Anísio, um pé no governo outro na oposição |
A assinatura do Deputado Estadual petista, Anísio Maia, em um pedido
de abertura de CPI que pretende investigar o programa Empreender Paraíba, do
governo estadual, de iniciativa do tucano Dinaldo Wanderley Filho, revela mais
do que o jogo de tensão que permeia as relações entre PT e PSB na Paraíba, mas
como os petistas tem sido maus jogadores.
Como até as areias da praia do Cabo
Branco sabem, Anísio Maia é ligadíssimo a Luciano Cartaxo e deve ao prefeito pessoense
a sua reeleição com a engorda da votação obtida na capital na última eleição – Maia
obteve, em 2010, 1.911 votos; em 2014, saltou para 9.777, uma engorda de mais
de 500% a mais de uma eleição para outra.
Pois bem. O que revela o envolvimento de Anísio Maia em uma
iniciativa da oposição tucana na Assembleia Legislativa, que tem por objetivo
explícito reforçar a estratégia que pretende levar à cassação de Ricardo
Coutinho no TRE?
Um primeiro aspecto a ser ressaltado é que parece faltar a
Maia o que sobra hoje no governador quando o assunto é apoio à Presidenta Dilma
Rousseff: solidariedade entre aliados. Afinal, o PT de Anísio Maia apoiou,
desde o primeiro turno, a reeleição de Coutinho e participa do governo
estadual.
Com essa atitude, o PT corre o risco de alguém atinar para o fato de que
essa atitude lembra muito a postura que boa parte dos peemedebistas tem com
Dilma Rousseff.
Mesmo no governo, o PMDB age como se fosse um partido de
oposição, fato que levou à furiosa reação de Cid Gomes, que, de dedo em riste
apontado para os deputados peemedebistas, instou-os a “largarem o osso” do
governo e assumirem a oposição!
Cid, como era de se esperar de um Gomes,
entregou em seguida o cargo de Ministro da Educação já que, sabia-se de
antemão, Dilma não poderia trocar o apoio do PMDB para mantê-lo no cargo. Cid
Gomes foi aplaudido entusiasticamente pelas duas atitudes, principalmente por
petistas.
As opções de cada um
Considero que um dos atributos mais importantes de quem faz
política é a paciência. E saber esperar o momento certo para agir, portanto,
não é para qualquer um.
A tensão nas hostes petistas em razão das movimentações
do PSB e de Ricardo Coutinho em João Pessoa é cada vez mais evidente.
Por mais
que pareça óbvio que a intenção do governador seja mesmo lançar um candidato à
prefeitura pessoense, esse passo ainda não foi concretizado não apenas porque
ainda é cedo, mas também porque é carregado de riscos.
RC pretende evitar os
erros de 2012. E por ter várias alternativas, a iniciativa política é do
governador, cabendo a Luciano Cartaxo trabalhar para viabilizar-se sem depender
de qualquer apoio para reeleger-se. E sem oferecer razões para justificativas
futuras de rompimento.
O PSB tem três alternativas em 2016: apoiar Cartaxo sem participar
da chapa (evidentemente, a menos improvável e razão de toda essa tensão),
indicar o vice de Cartaxo ou lançar candidatura própria.
Como se vê, das três
opções, a única que serve plenamente a Cartaxo é a primeira, que, em caso de
vitória, o deixaria livre para disputar em 2018 o governo estadual.
Essa
hipótese só será factível se, quando 2016 chegar, Cartaxo estiver numa posição de
incontestável liderança e popularidade, o que não é o caso, hoje. As duas
últimas opções servem ao governador, sendo que a segunda é única capaz de
acomodar todos na aliança.
E manter essa janela aberta pode ser estratégico
para o futuro do PT caso os riscos de derrota no próximo ano sejam reais. Como
diria a sabedoria popular: “é melhor uma pássaro na mão do que dois voando”.
A
Prefeitura de João Pessoa é grande o suficiente para acomodar o PT. E,
dependendo da situação de Cartaxo, um rompimento com RC pode criar em todos,
inclusive nos aliados mais próximos, a expectativa de uma provável derrota.
Trapalhadas petistas
Por isso, a atitude de Anísio Maia de assinar o pedido de abertura
de CPI contra o governo RC é mais uma das tantas trapalhadas políticas
cometidas pelos petistas.
Primeiro, porque ela oferece a justificativa para o
rompimento, o que RC não dispõe ainda – dizer que o PT se aliou aos inimigos
para enfraquecer um governador tão leal ao projeto nacional do partido tem
força, inclusive na base social petista.
Segundo, porque tal atitude pode
enfraquecer o ímpeto que move RC na defesa do governo Dilma em razão da falta
de reciprocidade na Paraíba, único local onde o PT pode retribuir a iniciativa
política do socialista, que hoje compra uma briga com setores poderosos da
sociedade e com o eleitorado antipetista.
Num quadro como esses, é mesmo
estranho que o PT paraibano comece a por um pé no barco tucano, partido que na
Paraíba é liderado por um dos expoentes nacionais do aecismo, Cássio Cunha
Lima, que os petistas não cansam de chamar de “golpista” pela defesa que faz do
impeachment.
E, por fim, ao oferecer uma justificativa em caso de rompimento,
Cartaxo perde o seu principal discurso, que remeteria a uma possível
“ingratidão” do PSB de não retribuir o apoio dado pelo PT, em 2014, em um dos
momentos políticos mais críticos para o projeto de reeleição do governador
Ricardo Coutinho.
Enfim, recomenda-se paciência e sangue frio à direção petista, ou
seja, ao Prefeito Luciano Cartaxo. Paciência e sangue frio que, como se sabe, o
Governador Ricardo Coutinho tem de sobra.
* Coluna publicada no Jornal da Paraíba de 22/04/2015
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