ex-prefeito de João Pessoa levar à
frente esse projeto.
O argumento –
também risível – de que essa pretensão não pode ser assegurada a ninguém num
partido como o PT, se desmoraliza por cima, logo no mais alto escalão da República.
A Presidenta Dilma Rousseff pertenceu, até 2001, ao PDT. Nesse ano, ainda
durante o governo Olívio Dutra, a quem serviu como Secretária Estadual de Minas
e Energia, filiou-se ao PT e mante-se como uma desconhecida filiada até
torna-se Ministra da Casa Civil.
E foi Lula, com
sua perspicácia política, que enxergou em Dilma as qualidades de candidata com consistência
capaz de levar seu projeto à frente. Consistência que pode ser lida como
fidelidade a um modelo desenvolvimentista, iniciado por Lula, e que Dilma
procurar aprofundar em seu governo.
Pois bem.
Dilma foi a carta retirada do colete de Lula em 2009 que o PT, com ou sem sal,
teve de engolir. E Dilma não tinha nem de longe a liderança interna de José
Dirceu, nem a notoriedade de Marta Suplicy, ou mesmo a trajetória de Tarso
Genro. Dilma tinha o que ela precisava: o apoio do presidente Lula, que
trabalhou para quebrar resistência e unir o PT em torno de si. E foi assim que uma
desconhecida não apenas foi a candidata petista como elegeu-se a primeira mulher
presidenta do Brasil.
Foi esse
apoio das lideranças petistas paraibanas que faltou a Luciano Agra que não lhe
deu a segurança de que o PT era uma alternativa partidária confiável. Sem isso,
e com a experiência traumática recente de traição, Agra partiu para o PEN, e o
PT perdeu não apenas um grande quadro, mas uma boa – e talvez a única – liderança
capaz de disputar em condições de vitória o Governo da Paraíba em 2014.
Candidato a vice de Veneziano: é bom
para o cabeludo, mas, é bom também para Agra?
Veneziano e Agra: o que será bom para os dois? |
A pergunta
acima é um ótimo critério para definir-se uma aliança. Tem que ser bom para os
dois lados que pretendem se aliar. No caso de Veneziano Vital do Rego, que
depende fortemente de um candidato que neutralize o peso da força do pessoense
Ricardo Coutinho na capital, Luciano Agra é o candidato a embalar os sonhos mais
reluzentes do cabeludo peemedebista quando ele sonha com o Palácio da Redenção.
Agra foi um prefeito
bem avaliado de João Pessoa e vítima do algoz – alguns adoram chama-lo de “ditador”
– Ricardo Coutinho, que o impediu de pelo menos tentar o apoio do povo
pessoense para seguir administrando a capital. Ou seja, Agra carrega em uma só
candidatura, duas qualidades que provavelmente serão muito bem apreciadas pelo
eleitorado pessoense em 2014: além de bom administrador, ele é o mais bem
acabado produto do sentimento antiricardista, algo que a sagacidade de Nonato
Bandeira foi capaz de construir – sagacidade que o PT, “se achando”, dispensa
sem cerimônia.
Enfim, a
candidatura de Luciano Agra é perfeita para o projeto de Vital do Rego. A
questão é saber se Agra tem tanto a ganhar quanto Veneziano. Ser
vice-governador tem lá sua relevância, mas o problema é o futuro. Eleito,
Veneziano terá um horizonte de oito anos para trabalhar, e Agra, que já não é
nenhum menino, não tem tanto tempo disponível para esperar nem manter seu
prestígio.
Agra precisa
aproveitar a onda que se formou quando ele provocou o tsunami que levou o
castelo de areia que RC construía em João Pessoa. Mas, como toda onda, o
tsunami pode ir perdendo força e desaparecer quando chega à praia. Exemplos disso
não faltam na política paraibana. RC é um desses que aproveitou bem a onda depois
de 2008. Já o ex-governador Roberto Paulino, que quase derrotou Cássio Cunha
Lima, em 2002, viu aquela onda desfigurar-se até quase desaparecer.
Será no
equilíbrio entre o que é bom para o projeto de Veneziano Vital do Rego é bom
para Agra que a composição dos sonhos do PMDB se realizará. Por que, como eu
disse, Agra tem alternativas.
Senado: o cavalo selado
Para
candidatos com o perfil de Luciano Agra, nenhum quadro tão favorável se
apresentou até hoje nas eleições para o Senado como o que começa a se desenhar
para 2014. Não teremos na disputa, por exemplo, nenhuma grande liderança
estadual de prestígio inquestionável, a exemplo do próprio Veneziano e Cássio
Cunha Lima, nomes com estatura capaz de mobilizar pelo seu prestígio a paixão
do eleitorado.
Além disso,
não temos um governador candidato à reeleição que se apresente com uma força eleitoral
capaz de impulsionar qualquer candidatura do bloco governista – e se for o ex anti-ricardista
Cícero Lucena, então... – como aconteceu em 1998, quando José Maranhão
praticamente deu a vitória a Ney Suassuna.
Some-se a
isso o fato de que a oposição tem se mostrado capaz de agregar lideranças e importantes
partidos, o que traz consigo o charme irresistível da expectativa de vitória e
poder. Um quadro assim deve despertar uma atração também irresistível em
políticos capazes de “ler” a realidade para saberem ousar.
Cássio não tem nada contra Agra; muito pelo contrário |
E um
candidato como Agra tem outros predicados, além dos já citados, que lhe acrescentam
força eleitoral: além de ser pessoense e campinense ao mesmo tempo, Agra tem
livre transito entre os cassistas, e com o próprio Cássio – o que ficou patente
com a ida de Ruy Carneiro, presidente do PSDB, ao ato de filiação do
ex-prefeito de João Pessoa ao PEN, que fez questão de registrar que estava lá a
pedido do senador tucano. RC deve ter estremecido quando soube da notícia. Isso
no mínimo assegura que ninguém, à exceção do governador, trabalhará com afinco para
derrota-lo.
Enfim, como
eu disse, Agra tem diante de si as alternativas que são oferecidas a um
candidato a governador com prestígio, e que desistiu da disputa e, por isso,
pode escolher qual lugar na chapa vai ficar.
A questão é
saber o que ele pretende para além de 2014.
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