O relatório do Inquérito Policial nº 95/2012 da Operação
Logoff, da Polícia Federal, que veio a público no último fim de semana, é uma
didática leitura para se entender os meandros da corrupção e dos tenebrosos
interesses de agentes públicos e privados que se misturam para dilapidar as finanças
dos governos nas suas diversas instâncias. Na coluna de hoje, a última antes do
retorno de Rubens Nóbrega, vamos tratar desse rumoroso caso, fazendo o que o
governador quase não fez até agora: ater-se aos fatos.
“Coletânea
de falsidades”
O primeiro fato que, obviamente, não pode ser questionado é
que esse esquema foi montado durante a administração de Ricardo Coutinho na
PMJP e que Gilberto Carneiro, então Secretário de Administração e um dos
principais assessores de RC na Prefeitura e depois no Governo do Estado, foi o
pivô do esquema. Carneiro é hoje o Procurador-Geral do Estado e, por conta do
cargo, como manda a Constituição, a PF teve de solicitar autorização ao
Tribunal Regional Federal para investiga-lo.
As irregularidades verificadas no processo licitatório começam
com a simulação de atendimento a recomendação do TCE para dividi-la em nove
lotes e são concluídas com a combinação entre as empresas. Para atender ao TCE,
a PMJP publicou um edital que continha um ardil: só o primeiro lote
correspondia a “99% dos valores previstos”, o lote vencido pela Ideia Digital.
Conluio
Essa foi a parte que operacionalizou a falcatrua. Antes
dela, teve a concepção do projeto do Jampa Digital, que mostra o conluio de
gente com trânsito político, mas também acadêmico, já que se tratava de um projeto
que envolvia alto nível de conhecimento técnico. Segundo a PF, o projeto teria
sido concebido originalmente pela Rede Brasileira de Visualização (RBV), órgão
vinculado à FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) que é ligada ao Ministério
da Ciência e Tecnologia. Foi através da RBV que emergiu a figura de Paulo
Badaró, ex-secretário de Ciência e Tecnologia da PMJP, professor e pesquisador
da área. Badaró foi indicado pelo atual Ministro Aguinaldo Ribeiro para
sucedê-lo na SCT da PMJP.
Segundo a PF, foi Badaró quem oportunizou à Ideia Digital “a
elaboração do projeto executivo com especificações técnicas a seu favor”, o que
foi feito através de Cristiano Brochado, funcionário da ID que atuou na “elaboração
do projeto executivo com especificações técnicas a favor da IDEIA DIGITAL, bem
como um dos responsáveis pela elaboração de edital”. Vejam só o nível de
integração de agentes que, em hipótese alguma, deveriam estar juntos.
Gouveia
e o financiamento da campanha de 2010
Segundo a PF, o Vice-governador Rômulo Gouveia foi o
responsável pela emenda parlamentar que assegurou os recursos que permitiriam a
execução do Jampa Digital. A PF constatou que não foi por acaso essa iniciativa
de Gouveia por conta dos vários registros encontrados com a Ideia Digital que
estabelecem o vínculo desta com o atual Vice-Governador através de um assessor
identificado como “Thiago”. Foi através de Thiago que a PF chegou a Rômulo
Gouveia e ao financiamento da campanha de 2010.
A relação que faz a PF entre as operações que levaram ao
Jampa Digital e a campanha de 2010 não se dá apenas por conta de recursos doados
pela ID à campanha de RC e Rômulo Gouveia, mas através das empresas Brickell e Rigusta,
que, segunda a PF, são empresas fantasmas. Foi através delas que operou Duda Mendonça,
o marqueteiro da campanha de RC em 2010. Nas investigações, foram encontradas
em poder da Ideia Digital notas fiscais emitidas a esta pela Brickell e pela Rigusta.
Só a Brickell recebeu 800 mil reais da Ideia Digital! Detalhe: em uma das notas
constavam referências, no verso, à Ordem Bancária da PMJP que pagou a ID pelo
Jampa Digital, o que provaria, segundo constatou a CGU, que essas empresas
foram pagas com esses recursos.
Uma CPI
para investigar participação de RC?
Por conta disso, o Vice-Governador Rômulo Gouveia foi
indiciado por desvio de recursos públicos que, segundo a PF, “teve como
objetivo financiar a campanha política de Rômulo José de Gouveia Neto, por meio
de um processo de lavagem de dinheiro”. O indiciamento apenas de Gouveia para
responder sozinho pelos recursos oriundos de corrupção que financiaram a
campanha de 2010 pode indicar uma limitação formal na investigação da PF. Um
pedido de instalação de uma CPI na Assembleia Legislativa para investigar a
fundo esse caso talvez seja uma necessidade em razão das dúvidas que persistem.
Ricardo Couitnho diz que não foi indiciado no inquérito. O
que é verdade, mas isso não deve ser interpretado como um salvo-conduto para o
governador. Mesmo que pudesse, a PF não poderia sequer investigar o governador,
quanto mais indiciá-lo por conta de estar ele protegido pelo manto do “foro
criminal especial”, mais conhecido como foro privilegiado. A nossa constituição
estabelece no artigo 105 que o julgamento de governadores é competência exclusiva
do Superior Tribunal de Justiça. Toda investigação, portanto, só pode ter
início com a autorização desta corte de justiça. Por isso, se houver
investigação da participação do então prefeito Ricardo Coutinho no esquema
denunciado terá de ter autorização do STJ, o que justificaria uma CPI na AL. A
questão é saber se os deputados terão coragem de instalá-la.
Os
professores da UFPB vão às urnas
Na próxima quarta haverá eleição para a ADUFPB. Pela
situação, concorre o professor Jaldes Meneses, esposo da Secretária de Desenvolvimento
Humano de RC, Aparecida Ramos. Jaldes pretende suceder Ricardo Lucena, que vem
a ser o irmão de outra Secretária de RC, Márcia Lucena, da Educação. Pelo menos
na ADUFPB, Coutinho está bem na fita...
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