Quem tinha expectativas
de que o Partido dos Trabalhadores aumentasse seus peso politico e eleitoral
nas eleições 2014 em razão da conquista da Prefeitura da maior cidade o estado,
a capital João Pessoa, certamente decepcionou-se. Ou surpreendeu-se
Em 2014, o PT reduziu
sua votação nas eleições proporcionais (Assembleia e Câmara dos Deputados), e
nas eleições majoritárias seu candidato a Senador foi derrotado por outra
candidato que até o final de junho sequer era candidato, e contava com uma
estrutura de campanha infinitamente inferior.
Além disso, a presidente
do PT à reeleição, Dilma Rousseff , também diminuiu sua votação em relação
a 2010 tanto no estado, mas especialmente, vejam só, naquela que é a única
capital nordestina governada por um petista.
A derrota em números
Para a Assembleia
Legislativa, o PT reduziu sua votação em quase 11%. Dos 136.920 votos obtidos
em 2010 (incluídos os de legenda), os candidatos a deputados estaduais petistas
viram sua cair para 111.510 agora em 2014.
O resultado disso foi
uma redução na bancada de três para apenas dois deputados numa assembleia de 36
deputados, ou seja, o PT tem pouco mais de 5% do parlamento estadual paraibano.
Para a Câmara dos
Deputados, apesar de mantido a única representação que tinha, a do deputado
Luiz Couto, o PT viu sua votação cair em quase 60 mil votos, de 174.384 para 132.973.
O próprio Luiz Couto
perdeu mais de 25 mil votos entre uma eleição e outra. De 95.555, em 2010, para
69.922, uma perda de quase 25%!
E é bom lembrar que
Couto era quase um candidato único de todas as forças internas do PT – seus principais
adversários eram recém filiados ao partido, Bira Pereira e Odon Bezerra, – e seguramente
contou com o apoio do governador Ricardo Coutinho pelos anos de fidelidade ao
seu projeto de poder.
Senado: petista é derrotado
Quanto ao Senado,
Lucélio Cartaxo, irmão do prefeito pessoense Luciano Cartaxo, foi derrotado por
José Maranhão, do PMDB, que lançou-se candidato no dia da Convenção do partido,
a pouco mais de três meses da eleição. Detalhe: Maranhão, até então o favorito
nas pesquisas para o Senado, apoiaria a candidatura de Lucélio em troca do
apoio do PT ao candidato a governador do PMDB.
Sem alternativa por
conta da ruptura unilateral do PT da aliança que estava acordada, o PMDB lançou
José Maranhão, que acabou ocupou os espaço que seria de Cartaxo no
enfrentamento de candidatos frágeis
eleitoralmente para vencerem disputas majoritárias, até então Rômulo Gouveia e
Wilson Santiago.
Não há qualquer dúvida
que teria sido muito mais fácil derrotar Rômulo Gouveia e Wilson Santiago nessa
disputa.
E como Gouveia não foi
candidato, substituído que foi por Lucélio, fica a dúvida de como seria seu
desempenho, mas é quase certo de que não seria muito superior ao que alcançou
Santiago, cuja fragilidade se mostrou por inteiro durante a campanha.
Um dos motivos para a
vitória de Maranhão tem a ver com o maior conhecimento do peemedebista em meio
ao eleitorado por ter sido ele três vezes governador, senador e várias vezes
deputado federal, além de ter participado das duas últimas disputas para o governo.
Tão importante quanto o recall maranhista, entretanto, foi o
fato de ter sido ele o desaguadouro tanto das insatisfações dos aliados de
Santiago como de sua condição de ex-governador que foi a referência durante um
bom tempo para parte expressiva do eleitorado.
Sem buscar pontos de
atrito, Maranhão, ao contrário, como eu
disse antes da eleição, foi tratado como uma verdadeira “noiva” da eleição,
tanto por RC como por Cássio, o que permitiu agregar votos de todos os
palanques.
Isso poderia ter também
acontecido com Lucélio, já que todos esses que deixaram o palanque de Wilson
Santiago compõem a base de apoio da presidente Dilma no Congresso.
Por outro lado, como o
PT esperava, Cartaxo não conseguiu reproduzir no palanque de RC o bom
desempenho do “socialista”, especialmente nas grandes cidades.
Nas 10 maiores, Lucélio
venceu Maranhão em quatro (João Pessoa, Bayeux, Santa Rita – esta por uma
diferença de apenas 1572 votos, – e Sousa, enquanto Maranhão venceu Lucélio em seis
municípios (Cabedelo, Guarabira, Sapé, Campina Grande, Patos e Cajazeiras).
A diferença de votos que
o petista colocou nessas dez cidades sobre o peemedebista (31.454 votos), toda foi
resultado da votação obtida na capital que lhe rendeu uma diferença de 79.970,
diferença que foi facilmente tirada no restante do estado tanto quanto a
disputa se encaminhava para os municípios menores.
Se João Pessoa for
excluída, Maranhão venceria nessas 10 maiores cidades por quase 50 mil votos!
Ou seja, Lucélio Cartaxo
perdeu as eleições onde um candidato com suas características no Nordeste normalmente
ganharia, enfrentando adversários que o eleitorado rejeitou nessas eleições. Especialmente
se contasse com o apoio do PMDB e de José Maranhão.
Venceu em João Pessoa
com o apoio das duas poderosas máquinas administrativas juntas, com uma
estrutura de campanha que chamou a atenção pela visibilidade apresentada,
enquanto quase não se via campanha do seu principal adversário nas ruas.
As famosas jovens que seguram
bandeiras nas ruas para candidatos foram novamente substituídas por escassos
baldes de cimento como apoio para as de Maranhão.
E mesmo na capital
Lucélio não conseguiu repetir o desempenho que RC obteve para o governo no
primeiro turno: 50,3%, enquanto Coutinho chegou a 56%, o que significam 51 mil
votos de diferença entre um e outro.
Só em Campina Grande Maranhão
obteve 54.061 mil votos, quase 29 mil de frente. E em Patos, 18 mil só de
diferença!
Considerando apenas os
resultados eleitorais, vê-se que a aliança do PT com o governador reeleito
Ricardo Coutinho, como eu já analisei anteriormente, foi fundamental e decisiva
para a vitória do “socialista”, mas para o PT representou uma regressão em
relação aos resultados obtidos pelo partido até 2010.
Dilma teve seu oitavo pior desempenho no Nordeste em João
Pessoa
Acima, o mapa eleitoral para presidente das capitais nordestinas |
Para completar o quadro
que mostra uma regressão em termos eleitorais do PT no estado, é só observarmos
o desempenho de Dilma Rousseff em João Pessoa, a única capital administrada
pelo partido no Nordeste.
Das nove capitais, Dilma
só teve um desempenho pior em Maceió. Em João Pessoa, Dilma perdeu em toda
orla, ou seja, nos bairros mais ricos da cidade, fato que também se reproduziu
em Maceió. Nos bairros do centro e nas regiões mais periféricas da capital,
Dilma se aproxima do desempenho obtido no restante do estado (64%).
O mesmo não aconteceu
com o governador Ricardo Coutinho, que teve um desempenho mais homogêneo em
todas as regiões da Capital, superior a 55%.
O futuro do PT na Paraíba
O resultado eleitoral de
2014 do PT no estado deve acender o sinal de alerta para a direção partidária,
especialmente para o grupo mais próximo do Prefeito Luciano Cartaxo.
Avaliação de resultados eleitoral
é voto em urna. É ele quem separa um desempenho vitorioso de um desempenho
frágil. E é preciso analisar a evolução de cada força política.
Em 2014, diferente de
todas as eleições anteriores, o PT tinha sob seu controle a Prefeitura da João
Pessoa, a maior cidade do estado. No mínimo, se esperava um crescimento
eleitoral do partido, mas o que se viu foi uma regressão.
Ou seja, parece haver
equívocos tanto quanto no projeto político do partido quanto no perfil da administração
pessoense.
Esse vai-e-vem em
relação aos aliados, por exemplo, parece demonstrar essa confusão. De aliado
preferencial até 2010, o PMDB passou a ser tratado como adversário; Luciano
Agra, que recebia pesadas críticas do PT, tornou-se um aliado decisivo em 2012;
e Ricardo Coutinho, a quem o PT fez oposição tenazmente por mais de três anos e
meio, de repente se torna aliado na eleição seguinte.
Tudo isso não deixa
claro qual é mesmo a do PT. Alterações tão abruptas de rumo podem ser
perigosas, especialmente em um quadro claramente de mudança no perfil do
eleitorado.
Quanto à administração
petista em João Pessoa, a confusão é geral e reflete a confusão que acontece na
política de alianças do PT no estado. Aqui, até mesmo o PSDB participa de
cargos estratégicos da administração municipal, numa acomodação cujo custo
político põe em risco o tal “modo petista de governar”, marca que o PT
implementou em suas administrações e que o distingue dos outros partidos.
O campo está aberto,
entretanto, para a reeleição de Luciano Cartaxo, cujo favoritismo só pode ser
colocado em risco pelos erros na condução política do PT e da administração
pessoense.
Com o rol de obras e
ações que já existem e que começarão a aparecer no próximo ano não me parece
que haja, por enquanto, qualquer candidatura a ameaçar o projeto de reeleição
do atual prefeito.
E a “administração da
política” cartaxista parece ser o maior gargalo que ele enfrenta. Caso ele
resolva esses entraves, o caminho estará livre para a conquista de mais um
mandato em João Pessoa sem que sejam necessárias alianças que comprometam ou restrinjam projetos futuros.
Se é que o PT os tem.
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