domingo, 15 de julho de 2012

MATUSALEM E O NOVO RC*



O governador Ricardo Coutinho parece ter perdido o bom senso, alienado do mundo real pelo cerco do poder. Antes elogiado pelas pessoas mais próximas pela disposição de ouvir e ser convencido, depois que assumiu o Governo da Paraíba isolou-se num mundo particular comandado pelos valores frios das decisões “administrativas”. RC se tornou o mais legítimo tecnocrata no poder e decretou a morte dos ideais em seu governo. 

No seu mundo, não existe sentimento, dor, amargura, interesse, esperança. Tudo deve estar subordinado à utopia de um “admirável mundo novo”, onde a fria expectativa de um mundo racional substitui a política e a paixão. 
 
Isolado nesse mundo de aparências, cercado pelo que restou de um staff onde quem pensa por conta própria não pode a ele pertencer e quem tem objetivos que não sejam os do chefe é dispensável, RC reformulou por completo seus pensamentos e a si próprio, a tal ponto que quem não tenha acompanhado essa trajetória não conseguiria identificar que o indivíduo que ocupa hoje a Granja Santana seja mesmo o velho RC de guerra. Hoje habita ali um outro homem, de novas ideias, novas posturas, novas companhias. 
Primeiro, afastou-se dos aliados políticos mais próximos, preferindo a companhia de adversários históricos. 
Depois, rompeu com categorias que tradicionalmente apoiaram sua trajetória, tratando-as de forma quase desrespeitosa, como foi o caso dos professores e do Fisco. Abandonou suas ideias mais caras ao levar a visão empresarial para gerir o serviço público, isso na saúde, antes campo privilegiado de sua ação e identidade política. 
Depois, foi se indispondo com seus mais próximos companheiros, após décadas de harmoniosa convivência. Passou a tratar aqueles que estavam com ele desde os primeiros e duros anos de militância como inimigos. Incorporou a soberba desse novo mundo ao sugerir “umas palmadas” para o tratamento das divergências com o prefeito da mais importante cidade paraibana
Agora, veio com essa de tratar o ex-governador José Maranhão de “Matusalém”, sugerindo ser ele velho demais para a política. Essa atitude não é apenas deselegante e desrespeitosa, ela reverbera na política um sentimento próprio do mercado e do utilitarismo que deseja comandar nossas vidas e teima em nos enxergar como coisas, que devem ser usadas e jogadas fora. 
Ao tratar esse personagem bíblico de maneira jocosa, utilizando-o para atacar um adversário, RC dá a entender que os mais velhos são descartáveis como copos de plástico. É como se RC desejasse a morte política de Maranhão por antecipação, esquecendo-se que quem determina isso são os eleitores. RC também esquece que não é a idade que, em política, determina se um indivíduo é ou não “velho”. São suas práticas e suas ideias. 
Por certo, RC parece preferir a juventude do deputado federal do Dem, Efraim Filho, um jovem que na política é tão velho quanto os interesses que ele representa no Congresso e na vida política nacional.
Eis a única novidade que Ricardo Coutinho nos prometeu. Um novo Ricardo Coutinho.

* Texto publicado no Jornal da Paraíba de 15/07

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