De pai para filho, desde 1986. Ronaldo com o filho Cássio; Cássio com o filho Pedro. |
Até a divulgação dos
resultados das primeiras urnas da eleição de Governador da Paraíba, ainda no
primeiro turno, poucos discordariam da afirmativa de que o atual Senador, ex-governador,
ex-prefeito de Campina Grande por três vezes, ex-deputado federal, Cássio Cunha
Lima era a maior liderança política do estado.
O primeiro turno confirmara
a suspeita, que já se mostrara imediatamente após o lançamento da que era para
ser a “imbatível” candidatura do tucano, de que Cássio continuava no mesmo
patamar – em queda – de votos que obtivera 12 anos antes, quando enfrentou
Roberto Paulino e Avenzoar Arruda para o Governo da Paraíba.
Quando as urnas foram
abertas, divulgados os resultados e anunciada a primeira derrota
eleitoral de um Cunha Lima na Paraíba, não apenas o mito da invencibilidade do
tucano se desfez, para a incredulidade de muitos, principalmente alguns
jornalistas, como também aquela certeza de que Cássio era mesmo a “maior liderança
política” paraibana.
Até 2014, uma trajetória vitoriosa
Não há dúvida de que
Cássio aproveitou bem os espaços deixados pela transição intergeracional que
ocorreu entre os anos 1990 e 2000, quando as principais lideranças políticas
paraibanas pós-ditadura (Antônio Mariz, Humberto Lucena, Tarcísio Burity,
Wilson Braga), morreram ou saíram da política, e sem deixar herdeiros, como indicavam nossas
tradições.
À exceção foi Ronaldo
Cunha Lima. Ainda Prefeito de Campina Grande, o patriarca da família lançou, em
1986, a candidatura do filho, Cássio, à Câmara dos Deputados, que, entre 1987 e
1988, também funcionou como Assembleia Constituinte.
Com a eleição para a
Câmara, Cássio iniciava uma ascensão meteórica, no início com a ajuda
inestimável do pai.
Dois anos depois, Cássio
seria eleito Prefeito de Campina Grande, em um daqueles casuísmos
bem ao gosto das maiorias congressuais pós-ditadura permitidos pelo Congresso
Constituinte, Ronaldo Cunha Lima lançou o filho à sua própria sucessão, em
1988.
1994 |
Esse acontecimento é fundamental
para entender a consolidação de uma hegemonia que duraria 20 anos da família
Cunha Lima em Campina.
Com a prefeitura nas mãos, os Cunha Lima se projetaram para conquistar o Governo do Estado dois anos depois.
Com a prefeitura nas mãos, os Cunha Lima se projetaram para conquistar o Governo do Estado dois anos depois.
Era a consolidação da
liderança daquele que era conhecido como o “menino de Ronaldo”, como Cássio foi
apelidado por Enivaldo Ribeiro durante a campanha de 1988.
Um parêntese: Enivaldo,
que se tornaria “freguês” dos Cunha Lima com seguidas derrotas para a
prefeitura de Campina, recebeu o troco na ocasião da inauguração de um ginásio
de esportes, que recebeu o nome, num misto de troça e auto-homenagem, de
“Meninão”. Com aquele gesto aparentemente banal, devido às contumazes práticas familísticas
e personalistas dos grupos políticos locais, Cássio inaugurava também um estilo
de fazer política que marcaria fortemente a sua imagem e da sua família nas
décadas seguintes. No governo, foi a vez do pai, que também fez construir um
ginásio, agora em João Pessoa, e permitiu que fosse chamado de “Ronaldão”.
Em 1990, o “Menino de
Ronaldo” teve papel decisivo na eleição do pai para o governo. Em Campina Grande,
Ronaldo Cunha Lima obteve no segundo turno a incrível votação, jamais alcançada
nas eleições seguintes, de 82,8%!
Cássio começava a deixar
de ser o “Menino de Ronaldo” para ser Cássio Cunha Lima. Chegaria à
Superintendência da Sudene, em 1992, nomeado por Itamar Franco.
A passagem de Cássio
pela Sudene foi rumorosa o bastante para se converter na principal motivação
que levou ao quase assassinato do ex-governador Tarcísio Burity.
O ex-governador, que se
tornara adversário político, fizera pesadas críticas à gestão de Cássio na
Sudene e Ronaldo Cunha Lima, ainda no exercício do cargo de Governador, tomou
as dores do filho e procurou resolver a situação, literalmente, com a arma que
tinha em mãos.
Nem esse trágico
acontecimento serviria para deter a ascensão cassista.
Na eleição seguinte, em
1994, enquanto Ronaldo era premiado com uma eleição para o Senado, Cássio se
elegeria o Deputado Federal mais votado da Paraíba, com mais de 157 mil votos,
o que representou a incrível marca de 16,5% dos votos! Quase 100 mil a mais que
o segundo colocado, Wilson Braga, que obteve 64.271.
Por incrível que possa
parecer, menos de dois anos depois da tentativa de assassinato praticada pelo
patriarca da família, 1994 foi o auge do prestígio político da família Cunha
Lima, que, de rebarba, ainda elegeu Ivandro Cunha Lima, também Deputado
Federal, com a quarta maior votação do estado. O também peemedebista Antônio
Mariz, o governador eleito, obteve 76% dos votos em Campina Grande.
Em 1996, Cássio voltaria
a disputar a Prefeitura de Campina, derrotando mais uma vez seu tradicional
adversário, Enivaldo Ribeiro, desta vez numa apertada disputa cuja diferença
chegou a apenas 8 mil votos, obtidos em distritos fora de Campina Grande.
Enivaldo seria derrotado
mais uma vez, em 2000, configurando sua quarta derrota seguida para a família
Cunha Lima, três das quais para Cássio. Depois, provavelmente cansado de tantas
sovas eleitorais, Enivaldo passaria a compor o grupo de apoio cassista em
Campina Grande e no estado.
Um acontecimento iria
alterar a trajetória de Cássio Cunha Lima rumo ao Governo do Estado na eleição
seguinte, que se reslizaria em 1998, quando teria apenas 35 de idade: a morte
prematura de Antônio Mariz e a aprovação da emenda da reeleição, num outro
casuísmo, já que aconteceu em pleno andamento dos mandatos dos beneficiários com
o direito de se reelegerem: Prefeitos, Governadores e o Presidente da
República.
Nas comemorações do seu aniversário. Ronaldo rompe com Maranhão em 1997. Na foto acima, Cássio está atrás de Ronaldo |
A morte de Mariz
efetivou José Maranhão no cargo de governador e a aprovação da emenda da
reeleição abriu a possibilidade de, no cargo, o governador disputar mais um
mandato.
Esse fato abriu uma
grave crise no PMDB paraibano, que vivia um vazio na liderança depois das
mortes de Humberto Lucena e do próprio Antônio Mariz.
A solução foi uma
disputa de vida ou morte pelo controle do PMDB numa rumorosa e disputadíssima
Convenção, enfim vencida pelo então governador José Maranhão.
Esse racha levaria a
família Cunha Lima e seu grupo para o PSDB, em 2001, para viabilizar finalmente
a candidatura de Cássio ao governo, que em 2000 se elegera, ainda pelo PMDB, em
aliança com o PT da até então combativa vereadora, Cozete Barbosa, indicada
para vice.
Na próxima postagem
Na próxima postagem,
analiso as consequências políticas da decisão do grupo Cunha Lima de se filiar
ao PSDB e, em números, a trajetória cassista rumo à decadência como liderança
política estadual.
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