Com essa postagem, inicio uma séria de artigos que pretende analisar os impactos políticos da morte de Eduardo Campos, que era candidato do PSB à presidência. Começo pelo próprio PSB e dos dilemas que o partido enfrentará sem a presença de um líder que foi capaz de aglutinar o partido e dar a ele um projeto nacional de poder. Em seguida, trataremos de Aécio Neves e do PSDB. Depois, da candidatura de Dilma Rousseff e, por fim, da possível candidatura de Marina Silva.
O PSB sem Eduardo Campos
Toda mudança abrupta, em especial em um quadro eleitoral que se mostrava
consolidado, é ruim para todo mundo, especialmente nas circunstâncias como
aquelas geradas pela morte de Eduardo Campos. E há dias do início do horário
eleitoral em que o próprio Campos apostava todas as suas fichas para superar o
candidato tucano, Aécio Neves, e disputar o segundo turno com Dilma Rousseff, do PT.
A começar pelo PSB, que não apenas perdeu seu candidato, mas
a liderança que conseguiu dar coesão e expectativa de vitória e poder em razão
da vitoriosa administração que fez em Pernambuco.
Nisso, Campos superou Miguel
Arraes, na Presidência do partido, sem ter mostrado a mesma consistência política e ideológica do avô, é importante que fique registrado.
Sem Campos, o PSB vê uma trabalhosa articulação para agregar
apoio político e tempo de televisão cair no colo de Marina Silva, que só entrou
no partido depois que não conseguiu registro para sua Rede Sustentabilidade.
O próprio PPS de Roberto Freire, por exemplo, dificilmente
apoiaria Marina caso a ex-petista se lançasse sozinha na disputa presidencial. E o mais provável é que muitos aliados abandonem o PSB com a substituição de Campos por Marina Silva.
Candidatos a governador do PSB tiveram de conviver com a
restrição causada pelo compromisso com a candidatura de Eduardo Campos e muitos
montaram suas alianças a partir dessa premissa estratégica.
Se a morte de Campos tivesse acontecido antes das convenções
ou ele tivesse desistido, é provável que muitos quadros eleitorais nos estados sofressem
alterações, e o caso da Paraíba é um deles.
Em quase todo o Nordeste, onde o
PSB é mais forte, especialmente em Pernambuco, certamente o quadro das alianças
teria de ser revisto, e seria caso isso pudesse ainda ser feito.
Enfim, no curto prazo a morte de Eduardo Campos causou não apenas desorientação em termos nacionais. Nos estados, é provável que, passada a comoção inicial, onde o PSB mostre força eleitoral e tenha alguma presença política mais relevante, o partido tende a caminhar para aproximações com o PT ou com o PSDB, a depender do perfil e das alianças das lideranças estaduais.
O PSB apostou no futuro
E mais importante: mesmo derrotado o PSB não apenas
tenderia a sair da disputa de 2014 como uma força política nacional consolidada
e, portanto, capaz de atrair novos apoios e adensar politicamente o partido.
É claro que o PSB, nem muito menos Eduardo Campos, poderiam
admitir que, em razão da fragilidade organizativa e política atual dos dois,
partido e candidato, o fulcro da estratégia para a conquista do Planalto era de
médio-longo prazo, e tinha 2018 como objetivo mais viável a ser alcançado.
E a eleição de 2014 era fundamental para nacionalizar o nome
de Campos, ampliar os espaços do PSB, agregar aliados nesse projeto de poder e,
principalmente, iniciar a consolidação do PSB como alternativa de oposição mais
viável eleitoralmente do que o PSDB.
E isso por alguns motivos. Primeiro, porque em 2018 o PT
estará há 16 anos no poder federal, e a fadiga política e eleitoral já será,
inevitavelmente, fortemente sentida.
Segundo, porque não haverá mais um candidato à reeleição e,
por mais que algumas lideranças do PT lancem ou projetem o nome de Lula para
suceder Dilma, é muito pouco provável que Lula aceite a tarefa. Tanto em razão
da idade, como em razão de sua história.
E, por fim, mas não menos importante. Uma quarta derrota
seguida fragilizará o PSDB de tal maneira como polo aglutinador das forças de
oposição que será inevitável que uma nova força política ocupe o seu lugar.
E o PSB de Eduardo Campos seria o desaguadouro natural para
onde fluiriam lideranças, partidos e segmentos sociais orientados por um único
objetivo comum: derrotar o PT e apeá-lo do poder no Brasil.
Ou seja, a morte de Eduardo Campos é devastadora para o PSB
em vários sentidos, e não apenas no emocional, cujos efeitos deixarão de ser
sentidos, excluídos os familiares e amigos mais próximos, em alguns dias.
O que já deve preocupar a lideranças nacionais do PSB é o
futuro do partido. Sem a capacidade aglutinadora de Eduardo Campos o PSB tende
a ser engolfado pela luta interna e pelos interesses regionais, que tendem a
prevalecer nesse ambiente de ausência de projeto de poder nacional.
Marina Silva, pelo estilo pessoal e pelo conservadorismo de
suas posições, não é alternativa. Ela pertence a outra tradição, se é que é
possível falar assim de algo que se mostra tão contrário à política.
Sem Campos, talvez reste ao PSB voltar a ser uma força auxiliar.
Do PT ou do PSDB. Vai depender do estado e de quem controle o partido.
Amanhã eu volto para analisar como fica a candidatura de
Aécio Neves.
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