quarta-feira, 10 de novembro de 2010

SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO PT NO FUTURO GOVERNO RICARDO COUTINHO

Setores do PT, impulsionados pela eleição de Ricardo Coutinho, não esperaram nem o anúncio da vitória ricardista para começar a defender a participação do partido no futuro governo do ex-prefeito de João Pessoa.

Qualquer cidadão de bom-senso que escute essa proposta, e não tenha acompanhado as disputas dentro e fora do PT durante os últimos dois anos, pode considerá-la com naturalidade, afinal ele certamente não veria problema em membros do PT comporen um governo liderado por outro partido de esquerda, o PSB.

A não ser que fique sabendo, antes de emitir qualquer juízo de valor sobre a proposta, que o partido não apenas apoiou, mas compôs a chapa derrotada nas últimas eleições, e que a chapa vitoriosa ao governo foi formada por adversários nacionais do PT e da presidente eleita, Dilma Rousseff.

Não apenas isso: que a campanha do "socialista" foi casada, especialmente no interior, com a do candidato do PSDB à presidência, José Serra, a tal ponto que as votações dos dois serem quase idênticas no principal reduto tucano nessa eleição, Campina Grande, ao ponto do Diário de Pernambuco nomear a cidade de "A ilha tucana no interior do Nordeste" (clique aqui).

E é exatamente o tratamento de "ilha" que a até então minoria do PT deu e quer continuar dando ao PT e à Paraíba. É como se o estado fosse um Brasil à parte e as alianças partidárias não significassem absolutamente nada por aqui.

É como se participar de uma campanha ao lado do DEM, o partido da velha direita e em vias de extinção no Brasil, e do PSDB, o partido da "nova direita", fosse um detalhe inexpressivo. Mais grave ainda é defender que o PT participe de um governo ao lado dessas forças, como se governar fosse algo tão "neutro" que não implicasse escolhas orientadas por objetivos com claras repercussões sociais. Lula que o diga.

Ora, é mais do que legítimo que PSDB e DEM reivindiquem seu quinhão no futuro governo, e um quinhão significativo. Afinal eles não apenas deram suporte à campanha ricardista interior à fora, como fornecerão os votos na Assembléia Legislativa para dar "governabilidade" ao futuro governo.

Seria um contra-senso imaginar que Ricardo Coutinho se elegeu com a direita e agora vai governar com a esquerda, principalmente com uma esquerda sem expressão política e, mais ainda, eleitoral, além de dividida, como é o PT hoje.

Vejam o caso da nova CPMF. Enquanto os deputados petistas se escondem desse debate necessário, os representantes do DEM e do PSDB paraibanos já apontam suas bazucas para a proposta, querendo, claro, adiantar o tom de como será a batida do bumbo nos próximos 4 anos. (Na próxima postagem, tratarei de defender a criação de um tributo para ajudar a financiar a saúde pública).

Ou seja, essas contradições inelimináveis da política nacional se expressarão com força no interior do futuro governo de Ricardo Coutinho. Mas não só elas. O modo de governar estará em jogo, especialmente se Ricardo quiser levar à frente para dar sentido à idéia "republicana" tão propalada pelo candidato do PSB durante a campanha. Enfim, nós veremos na prática se republicanismo e cassismo combinam.

Por fim, cabe um último registro. Se for formada uma maioria no interior do diretório regional do PT a favor da participação no governo, teremos demonstrada a verdadeira "vocação" do PT paraibano: o governismo, a oportunismo, a corrida por cargos independente do bloco político a que o partido pertença.

Seria a negação não apenas de um projeto partidário, mas de um projeto de poder. Essa "maioria" do PT seria reduzida e desmoralizada a um agrupamento que flutua ao sabor das circunstâncias e deixaria finalmente claro que a opção pelo apoio ao governo de Ricardo Coutinho teve a mesma justificativa do apoio que ela concedeu para aprovar o apoio a José Maranhão: cargos.

É preciso encontrar pontos para a construção do consenso no interior do PT, fundamento de qualquer projeto partidário, mas os primeiros são esses: o respeito às decisões das instâncias partidárias, o reconhecimento de que há uma conexão entre o projeto nacional e o estadual e, por fim, a conseqüência em relação às decisões tomadas.

Afinal, o PT não foi derrotado para ficar no governo. Defender o contrário é jogar o PT na vala-comum que orienta a ação dos partidos tradicionais no Brasil. E a história do PT não merece que façam isso com ele.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O PT NA PARAÍBA: RAZÕES PARA MAIS UM FRACASSO ELEITORAL

Enquanto o PT comemorava unido em todo o Brasil a histórica vitória conquistada no último domingo com a eleição de Dilma Rousseff, aqui na Paraíba o partido encerrava sua participação no processo eleitoral da mesma maneira que começou: dividido e enfraquecido.

Dois PTs esboçavam atitudes diferentes para o mesmo resultado. Ou melhor, a minoria partidária comemorou a derrota do próprio partido a que pertence, como se a vitória do adversário do PT fosse também uma vitória sua, como se o PT não fizesse parte da chapa derrotada, como se existissem mesmo "dois" PTs a lutar por projetos políticos distintos.

Não, meus companheiros, não existem dois PT. Existe um único PT, o PT da maioria, o PT legitimado pelas resoluções partidárias oriundas dessa maioria, o PT que torna os vários PTs que existem nele um só partido. Foi assim que o PT ajudou a criar no Brasil uma nova tradição de organização partidária, que faz dele o partido mais democrático do país, e que fez dele o maior partido brasileiro, o único partido de esquerda verdadeiramente de massas.

Foi essa prática democrática que me levou ao PT 14 anos atrás. Impressionava-me sempre como um partido com suas acirradas disputas internas conseguia continuar crescendo. Desde muito jovem, acompanhei a trajetória e as mutações do PT. Do esquerdismo que marcou o partido por quase toda a década de 80, passando pela confusão programática dos primeiros anos da hegemonia neoliberal, até tornar-se o partido de esquerda maduro que é hoje, cujo projeto de nação também foi amadurecendo com ele, especialmente durante o governo Lula, o PT conseguiu construir uma hegemonia política que o permite comandar um projeto de mudanças com a amplitude que consegue congregar o centro e a centro-direita, e muitas personalidades tidas como conservadoras, a exemplo de Sarney e Collor.

Finalmente, desde João Goulart - e agora com uma sólida base social que permite ao PT enfrentar, além dos embates eleitorais, um debate político e ideológico que tenderá a se acirrar cada vez mais nos próximos anos - temos uma frente ampla que foi pacientemente construída durante o governo Lula e que é dirigida por um núcleo de partidos à esquerda. Enfrentamos, especialmente nessa última campanha, o reacionarismo de uma elite que sempre foi incapaz de pensar com alguma generosidade no Brasil e no bem-estar do seu povo. Enfrentamos e vencemos mais uma vez.

Cabe agora uma questão capital: como o PT conseguiu construir essa hegemonia política? Como o PT deixou de ser um partido que habitava a periferia da política brasileira para se tornar o maior partido brasileiro, não só elegendo em 3 eleições seguidas o/a presidente do Brasil, mas também a maior bancada na Câmara dos Deputados? Uns, mais apressados, dirão: foi a política de alianças, que permitiu ao PT dirigir-se a setores mais amplos do eleitorado brasileiro. É verdade. Mas antes disso, antes que o PT conseguisse se delinear como alternativa política e eleitoral, o PT se construiu como força partidária, cujo envolvimento e dedicação de sua militância fez e faz do PT o partido de referência no Brasil e, talvez, o único partido - à exceção do PCdoB e dos partidos de origem trotskistas - que possa ser tido enquanto tal.

Debatemos acaloradamente, e muitas vezes de maneira pública, nossas divergências internas. Aprendemos a não ter medo da polêmica e a cultivá-la como fundamento de nossa democracia interna. Expomos nossas entranhas para que todos vejam nossas divisões. A direita antes se alegrava com isso, mas depois aprendeu que o PT debate, diverge, mas se une.

Isso até 2010 na Paraíba. Antes, tivemos movimentos marginais de questionamento à orientação partidária, mas não nas proporções e com a força que foi observada em 2010. Uma parte considerável de militantes, dirigentes partidários e parlamentares, não apenas simplesmente desconheceu a posição oficial do PT, como trabalhou abertamente contra ela.

Vou evitar entrar no mérito da divergência que motivou essa pendenga. Creio que minha opinião já é do conhecimento dos que costumam freqüentar este blog. Considero que esse debate não é mais importante, sendo mesmo irrelevante se quisermos fazer um balanço sério sobre o PT e seu futuro político na Paraíba.

Vou me ater, portanto, àquilo que considero ser a razão mais importante que tornou o PT o grande partido que ele é: a sua unidade, a sua democracia interna e o respeito, portanto, às decisões da maioria, que foram expressas e legitimadas formalmente e politicamente por todas as instâncias partidárias.

A começar pela realização do PED, que elegeu a direção atual do PT tendo como foco o debate sobre as alianças, passando pela decisão por amplíssima maioria do Encontro Estadual do partido e, por fim, pela legitimidade conferida pela Direção Nacional do PT à decisão de não apenas apoiar, mas PARTICIPAR da chapa de José Maranhão.

Não se trata de discutir o direito à divergência, mas de respeitar os companheiros de partido que dedicam parte do seu tempo, em alguns casos, todo o seu tempo, à construção do partido. Mais do que isso. Trata-se de um dever estatutário (artigo XIV do estatuto do PT, que determina a todo filiado "acatar e cumprir as decisões partidárias"), que torna o mais simples filiado igual ao presidente Lula.

Mais do que isso. O respeito ao partido e suas decisões derivam da compreensão de que o PT é maior e mais importante do que qualquer personalidade política que milite em seus quadros. Por quê? Porque o PT é um partido cujo valor se encontrar não na força individual de cada filiado, mas na força de suas idéias e na ação organizada de sua militância.

Lula seria a liderança que passará para a história do país não fosse o PT? Ricardo Coutinho seria algo além de presidente do Sindicado dos Farmacêuticos de João Pessoa não fosse o PT? Luiz Couto seria além de padre e professor da UFPB não fosse o PT? Esse foi um partido construído pelos de baixo, por aqueles que não teriam espaço no jogo político oligárquico.

Foi o PT quem deu a dimensão política que tem Ricardo Coutinho e que o permitiu tornar-se a liderança incontestável que ele é hoje, mas talvez seja ele, Ricardo, o maior exemplo do personalismo, do individualismo que vê no partido um mero sustentáculo aos seus objetivos particulares. Um filiado cujo agrupamento político ainda hoje atende pela alcunha de "Coletivo Ricardo Coutinho" dá a exata dimensão e confirma a personalidade política que ele é. E Luiz Couto mais do que ninguém sabe disso, não é mesmo?

Mas, mais uma vez, não se trata de Ricardo Coutinho, que, com suas características, fez muito bem em procurar seu caminho fora do PT. Ou de José Maranhão. Trata-se de reconhecer que a grandeza de cada militante ou filiado depende da grandeza e da importância do partido. E que isso só é possível quando seus filiados, desde o mais simples ao que ocupa o cargo de maior relevância, estão dispostos a respeitar as decisões das instâncias partidárias. É isso que evita que o PT se torne um partido de caciques, que não estão sujeitos às decisões da maioria e se sentem acima delas.

E não me venham dizer que o PT é assim em todo o Brasil porque não é. Para demonstrar isso, eu cito o exemplo da eleição de 2002 no Rio Grande do Sul, quando Olívio Dutra, então governador, perdeu as prévias internas e não conseguiu a vaga para tentar a reeleição. Um governador. E qual foi a atitude de Dutra? Agiu de maneira mesquinha tentando evitar a vitória de quem o impediu de concorrer? Onde está Olívio Dutra hoje? A última vez que o vi, ele estava novamente ao lado de Tasso Genro, festejando a dupla vitória conquista no Rio Grande do Sul.

Olívio Dutra não pediu licença (licença!) de suas obrigações estatutárias para agir contra o partido e a favor dos seus adversários, nem subiu em seus palanques para ser vaiado quando pedia voto para sua candidata a presidente. Olívio Dutra não preferiu a companhia de inimigos históricos do PT e do presidente Lula, mas perfilou ao lado dos seus companheiros que com ele sempre construíram o PT e com eles se elegeu governador.

É disso que se trata. De generosidade política, de postura democrática, de respeito à maioria e às instâncias partidárias, de respeito ao partido que deu vida e permitiu que legítimos projetos políticos e eleitorais individuais e de grupo se tornassem viáveis.

O resultado disso é o desempenho medíocre que o PT conseguiu nas urnas neste ano. Desde 1994, o PT não supera a marca dos 3 deputados estaduais. E desde 1998, permanece com apenas 1 deputado federal, de uma representação de 12. Se o PT tivesse agido de maneira unitária, colocando em primeiro lugar os objetivos eleitorais e seu projeto político, talvez tivesse conseguido não apenas ampliar suas bancadas na Assembléia e na Câmara, mas ter conquistado uma das vagas para o Senado, como a campanha mostrou ser possível.

A continuar nessa disputa autofágica, o PT tende a continuar sendo o que ele é há muito tempo na Paraíba: linha auxiliar de outros partidos. Mas, para superar seus impasses, precede antes de tudo avaliar as posturas de cada grupo durante o processo eleitoral. Jogar para debaixo do tapete essas questões apenas ajuda a corroborar práticas que enfraquecem a unidade interna do PT. E a sua força política.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mensagens de ódio e preconceito social.

Os registros abaixo compõem uma seleção do que jovens da nossa elite "branca" e "separarista", como gosta de defini-la Paulo Henrique Amorim, pensam não apenas dos "nordestinos", mas do povo brasileiro. Afinal, só quem votou em Dilma foram analfabetos e pessoas que dependem do Estado para sobreviver?

Não custa lembrar que Dilma teve quase 50% dos votos do Rio Grande do Sul, teve 46% dos votos dos paulistas, mais d 60% dos votos dos mineiros e cariocas. Eu recebi muitas mensagens durante os 8 anos de Lula, de filhos da elite nordestina que pensam como os filhos da elite sulista e que compunham um quadro aterrador do preconceito social latente, doido para se liberar sem amarras na impessoalidade do internet e do Twitter.

Nós vamos enfrentar essa gente nos próximos 4 anos anos. É ela quem vai querer transformar o Brasil numa Venezuela. E nós vamos vencer, de novo. Porque o povo sabe com quem está lidando. Afinal, quem o emprega nas empresas e nas residenciais, onde esse ódio é destilado cotidianamente em estado bruto?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

CRESCIMENTO DE MARINA SILVA E VOTO ANTIMARANHISTA DEFINIRAM ELEIÇÃO NA PARAÍBA

Já analisei aqui a derrota sofrida por José Maranhão no primeiro turno quando tudo levava a crer que ele venceria a disputa (clique aqui). Além dos aspectos arrolados, um dado adicional deve ser levado em consideração: o gigantesco deslocamento de eleitores que ocorreu nos dias que antecederam a realização do primeiro turno da eleição presidencial: eleitores indecisos e eleitores que votavam em Dilma Rousseff e passaram a optar por Marina Silva.

Esse deslocamento pode explicar as súbitas alterações nas tendências verificadas nas eleições estaduais e que acabaram por prejudicar candidatos que "colaram" suas campanhas na de Dilma Rousseff, a principal vítima da campanha de difamação orquestrada no submundo da internet pela campanha de José Serra.

Isso aconteceu, por exemplo, no Paraná, onde até uma semana do primeiro turno, Osmar Dias, do PDT, empatara com Beto Richa, depois de ter conseguido tirar a grande diferença que os separava antes da campanha na TV se iniciar; em Santa Catarina ocorreu a mesma coisa, e, nesse caso, o beneficiário foi o candidato do Dem, Raimundo Colombo, que via os candidatos, especialmente Ideli Salvati, do PT, avançarem nas pesquisas. Em São Paulo ocorreu fenômeno semelhante: o crescimento da candidatura de Aluisio Mercadante, do PT, até os últimos dias da campanha primeiro turno, aproximou todos os outros candidatos dos percentuais de Geraldo Alckmin tornando a realização do segundo turno bastante provável. Entretanto, nenhum desses prognósticos se confirmou nas urnas, o que acabou por beneficiar os candidatos do PSDB e DEM.

Vejam abaixo um quadro com o resultados da últimas pesquisas do IBOPE no Paraná, Santa Catarina e São Paulo. (clique na imagem para ampliar)

Então, o que ocorreu para que essas tendências não fossem consolidadas nas urnas? O único fato político de relevância foi o crescimento de Marina Silva sobre parte do eleitorado que resolveu acreditar na campanha de difamação realizada contra Dilma Rousseff durante todo o primeiro turno e que se tornou avassaladora nos últimos 15 dias de campanha.

E, como eu disse, essa mudança acabou prejudicando em alguns estados candidatos que colaram sua campanha na campanha de Dilma, como aconteceu também na Paraíba.

Aqui, acrescente-se o fato da dubiedade do candidato a governador oposicionista, Ricardo Coutinho, em relação às eleições presidenciais. Filiado a um partido que compôs a aliança nacional em apoio à Dilma Rousseff, o PSB, e chancelado pela minoria do PT que deu claro exemplo para o partido e para a sociedade de infidelidade partidária, Coutinho pôde se beneficiar do voto do eleitor de Dilma, sem nunca ter pedido publicamente um voto sequer para ela; com apoio do PSDB, do DEM e do PPS na Paraíba, partidos da base de José Serra, transitou livremente no meio do eleitorado conservador e, especialmente em Campina Grande, colou sua campanha na do candidato tucano.

Na reta final, vislumbrando o crescimento de Marina Silva, fez o seu grupo de apoio pedir votos e fazer boca de urna para a candidata que foi linha auxiliar de José Serra e viabilizou o segundo turno.

Ou seja, Coutinho, que atirou para todos os lados, ajudado pela dubiedade que marcou o seu discurso e pela falta de coerência na política de alianças, soube colher os frutos nos diversos pomares da política nacional.

Enfim, a maioria do eleitorado acabou por chancelar o que, retoricamente, ela mais dizia rejeitar na política. Enquanto José Maranhão manteve-se fiel ao lulismo, tanto por acreditar que poderia obter as vantagens eleitorais do apoio à candidata do presidente Lula, cujo favoritismo no Nordeste era incontestável, quanto pelo apoio que foi construído por uma lealdade de 8 anos no Congresso Nacional e no interior do PMDB.

Na reta final, Maranhão foi, por isso, tragado pelo crescimento de Marina Silva. Nesse sentido, o candidato do PMDB perdeu dos dois lados: por ser fiel ao PT, Dilma e Lula, e, no segundo turno, por ter contra si um candidato que tinha apoio de todos os lados, especialmente e, num aparente paradoxo, de gente muito próxima de Dilma.

Se tem algo que saiu desmoralizado nessas eleições na Paraíba foi a lealdade política. Se serve de consolo, Maranhão pode continuar dizendo, sem poder ser desmentido, que sua trajetória sempre foi marcada pela fidelidade às suas idéias e aos seus aliados. O contrário nem sempre foi verdadeiro.

Mas, esse aspecto (as eleições presidenciais na Paraíba) foi de menor importância para justificar a derrota maranhista. O fato do atual governador postular pela quarta vez governar a Paraíba certamente interferiu na escolha política dos eleitores, aliás, com alguma razão, há de se reconhecer.

E isso nada tem a ver com o julgamento da trajetória ou das administrações maranhistas. Qualquer político que ocupe por muito e num curto espaço de tempo cargos administrativos de relevância tende à saturação de sua liderança. Cabe a ele o reconhecimento disso, como faz Lula ao afirmar que não pretende disputar novas eleições, mesmo que ele tenha saído do governo com mais de 80% de aprovação.

Maranhão teve essa oportunidade ao voltar o governo e eleger um sucessor que continuasse tanto sua obra administrativa quanto sua obra política. Maranhão teve essa oportunidade, mas faltou-lhe generosidade política.

Ninguém tem dúvida, por exemplo, que se fosse Veneziano Vital o candidato, o resultado dessas eleições certamente teria sido outro. Mesmo a ausência de Veneziano na vice foi decisiva para o resultado em Campina Grande, que mais uma vez foi determinante no primeiro turno.

Assim, a indicação de José Maranhão acabou se encaixando perfeitamente na estratégia de Ricardo Coutinho, que dependia fortemente de um oponente que permitisse a junção "geopolítica" do eleitorado pessoense com o campinense, fato central da estratégia cassista-ricardista.

Foi a indicação de José Maranhão que permitiu que Ricardo Coutinho recuperasse o eleitorado perdido por conta da aliança como Cássio Cunha Lima. Coutinho soube explorar muito bem, especialmente entre os mais jovens, muito mais suscetíveis a julgar as coisas e a política pelas aparências, o desgaste natural da liderança de José Maranhão. Também ajudou o estilo do atual governador, que, ao que parece, nunca se acostumou com o desafio de lidar com a TV, a não ser na reta final, quando já era tarde.

No finalzinho de março, eu registrei aqui neste blog. (clique aqui)

Mas, além dessa força desproporcional que será demonstrada ao longo dos próximos meses até o início da campanha (...) José Maranhão precisará apresentar um novo discurso ao eleitor, principalmente o motivo que o convença a votar para que ele, atual governador, tenha direito a mais um mandato.

Não tenho dúvidas de que esse será o principal embate, em termos de discurso, que poderá reproduzir o acirramento das duas últimas eleições. Nesse sentido, a questão é saber se o eleitor estará aberto à mudança - e saturado das lideranças tradicionais, - ou se manterá distância, na hora da escolha, da observação das características individuais e históricas de cada candidato, optando por manter, em termos de lideranças políticas, as coisas como estão.

Por outro lado, a grande incógnita será o comportamento do eleitorado dos dois maiores colégios eleitorais, João Pessoa e Campina Grande. No caso do primeiro, se ele converterá em voto no candidato oposicionista (Ricardo Coutinho) a boa avaliação que ele faz da administração pessoense; no caso do segundo, se o eleitor campinense reproduzirá a rejeição a José Maranhão que permitiu estabelecer uma diferença que foi a principal responsável pela vitória de Cássio Cunha Lima nos dois últimos pleitos.

Enfim, das hipóteses levantadas acima, foram confirmadas apenas as que beneficiavam Ricardo Coutinho. E isso por conta dos erros de avaliação da coordenação de campanha maranhista, que subestimou o verdadeiro embate que se desenvolvia nas eleições paraibanas, imaginando que apenas o controle da máquina era o que determinava o resultado das disputas políticas na Paraíba.

Eles subestimaram um fato óbvio, que chamamos a atenção muitas vezes neste blog. As 20 maiores cidades da Paraíba comportam mais da metade do eleitorado do estado. Ou seja, temos um eleitorado cada vez mais urbano, que tem mais acesso à informação, que é cada vez mais exigente.

E foi exatamente esse eleitor que garantiu o segundo turno das eleições. Um eleitor que votou no "novo" o que, no Nordeste, significou em quase todos os estados votar mais "à esquerda".

Volto novamente a citar este blog: "Eu tenho insistindo: é um erro subestimar a virada à esquerda que o eleitorado nordestino deu depois que Lula assumiu o governo. E esse dado, acredito eu, não é conjuntural, ele expressa a urbanização da sociedade nordestina" (Clique aqui).

Esse alerta eu fiz para José Maranhão quando se debatia a indicação da vice na chapa do PMDB, quando pareciam óbvios os esforço de excluir o PT da chapa. Para Maranhão, o apoio do PT, ao que parece, significou apenas o acréscimo do tempo de TV e o vínculo eleitoral com Dilma e Lula. Ele subestimou, portanto, o contraponto à esquerda que Rodrigo Soares poderia fazer a Ricardo Coutinho, cobrando-lhe coerência à aliança nacional que se reproduzia em todo o Nordeste, à exceção da Paraíba, em apoio à Dilma Rousseff.

Enfim, Maranhão se recusou a politizar o debate eleitoral, acreditando nos marqueteiros e nos discursos insossos que eles produzem e que anulam a política do embate político. Se Maranhão tivesse enfrentando o debate real que dividiu o Brasil nas eleições de 2010 teria neutralizado parte do tal discurso de renovação que fez Ricardo. Preferiu se apresentar como um gerente e deu no que deu.

Sem a análise desses fenômenos fica realmente difícil entender o que aconteceu na eleição da Paraíba que permitiu a vitória de Ricardo Coutinho. Isso vale para o futuro governo do ex-prefeito de João Pessoa. A Paraíba não é João Pessoa. É mais complexa, mais desigual e mais pobre.

E, para completar, no segundo turno, preferiu o desespero do apelo ao preconceito religioso, coisa que Serra tentou utilizar contra Dilma na disputa presidencial, tentando vincular Coutinho às "forças ocultas". Esse foi um fato da campanha, que eu critiquei aqui mesmo neste blog (clique aqui).

Comentei com um amigo maranhista assim que vi os panfletos apócrifos: "Esse é um recurso de quem está desesperado". Era o que parecia. Maranhão não precisava disso. Quando ele enfrentou seu oponente politicamente, como ele fez no último debate do segundo turno, na TV Cabo Branco, ele saiu-se bem. Aquele deveria ter sido tom de toda a campanha.

Quando ele viu isso, já era tarde demais.

Depois, eu volto com uma análise do PT e da esquerda nessas eleições.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

ZÉ DIRCEU MASSACRA O RODA-VIVA TUCANO

José Serra escolheu José Dirceu como seu alvo preferido para atingir Dilma Rousseff. Tentou reforçar a satanização que fez a grande imprensa contra o ex-ministro chefe de Lula e grande articulador de sua vitória em 2002. Por isso, o PIG não perdoa Dirceu e, se depender dele, José Dirceu arderá no inferno para a eternidade.

Acompanhe a entrevista abaixo e tire suas próprias conclusões sobre a cumpabilidade de José Dirceu, não por acaso escolhido pela TV Cultura, que pertence ao Governo de São Paulo, para dar a primeira entrtevista. Acabou sendo outro tiro no pé. Veja por que.







segunda-feira, 1 de novembro de 2010

DILMA VENCEU O ÓDIO, O PRECONCEITO, A MENTIRA E A “NOVA DIREITA” BRASILEIRA.

Que ninguém tenha um só lampejo de dúvida do tamanho da vitória de Dilma Rousseff. E dos adversários que, mais uma vez, foram derrotados ontem. Dilma venceu a "santa aliança" direitista que se fez em torno de José Serra e que reuniu não apenas a velha direita, representada pelo DEM, mas o PSDB, agora travestindo as vestes da direita pós-moderna, "Tea Party", cuja inspiração são os métodos usados para tentar impedir a eleição de Barack Obama e continua a fazer um oposição ao mandato do "primeiro" Presidente negro dos EUA.

Uma direita eletrônica, organizada, que usa especialmente a internet para, de forma fragmentária, ou seja, propagar o medo, a mentira e a desesperança não ao conjunto dos eleitores, mas aos segmentos dele. Tenta reforçar os preconceitos já existentes e estimula que os latentes se venham à tona. É uma nova forma de obscurantismo que expressa o grau de despolitização do debate político atual na sociedade. Para vencê-lo, só o debate político, só o tratamento claro das diferenças que dividem os adversários e seus projetos.

Ontem, soubemos também medir o tamanho da liderança de Lula. Foi ele o grande vitorioso, seja porque levou à vitória uma candidata até bem pouco tempo era desconhecida para a amplíssima maioria do povo brasileiro, tendo começado sua campanha com mirrados 3% e a encerrado ontem com 56%, montada numa montanha de 55.752.092 votos. Nada mal para quem nunca participou de uma eleição.

Mais do que transferir seu prestígio e seus votos (quem disse que não se transfere votos no Brasil?), Lula soube antecipar, e com razão, o debate que se prenunciaria durante a campanha e conduziria o Brasil para uma inevitável polarização de projetos. E a estratégia de Lula, que conseguiu afastar Ciro Gomes da disputa, não deu inteiramente certo por conta de Marina Silva, que cumpriu, e muito bem, o papel de linha auxiliar dessa nova direita, e levou a disputa para o segundo turno.

Mas, deixa Marina com seus sonhos em paz, por enquanto. Ela voltará, em 2014, agora para ajudar Aécio Neves. No final das contas, assim como aconteceu em 2006, o segundo turno serviu tanto para demarcar com clareza as diferenças de projeto, como para mostrar a horrenda face da nova direita, cheia de ódio e preconceitos. Foi o insosso embate entre "gerentes", essa criação conservadora da marketagem, que permitiu o crescimento de Marina (e de Ricardo, aqui na Paraíba). Quando as reais diferenças entre os candidatos não ficam claras para o eleitor, tudo vira a mesma coisa. Quer campo mais fértil para o conservadorismo?

Provavelmente, a política no Brasil nunca mais será a mesma daqui em diante. O confronto que tomou conta de toda a América Latina chegou ao Brasil e tende a se aprofundar nos próximos anos. E não adiantará fugir dele que já foi provocado e continuará sendo estimulado pela nova direita durante a campanha. Senão, Dilma não governará. Especialmente, porque o governo de Dilma precisará enfrentar os gargalos na economia.

Mas, pensemos nisso no futuro próximo. Por hora, temos é que comemorar!

PS. Quanto eu tiver ânimo e disposição, eu comento aqui o resultado da eleição na Paraíba, ou seja, a ressurreição do cassismo e o fim do ciclo político do maranhismo.