quarta-feira, 6 de maio de 2015

RC VOLTOU A SER RC OU FOI SÓ UMA RECAÍDA?

O ex-governador Roberto Paulino confirmou ontem o seu rompimento com o governador Ricardo Coutinho. 

O motivo: as declarações dadas a rádios do Brejo durante o fim de semana que, entre outras coisas, deixavam claro que o governador entendia a resistência do deputado estadual Raniery Paulino em compor a bancada da situação na Assembleia como “autovalorização”. 

Em outras palavras, RC insinuou que o deputado fazia jogo de cena para encarecer o passe, que traz de volta uma agressividade desnecessária e deixa dúvida sobre se o estilo “paz e amor” adotado por RC nesses primeiros meses de governo tenha sido totalmente colocado de lado.

A resposta RC não recebeu de Raniery, mas de seu pai, Roberto Paulino que, ao que parece, não pensou duas vezes em assumir a defesa do filho para anunciar o rompimento, como é próprio daqueles que não aceitam engolir sapos para preservar proximidades com o poder. 

“É bom Ricardo saber que Raniery nunca quis ir para o Governo. Ele recebeu emissários, inclusive com propostas pouco republicanas, mas, sempre as refutou. O meu filho não procurou o Chefe do Executivo, nem está se valorizando,” respondeu ontem Roberto Paulino. 

A Paraíba espera saber que propostas “pouco republicanas” foram essas feitas a Raniery.

RC, Paulino e o PMDB

Esse talvez tenha sido o primeiro erro da bem trabalhada composição que RC faz para levar o PMDB não apenas para sua base de apoio, mas para compor seu projeto de poder no estado, cujo primeiro passo consistia em isolar os peemedebistas refratários a qualquer aproximação com Ricardo Coutinho, a exemplo do deputado federal Manoel Jr. 

Paulino não é um peemedebista qualquer. Paulino talvez seja, hoje, ao lado de José Maranhão, um dos poucos consensos no PMDB paraibano pela trajetória de lealdade ao partido, coisa rara na empobrecida política paraibana quando o assunto é fidelidade partidária. 

Na oposição ou no governo, Paulino nunca deixou margem para dúvidas a respeito de suas posições. Não fez nenhum movimento de aproximação com Ricardo Coutinho no comecinho do primeiro governo, como tentaram alguns deputados peemedebistas. 

Nem muito menos deixou-se seduzir pelo jogo que o cassismo tentou empreender para dividir o PMDB – tornou-se notória a ação de algumas lideranças peemedebistas para implodir a candidatura de Veneziano Vital e depois, durante a campanha, na adesão quase escancarada ao tucano, deixando o candidato do partido, Vital do Rego Filho, a ver navios. 

Em todos esses casos, Paulino permaneceu firme com o seu partido. Candidato a vice-governador na chapa peemedebista, seguiu o partido na decisão de apoiar Ricardo Coutinho no segundo turno, e foi decisivo ao transferir integralmente os votos obtidos em Guarabira para o governador-candidato.

O mesmo se pode dizer do filho, o hoje deputado estadual Raniery Paulino. Ainda que destoando do apoio que o pai ofereceu até a última segunda à noite ao projeto do governador Ricardo Coutinho, sempre o fez de maneira pública e transparente, mantendo a posição que orientou o seu mandato nos últimos quatro anos. 

E é bom lembrar que Raniery Paulino não votou em RC no segundo turno de 2014, preferindo a neutralidade, o que já era um claro indício do quanto ele se sentia constrangido com aquela nova posição do PMDB. 

Mas, o fato é que o afunilamento próprio da política paraibana iria impor, mais dia menos dia, uma aproximação de Raniery com o bloco ricardista. Era só uma questão de tempo. E tempo RC tem de sobra, já que conta hoje com folgada maioria na Assembleia.

Ao dar margem e discurso para o rompimento, RC perdeu o apoio de uma expressiva liderança regional, cujo apoio foi também decisivo para que RC conquistasse a vitória em 2014 em Guarabira. 

Lá, RC obteve no primeiro turno 9.773, contra 12.333 de Cássio Cunha Lima, e 5.577 de Vital do Rego Filho. No segundo, RC incorporou quase a soma exata da votação peemedebista no município, ultrapassando Cássio Cunha Lima com a votação de 15.317. 

Sem esquecer que em Guarabira, a média de votação de Vital (20%) foi quatro vezes superior a obtida por ele em toda a Paraíba (5,22%) e mais do que o dobro da obtida em Campina Grande (8,35%), sua terra natal.

Além disso, RC pode ter permitido que um grande óbice tenha se colocado entre ele e o projeto político que alimenta com o PMDB. E que o governador torça para que os Paulino não resolvam esticar a corda mais do que ela está esticada e exijam solidariedade do PMDB. 

Ou então, que desfaça o imbróglio com gestos de reaproximação. De qualquer maneira, o cassismo comemora e Zenóbio Toscano respira mais aliviado.

Fulgêncio e os “pleitos não atendidos”


O problema de um prefeito ou governador ter uma bancada de apoio numerosa no parlamento é que isso acaba criando inevitáveis problemas para a gestão política de sua administração. 

O desafio é “acomodar” todos os numerosos interesses envolvidos, sem que isso produza ganhos políticos, a não ser os relacionados à maioria parlamentar e as promessas de apoio partidário futuro. 

Ontem, o site de notícias MaisPB noticiou que      “alguns vereadores aliados estão insatisfeitos com o trabalho desempenhado pelo secretário de Articulação Política Adalberto Fulgêncio”. 

Segundo a matéria, as “insatisfações” têm a ver com “pleitos não atendidos”. Um recado nada sutil que, como bom entendedor, Fulgêncio já deve ter captado. Essa imagem de quem não cede às chantagens do parlamento Luciano Cartaxo não agregará à sua biografia nem à imagem de sua administração. 

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