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Reproduzo abaixo coluna de hoje assinada mim no Jornal da Paraíba. Trata-se de uma polêmica, aberta por um médico que escreveu à coluna expressando uma crítica raivosa ao governo Dilma Rousseff. Por razões de espaço, não pude publicar o texto completo na jornal, mas aqui no blog ele segue completo. Leiam abaixo e comentem:
O médico e
o povo
O médico Hélder
Alexandre, colaborador contumaz desta coluna, encaminhou a Rubens Nóbrega, e
este a mim, texto que mostra bem o estado de espírito da categoria a que
pertence contra o governo Dilma Rousseff. Deixo os leitores com Helder Alexandre.
Retorno em seguida com minha opinião.
"Cleptocracia: Estado governado por ladrões."
"Cleptocracia: Estado governado por ladrões."
Não poderiam
os Gregos antigos terem criado um termo mais apropriado para descrever a
realidade da Nação Brasileira. A atrofia mental e a indigência moral que
campeia esta terra foi muito bem retratada no romance "Macunaíma" de
Mário de Andrade publicado ainda em 1928. Porque um estado corrupto apenas
subsiste alimentado por uma sociedade igualmente desonesta.
Não escrevo
este artigo para angariar simpatias, apoios e nem aplausos. Deixo isto para os
profissionais da hipocrisia.Ou do politicamente correto,a sua nova denominação.
Sou Médico é a minha função é resolver problemas e não criá-los, explora-los ou
perpetua-los. A natureza já nos os deu em abundância e não tenho tempo para
perder em discussões estéreis e pedantes. Não que eu ache que ser Médico seja
lá essas coisas todas. Trata-se apenas de um estado pelo qual algumas poucas
pessoas um dia em suas vidas lograrão passar. Deixando de lado reflexões de
natureza filosófica ou transcendental, inacessível a imensa massa ignara,
focalizo minha análise no desastre institucional que o País ora enfrenta. Vemos
um governo federal perdido em propostas que sequer perduram por vinte e quatro horas.
A burrice
neste Brasil é tão grande que até hoje o pensamento comum é de que os nossos
problemas se dão pela falta de Educação. Todo mundo pensa e repete o mesmo
discurso. Não é. O princípio é a Segurança sem a qual nada é possível de ser
realizado. Entendendo a Segurança em um sentido muito mais amplo do que a mera
integridade física. Que nem isso temos porque não temos respeito pelo princípio
da autoridade. Auguste Comte no seu Positivismo dizia que deveríamos ter
"O Amor por princípio, a Ordem por meio e o Progresso por fim". O
Coronel Benjamin Constant, suprimiu o princípio e na nossa bandeira nacional
ficou apenas Ordem e Progresso. Nesta linha eu afirmo que a Segurança é o
princípio, a Educação o meio e a Saúde o fim. No passado cabia aos Médicos, aos
Militares e as Meretrizes dar conta de todas as pressões da sociedade. Em todas
as suas mazelas e misérias. Hoje essas últimas gozam de muitíssimo mais
prestígio do que os primeiros. Palmas para elas. Os Médicos cujo binômio
estudo-trabalho não encontra o mais remoto paralelo em nenhuma profissão e em
nenhum lugar do mundo sofrem o mais odioso programa de perseguição já visto
neste País.
Por uma
razão muito simples de entender. O Médico é o inimigo número um do político
incompetente e ladrão que precisa de um bode expiatório em quem projetar a sua
incúria e a sua corrupção. Por outro lado o Médico é também o seu principal
inimigo político se angariar, o que não é tão raro ou difícil, o prestígio da
população. Se existe Médico bandido? Existe sim. Mas o que em algumas áreas é a
regra, entre os médicos é exceção. Falta Médico nos rincões remotos do
Brasil? Falta sim. Mas falta também Enfermeiros, Dentistas, Prefeitos, Juízes, estradas,
água potável, energia, esgotos, segurança... Cabe a nós damos conta disso também?
***
Com as
devidas escusas pela discordância, digo em primeiro lugar que o texto do Doutor
Helder é uma expressiva manifestação da persistente tendência de setores da
classe média brasileira de colocar as questões de ordem moral à frente das
divergências de ordem política. Assim como aconteceu durante os governos de
Getúlio Vargas, JK e João Goulart, no pré-1964, a corrupção volta com toda
força hoje a mobilizar esses setores. Até parece que foi Vargas quem criou a
corrupção e Lula a trouxe de volta aos dias de hoje.
E,
desculpe-me doutor, recorrer a Macunaíma
para corroborar seus argumentos para depreciar a “massa ignara” foi demais para
mim. Tudo bem com Augusto Comte e seu seguidor brasileiro Benjamin Constant. Mas,
o objetivo de Mário de Andrade nunca foi depreciar o nosso povo ao falar da sua
ausência de caráter. Pelo contrário. Andrade criticou nossas elites tanto pela recusa
em estabelecer um caráter nacional à nossa formação como povo como por sua submissão
cultural – o complexo de vira-latas, como definiu tão bem Nelson Rodrigues. Ao
invés de negar nossas tradições culturais mais legítimas, como fazia a elite de
sua época que adorava tudo que era importado, Maria de Andrade trouxe o povo e
sua cultura para o centro da definição de nossa brasilidade. Ao invés de
vergonha, começamos a sentir orgulho do povo (mestiço) que somos.
Agora,
convenhamos doutor, dizer que as prostitutas hoje tem mais prestígio do que os
médicos só porque o governo pretende trazer médicos do exterior para permitir
que as periferias das grandes cidades e os rincões mais longínquos desse país
tenham direito a atendimento médico, não cabe nem como recurso retórico. Deve
ser por isso que os cursos de Medicina são os menos concorridos nas
universidades federais. Talvez por isso mesmo, pais se sacrificam para pagar
mensalidades de quatro, cinco, seis mil reais, a depender da faculdade
particular de Medicina. Por fim, doutor, o senhor parece desejar transformar o
médico no herói nacional da antipolítica. Isso não subsiste a uma simples
observação mais apurada do perfil profissional dos políticos brasileiros. Ora,
se tem uma categoria que gosta de se envolver com política é o médico,
exatamente pelo prestígio social que a profissão lhe confere. Quantos prefeitos
pelo interior da Paraíba são médicos? Na Câmara dos Deputados na legislatura
atual, os médicos, que são 41, só perdem para os advogados, que são 67
deputados.
Enfim, nesse
debate até agora, tem corporativismo demais e interesse social de menos.
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