Existe uma espécie de tradição nas eleições presidenciais americanas
de que o candidato que vence no estado de Ohio acaba se tornando Presidente dos
EUA, fato que é observável e se confirma das urnas eleição a
eleição desde 1968.
A explicação mais aceita para esse fenômeno é que Ohio é uma
espécie de mini EUA, a representar com alguma fidedignidade as características tanto econômica e demográficas do país inteiro.
Eu lembrei desse fato no último sábado quando li uma
postagem no Facebook do colega do Departamento de História da UFPB, Jaldes
Meneses, esposo da atual Secretária de Desenvolvimento Humano do governo
estadual, Aparecida Ramos.
Jaldes ensaiou uma interpretação das últimas pesquisas que dão
vantagem para o governador Ricardo Coutinho em João Pessoa e em toda Zona da
Mata, além do Sertão, para concluir que “Nunca um candidato que venceu
nestas três regiões deixou (João Pessoa, Zona da Mata e Sertão) de ser eleito
governador.”
Eu só li a referida postagem no domingo, alertado por um
ricardista que mencionara essa postagem para defender o favoritismo de RC nas
eleições de 2014.
Não precisei puxar muito pela memória para dizer, sem
consulta prévia aos dados eleitorais do TRE-PB, que em 2002 e 2006 Cássio perdera
em João Pessoa e, mesmo assim, se elegeu governador. E Ronaldo Cunha Lima
também, isso em 1990 (Veja quadro abaixo com esses resultados)
Resultados para governador em João Pesso (1990, 2002 e 2010) |
Nessas três eleições, Wilson Braga (1990), Roberto Paulino
(2002) e José Maranhão (2006) venceram em João Pessoa, mas não se elegeram governador, o que desdiz a tese esboçada acima.
Quanto a Zona da Mata paraibana, fui obrigado a fazer um levantamento
que me deu um pouco mais de trabalho e, em razão de tempo, tive de me restringir à
eleição de 2002, quando os principais candidatos eram Cássio Cunha Lima, pelo
PSDB, e Roberto Paulino, pelo PMDB.
Também nessa Mesorregião, a mais populosa da Paraíba, que
concentra mais de 1/3 do eleitorado paraibano, Roberto Paulino venceu Cássio
por mais de 35 mil votos, mas, como se viu, acabou derrotado em 2002. (Veja quadro detalhado abaixo)
Desde 1986, quem vence em Campina Grande é eleito
governador
Se quisermos estabelecer uma relação entre resultados eleitorais
de regiões paraibanas e vitórias de candidatos para o Governo do Estado, algo sempre muito arbitrário, existe
pelo menos uma cuja situação cuja recorrência pode indicar alguma relação estatística, sem
que isso indique qualquer antecipação de resultado.
Campina Grande e a região da Borborema tem sido decisivas em
todas as eleições realizadas na Paraíba desde a redemocratização, com exceção da
de 1982.
Em todas elas, quem venceu em Campina Grande acabou sendo
eleito governador da Paraíba. Tarcísio Burity, em 1986; Ronaldo Cunha Lima, em
1990; Antônio Mariz, em 1994; José Maranhão, em 1998; Cássio Cunha Lima, em
2002 e 2006; e Ricardo Coutinho, em 2010. (Veja quadro abaixo)
Não tem nada de sobrenatural no quadro das vitória eleitorais mostrado acima. A explicação tem a ver com política e com a força decisiva pode ser atribuída a
um único fator: a hegemonia do grupo Cunha Lima na região, influência
que, como sempre, se irradia por toda a Borborema a partir de Campina Grande, não pode acaso a "Rainha da
Borborema".
Hegemonia que começou em 1982 quando Ronaldo Cunha Lima se
elegeu prefeito da cidade, poder que o filho Cássio ajudou a consolidar.
Campina
vai decidir de novo? Depende de João Pessoa
Em 2002, 2006 e 2010, em especial, a Paraíba se dividiu
e diferenças mínimas acabaram decidindo essas eleições. Ou seja, foram as diferenças
obtidas em Campina Grande pelos candidatos apoiados pelo grupo Cunha Lima que
asseguraram essas vitórias apertadas.
A eleição vencida por Ricardo Coutinho em 2010 contribuiu de maneira decisiva a grande votação obtida por ele na capital.
Em 2014, a uma semana do primeiro turno, a grande questão é como RC vai neutralizar e até superar, como aconteceu em 2010, a partir de João Pessoa, o desempenho de Cássio em Campina, sempre poderoso, que parece novamente em vias de se repetir.
É em João Pessoa onde se travará a “mães de todas as
batalhas” nos últimos dias de campanha de 2014, e essa é, sem dúvida, a grande disputa
estratégica que se desenvolve hoje na Paraíba.
Tanto RC procura mobilizar o voto pessoense e tentar, pelo
menos, repetir o desempenho de 2010, quando colocou 75 mil votos de frente sobre José Maranhão, diferença que, em
termos numéricos superou a diferença obtida em Campina Grande, que foi de 61 mil votos, representando uma diferença de 14 mil votos pró João Pessoa.
Mesmo que, percentualmente, a diferença em Campina tenha sido maior (5%) que a obtida em João Pessoa.
É claro que as circunstâncias de hoje são diferentes, a
começar pelos aliados de 2010 que hoje são os principais concorrentes ao cargo
de governador.
Mas, a lógica estratégica permanece a mesma. Campina tem um
eleitor mais fechado, especialmente quando se defronta com uma disputa entre um candidato campinense,
um Cunha Lima, com um “forasteiro”.
É quando o tradicional campinismo é mobilizado.
E ninguém sabe mobilizar mais o campinismo do que Cássio Cunha Lima.
RC sabe do imenso obstáculo que representa Campina Grande e deve trabalhar
com uma derrota mais ou menos nos termos do que foi a sua vitória de 2010 (60 a 70 mil votos).
Por
isso, para os objetivos do governador, João Pessoa tem de ser decisiva, como foi em 2010, com dois obstáculos a serem superados.
Um, é a diferença que marca o eleitor da Capital, muito mais
aberto que o eleitor campinense, e, portanto, menos bairrista. Um exemplo que merece ser citado é o da eleição de 1990, também disputada entre um "pessoense" (Wilson Braga, prefeito eleito da Capital até abril de 1990 e avaliado como o segundo melhor prefeito do Brasil), e Ronaldo Cunha Lima.
Braga tentou mobilizar o "bairrismo" pessonse sem muito sucesso. Enquanto em João Pessoa a diferença pró-Braga foi de quase 34 mil votos (101,3 mil a 77,7 mil ou 56,6% a 43,4%), em Campina Ronaldo Cunha Lima venceu com mais de 84 mil votos de diferença! (106,7 mil a 22,1 mil votos ou incríveis 82,84% a 17,16%).
O discurso de RC é mais político e explora o anticunhalismo do pessoense, e faz isso hoje com muita competência. É cada vez mais visível encontrar eleitores que rejeitam o governador, mas que vota nele "para evitar a vitória de Cássio".
Talvez o grande problema de RC é o funcionalismo estadual, que, sem ser decisivo, tem um peso eleitoral que não pode ser desprezado, especialmente numa eleição acirrada como a atual.
Com um contingente expressivo
e com seus sindicatos em clara mobilização contra o governador, o funcionalismo
estadual pode ser um limitador na diferença que RC necessita estabelecer para
neutralizar a derrota de Campina e partir para uma hoje improvável vitória no
primeiro turno.
Ou, no mínimo, levar a disputa para o que era há um mês
improvável segundo turno, o que vem a ser já uma grande vitória.
Tão equilibrada está a disputa que não se pode descartar também
uma vitória de Cássio no primeiro turno.
Tudo dependerá do resultado da votação
de RC em João Pessoa.
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