Maranhão é hoje favorito. Lucélio conseguirá ameaçá-lo? |
Na reta final da campanha eleitoral para o Senado, o ex-governador José Maranhão aparece, segundo mostram as pesquisas, como o grande favorito a vencer essa disputa
O desempenho de Wilson Santiago confirma o que eu sempre suspeitei a respeito de sua candidatura: ela não é capaz de responder - em razão da origem social, do discurso e do significado - aos desafios da mudança política em curso no Brasil e na Paraíba.
Já Lucélio Cartaxo, com amplo espaço para crescer, não conseguiu até agora se inserir na disputa como um candidato capaz de agregar esse imenso desejo de renovação política. Para tanto, não basta ser ou parecer jovem, é preciso deixar claro o que de novo em termos de proposta e de postura essa candidatura expressa.
Como eu mencionei na última postagem, Maranhão soube aproveitar as oportunidades abertas para se inserir na disputa. Ao invés de se impor, ele foi "chamado" a ser candidato pelo PMDB e por outras lideranças partidárias.
Maranhão candidato
Para viabilizar a candidatura ao Senado, José Maranhão soube exercitar o mais necessário atributo do fazer político: a paciência.
Desde logo, Maranhão sabia que não poderia tomar uma decisão
errada que o levasse a mais uma derrota, desta feita, definitiva para sua vida
pública.
Depois de três derrotas seguidas em disputas para cargos
majoritários, Maranhão optou desde cedo pelo caminho menos duvidoso, que era a
eleição para a Câmara dos Deputados. Mas sem deixar nunca de vislumbrar o Senado.
O ex-governador sabia que, com o PMDB fragilizado, reivindicando
a cabeça de chapa para o governo e precisando ampliar suas alianças,
especialmente para incluir o PT, não sobraria espaço para que ele mais uma vaga na chapa majoritária.
Com isso, Maranhão manteria o PMDB unido em torno de sua
liderança e dava mostras de “altruísmo” ao “sacrificar” sua candidatura ao Senado, mesmo
quando todas as pesquisas indicavam uma boa possibilidade de vitória.
O ex-governador pressentia que havia jogo de cena demais e disposição
de menos, tanto na candidatura de Veneziano, que nunca quis de verdade colocar
sua candidatura na rua – mesmo diante dos apelos de setores do PT, – como na
clara má vontade do prefeito Luciano Cartaxo em abraçar a candidatura
peemedebista.
Maranhão provavelmente projetava um impasse, quando ele poderia aparecer ou como
um tércio numa acomodação futura ou como uma candidatura que se impunha pelas circunstâncias.
Mais de um dirigente do PT paraibano que me disse que José Maranhão
anunciara em uma reunião realizada dias antes do prazo final para as convenções que o governador Ricardo Coutinho propusera uma aliança e oferecera as
duas vagas na chapa majoritária (Vice e Senado) ao PMDB.
E foi esse fato que levou a direção petista a decidir por se
antecipar ao movimento do PMDB e anunciar
unilateralmente um acordo com RC.
Diante da minha pergunta sobre que motivos levariam Maranhão a dar informação tão estratégica ao PT, e numa reunião formal, o dirigente
petista respondeu reafirmando que o PT apenas se antecipara à rasteira.
Existem pelo menos duas objeções a esse raciocínio.
Primeiro, era cada vez mais evidente que Veneziano não
desejava levar à frente sua candidatura e, hoje é possível inferir, que a “solução
Vital” sempre foi a verdadeira alternativa do PMDB.
Só que teria de ser
anunciada como um fato consumado e, portanto, próximo das convenções para não reabrir as discussões a respeito de alternativas.
A candidatura Vital do Rego representava a a morte anunciada
das pretensões do PMDB para retornar ao governo.
Onde o PMDB tinha alguma
chance de vitória? No Senado, com José Maranhão, que se tornaria o principal
objetivo do PMDB na eleição de 2014.
Mas, para isso, era necessário tirar o PT
do caminho. RC era uma alternativa. Era, mas também de alto risco,
porque naqueles dias as expectativas de vitória de RC eram vistas como bastante
reduzidas.
Além disso, a aliança com o PSB, depois de anos de oposicionismo, desmoralizaria o PMDB por
completo e racharia o partido em definitivo, o que teria impactos eleitorais importantes,
especialmente na candidatura de Maranhão ao Senado.
Além de não acomodar todo o PMDB, esse
acordo poderia provocar um rompimento nacional com o PT e com o governo.
Como
se vê, seria um movimento de alto risco para José Maranhão e cia.
E o que RC queria mesmo era o pacote PT-PMDB. Sem o PT, o
PMDB ficaria isolado e frágil demais para seguir adiante.
Por isso, depois de várias tentativas, sem êxito, de se
aproximar de José Maranhão, RC promoveu, no dia 02 de junho na Granja Santana, aquela enigmática conversa a dois com o
prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, onde certamente lançou suas iscas que acabaram abocanhadas pelos
petistas.
O mesmo RC deve ter feito com o PMDB. Ora, se o governador oferecia
ao PMDB as duas vagas na majoritária, onde ele iria acomodar o PT, com quem já
conversava, que só aceitaria indicar a vaga de senador?
O desfecho dessa história todo mundo já sabe. O PT rompeu
unilateralmente com o PMDB para se coligar com o PSB, e o PMDB, depois de muitas
especulações, acabou lançando Vital do Rego para o governo e José Maranhão para o Senado. Maranhão estava de volta ao jogo.
Maranhão,
a noiva da eleição
Depois dos muitos erros cometidos em eleições pregressas,
erros que lhe custaram seguidas derrotas, José Maranhão dessa soube se
movimentar com muita habilidade nos mares revoltos de uma disputa cheia de alternativas
e incoerências.
Enquanto Lucélio grudou sua imagem na de RC, sem que isso
significasse uma campanha conjunta, e Wilson Santiago se tornou o “Senador de
Cássio”, Maranhão foi cortejado por todos os lados na sua condição de “noiva” da
eleição.
Único nome realmente estadualizado na disputa, Maranhão
enfrentaria dois candidatos sem muita inserção no estado.
Lucélio, em razão do parentesco com o irmão prefeito da Capital tem um nome forte em João Pessoa, mas carece de
apoio no resto da Paraíba. Constrói às pressas acordos com grupos e políticos tradicionais
sem que isso represente a certeza da transferência de votos.
Faz um discurso
sem muita consistência que aposta apenas no “novo pelo novo”, sem adentrar nas grandes
questões da Paraíba e do Brasil, que serviriam para distingui-lo dos outros
candidatos. O que é mesmo o novo que Lucélio propõe?
Já Wilson Santiago, mesmo tendo sido deputado estadual e
federal, e depois de ter assumido o Senado por alguns meses e enfrentado uma
disputa judicial contra o hoje aliado Cássio Cunha Lima, de quem pretendia
ficar com o mandato de Senador, nunca foi uma liderança estadualizada.
Não foi por outro motivo que, lembrando Ney Suassuna em 1998
(“O Senador de Zé”), outro ilustre desconhecido para o eleitor paraibano, Santiago
apostou no vínculo com Cássio para alavancar sua candidatura. Isso por si só
mostra as suas limitações eleitorais para enfrentar disputa dessa envergadura.
Por isso, segundo as últimas pesquisas, José Maranhão não apenas manteve os percentuais que
ostentava antes mesmo de oficializar sua candidatura (25%), como amplia seus votos a
cada pesquisa e colhe os frutos de uma longa vida política, no meio dela, de três mandatos de governador.
E por se tratar de
uma eleição parlamentar, que difere bastante das eleições para o executivo, onde
a longevidade política mostrou-se como um óbice nas duas eleições de que participou, para o Senado, entretanto, acaba sendo uma
vantagem nessa disputa.
Há um aspecto que é central para potencializar o bom desempenho maranhista nessa eleição. O de não ser atacado por nenhum dos candidatos ao governo, todos de olho no eleitor que votou no PMDB nas últimas eleições e, mais ainda, num acordo para o segundo turno.
E Maranhão se move também sem produzir atritos, colhendo frutos em todos os pomares, entre cassistas e ricardistas.
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