Sempre tratei as pesquisas eleitorais no Brasil - e, especialmente, na Paraíba - como um dado a mais da realidade. Por outro lado, ao me deparar com opiniões sobre favoritismo de qualquer candidatura e com a idéia de uma eleição antecipada numa disputa majoritária, sempre lembro de um fato simples: entre a definição de uma candidatura e a eleição propriamente dita existe uma campanha no meio.
E não é por outro motivo que são abundantes os exemplos de candidatos que perderam eleições que, segundo as pesquisas, "estavam ganhas", e candidatos considerados derrotados que acabaram vencendo as eleições. Não se ganha nem se perde eleição há 6 meses de sua realização. E nenhuma eleição, salvo circunstâncias muitos especiais, é vencida sem que as condições para tal estejam plenamente amadurecidas. Madura a situação, o mais importante é encontrar o melhor discurso, apresentá-lo da maneira mais didática possível e torná-lo o centro da estratégia eleitoral.
Ricardo Coutinho, apesar dos erros amadores cometidos nos últimos meses, provavelmente chegará em junho montado nos 30%, um percentual considerável em qualquer circunstância. E os atuais percentuais do governador José Maranhão, que superam os pouco mais de 40%, exigem daqui por diante uma ampliação constante e segura, pois suas vantagens diante do adversário fazem lembrar novamente a disputa de Davi contra Golias. Nessas circunstâncias, o perigo é que o eleitor, ao invés de votar em quem "vai ganhar", comece a torcer pelo mais fraco. Lembrem do "tá com medo ou tá com Pedro?" que elegeu Pedro Gondim contra Ruy Carneiro, em 1960.
José Maranhão está cada vez mais assumindo o papel de "Golias" nessa disputa. Ele tem ao seu lado a força das máquinas administrativas dos governos federal e estadual, além do poderio das principais prefeituras da Paraíba; junto com isso, potentes máquinas partidárias, como as do PMDB e do PT - é verdade que esta última está enfraquecida e dividida, - que serão acrescidas de novos partidos em busca dos aconchegantes e largos braços do governernismo (como o PTB - e já se fala do PP). Com essa conjunção de forças o atual governador terá a possibilidade de colocar nas ruas um verdadeiro exército de cabos eleitorais que fornecerão à Paraíba a sensação de que ela está literalmente coberta pelas cores de sua bandeira, que são as cores do PMDB.
Mas, além dessa força desproporcional que será demonstrada ao longo dos próximos meses até o início da campanha, quando cada oponente saberá com alguma precisão o tamanho do exército que contará nessa peleja, José Maranhão precisará apresentar um novo discurso ao eleitor, principalmente o motivo que o convença a votar para que ele, atual governador, tenha direito a mais um mandato.
Não tenho dúvidas de que esse será o principal embate, em termos de discurso, que poderá reproduzir o acirramento das duas últimas eleições. Nesse sentido, a questão é saber se o eleitor estará aberto à mudança - e saturado das lideranças tradicionais, - ou se manterá distância, na hora da escolha, da observação das características individuais e históricas de cada candidato, optando por manter, em termos de lideranças políticas, as coisas como estão.
Por outro lado, a grande incógnita será o comportamento do eleitorado dos dois maiores colégios eleitorais, João Pessoa e Campina Grande. No caso do primeiro, se ele converterá em voto no candidato oposicionista (Ricardo Coutinho) a boa avaliação que ele faz da administração pessoense; no caso do segundo, se o eleitor campinense reproduzirá a rejeição a José Maranhão que permitiu estabelecer uma diferença que foi a principal responsável pela vitória de Cássio Cunha Lima nos dois últimos pleitos.
Se a atitude do eleitor campinense mantiver a atitude das duas últimas eleições - foram 4 as vezes, nos dois turnos de 2002 e 2006, que ele se dirigiu às urnas para derrotar os candidatos do PMDB, - consolidando uma espécie de comportamento eleitoral, José Maranhão precisa começar a se preocupar. Especialmente se Ricardo Coutinho conseguir uma aliança com o PSDB, indicando Ivandro Cunha Lima como o seu vice, e Veneziano Vital permanecer na Prefeitura. Então, as condições políticas estarão montadas para repetir 2002 e 20006, se não nas mesmas proporções, mas com intensidade suficiente para estabelecer uma diferença que precisará de dezenas de pequenas cidades para ser coberta.
E se o eleitor de João Pessoa desconsiderar as alianças que fez o atual prefeito, será a capital dessa vez a derrotar o PMDB. E é bom não esquecer: mais de 50% do eleitorado paraibano está concentrado nas 20 maiores cidades, onde o eleitor é cada vez mais independente e cada vez mais tem acesso à informação.
Portanto, se for mantida hoje a diferença entre José Maranhão e Ricardo Coutinho, como mostram as últimas pesquisas - mesmo desconsiderando a margem de erro, - está certo o prefeito de João Pessoa em ousar, mesmo com as reais possibilidades de derrota. Em política, a ousadia pode ser o diferencial entre uma carreira medíocre e uma carreira vitoriosa.
Olá Flávio, gosto muito do seu texto, muito bem escrito, claro, imparcial até o ponto da agradabilidade e do respeito...e priemiramente o parabenizo, já que textos com esse teor sempre caem pelo lado da politicagem, hoje em dia, poucos conseguem fazer um texto assim, mais limpo.
ResponderExcluirEu discordo de você quando diz que seria uma luta de um Davi, contra um Golias. Na verdade me envergonho de esse Golias ser o atual governador José Maranhão.
Acredito que a Paraíba precisa sair desse ciclo vicioso de se revezarem no poder os Cunha Lima, e Maranhão, acredito que muitos paraibanos estejam cansados dessa política rasteira e desrespeitosa.
Cássio se afasta, por "força bruta", mas se afasta e acredito que isso foi vital para a Paraíba, e espero que essa seja a hora de a Paraíba caminhar sob novo olhar, com novas pernas...
Os resultados da pesquisa não me surpreendem e acredito piamente que de uma hora para a outra o Davi vire o Golias, e o Golias, vire o Davi da história.
Acho que existe uma diferença qualitativa muito grande, e visível a olho nu entre os dois candidatos. Porque não apostar no novo? Porque não confiar em um excelente administrador em prol de um governo já cansado, abatido, antiquado? Porque permanecer na estagnação? Porque não mudar?
Mesmo Cássio estando ao lado de Ricardo, não creio que ele deseje e trabalhe para o candidato do PSB, talvez o melhor para ele seria a vitória do Pmdbista, mas acredito que a Paraíba quer e vai mudar. Que a Paraíba quer crescer.