A pesquisa Datafolha divulgada hoje merece reflexão, especialmente sobre as circunstâncias em que foi feita.
Antes de tudo, para começarmos a pensar em tendências, é importante que o eleitor conheça com alguma profundidade Marina Silva, suas ideias e o que ela representa na política nacional.
Por isso, é recomendável esperar passar o ambiente de comoção criada para
que qualquer análise não seja “contaminada” por um ambiente dominado pela emoção,
que não deve se prolongar por muito tempo.
Pesquisa
realizada sob o fogo dos acontecimentos tem alguma validade, a não ser explorar
a circunstância política?
Uma primeira observação sobre a pesquisa diz respeito ao
momento em que ela foi realizada: nos dias imediatamente após o trágico
acidente que vitimou Eduardo Campos e parte de sua equipe de campanha.
Ora, alguém tem dúvida que, diante do espetáculo midiático
promovido após o acidente e a resultante comoção social que fatos dessa
natureza provoca, a ex-petista não se beneficiasse eleitoralmente?
E principalmente porque Marina Silva foi colocada no centro
das atenções pela mídia, que praticamente substituiu as instâncias do PSB e a apontou
como herdeira e sucessora natural de
Eduardo Campos.
Considerando o ambiente marcadamente emocional é legítimo perguntar
por que tanta pressa em fazer e divulgar uma pesquisa? No UOL, a pesquisa começou
a ser divulgada às 2h30 da madrugada dessa segunda, somente algumas poucas
horas depois que o corpo de Eduardo Campos havia sido enterrado. Nem deixaram o
corpo esfriar.
Marina
cresceu mesmo?
Em julho de 2013, em pesquisa realizada novamente pelo
Datafolha no auge das grandes manifestações, portanto, num ambiente político
muito favorável a Marina Silva, a então líder do partido em construção, o Rede
Sustentabilidade, saltou de 16% para 23% e atingiu seu mais alto patamar de
intenções de voto em outubro, quando chegou a 29%. Na pesquisa seguinte, caiu
para 26%.
Isso no Datafolha. No Ibope, Marina sempre pontuou bem
abaixo dos números aferidos pelo instituto da Folha. Em setembro do ano passado,
Marina chegou, segundo o Ibope, ao seu mais alto patamar, 21%.
Um mês depois,
em outubro, Marina havia despencado para 12%, em um cenário com as candidaturas
de Dilma (37%), Aécio (9%) e Eduardo Campos (4%). Sem Campos, Marina chegava a
16%.
Em abril, Marina, já filiada ao PSB, caíra para 10%, no
cenário com as candidatura de hoje, com o Pastor Everaldo.
Ou seja, Marina
tinha no Ibope um desempenho bem diferente do Datafolha, que lhe dava 10% a
mais de intenções de voto.
Enfim, é importante ver o comportamento de Marina no
Ibope, onde ela sempre teve um desempenho abaixo do verificado pelo Datafolha.
Ou seja, mesmo diante de tamanha comoção, os números de
Marina Silva obtidos na pesquisa de hoje do Datafolha estão abaixo dos que ela
conseguiu há 10 meses.
Nesse sentido, é legítimo considerar que, no Ibope, ela
tende a ter um desempenho inferior, especialmente porque a pesquisa deve ser
realizada num ambiente não contaminado pela comoção causada pela morte de
Eduardo Campos.
Os
problemas da pesquisa Datafolha
A pesquisa Datafolha trás números no mínimo estranho,
considerando que estamos a um mês e meio da eleição: Marina cresceu apenas agregando votos de eleitores indecisos, que iam vota nulo ou branco e, pasmem, de candidatos à esquerda. Dilma, Aécio e Pastor Everaldo não perderam um voto sequer
em relação à última pesquisa Datafolha.
Marina herdou 100% dos eleitores de Eduardo Campos, e abocanhou 5% dos indecisos, que caíram de 14% para 9%, mais 5% dos que iam votar em branco ou anular, que caíram de
13% para 8%, e raspou o tacho de dos eleitores de Eduardo Jorge (PV), de
Luciana Genro (PSOL), e até - vejam só! – de Ruy Costa Pimenta, do PCO, que tinha 3% somados e agora ostentam 0%!
Só Zé
Maria, do PSTU, escapou de perder votos para Marina, talvez porque o pontinho que ele tinha já não era mais importante para colocar a possível substituta de Eduardo Campos à frente de Aécio Neves.
Tudo isso somado aos 8% que tinha Eduardo Campos permite a
Marina Silva chegar aos 21%, convenientemente um ponto acima de Aécio Neves, o
que assegura o segundo turno, no qual Marina venceria Dilma Rousseff.
É difícil supor, por exemplo, que o eleitorado mais à esquerda,
especialmente do PSOL e PCO, possam ver em alguém tão conservador como Marina
Silva uma opção.
Especialmente porque Dilma e Aécio não perderam um voto sequer
para Marina. Estranho, não?
Além disso, 100% do eleitorado de Eduardo Campos,
especialmente em Pernambuco, foi transferido automaticamente para Marina Silva?
Nem em Pernambuco, onde Dilma já aparecia à frente de Eduardo Campos nas
pesquisas, nem no resto do Brasil, acredito que isso vá acontecer. E nem se a viúva
de Campos pedir.
O
eleitor conhece mesmo Marina?
Isso é assunto para a próxima postagem.
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