Existem histórias que merecem ser contadas. E mais de uma
vez. Especialmente aquelas que são exemplos de luta e superação, de sacrifício
e recompensa. Hoje, conto a história de um amigo que, como boa parte dos jovens
brasileiros sem expectativas de emprego e de uma vida digna, saem do seu país numa aventura em busca
de oportunidades.
Durante anos, nos acostumamos
a ouvir as histórias desses jovens, e muitas delas terminavam sem um final
feliz. Não é esse o caso. Em 1996, do alto dos seus 22 anos, Anderson
Medeiros, resolveu reconstruir sua vida nos Estados Unidos. Aquele moço que mal
saíra da adolescência saía em busca do “sonho americano”.
Trabalho
e família
Anderson chegou aos Estados Unidos e, como fazem todos os
latinos que por lá aportam, foi ocupar o espaço que a eles está reservado: primeiro,
entregou panfletos nas ruas de Miami, depois começou a cortar a grama dos bem
cuidados jardins americanos, para enveredar pela jardinagem e, por fim, acabou
na churrascaria O Porcão, que levou
para os Estados Unidos o “rodízio”, essa experiência brasileira, por aqui muito
apreciada, de comer carne até se empanturrar.
Nessa vida de trabalho, ainda em Miami, Anderson arranjou
tempo para construir família. Lá, conheceu Viviane Barreto, com quem casou e que
seria sua companheira para o resto da vida.
Numa tentativa de retorno, os dois voltam para o Brasil. Foi
aqui que Viviane engravidou de Pietra e depois de Enzo. Era 2001 e o Brasil
vivia na crise. Novamente sem expectativas, os dois resolvem voltar para os
Estados Unidos, deixando os filhos aos cuidados dos avós, numa dolorosa
separação.
Para complicar a situação, Viviane, com a autorização de
permanência vencida, é impedida de entrar nos EUA e obrigada a retornar ao
Brasil. Alguns meses depois, Viviane volta para reencontrar o marido, agora
através da perigosa fronteira que separa o norte do México do sul dos Estados Unidos,
onde, ao invés da felicidade, muitos encontram a morte.
De João
Pessoa para o mundo
Foi em Miami que nosso brasileiro aprendeu a lidar com a
carne, com os cortes brasileiros, mas também com a maneira, também muito
diversa, de como os americanos preparam um belo churrasco. Quem acha que eles
só assam hambúrguer em churrasqueira está muito enganado.
Esse aprendizado não renderia apenas mais um novo trabalho,
mas um metiê, um ofício que acompanharia esse paraibano lutador pelo resto da
vida, num itinerário que o levou de Miami para a Carolina do Norte, onde outros
empresários brasileiros, esses de Goiás, resolveram expandir seus negócios
abrindo mais uma churrascaria.
Da Carolina do Norte, Anderson foi para a Europa levando seu
conhecimento, exportando nossa tecnologia da churrascaria-rodízio: ele tinha
virado um “consultor e administrador de churrascarias”, cujo trabalho era
conceber e produzir projetos, acompanha-los desde a construção e os primeiros
passos desses empreendimentos até que eles ganhassem vida própria.
Nesse trabalho, Anderson percorreu boa parte da Europa,
abrindo churrascarias. Primeiro, aportou na Holanda, depois na Itália, e, mais
a leste, foi para a Eslováquia.
O recomeço no Brasil: a churrascaria no Bessa |
Depois, retornando ao Ocidente europeu, foi para Londres
mostrar como os brasileiros preparam carne. De Londres, foi para Viena ajudar a
abrir aquela que seria a última churrascaria, dentro e fora do Brasil, que não
fosse a sua própria.
Na Europa, puderam levar os filhos, mas dificuldades de
adaptação forçaram nova separação. Foi isso que os fez decidir definitivamente
pela volta ao Brasil.
De
volta ao Brasil. E com sua própria churrascaria
Com a Europa em crise e o Brasil cheio de oportunidades,
Anderson e Viviane resolvem voltar para reunir novamente a família e aqui abrir
uma pequena churrascaria no Bessa Shopping, que logo fez um sucesso estrondoso.
Menos de um ano depois, o negócio se expandiu e eles já
estão em Tambaú, numa churrascaria que apenas começa a ter a forma da que Anderson
e Viviane um dia planejaram para chamar de sua. E não duvidem. Eles vão
conseguir.
O Rancho da Picanha, hoje, em Tambaú (Rua Antônio Lira, 153 - Próximo a Zarinha). Não fique só na vontade. Vá conhecer as carnes que lá são preparadas. E aproveite para conhecer os donos. |
A
Comissão da Verdade e as Ligas Camponesas
O professor da UFCG, Hermano
Nepomuceno, encaminha à coluna carta em que trata dos desafios da Comissão da
Verdade da Paraíba.
A Comissão Estadual da Verdade
promoveu Audiência Pública sobre as Ligas Camponesas em Sapé. O quadro da
violenta repressão àquele movimento
social se apresentou com precisão e emoção nos depoimentos. As respostas dos
depoentes à inquirição do professor Fábio Freitas, sobre a prática de tortura
contra os ativistas das Ligas, levantam os indícios para a responsabilização.
Ofélia Amorim foi peremptória:
o maior torturador dos camponeses na região de Sapé foi o Major PM Luís de
Barros; responsável também por várias detenções de Pedro Inácio, segundo sua
Filha Neide Araújo. Ele, juntamente com João Alfredo, após o golpe de 64,
estavam presos no quartel do 15º RI. Mas foram soltos à noite por decisão do Major Cordeiro, do Exército. Ambos são
considerados desaparecidos políticos.
A verdade histórica e o resgate
da cidadania de Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro) e de João Alfredo
Dias (Nêgo Fuba), passa necessariamente: 1) pela localização dos seus restos
mortais; 2) pela identificação dos autores do sequestro, assassinato, mutilação
e ocultação dos cadáveres, tanto os agentes públicos policiais e militares que
executaram a operação, como os particulares que se beneficiaram politicamente.
A Paraíba conhece a matriz política e social responsável pelos assassinatos do
líder camponês João Pedro Teixeira, do prefeito José Silveira e da sindicalista
Margarida Alves.
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