Numa Paraíba marcada, desde sempre, pela oposição política
entre grupos tradicionais, falar em “terceira via” eleitoral tem sido chover no
molhado. Como já lembrou o historiador José Otávio de Arruda Mello, essa é uma
tradição que remonta o pós-1945, quando a Paraíba se dividia com paixão entre
UDN e PSD, e o deslocamento das dissidências entre os principais “chefes
políticos” de então (José América, Argemiro de Figueiredo, João Agripino e Ruy
Carneiro), acabava por definir o resultado das disputas eleitorais, sempre
marcadas pela extrema polarização, que era mais entre as famílias do que entre
os partidos.
Após a ditadura, novos grupos e novas famílias emergiram
para a política e outras se atualizaram, mas lógica eleitoral permaneceu a
mesma, com a velha polarização mantida eleição a eleição. Com uma diferença: a
importância que adquiriu o controle da máquina do Estado, que se tornou maior,
mais influente e azeitado para fazer política eleitoral no pós-ditadura.
Por isso, o irresistível poder de atração que exerce hoje o governismo,
que atrai partidos, em busca dos largos e aconchegantes braços do poder,
parlamentares, em busca de cargos para acomodar e manter fieis seus cabos
eleitorais, e prefeitos, sempre abertos para negociar um apoio eleitoral em
troca de obras e “otras cositas más”.
Todo esse poder cria uma descomunal
desigualdade entre situação e oposição e é sempre um fator que estimula, para que
mantenha alguma expectativa de vitória, a unidade desta última.
O
dilema da oposição
Esse é um dilema sempre presente na oposição paraibana. Em
2010, Ricardo Coutinho também o enfrentou. Candidatíssimo, RC tinha a opção de
embarcar em um projeto próprio e alternativo ao PMDB e ao cassismo, ao lado de
outros partidos que, à época, tinham mais identidade programática.
Preferiu
abocanhar o anzol que lhe lançava Cássio Cunha Lima, este desejoso de quebrar a
unidade do poderoso bloco liderado pelo PMDB para derrotar o maranhismo e
facilitar sua eleição para o Senado, objetivos que conquistou.
A dissidência
entrou novamente em ação e RC, apoiado na “fortuna” de um ambiente político
desejoso de renovação, deslocou-se para o outro prato da balança e venceu a
disputa. Com isso, a “terceira via” foi novamente sepultada, se é que um dia ela
desejou nascer.
Hoje, esse debate volta com toda força. O antigo bloco que
era liderado pelo PMDB desde 2002, se despedaçou depois da derrota de 2010.
Durante as articulações para as eleições de 2012, uma nova conjunção de forças
nasceu, resultado, primeiro, da aliança entre PT-PP, que foi engordada com a
chegada de Luciano Agra e seu grupo após o racha deste com o atual governador.
A vitória em João Pessoa reforçou ainda mais esse agrupamento, que passou a
propagar objetivos comuns de lançar chapa em 2014, que tinha como principal
peça a candidatura de Luciano Agra ao governo.
Agra ainda não definiu com
precisão com qual o seu projeto para o próximo ano, mas os acenos das
frequentes conversas com Veneziano Vital parecem indicar cada vez mais que o
projeto do ex-prefeito de João Pessoa passa agora por uma aliança com o PMDB,
restando apenas definir em qual posição na chapa.
Assim, para efetivação da “terceira via” falta hoje um
candidato capaz de agregar e projetar expectativas de vitória, o que ela não
tem, a não ser que Agra reveja sua estratégia. Por enquanto, tudo parece
caminhar para a manutenção da tradicional polarização.
Se a oposição se unir
numa única chapa, será a vez de Agra cumprir o papel de dissidência, como fez
RC em 2010, fazendo o caminho inverso do ex-aliado. E não se trata de uma
dissidência qualquer. Com ela, a oposição abocanhou nada mais que a prefeitura
de João Pessoa, que saiu do campo do governo para o da oposição.
RC e os
prefeitos da oposição
Até nos insistentes anúncios de apoio de prefeitos ao seu
projeto eleitoral que faz a cada semana, como se fossem oferecidos
“espontaneamente” e em doses que prometem se repetir ao longo dos meses que
antecedem a próxima eleição, o governador Ricardo Coutinho repete a prática da
velha política, que ele disse querer derrotar em 2010. José Maranhão fez o
mesmo e vejam no que deu.
Como se essas declarações de apoio de prefeitos, em
geral de pequenas e pobres cidades, fossem resultado do reconhecimento do ardor
republicano com que o governador trata esses “gestores”.
É só comparar, para observar o contraste, como o governador
trata os prefeitos do PMDB das maiores cidades, como Francisca Mota, de Patos,
e André Gadelha, se Sousa. Ainda na prefeitura de Campina Grande, Veneziano Vital,
insistiu muito para marcar uma reles
audiência com o governador.
Quando finalmente conseguiu foi submetido a um
constrangimento público e a audiência transformada num confronto absolutamente
desnecessário, o que novamente contrasta com o tratamento dado ao atual
prefeito de Campina, que é recebido e é visitado a toda hora.
A Prefeita de
Patos, a terceira mais importante cidade do estado, tenta há mais de sete meses
uma audiência e até agora nada. Eis o “republicanismo” de RC em ação.
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