O ex-governador
Roberto Paulino confirmou ontem o seu rompimento com o governador Ricardo
Coutinho.
O motivo: as declarações dadas a rádios do Brejo durante o fim de
semana que, entre outras coisas, deixavam claro que o governador entendia a
resistência do deputado estadual Raniery Paulino em compor a bancada da
situação na Assembleia como “autovalorização”.
Em outras palavras, RC insinuou
que o deputado fazia jogo de cena para encarecer o passe, que traz de volta uma
agressividade desnecessária e deixa dúvida sobre se o estilo “paz e amor”
adotado por RC nesses primeiros meses de governo tenha sido totalmente colocado
de lado.
A resposta RC não
recebeu de Raniery, mas de seu pai, Roberto Paulino que, ao que parece, não
pensou duas vezes em assumir a defesa do filho para anunciar o rompimento, como
é próprio daqueles que não aceitam engolir sapos para preservar proximidades
com o poder.
“É bom Ricardo saber que Raniery nunca quis ir para o Governo. Ele
recebeu emissários, inclusive com propostas pouco republicanas, mas, sempre as
refutou. O meu filho não procurou o Chefe do Executivo, nem está se valorizando,”
respondeu ontem Roberto Paulino.
A Paraíba espera saber que propostas “pouco
republicanas” foram essas feitas a Raniery.
RC, Paulino e o PMDB
Esse talvez tenha
sido o primeiro erro da bem trabalhada composição que RC faz para levar o PMDB
não apenas para sua base de apoio, mas para compor seu projeto de poder no
estado, cujo primeiro passo consistia em isolar os peemedebistas refratários a
qualquer aproximação com Ricardo Coutinho, a exemplo do deputado federal Manoel
Jr.
Paulino não é um peemedebista qualquer. Paulino talvez seja, hoje, ao lado
de José Maranhão, um dos poucos consensos no PMDB paraibano pela trajetória de
lealdade ao partido, coisa rara na empobrecida política paraibana quando o
assunto é fidelidade partidária.
Na oposição ou no governo, Paulino nunca
deixou margem para dúvidas a respeito de suas posições. Não fez nenhum
movimento de aproximação com Ricardo Coutinho no comecinho do primeiro governo,
como tentaram alguns deputados peemedebistas.
Nem muito menos deixou-se seduzir
pelo jogo que o cassismo tentou empreender para dividir o PMDB – tornou-se
notória a ação de algumas lideranças peemedebistas para implodir a candidatura
de Veneziano Vital e depois, durante a campanha, na adesão quase escancarada ao
tucano, deixando o candidato do partido, Vital do Rego Filho, a ver navios.
Em
todos esses casos, Paulino permaneceu firme com o seu partido. Candidato a
vice-governador na chapa peemedebista, seguiu o partido na decisão de apoiar
Ricardo Coutinho no segundo turno, e foi decisivo ao transferir integralmente
os votos obtidos em Guarabira para o governador-candidato.
O mesmo se pode
dizer do filho, o hoje deputado estadual Raniery Paulino. Ainda que destoando do
apoio que o pai ofereceu até a última segunda à noite ao projeto do governador
Ricardo Coutinho, sempre o fez de maneira pública e transparente, mantendo a
posição que orientou o seu mandato nos últimos quatro anos.
E é bom lembrar que
Raniery Paulino não votou em RC no segundo turno de 2014, preferindo a
neutralidade, o que já era um claro indício do quanto ele se sentia
constrangido com aquela nova posição do PMDB.
Mas, o fato é que o afunilamento
próprio da política paraibana iria impor, mais dia menos dia, uma aproximação
de Raniery com o bloco ricardista. Era só uma questão de tempo. E tempo RC tem
de sobra, já que conta hoje com folgada maioria na Assembleia.
Ao dar margem e
discurso para o rompimento, RC perdeu o apoio de uma expressiva liderança
regional, cujo apoio foi também decisivo para que RC conquistasse a vitória em
2014 em Guarabira.
Lá, RC obteve no primeiro turno 9.773, contra 12.333 de
Cássio Cunha Lima, e 5.577 de Vital do Rego Filho. No segundo, RC incorporou
quase a soma exata da votação peemedebista no município, ultrapassando Cássio
Cunha Lima com a votação de 15.317.
Sem esquecer que em Guarabira, a média de
votação de Vital (20%) foi quatro vezes superior a obtida por ele em toda a
Paraíba (5,22%) e mais do que o dobro da obtida em Campina Grande (8,35%), sua
terra natal.
Além disso, RC pode
ter permitido que um grande óbice tenha se colocado entre ele e o projeto político
que alimenta com o PMDB. E que o governador torça para que os Paulino não
resolvam esticar a corda mais do que ela está esticada e exijam solidariedade
do PMDB.
Ou então, que desfaça o imbróglio com gestos de reaproximação. De
qualquer maneira, o cassismo comemora e Zenóbio Toscano respira mais aliviado.
Fulgêncio e os “pleitos não atendidos”
O problema de um
prefeito ou governador ter uma bancada de apoio numerosa no parlamento é que
isso acaba criando inevitáveis problemas para a gestão política de sua
administração.
O desafio é “acomodar” todos os numerosos interesses envolvidos,
sem que isso produza ganhos políticos, a não ser os relacionados à maioria
parlamentar e as promessas de apoio partidário futuro.
Ontem, o site de
notícias MaisPB noticiou que “alguns
vereadores aliados estão insatisfeitos com o trabalho desempenhado pelo
secretário de Articulação Política Adalberto Fulgêncio”.
Segundo a matéria, as
“insatisfações” têm a ver com “pleitos não atendidos”. Um recado nada sutil
que, como bom entendedor, Fulgêncio já deve ter captado. Essa imagem de quem
não cede às chantagens do parlamento Luciano Cartaxo não agregará à sua
biografia nem à imagem de sua administração.
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