segunda-feira, 24 de abril de 2023

Cícero Lucena acende uma vela para Jackson Macedo e outra para Cabo Gilberto?



A presença do deputado federal Cabo Gilberto, do PL, em evento político da Prefeitura de João Pessoa, ocorrido hoje pela manhã, em Mangabeira, causou surpresa e desconfianças nas lideranças bolsonaristas. 

O deputado foi ao evento em homenagem ao aniversário do maior bairro pessoense não como um transeunte ou curioso qualquer. Chamado a falar, Cabo Gilberto chegou a elogiar, na frente do prefeito Cícero Lucena, ações da prefeitura no bairro.


Se o critério para julgar certos comportamentos políticos, entretanto, fossem as alianças nacionais, que deveriam orientar as alianças locais, o comportamento de Cabo Gilberto não causaria nenhuma surpresa. O PL, partido do deputado federal, se alinha no Congresso ao Progressistas, de Cícero Lucena, no mesmo campo que faz oposição ao governo do presidente Lula.

Ciro Nogueira foi ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro e é presidente nacional do Progressistas 


Aliás, o Progressistas compôs, junto com o Republicanos - este o primeiro partido a antecipar apoio à reeleição de Cícero Lucena, - a coligação em apoio à reeleição de Jair Bolsonaro, do PL, na eleição presidencial do ano passado. Portanto, não se pode dizer que, do ponto de vista estritamente partidário, Cabo Gilberto agiu com incoerência.


A atitude do Cabo Gilberto talvez faça parte de um movimento para evitar que Cícero Lucena saia do Progressistas e caminhe rumo ao PDT, partido da base de Lula. Nesse caso, se a decisão do prefeito de João Pessoa de permanecer no Progressistas já estiver tomada, as conversas com Jackson Macedo, que gerou confusão no PT, e o convite de hoje a Cabo Gilberto, que resultou em críticas de Nilvan Ferreira e Wallber Virgolino, a estratégia de reeleição de Lucena objetiva dividir os principais partidos que ameaçam seu projeto político. Ao acenar para os lados opostos e inconciliáveis  do espectro ideológico nacional, Cícero Lucena pode colher frutos temporários, mas ajudará a colocar pulgas atrás das orelhas, sobretudo do PT.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Governo Lula e a geopolítica dos golpes


A última visita do presidente do Brasil, Lula, a Xi Jinping, da China, pode resultar na consolidação de uma aliança global estratégica entre os dois países, caso o Brasil aceite participar da Nova Rota da Seda chinesa, que financia projetos de infraestrutura de transportes em vários continentes, no qual os chineses já investiram US$ 1 trilhão de dólares.

O encontro entre os dois aconteceu três semanas após outro encontro bilateral, este de mais largo alcance, envolvendo a China e a Rússia de Vladimir Putin. Nos dois casos, a China resolveu colocar em prática o movimento estratégico que pretende tirar dos Estados Unidos a vantagem de ter sua moeda como o padrão de conversibilidade, que é o dólar, mesmo depois dela ter sido descolada do ouro há pouco mais de 50 anos. 

Ou seja, há mais de cinco décadas os Estados Unidos controlam, através de sua moeda, a maior fatia do comercio internacional, isso sem as responsabilidades e as restrições do padrão-ouro, que limitava, por exemplo, a qualquer país que a ele aderisse, a capacidade de emissão de moeda, artifício que os norte-americanos usaram mesmo antes de 1971, quando, através de emissões sem lastro, inundaram o mundo de dólares. Descolado do ouro, o dólar virou uma mercadoria cujo preço “flutua” de acordo com a demanda. E que alta demanda! É essa a principal razão para tanta gritaria dos nossos “analistas econômicos”, porque nossa dependência do dólar tem relação direta com a dependência deles dos juros altos.

A China finalmente resolveu acabar com a festa dos Estados Unidos. O primeiro passo foi compor uma aliança, o BRICS, com as mais importantes economias ditas “emergentes”, estrategicamente espalhadas por todos os Continentes: o Brasil, a Rússia, a Índia e a África do Sul. O segundo passo foi a fundação do Banco de Desenvolvimento do BRICS, um banco de financiamento que, sem as amarras — inclusive ideológicas —  do odiado e nosso velho conhecido, FMI, criado para financiar projetos públicos ou privados de iniciativa dos seus membros. Enquanto o FMI agiu nas últimas décadas para acorrentar as economias que a ele recorriam, o Banco do BRICS visa a cooperação financeira para apoiar políticas de desenvolvimentos econômico. O terceiro, é abandonar o pagamento em dólar nas transações comerciais com a China, que se tornou o principal parceiro comercial do Brasil. O mercado chinês já representa 27% de todas as exportações brasileiras, com um superávit comercial que se aproxima dos US$ 30 bilhões anuais. O problema é que essas trocas comerciais continuam a reproduzir a velha hierarquia das vantagens comparativas que marcaram a economia brasileira até os anos 1930, e, ao invés de café, borracha, algodão, cacau e açúcar, hoje o país exporta soja, minério de ferro e carnes, com o agravante de ter o Brasil uma população que vive majoritariamente da economia urbana.

De toda maneira, China parece querer nos ensinar que ela voltou a 1944 com a disposição de dar ouvidos ao que Lord Keynes disse em Bretton Woods, quando os Estados Unidos eram a superpotência militar e industrial e a Inglaterra não tinha mais como deter a decadência em curso. 70 anos depois, o mundo acompanha novamente uma troca de papeis. A China em vias de assumir o papel dos Estado Unidos e começou a fazê-lo depois da década de 1970, quando trocou Mao — não seria correto dizer Marx — pela economia política de John Maynard Keynes, que, vejam só, é considerada pela grande mídia de extrema-esquerda! Enquanto a China apostava na produção de riquezas materiais, no emprego massivo do capital e do trabalho, os Estados Unidos se deixavam governar cada vez mais por Wall Street e pelo Pentágono, pelo sistema financeiro e pela indústria bélica. E, paradoxo dos paradoxos, a tal “globalização” inventada pelos Estados Unidos foi a arma da China para entrar nos mercados de todo o mundo, inclusive norte-americanos.

Enfim, o mar não está para peixe, principalmente para quem se encontra numa “área de influência” dos Estados Unidos. E ambiente das relações internacionais é crítico, marcado pelo aumento das tensões entre Estados Unidos e China, e da consolidação da aliança estratégica deste último país com a Rússia, depois do encontro entre Xi Jinping e Putin. Logo depois, Lula acena em palavras atos que tem interesse de aprofundar suas relações comerciais e geopolíticas com a China, o que inclui, numa questão crítica como a guerra Rússia-Ucrânia, uma posição que é mais próxima da chinesa. 

Enfim, da mesma maneira que a participação dos Estados Unidos na Lava Jato, que começou não como uma obra do acaso em 2014, está amplamente documentada, que se desdobrou no golpe parlamentar que depôs Dilma Rousseff, é possível que comecemos a assistir novamente a esse filme, agora com novos personagens e novas circunstâncias.  

Por último, porém não menos importante, pode não ter sido um acaso que as imagens divulgadas, ontem, tenham caído nas mãos da CNN, que mostram o ex-ministro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Gonçalves Dias, agindo de maneira passiva dentro do Palácio do Planalto no 8 de janeiro, dia da tentativa de golpe bolsonarista. Pode ser que a pretensão não seja ainda derrubar Lula, porque a alternativa ao petista é o trumpista Jair Bolsonaro ou alguém da turma dele. Mas, fragilizar Lula a ponto de impedi-lo de avançar na sua agenda externa e consolidar a aliança com a China.

terça-feira, 11 de abril de 2023

2024? Disputa pela vaga de vice na chapa de Cícero Lucena tem mais a ver com 2026


Por não ter acumulado forças para escolher um candidato vice-governador de sua preferência na disputa do ano passado, João Azevedo pode ter ajudado a criar uma equação de difícil solução para 2026, quando será obrigado a se afastar do cargo para se candidatar seja ao Senado seja à Câmara Federal. 

Se uma das incógnitas no bloco que elegeu João Azevedo já tem um valor conhecido previamente - Lucas Ribeiro será candidato a governador, - a outra - Cícero Lucena, - não. Não apenas porque o prefeito de João Pessoa precisa ainda passar pelo desafio da reeleição, e esse talvez seja o menor dos seus desafios. 

Caso reeleito, Cícero Lucena terá condições de peitar a pretensão dos Ribeiro de governar a Paraíba?

Quando Ricardo Coutinho bancou sozinho uma chapa puro-sangue na eleição de 2008, em João Pessoa, deixou claro qual era seu projeto para a eleição seguinte. Quando Luciano Cartaxo aceitou Manoel Jr. como seu candidato a vice-prefeito, em 2016, jogou pela janela o projeto de se candidatar a governador dois anos depois. Cartaxo foi menos esperto que Coutinho? Talvez menos ousado e corajoso, o que, no caso do hoje deputado estadual, nunca foi uma novidade. Cartaxo só optou pelo caminho mais seguro para se reeleger. 

Qual desses dois scripts Cícero vai seguir? Quando escolher seu candidato a vice-prefeito, em grande medida, Cícero Lucena também estará anunciando uma decisão não apenas sobre a composição, mas sobre o futuro político que ele planeja para si e seu grupo político. E esse jogo já se revela metaforicamente sangrento, vide as críticas incomuns que setores da imprensa fazem hoje à administração pessoense - que ninguém se engane, nenhum elogio ou crítica a "gestores" públicos são gratuitas. 

E o motivo é que os Ribeiro querem a vaga de vice tanto quanto quer João Azevedo. Nos dois casos, não se tratará de mera indicação partidária, porque o critério definidor será ao da confiança pessoal, o que deixará quase todo mundo de fora, a começar pelo atual vice-prefeito. No caso de João Azevedo, que ficará na chuva caso se afaste do governo para se candidatar em 2026, ter alguém de sua confiança na prefeitura de João Pessoa é mais estratégico. A dúvida que resta nesse caso é saber se a indicação de um nome ligado a João Azevedo não fortalecerá Lucas Ribeiro quando começarem de verdade as negociações para montagem das chapas em 2026. Assim como aconteceu com Luciano Cartaxo, Cícero pode se imobilizar na armadilha que ele próprio montou.

Como ficou demonstrado em 2022, João Azevedo não tem ainda - pode ser que isso mude nos próximos três anos - liderança própria para entrar numa disputa eleitoral sem contar com o apoio de uma máquina - e tanto ele como Ricardo Coutinho sabem como um ex perde prestígio e poder longe do cargo de governador. 

Cícero terá condições de bancar sozinho seu candidato a vice, como fez Ricardo Coutinho em 2008? Na conjuntura de hoje, é difícil que ele se arrisque? 

Cícero Lucena pode ousar apostando numa composição partidária à esquerda, com Lula, o PT, o PCdoB e o PV, numa aliança que envolva um projeto de mais longo prazo, o que, claro, só pode se viabilizar se for vantajoso para os dois lados. 

Com Lula como patrono desse acordo, Lucena pode ter mais segurança de que ele vai ser cumprido.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Cícero Lucena ficará mesmo no Progressistas?

 


O enigma partidário de Cícero Lucena: “Decifra-me ou te devoro”

Ontem, o deputado federal Messinho Lucena disse que ele e Cícero Lucena não pretendem sair do Progressistas, partido que é comandado na Paraíba pelo deputado federal Aguinaldo Ribeiro e atribuiu a mera especulação a possibilidade do prefeito pessoense mudar de partido.

O debate público sobre mudança de partido não e conveniente para ninguém que tenha essa pretensão, porque, por si só, ela antecipa estratégias. Não é segredo para ninguém que um político que assume a cadeira de prefeito de João Pessoa, o maior colégio eleitoral da Paraíba, estabeleça como próximo objetivo de sua carreira concorrer ao cargo de governador.

Foi assim com próprio Cícero Lucena, em 2002, que não foi candidato porque teve se ceder a vaga para Cássio Cunha Lima, rejeitando assim um acordo com o então governador, José Maranhão, que defendia sua candidatura. Aconteceu também com Wilson Braga, em 1990, com Ricardo Coutinho, em 2010, e com Luciano Cartaxo, em 2018. Ter um objetivo não significa realizá-lo. A realização de um objetivo como esse depende, como sempre, das circunstâncias, de uma boa leitura da realidade, mas, também, de uma boa dose de coragem, que sobrou a Coutinho, em 2010, e faltou a Cartaxo, em 2018.

Será inevitável que, caso se reeleja prefeito de João Pessoa no próximo ano, Cícero Lucena se tornará um candidato natural à sucessão de João Azevedo. E, a julgar pelo retrospecto, Cícero é o grande favorito a vencer a disputa na Capital — desde que o direito à reeleição passou a valer, nenhum prefeito de João Pessoa (Cícero Lucena, em 2000, Ricardo Coutinho, em 2008, e Luciano Cartaxo, em 2016) foi derrotado quando se recandidatou ao cargo.

Trata-se apenas uma hipótese, porém, bastante factível. Caso reeleito e disposto a realizar o velho sonho de governar a Paraíba, adiado por duas vezes em 2002 e 2010, o mais provável é que Cícero Lucena tenha como principal adversário o atual vice-governador, Lucas Ribeiro, que deve assumir o governo, em 2026. Lucas, como todos/as sabem, é sobrinho de Aguinaldo Ribeiro, e só não será candidato na remotíssima hipótese do atual governador não se afastar do cargo para se candidatar ao Senador ou à Câmara dos Deputados.

É tanto uma lei tanta da física quanto da política que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço simultaneamente. Isso quer dizer que, para ser candidato a governador, Cícero Lucena terá de sair do Progressistas e encontrar um partido que não represente qualquer risco ao seu objetivo.

Nesse caso, não existem muitas opções partidárias à disposição do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, tão boas quanto o PDT, que tem ministro no governo Lula e negocia a formação de uma Federação com o PSB de João Azevedo, ou seja, cai como uma luva na estratégia de polarização com os candidatos bolsonaristas. Candidato pelo Progressistas, a tarefa de Cícero Lucena fica muito mais difícil.

O prefeito pessoense só precisa levar em conta o timing. Desde que a família Feliciano deixou o partido para se abrigar no União Brasil, o PDT se encontra sob intervenção da direção nacional e, portanto, à espera de uma liderança estadual com tamanho nacional.

O PDT vai persistir assim até quando?

2024: Veneziano antecipa apoio a Ruy Carneiro e joga na mesa suas melhores cartas

 

O senador do MDB, Veneziano Vital do Rego, antecipou na semana passada o apoio do MDB à candidatura do deputado federal Ruy Carneiro a prefeito de João Pessoa. O anúncio foi feito de viva-voz durante um evento político na cidade de Logradouro: “Se Deus quiser, a capital da Paraíba haverá de ter Ruy Carneiro como gestor em 2024″, disse ele ao microfone.


Não sei se Veneziano notou, mas ele acabou de perder parte considerável do seu cacife político, sobretudo em um estado marcado por reviravoltas de última hora na política de aliança, como a que envolveu o próprio Veneziano, em 2022, quando o grupo do emedebista se aliou aos Cunha Lima depois de décadas de disputa pela hegemonia política em Campina Grande.


Já analisamos aqui os movimentos de aproximação entre Veneziano Vital e o grupo Cunha Lima, este reanimado pelo desempenho de Pedro nas eleições para governador no ano passado. O inesperado apoio de Veneziano, que foi também candidato ao governo da Paraíba, ao tucano no segundo turno foi importante porque evitou que a estratégia de João Azevedo de carimbar o tucano como um candidato bolsonarista se concretizasse, o que ajudou a manter Pedro numa posição de neutralidade no segundo turno da eleição presidencial.


Ao antecipar seu apoio à candidatura de Ruy Carneiro, Veneziano jogou na mesa suas melhores cartas, sem ter tido ainda qualquer sinalização a respeito da posição do MDB na montagem das chapas majoritárias nos dois principais colégios eleitorais do estado, principalmente em João Pessoa.


De qualquer maneira, trata-se de um má notícia para Cícero Lucena, que vê o fortalecimento de um terceiro nome para a disputa do próximo ano, o que dificulta sua estratégia de apostar tudo na polarização com o bolsonarismo e resolver a disputa já no primeiro turno – o que ainda não está claro é se Ruy Carneiro conseguirá repetir o mesmo desempenho da eleição passada.


E é péssimo para os grupos do PT que apostam no lançamento de uma candidatura própria em João Pessoa na eleição para prefeitura de João Pessoa. O apoio antecipado do MDB a Ruy Carneiro isola ainda mais o partido, que perde na Paraíba o principal aliado de 2022.