Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo: foi bom enquanto durou? |
Há questões
de ordem local e nacional em jogo que serão medidas no seu devido tempo para
que uma resolução definitiva seja posta em prática.
A popularidade de Cartaxo
Um ponto decisivo será a
avaliação não apenas do governo, mas do desempenho pessoal do prefeito
pessoense daqui a alguns meses.
Pouco mais de dois anos
depois do seu início, a administração petista ainda não conseguiu definir uma
cara, uma prioridade ou algo que a distinga de outras administrações.
Mesmo sem projetos
inovadores, a PMJP tem muitas iniciativas que, caso se efetivem com sucesso,
renderão um bom portfólio a ser apresentado nos debates eleitorais do próximo
ano.
As creches, as UPAs, o
programa de habitação que pretende entregar 13.000 casas até o fim da
administração cartaxista, mesmo sendo iniciativas do Governo Federal, são obras
executadas pela PMJP.
A revitalização do
Parque Sólon de Lucena é outra obra importante em andamento, que dará não apenas uma nova
cara, mas um novo uso ao principal cartão postal da cidade.
Ou seja, quem acredita
que as dificuldades pelas quais passa a administração petista hoje inviabilizam
o projeto de reeleição de Luciano Cartaxo é preciso esperar um pouco mais.
Pessoalmente, acredito
que o prefeito pessoense tem condições de reverter essas expectativas atuais de
derrota, mas para isso precisa evitar novos erros políticos que se tornaram
comuns nesse curto período de pouco mais de dois anos de administração.
Em grande medida, isso
significa que ele deve se esforçar por agregar à imagem de sua administração, e
à sua própria imagem como político e administrador, através de ações e
discursos, um sentido transformador, de ruptura com antigas práticas políticas,
campo em que o governador Ricardo Coutinho ocupa atualmente sem rivais à
altura.
RC é o “reformador”.
Cartaxo é o quê?
Caso Cartaxo chegue ao final do ano com a popularidade em alta, a iniciativa política fica com ele, que pode dar as cartas e mexer as peças ao sabor das suas conveniências políticas. Do contrário, dependerá cada vez mais dos aliados.
Ricardo Coutinho espera e age
RC na linha de frente na defesa de Dilma no NE |
No campo administrativo, um dos erros mais evidentes da PMJP foi deixar que os principais projetos de
mobilidade urbana caíssem nas mãos do governo estadual, sem, no entanto, tomar
suas próprias iniciativas.
A construção de dois
grandes viadutos, além de uma grande perimetral que ligará a BR 101 a vários bairros
e a orla pessoense, projetos que visam desobstruir três imensos gargalos hoje do
trânsito da Capital – os acessos a Cruz das Armas, a Mangabeira e ao Geisel, –
darão uma imensa visibilidade à administração estadual em João Pessoa.
As escolhas de RC foram
cirúrgicas. Mangabeira é o maior bairro pessoense. O Geisel não tem o mesmo tamanho,
mas a localização do viaduto, na BR, permitirá que a vida dos condutores que
trafegam naquele trajeto nos horários de pico se torne menos desconfortável. O
mesmo em relação a quem vem de Recife.
Quando essas três obras
estiverem prontas, o que deve acontecer bem antes de outubro de 2016, RC terá
dado três grandes contribuições à melhoria da qualidade de vida da cidade.
Além disso, outras
iniciativas como as melhorias no Almeidão, no Ronaldão e no Dede, agora Vila
Olímpica, entre outras obras, agregam imenso valor ao portfólio ricardista na
Capital, além do que ele já dispunha quando foi Prefeito de João Pessoa.
Enfim, RC trabalha para
ser um grande eleitor em 2016 na Capital, situação que difere muito da
enfrentada por ele em 2012, quando o desgaste dos primeiros meses de governo,
sem ter tido ainda a oportunidade de apresentar os resultados de sua administração,
praticamente inviabilizaram sua pretensão de recuperar o controle da
administração pessoense.
Ricardo Coutinho X Luciano Cartaxo
Como tem feito desde que
assumiu a PMJP, em 2005, RC prioriza a administração para só depois deixar
claro seus planos e objetivos políticos.
Não que ele deixe de
fazer política. Pelo contrário, faz o tempo todo, escolhendo seus adversários,
especialmente aqueles que rendam acréscimos para a imagem que o eleitorado
aprecia de político corajoso e republicano.
Administrou João Pessoa
por quatro anos em minoria na Câmara, dose que repetiu no Governo do Estado.
Duas apostas de alto risco,
mas que deram grandes resultados, porque RC passou a mensagem que queria para o
eleitorado: a de que não se submetia aos interesses de um parlamento marcado
por práticas deploráveis, como a troca de favores – de vários tipos – em troca
de apoio político.
A briga de RC com o parlamento
não era um mero jogo de cena ou manifestação autoritária. Havia nela uma
mensagem subliminar que apontava para a ideia de uma nova cultura política a
amparar as relações entre Governo e Assembleia.
E um antídoto,
largamente utilizado durante a campanha, contra o adversário Cássio Cunha Lima,
que romperia a aliança para incorporar o anti-RC, incluindo aí, e principalmente,
esses aliados que RC combateu.
Cássio vestiu o figurino
com perfeição e foi derrotado nele vestido, por mais que tenha tentado se
livrar dele durante a campanha, sem sucesso.
RC parece ter sido o
único político capaz de entender os novos humores e o novo perfil do
eleitorado.
Cartaxo faz o contrário.
Governa quase sem oposição na Câmara de Vereadores, mas o resultado disso é uma
imagem de quem se acomoda a interesses nem sempre republicanos, sem enfrenta-los.
Transforma sua base
política na Câmara numa “Arca de Noé” disforme, sem identidade, pelas sua heterogeneidade
política e ideológica.
Cartaxo age como se não
levasse em conta os apelos por uma nova política, sem transmitir para esse
eleitorado, cada vez mais representativo, através de ações e discursos, seu
compromisso com essa mudança.
Até o PSDB, inimigo
mortal do PT no plano nacional, não apenas apoia a administração do petista,
como dela participa controlando a política de comunicação do governo – sintomaticamente,
os melhores produtos dela são produzidos pelo próprio prefeito quando concede
entrevistas em rádios sobre sua administração.
Num outro traço
distintivo, ao contrário de Cartaxo, RC faz a defesa de Dilma Rousseff e compra
a briga com o eleitorado antipetista e com a mídia nacional que dia e noite faz
oposição ao Governo Federal.
Com isso, ocupa o espaço
vazio na política regional deixado depois da morte de Eduardo Campos e do fim do
mandato de Jacques Wagner, e fala para o público interno, o eleitorado de
esquerda de quem se afastou depois de 2010.
Esse ponto RC também
levará em conta para um rompimento com Luciano Cartaxo, apesar de não ser
decisivo para suas pretensões nacionais futuras.
Cássio e Cartaxo: paqueras |
Por enquanto, RC arma o
cerco sobre Luciano Cartaxo, que não parece saber como sair dele, mostrando
grande desconforto e, às vezes, desorientação política.
É certo que, não sendo
petista, há mais conforto de RC nesse embate, cuja parcela do eleitorado que
rejeita nacionalmente o governo Dilma é ainda expressiva, especialmente em um
ambiente de crise política e econômica.
Cartaxo parece temer a
contaminação do seu governo e a sua própria com a crise nacional.
E nesse ponto reside,
talvez, um esforço do prefeito para se desvencilhar do incômodo que representa
a questão nacional com dois acenos ao conservadorismo por parte do petista.
Um, é a manutenção da
aliança com o PSDB, uma jabuticaba bem paraibana, e as paqueras cada vez mais
explícitas com o cassismo.
Notem que o antipetismo
de Cássio afina quando ele retorna à Paraíba, restringindo-se a atacar o PT
nacional.
Outra, é a nova postura
do prefeito quando o assunto é relação com movimentos sociais.
Ameaça aos professores em greve: aceno de Cartaxo ao conservadorismo? |
Do propalado diálogo, Cartaxo
rompe com esse discurso que, ao que parece, servia apenas para contrapor-se à
época ao governo RC, e incorpora o da ameaça de corte de ponto e de demissão de
hoje contra professores – logo quem! – em greve.
Essa nova atitude pode
ser lida, observando o contexto político mais geral, como um aceno ao
conservadorismo? É certo que sim, o que mostra a falta de consistência da
estratégia cartaxista.
Os nomes de RC
Em próxima postagem,
analiso os potenciais candidatos de RC à Prefeitura de João Pessoa.
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