Certamente, os maiores derrotados das
eleições de 2014 na Paraíba são Cássio Cunha Lima e o PSDB.
Uma derrota eleitoral e política cujo
alcance ainda não pode ser medido em toda sua extensão, mas que terá
impactos nas futuras disputas na Paraíba.
Os erros de Cássio
Antes de tudo, seria miopia política achar
que a derrota eleitoral de Cássio Cunha Lima trata-se apenas de um resultado
única e exclusivamente determinados pelas especificidades próprias da política
paraibana.
Certamente, elas foram decisivas e
preponderantes, como são em todos os embates. Mas, eu acredito que o eleitorado
nordestino rejeita cada vez mais liderança cujas práticas políticas e administrativas
lembrem práticas oligárquicas ou não “republicanas”, como o governador eleito
gosta de chamá-las. (Voltaremos a essa questão na parte final desse texto)
E Cássio, assim como fez José Maranhão, em
2010, vestiu com perfeição esse figurino.
A começar pela postura dúbia que adotou
durante o governo, do qual participou aquinhoado por incontáveis cargos em
todos os escalões, deixando sempre em aberto se manteria ou não o apoio ao
governador.
Depois, por deixar para a última hora (abril
de 2014, a três meses das convenções) para anunciar o rompimento e a
candidatura. Quer atitude mais execrável do que essa?
Além disso, depois veio o debate na
Assembleia sobre a reprovação das contas de 2011 do atual governo, um golpe, concordando
com RC à época – algo raro – segundo eu mesmo me referi a essa manobra em
comentário na Rádio CBN.
Um erro da oposição, já então engordada e liderada
pelo cassismo, que vitimizou o governador, dando argumento para que este
continuasse a desancar deputados oposicionistas chamando-os de chantagistas.
Esse foi o capítulo final de um embate que
o governador, calculadamente, levou à frente contra a Assembleia no decorrer
dos mais de três anos de governo, já se preparando para o embate que teria na
eleição.
Mais do que um embate entre poderes, esse
foi um embate entre imagens: a do governador austero, que se recusa a negociar
com deputados em termos obscuros, e deputados, a maioria conhecida pelas
barganhas pouco republicanas que fazem em troca de apoio parlamentar.
A montagem da chapa
Um movimento de Cássio que deixou claro o
quanto ele subestimou o adversário, erro que também cometeu José Maranhão, em
2010, foi na montagem da chapa.
Provavelmente considerando-se já eleito, Cássio
superestimou sua situação em João Pessoa e subestimou a de RC ao privilegiar as
acomodações de aliados e o peso econômico, ao optar por Ruy Carneiro como seu
companheiro de chapa, também do PSDB, e Wilson Santiago, cuja liderança ainda
carece ainda ser confirmada nesses embates.
Com a escolha de Rui Carneiro, Cássio optou
por ampliar seu palanque ao distribuir seu espólio entre deputados aliados, sem
esquecer o próprio filho, projetando para torna-lo o deputado mais votado da
eleição.
Mesmo Carneiro sendo de João Pessoa, o
tucano pouco agregou aos votos que já detinha na Capital. Talvez se tivesse
optado por um nome como Luciano Agra, Cássio não apenas teria condições de
ampliar com um nome que agregava um outro perfil à chapa, como teria escolhido
alguém cujo recall de embates com RC
ainda era muito nítido.
Mesmo Cícero Lucena teria cumprido, para a
estratégia eleitoral, um papel mais decisivo, especialmente em João Pessoa, e
teria sido mais competitivo na disputa para o Senado.
A campanha colada na de Aécio
Que Cássio é “amigo do peito” e “irmão
camarada” de Aécio Neves todo mundo já sabia, mas que isso justificaria colar
uma campanha na outra, aí já são outros quinhentos.
Cássio parece ver a Paraíba como vê Campina
Grande. Isso pode até ter rendido alguns votos em meio ao eleitor da classe
média das praias pessoenses, mas para aqueles que votaram majoritariamente em
Dilma, que obteve quase 65% dos votos dos paraibanos, não em parece ser essa
uma boa estratégia, especialmente no segundo turno quando a eleição ratificou a
velha polarização PT-PSDB.
O Nordeste em mudança
O que a Paraíba viu ser derrotada no último
dia 26 de outubro pode não ter sido apenas a primeira derrota de um político
cuja invencibilidade era cultuada como um atestado de derrota antecipada para
seus adversários.
Pode ter sido a derrota de um estilo, de
uma maneira de fazer política, e, mais do que tudo, de uma forma social chamada
“oligárquica”.
Talvez Cássio tenha experimentado os
últimos espasmos de um prestígio que o projetou como grande liderança estadual,
quando este, já de maneira sofrível, conseguiu derrotar em 2002 o ex-governador
Roberto Paulino, e repetir a dose, também aos trancos e barrancos, agora em
2006, num duelo de gigantes do tradicionalismo político.
O que nós vimos foi a expressão
personalizada nessas lideranças políticas de movimentos mais profundos, mais
estruturais que estão em andamento no Nordeste.
Por mais “modernoso” que o PSDB tente se
apresentar ao país, o que restou de apoio no Nordeste são os carcomidos grupos
oligárquicos da direita nordestina, mesmo que figuras como Sarney – também
derrotado no Maranhão pelos ventos anti-oligárquicos que chegaram pra ficar
nesse Nordeste que se avermelhou de vez em 2014 – Collor de Mello e Renan
Calheiros, em Alagoas, ainda que mantenham-se na base de apoio petista mais por
razões políticas do que ideológicas.
E o tempo dirá se, especialmente Sarney e
Renan, permanecerão onde estão.
O certo é que 2014 confirmou e consolidou a
força do lulismo no Nordeste, fenômeno que é observado eleição a eleição com
maior visibilidade desde 2002.
Vejam o que aconteceu na Bahia e no Ceará,
os dois mais importantes estados do Nordeste ao lado de Pernambuco. Na Bahia,
até 2006 o bastião da direita carlista, o PT elegeu pela terceira vez o
governador do estado, consolidando de vez a liderança do ex-sindicalista Jaques
Wagner.
No Ceará, o PT venceu, depois de “bater na
trave” em 2002. Em 2006 e 2010, apoiou Cid Gomes e em 2014 finalmente elegeu o
governador do estado, Camilo Santana.
Mesmo o que aconteceu em Pernambuco não
pode ser visto como um ponto fora da curva.
Paulo Câmara, o sucessor de Eduardo Campos,
construiu sua vitória depois dos governos vitoriosos do PSB no estado, em
aliança com o PT e Lula até 2013.
E a esmagadora vitória de Dilma no segundo
turno deixou claro que o eleitor pernambucano sabe muito bem diferenciar as
coisas. Deu uma expressiva vitória ao PSB para o governo, mas no segundo turno
para presidente colocou as coisas em seu devido lugar, um alerta para a família
Campos de que Pernambuco não tem dono. Assim como o Nordeste.
Dos nove governadores, com exceção de
Robinson Faria, do PSD do Rio Grande do Norte, Renan Filho e Jackson Barreto,
do PMDB de Alagoas e Sergipe, respectivamente, todos os outros pertencem a
partidos cujos vínculos são inegavelmente com a esquerda no país.
E todos, à exceção de Paulo Câmara, foram
apoiados por Lula e Dilma.
Depois eu volto para analisar o desempenho eleitoral do PT em 2014.
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