A eleição de 2014 caminhava para reeditar a polarização que
já dura 20 anos entre PT e PSDB. E confirmar a superioridade eleitoral do PT
com mais uma vitória. Isso até o acidente que vitimou Eduardo Campos e levou Marina
Silva para a cabeça da chapa do PSB.
Essa mudança abrupta provocou uma mudança mais abrupta ainda
no cenário eleitoral.
Marina, aproveitando-se do recall da candidatura de 2010, que ainda a identificava com o
desejo de renovação política, e com a comoção provocada pela tragédia de seu companheiro
de chapa, foi catapultada à condição de favorita.
Em pouco mais de 10 dias, Marina passou a ameaçar o primeiro
lugar de Dilma Rousseff no primeiro turno e a derrota-la no segundo. Muitos jornalistas
e eleitores conservadores, recém convertidos ao marinismo, chegaram a comemorar
a vitória já tida como certa.
A
desconstrução de Marina
Isso até Marina começar a mostrar-se por inteira. Não por
acaso, o primeiro anúncio importante da nova candidata do PSB, feito pela
indefectível Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, foi a autonomia do Banco Central, um aceno mais do que evidente aos
bancos e ao mercado financeiro. Marina começava a trocar de pele.
Isso até Marina começar a sofrer as pressões de uma base
social conservadora, que desde sempre torce e milita nas hostes do antipetismo.
Depois, vieram os recuos de posições que, até então, todos
imaginavam ser expressão fidedigna da “nova política” a que Marina procurara se
associar desde 2010.
Especialmente, depois que aquela massa foi às ruas no ano
passado tentando estabelecer uma pauta transformadora para as práticas políticas
e sociais no Brasil, pauta infelizmente capturada pela mídia conservadora,
especialmente a Rede Globo, que foi reduzida às bandeira do moralismo de
direita e do antipetismo.
Dilma e o PT souberam aproveitar o impulso das pressões
populares e anunciaram algumas mudanças, que até então estavam encalacradas,
como o programa Mais Médicos e os 10% do PIB para educação.
A proposta de
reforma política, a proposta que melhor sintetizava os anseios daquela
juventude que foi às ruas, foi aos pouco sendo esquecida e finalmente deixada de
lado, com a ajuda do Congresso e do TSE. Tudo tinha mudado para ficar como
estava.
Pois bem. Marina achava que o espírito das manifestações de
2013 estava definitivamente incorporado à sua aura política e a seu espólio
eleitoral e não percebeu o caráter radical pouco organizado daquele desejo
mudancista.
Foi por isso a derrocada de Marina começou quando o Brasil assistiu incrédulo à mudanças não
apenas nas posições da candidata, mas do programa recém elaborado e divulgado.
O recuo na questão dos direitos civis dos gays, por exemplo,
teve um impacto muito didático para determinar o início da derrocada de Marina Silva,
porque foi capaz de revelar as fragilidades e as inconsistências de Marina
Silva, uma mulher que quer se presidente e se dobra à primeira pressão de um
pastor evangélico. Isso pelo twitter!
Um outro ponto importante foi a autonomia do Banco Central
defendida por Marina. Se essa questão é de difícil entendimento por parte da
amplíssima maioria do eleitorado, ela revela um vínculo que poucos candidatos
gostam de assumir: o vínculo com o interesse dos banqueiros e dos mais ricos,
algo que já se disseminava em relação a Marina por conta de sua intima ligação
com uma banqueira.
Por fim, veio o debate a respeito do Pré-sal, que é algo
caro à consciência nacional do brasileiro. A campanha de Dilma não foi capaz
ainda de colocar o dedo na ferida e apontar a associação de interesses internos
e externos na exploração do Pré-sal. Especialmente, dos americanos e suas petroleiras.
Alternativa à direita: o povo percebeu
Marina, assim como Eduardo Campos, nunca pretendeu ser uma
alternativa à esquerda ao PT. Sempre foi uma alternativa à direita que buscava
se mostrar mais “viável” para derrotar o lulismo, o que – e a campanha com
Marina mostra isso – é verdadeiro.
Esse foi o grande equívoco dos dois e por isso a candidatura
de Marina se desfaz como um castelo de areia durante a subida da maré. Os votos
que Marina perde hoje é parte do espólio que ela conseguiu em 2010, e que votou
majoritariamente em Dilma no segundo turno daquela eleição.
Ou seja, Marina mostrou-se por inteira como uma candidata do
conservadorismo, e, como cristã-nova, precisou afirmar sua conversão com um
ardor que nem Aécio Neves – ou mesmo José Serra, em 2010 – precisaram para
mostrarem-se confiáveis. E isso é o que tem afastado o eleitor que deseja mudança
e não retrocesso no país.
E se Dilma vence a eleição, ela e o PT, além de derrotarem
novamente o PSDB e reduzirem esse partido à insignificância política, o que, no
mínimo, o incapacitará de liderar a oposição nos próximos quatro anos, terão
antecipado – e vencido – um embate que, desde 2010, se mostrava como uma incógnita
eleitoral.
Se Marina não tivesse sido candidata manteria parte da imagem
que a impulsionou como uma forte candidata. Marina conseguiria montar o seu
partido, a Rede, e aglutinaria a oposição, talvez com algum apelo popular.
Desconstruída pelas suas próprias palavras, pela propaganda
eleitoral do PT e, principalmente, por esse poderoso instrumento político que
são hoje as redes sociais, Marina pode liderar a oposição, mas terá perdido o
seu trunfo principal, que era o mito de que seria a única candidata capaz de
derrotar o PT.
Por fim, mas não menos importante, a ascensão de Marina foi o
que encorajou o PT a assumir posições nitidamente mais críticas do modelo
político e econômico brasileiro e a começar a ensaiar a ideia de um “novo ciclo”
de mudanças.
E é isso o que está empurrando o PT e Lula mais para a
esquerda nessa eleição, e já no primeiro turno.
E isso é uma novidade. Talvez a mais importante nessa
história toda.
Paraíba: Segundo turno à vista? Esse é o título da próxima postagem aqui no blog.
Paraíba: Segundo turno à vista? Esse é o título da próxima postagem aqui no blog.
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