Os protestos que começaram na semana passada e se alastraram
por todo o país finalmente ganham uma cara, mesmo com todo o esforço de suas
lideranças para mostrar feições “apartidárias”
e “apolíticas”: as feições de um direitismo
de membros que se mostram capazes de dirigir a massa e não se envergonham de se
afirmarem contra a política e, em alguns casos, a defender mesmo um golpe
contra as instituições democráticas do país.
Nas manifestações de ontem, o que se viu foram demonstrações
de puro autoritarismo que lembraram os fascistas dos anos 1920 e 1930, que
atacavam nas ruas qualquer grupo que tivesse qualquer ligação com a esquerda,
especialmente comunistas. Antes da grande manifestação de ontem em João Pessoa,
eu presenciei in loco o momento em
que genuínas lideranças do movimento estudantil e popular, como as do PSTU,
foram acossadas e obrigadas a arriar suas bandeiras simplesmente porque
desejavam expressar o apoio do partido à luta dos estudantes.
Em São Paulo, como mostraram diversos relatos de jornalistas,
como o de Luiz Carlos Azenha (clique aqui),
militantes da CUT e do PT sofreram violentos ataques até que foram obrigados a
se dispersarem no meio da multidão.
Na minha participação de ontem no Correio Debate, cujo
programa foi todo dedicado às manifestações estudantis, tive a oportunidade de
tratar dessa questão e ressaltar que, qualquer solução fora da política para a
situação como a que estamos vivenciando hoje, não pode ser outra que não o
autoritarismo, como aconteceu em 1964. Quando a política é festejada como uma
mal a ser combatido, só nos restam a desesperança e a solução autoritária. Não
adianta bradar contra os partidos, é preciso compromissá-los com proposta, projetos,
ideias. Ou seja, a política não é o problema, é a solução.
E se o PT, ao contrário do PSTU, abandonou as lutas
históricas que marcaram sua trajetória como partido, lutas que lhe conferiram
legitimidade para que finalmente conquistasse o direito de governar todos os
brasileiros, o esforço de retorno a essas lutas deve ser saudado como uma autocrítica
– talvez forçada pelas circunstâncias, é verdade. O que se deve cobrar do PT –
e de sua base social, incluída a Central dirigida por ele, a CUT – é o compromisso
com as bandeiras das mudanças estruturais no Brasil. E que esse compromisso se
expresse nas ações do governo federal.
Mantido, mesmo assim, esse preconceito, é legítimo que a
CUT, a UNE – e eu recomendo o mesmo ao PSTU – e todas as forças compromissadas
com as bandeiras difusas que não são defendidas com muita clareza nas
manifestações estudantis, comecem a construir suas próprias manifestações para
dar algum sentido POLÍTICO a esse movimento, antes que ele se esgote em si
mesmo ou seja apreendido pelo conservadorismo para legitimar suas ideias de
sociedade e de política.
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