Hoje à tarde quando ia buscar meus filhos no colégio, liguei
o rádio na AM e meus ouvidos ficaram entre a cruz e a espada.
Na Jovem Pan, estava lá Reinaldo Azevedo, o queridinho a
elite reacionária que tem um blog na página da Veja, escreve na Folha e tem um
programa de final de tarde na ultrarreacionária emissora paulista.
Mais conhecido por "rola-bosta", aquele besouro
que usa esterco para se reproduzir, Azevedo usa suas torpes noções de vida e de
política para semear ódio a tudo que soe popular e de esquerda.
É dele essa frase que resume bem suas ideias políticas: "Eu não tenho o menor interesse na opinião do povo. Quase sempre ele está errado. Aliás, a opinião de muito pouca gente me interessa. A democracia sempre foi salva pelas elites e posta em risco justamente pelo “povo”, essa entidade. Vai acontecer de novo. Lula, reeleito, tende a levar o país para o buraco. E uma elite política terá de ser convocada para impedir o desastre."
E hoje, como de hábito, ele estava lá a comemorar como vivas
e aplauso, junto com Caio Blinder, a derrota dos comunistas nas eleições
parlamentares da... Ucrânia!
Blinder, que mora em Nova York, é também apresentador do Manhattan Connection, da Globo News,
aquele programa que reúne a nata do jornalismo conservador brasileiro fora do
Brasil – e essa condição, creiam, é uma recompensa por tanta bajulação às
posições dos patrões e uma homenagem à mentalidade colonial de todos eles.
Falar mal do Brasil fora do Brasil.
Mudei de estação porque meu ouvido pode até estar sujo, mas
não é penico.
Tentei a Sanhauá. E quem me brinda com comentários a lá
Reinaldo Azevedo pelo seu reacionarismo contumaz, sem, entretanto, o pedantismo
provinciano do paulista?
Maurílio Batista. O jornalista, que é assessor de Cícero
Lucena e trabalha no site ClickPB, levantava uma de suas tantas bandeiras
conservadoras: a defesa da redução da maioridade penal.
Para o constrangimento da competente jornalista Yvína Souto,
que normalmente faz o contraponto a Batista, mas quase nunca consegue porque
Batista é daqueles que não deixa ninguém falar e tenta se impor no grito.
Como bom cristão que deve ser, Batista é um daqueles que
defendem a sublime ideia de que "bandido bom é bandido morto".
Dei uma pausa para entrar no colégio e pegar meus filhos.
Quando voltei, um dos membros da bancada do programa Hora do Rush introduzia na
discussão o protesto do jogador paraibano Hulk contra outra estrela do
jornalismo reacionário, também da Veja e também do Manhattan Connection, Diogo Mainardi, cujos bons préstimos à Veja
rendeu-lhe uma estadia em Veneza, na Itália, de onde normalmente participa do
programa da Globo News.
No último domingo, comentando o resultado das eleições
presidenciais brasileiras e a vitória da petista Dilma Rousseff, Mainardi
exibiu sintomas de mais um surto psicótico, provavelmente resultado do impacto
de ter de conviver por mais quatro anos com uma petista na Presidência do país,
e rolou bosta pra todo lado:
"O Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi
governista, sempre foi BOVINO, sempre foi subalterno em relação ao poder,
durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT. É uma
região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem uma grande dificuldade
para se modernizar, se modernizar na linguagem. A imprensa livre só existe da
metade do Brasil para baixo. E nessa metade do Brasil pra baixo, onde a Dilma é
minoria, um pequena minoria – EU SOU PAULISTA ANTES DE SER BRASILEIRO – (...)
votou na Dilma (...) Tudo o que representa a modernidade tá do outro
lado."
Pois bem. Não é que Maurílio Batista, exercitando seu ódio
subalterno ao PT, tentou encontrar argumentos para justificar as posições desse
outro rola-bosta?
Primeiro, tentou confundir as posições dos políticos com as
do povo nordestino, que sequer votava para presidente durante a ditadura.
Batista poderia ter lembrado do governismo da Globo, que
apoiou o Golpe de 1964 antes, durante e depois, assim como toda a "elite
moderna" paulista, incluindo a “ultramoderna” FIESP, assim como a Folha e
o Estado de São Paulo.
Ora, nada mais patrimonialista, mais governista do que a
elite paulista. Isso desde o Império!
Por falar em "povo bovino", quem criou a República
Oligárquica e o "coronelismo" antes de 1930?
Ou Mainardi esqueceu o significado da expressão “Política do
Café com Leite”, também comumente associada à República Velha?
Quem acabou com tudo isso foi Getúlio Vargas, por quem a
elite paulista ainda alimenta um ódio visceral.
E é esse o ponto. O problema é que essa elite paulista nunca
se deu bem foi com o povo. Sua imprensa e seus intelectuais sempre acharam
muito démodé essa história do povo
decidir sobre quem governa o Brasil.
Na primeira oportunidade, derrubaram Getúlio, em 1945, e o
levaram ao suicídio, em 1954. Depois, novamente derrubaram João Goulart e
apoiaram alegremente os “modernos” militares, que deixavam seus fardões de lado
quando assumiam a Presidência.
Coisa bem brasileira, aliás. E eles adoravam. Tudo em nome
do combate ao comunismo! Como são modernos, esse paulistas!
50 anos depois, eis que me aparece esse barbudo chamado
Lula, ao lado de senhora corajosa chamada Dilma, e botam novamente água no chopp
da elite paulista, ao lado dessa inconveniência política chamada de “povo”.
E, paradoxos dos paradoxos, é bom lembrar que já é quase um
consenso que as políticas sociais do PT tem ajudado a romper os currais
eleitorais nordestinos ao dar mais autonomia ao eleitor mais pobre, que se
torna mais autônomo porque menos dependente do poder econômico e político das
grandes famílias. Quer expressão maior de modernidade?
Maurilio Batista, na sua cegueira ideológica, chega a
esquecer mesmo as suas origens para embarcar na visão parcial de um jornalista
cujo desprezo pelo Brasil e pelos brasileiros é notório, para o claro
constrangimento dos seus colegas de bancadas.
Um deles, de maneira jocosa, pediu que Batista desse um
"muuuuuúúúú!" para os ouvintes, já que Diogo Mainardi não distinguiu
nenhum nordestino. Para ele todos nós somos bovinos.
E aí, Maurílio Batista, somos ou não?
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