Foi com o professor de Filosofia Luiz Couto que mais aprendi sobre Maquiavel numa disciplina que o atual deputado federal do PT ofereceu aos alunos do curso de História da UFPB, há uns 20 anos atrás. Entre as opções propostas pelo então professor, escolhi Maquiavel e tive que ler O Príncipe para apresentar um seminário. Tanto a leitura atenta quanto a apresentação das idéias do diplomata italiano do século XVI e do debate que se seguiu, me permitiram desenvolver uma nova compreensão do que Maquiavel representa para a política moderna.
Longe dos preconceitos largamente difundidos sobre esse grande filósofo, resumidos na frase que nunca foi escrita por Maquiavel (“os fins justificam os meios”), compreendi finalmente que a política tem uma dinâmica própria e que a ação política exige uma compreensão da realidade que deve ir além do que nós desejamos que ela seja, mas como efetivamente ela é. Enfim, na esfera da política as normas de conduta não devem ser mediadas por modelos a priori, mas em razão dos objetivos a serem alcançados. Não se trata de propor um vale tudo sem princípios – para Maquiavel, o fim da política é alcançar o bem estar e a estabilidade social, – mas o fim da ingenuidade na política. Pois ela, definitivamente, não é lugar para ingênuos.
Você, meu possível leitor, deve estar se perguntando qual a relação dessa introdução com o título dessa postagem? Primeiro, ressaltar que as decisões políticas devem ser mediadas pela racionalidade e não pelas paixões ou por uma visão menor dos objetivos pelos quais nos metemos a fazer política, e com isso contribuir para uma análise mais racional da política paraibana e das chances de termos um candidato de esquerda na disputa para o Senado em 2010; segundo, evitar que a maior, e talvez a única, referência política da esquerda paraibana hoje – Ricardo Coutinho deixou de ser quando optou por aliar-se à direita – seja tragado pelas armadilhas dessa mesma política.
Comecemos, então, por deixar claro que foi o PT, e não apenas Luiz Couto, quem definiu que o partido tinha dois objetivos principais nas eleições de 2010 na Paraíba: ajudar a eleger Dilma Roussef e conquistar uma das vagas para o Senado. A política que o PT deveria perseguir era essa, mas o que se viu na prática foi que esses objetivos foram sendo colocados em segundo plano para dar lugar à prioridade dos outros partidos de eleger seus candidatos a governador. O PT acabou se dividindo entre os que queriam apoiar José Maranhão (PMDB) e os que queriam apoiar Ricardo Coutinho (PSB).
No caso do grupo de Luiz Couto, o objetivo ficou mantido, mas atrelado à candidatura do PSB sem observar, em primeiro lugar, como o projeto de eleger um senador se encaixava nessa opção. Talvez a candidatura de Ricardo Coutinho desse mais lastro para esse projeto caso ela viabilizasse uma alternativa que aglutinasse a esquerda (PSB, PT, PCdoB e PDT) e atraísse outros partidos, como o PTB e o PP. Optando por aliar-se ao PSDB e Dem, Coutinho feriu de morte a possibilidade de uma aliança com o PT e a esquerda, o que enfraqueceu a posição de Luiz Couto e seu grupo dentro do PT. Couto não levou em consideração a possibilidade de um recuo tático, excluindo a opção de apoiar o candidato do PSB, e resolveu enfrentar o abismo e só não caiu nele ainda porque o tempo da política mantém sua condescendente espera.
No caso do grupo que apoiou Rodrigo Soares, aos poucos esse objetivo foi se diluindo até se consolidar no seu abandono, substituído pelo propósito de manter a vaga de vice-governador, ajudado tanto pelo precedente da aliança feita em 2006 como pela aliança entre PT e PMDB que se construía nacionalmente. E a tal unidade partidária, aquilo que foi e continua sendo o lastro de todos os projetos individuais e de grupo, acabou sendo a vítima de todo esse processo. O PT da Paraíba caminha para um racha que pode ter sérias implicações futuras.
Entretanto, ainda há tempo de restabelecer essa unidade, o que só será conseguido por intermédio da política. Para o bem do PT e da esquerda paraibana.
Luiz Couto unia o PT. Ainda une?
Não há dúvida que a maior liderança individual do PT continua sendo o deputado federal Luiz Couto, sendo ele o único nome capaz de compor uma chapa majoritária com possibilidades de vitória. O fato de, excluído Luiz Couto, o PT não dispor de outro nome para ocupar esse espaço, preferindo o aconchego da vaga de vice-governador na frondosa árvore maranhista, é revelador das fragilidades eleitorais do partido e de suas lideranças na Paraíba. A indicação do vice se sustenta pela simples afirmação da vontade dessas lideranças? Como já analisamos neste blog, a candidatura de Luciano Cartaxo se fortaleceu internamente após a vitória de Rodrigo Soares para a presidência do PT. Mas, isso por si só é suficiente?
Uma simples análise da vantagem eleitoral proporcionada pela indicação da manutenção do atual vice-governador na chapa de José Maranhão pode expor o quanto será difícil manter essa estratégia, a não ser que seja pela pura intimidação política. Caso não consiga manter Cartaxo na chapa o PT pula fora do barco do PMDB para se abrigar ao lado do PSDB e do Dem no tumultuado barco ricardista? Da mesma maneira que o PT nacional resiste, por legítimas razões de ordem política e eleitoral, em aceitar a indicação de Michel Temer, do PMDB, para compor a chapa presidencial ao lado de Dilma Roussef, o atual Governador da Paraíba José Maranhão tem razões de sobra para preferir um nome de maior densidade eleitoral, porque, e isso é um fato que interessa a todos, a derrota dele significará a derrota de todos. Depois, como aceitar a indicação de Cartaxo se ele não consegue assegurar nem mesmo o apoio do PT por inteiro, como pelo menos aconteceu em 2006?
Esse é um primeiro dado a conferir importância à candidatura de Luiz Couto ao Senado. Ela tanto permitiria criar as bases para o restabelecimento da unidade interna do PT e da esquerda, como evitaria atropelos na relação com o PMDB. Se Couto pensar com paixão, deixando a mágoa falar mais alto, ele verá nesse segundo aspecto uma maneira de não contribuir para solucionar essas dificuldades; se pensar racionalmente, olhando ao mesmo tempo para o PT e para o projeto original de se eleger Senador, verá com tranqüilidade que as condições políticas para viabilizar sua candidatura existem. Dentro e fora do PT.
Por que a candidatura de Luiz Couto ao Senado é viável
Primeiro, as condições para ser candidato. Quando eu me refiro às condições internas do PT estou me referindo não exclusivamente ao PT paraibano – mesmo aqui, para muitos que apóiam retoricamente a candidatura de Luciano Cartaxo, seria um alívio que o único motivo atual de confronto com José Maranhão fosse desfeito, – mas ao PT nacional, especialmente a Lula e Dilma Roussef. Por dois motivos: primeiro, a candidatura de Couto evitaria criar mais um problema regional com o PMDB, problema que não existia; segundo, viabilizaria a entrada na disputa de um candidato do PT com chances de vitória ao Senado, casa parlamentar que mais criou problemas a Lula e ao seu governo. Dilma certamente não quer enfrentar novamente esse problema.
Visto por esse ângulo, Luiz Couto hoje está na mesma situação que o paraibano Lindberg Farias se encontrava no Rio de Janeiro e conseguiu um acordo mediado pelo próprio Lula para que ele seja candidato ao Senado. Farias, que eu conheci relativamente bem, pois atuamos juntos no movimento estudantil, agiu com a frieza e a paciência que a política exige, esticando a corda sem deixar que ela se rompesse, deixando sempre uma janela aberta. Lula abriu essa janela e Lindberg não se fez de rogado. Para Luiz Couto, essa janela permanece aberta, como deixam claro todos os dias as lideranças do PMDB, incluindo o próprio governador.
Em resumo, a candidatura de Luiz Couto ao Senado interessa tanto a Lula e a Dilma, quanto ao próprio José Maranhão, o que pode permitir um acordo que viabilize toda a estrutura necessária para que o enfrentamento de uma disputa majoritária.
Segundo, acredito que seja do amplo interesse dos outros partidos de esquerda que haja um candidato desse campo como alternativa eleitoral. O quadro que se apresenta hoje considerando apenas o perfil dos possíveis candidatos ao Senado na Paraíba é dolorosamente carente de personalidades mais à esquerda: Efraim Moraes, Cássio Cunha Lima, Wilson Santiago, Wellington Roberto, Ney Suassuna mostram que o eleitor mais progressista enfrentará graves dificuldades de encontrar um candidato que mereça seu voto.
Quem representará esse eleitor, que tem um grande peso nos grandes centros? Depois, ninguém encarnaria de maneira mais real, sem precisar de estripulias midiáticas, a condição de candidato do presidente Lula ao Senado do que o petista Luiz Couto, especialmente numa eleição que tende a produzir nacionalmente uma onda vermelha, especialmente no Nordeste, com a ampla vitória dos candidatos que apoiarão e serão apoiados pelo governo Lula. Há uma clara subestimação desse provável fenômeno político, que já beneficia a candidata a presidente de Lula, uma até então desconhecida personalidade política, colocando-a em empate técnico com o candidato do PSDB, o conhecido governador de São Paulo, José Serra. Isso em março, sem a campanha na rua e na TV!
Se Luiz Couto e seu grupo perceberem a dimensão do que estará em jogo em 2010, as tendências que se apresentam hoje e que podem beneficiar sua candidatura, apontando como reais as possibilidades de uma vitória que, finalmente, dê ao PT da Paraíba a expressão política que o PT conseguiu em todo o Brasil, eles não terão dúvida que a candidatura ao Senado é a melhor opção, tanto para Luiz Couto quanto para o PT e, eu diria mais, para a política paraibana. Além disso, internamente, essa candidatura viabiliza a reversão da derrota polítca no PED, unindo o PT novamente em torno de Couto, para dar uma perspectiva para o partido e para toda a esquerda na Paraíba, perspectiva que, infelizmente, ela ainda não tem.
Cabe a Luiz Couto definir qual o papel que ele deseja que o PT e ele próprio desempenhem em 2010. Se de um partido que lidere a esquerda, apresentando um candidato ao Senado unir todas as matizes numa ampla campanha estadual, ou permitir que o PT seja um mero apêndice, mantendo-se A força e à sombra do PMDB.
O PT merece muito mais do que isso.
Para mim, esse foi o melhor e mais racional artigo que li até agora sobre o tema que envolve, inclusive, o futuro, a curto e médio prazos do PT. Sou partidário de um urgente e pragmático acordo interno para garantir realmente sobrevida ao partido e consolidar o palanque vitorioso de Dilma e das forças progressistas e de esquerda em nosso estado. Parabéns Flavio
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ResponderExcluirExcelente análise da situação, sempre pensei que, o ideal para a Paraíba continuar sua reeconstrução, seria uma chapa formada por: Zé e Bené, Governador e Vice, respectivamente, para o Senado Ricardo e Couto, isto antes do Mago crescer os olhos pelo puder a todo custo, hoje a chapa para o senado ideal é Couto e Santiago, pois com toda certeza a Paraíba irá querer continuar seu processo de Reconstrução. Vamos lá, ainda há tempo.
ResponderExcluirÓtimo artigo. Só tem um porém. Será que o PMDB quer Luiz Couto como candidato forte ao Senado com chances de vitórias, ou simplismente querem empurra-lo com a única inteção de frita-lo politicamente? Wilson Santiago é o candidato ao Senado pelo Partido. Será que o PMDB quer mesmo que Luiz Couto concorra com ele?
ResponderExcluirSão perguntas que devemos fazer.
Eu não tinha pensado na possibilidade de que a chapa dos candidatos ao senado não desse opção ao eleitor de centro-esquerda. Só me restará votar em Vital Farias. Luiz Couto pode ocupar esse espaço tranquilamente. Quando Ricardo se juntou com Cássio e Efraim o projeto de mudança foi por água abaixo. Só Luiz Couto não percebeu ainda isso.
ResponderExcluirÉ INTERESSANTE COMO O PADRE AINDA NAO VIU QUE O LUGAR DELE NAO EH MAIS DO LADO DE RUINCARDO COITINHO, POIS A CHAPA DENTARIA DOS SEM NOÇAO VAI FICAR SO NA VONTADE DE GANHAR.
ResponderExcluirTALVEZ O PADRE DEVERIA REVER SUAS POSIÇOES E VER QUE O NOVO NOA É TAO NOVO NÃO, POIS AS IDEIAS SAO RETROGRADAS, POIS SE ALIAR COM GENTE DA PIOR ESPECIE COMO EFRAIN QEU EH UM ALGOZ DE LULA E DILMA, É POUCO MIOLO PRA CABEÇA DO PADRE, MAS COM DIZ JESUS, PAI TEM PIEDADE DELE, ELE NAO SABE O QEU FAZ.