sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

O nome de João Pessoa: a tragédia que ainda nos assombra


Aqui morava um rei

Aqui morava um rei quando eu menino

Vestia ouro e castanho no gibão,

Pedra da Sorte sobre meu Destino,

Pulsava junto ao meu, seu coração.

 

Para mim, o seu cantar era Divino,

Quando ao som da viola e do bordão,

Cantava com voz rouca, o Desatino,

O Sangue, o riso e as mortes do Sertão.

 

Mas mataram meu pai. Desde esse dia

Eu me vi, como cego sem meu guia

Que se foi para o Sol, transfigurado.

 

Sua efígie me queima. Eu sou a presa.

Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa

Espada de Ouro em pasto ensanguentado.

 

O soneto acima é de Ariano Suassuna. O “rei” do poema é João Suassuna, governador da Paraíba entre 1924 e 1929. Ariano nasceu em 1927, portanto, durante o governo do pai, e ele gostava de lembrar que correra nu pelos corredores do Palácio da Redenção, onde, à época, residia a família do “presidente da Paraíba”, hoje chamado governador.

Ariano Suassuna homenageia o pai perdido para o ódio político e para as rixas familiares, quando mal tinha começado a viver. A dor que lateja em cada verso foi descrita, em um depoimento dado para um documentário sobre a Guerra de Princesa, como um punhal que ele imagina enterrar-se em seu coração sempre que pedem para recitá-los.

É por essa razão que, sempre que lembro a origem do nome atribuído à capital da Paraíba, lembro que se trata também de uma homenagem aos eventos que nos levaram até ele. É como se essa tragédia shakespeariana continuasse a nos assombrar quase um século depois. Sempre que esse debate volta — e ele sempre volta — os que não conhecem a nossa história política, e os embates familiares ainda tão presentes, continuam a se perguntar sobre a razão de sua existência, e, com alguma razão, imaginam sua inutilidade.

Por isso, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba daria uma contribuição decisiva para que os habitantes de João Pessoa possam, finalmente, superar o trauma da tragédia que o nome de sua cidade rememora — e homenageia. Aliás, seria a oportunidade para finalmente atender ao que os deputados estaduais decidiram durante a elaboração do Constituinte da Paraíba, que, defrontados novamente com a dilema 30 anos atrás, resolveram transferir a decisão para o povo pessoense, através de um plebiscito que jamais foi realizado.

Seria um importante estímulo para o povo da capital conhecer sua história, ou parte importante dela.

Um nome marcado pela tragédia, pelo sangue e pelo luto

Depois de deixar o governo da Paraíba, João Suassuna se elegeu para mais um mandato de deputado federal e tinha fortes ligações políticas com João Dantas, o advogado que em 26 de julho de 1930, assassinou João Pessoa na Confeitaria Glória, em Recife. O assassinato de João Pessoa deflagrou a Revolução de 1930, que começaria dois meses depois, em 3 de outubro. Apesar do assassinato ter motivação passional, o crime mobilizou o país como um crime político. João Pessoa havia se tornado uma figura-chave na política nacional. Ele tinha acabado de participar e ser derrotado da eleição presidencial ocorrida em março de 1930, na condição de candidato a vice na chapa liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas. Eram recorrentes as denúncias de que a vitória do governador paulista, Júlio Prestes, candidato apoiado pelo então presidente, o também paulista Washington Luiz, tinha sido fraudada, o que não seria nenhuma novidade. João Suassuna era da base de apoio do “perrepista” Washington Luiz no Congresso e apoiara Júlio Prestes.

O que levou João Dantas à Confeitaria Glória naquela manhã de julho, entretanto, foi a divulgação de cartas e poemas eróticos da professora e poetisa cabedelense, Anayde Beiriz, sua amante, que o advogado guardava em seu escritório. As cartas foram encontradas pela polícia no escritório depois de uma invasão e disponibilizadas ao público, o que causou, claro, um escândalo que resultou numa sucessão de tragégias: primeiro, o assassinato de João Pessoa, por João Dantas; depois, do próprio João Dantas, morto na cela em que estava preso, em Recife, no dia em que começou a Revolução de 1930 (3 de outubro), e, 19 dias depois (22 de outubro), no suicídio de Anayde Beiriz, que fugira para Recife. Entre a morte de João Dantas e Anayde Beiriz, morreu João Suassuna, também assassinado numa manhã movimentada em pleno centro do Rio de Janeiro, quando se deslocava do hotel onde se hospedava para a sede da Câmara dos Deputados, no Palácio Tiradentes.

Enfim, o sangue representado pela metade vermelha da atual bandeira da Paraíba, que divide com o preto do luto, não jorrou apenas do coração de João Pessoa, atingido pelas balas da arma de João Dantas.

A morte de João Pessoa, claro, causou uma imensa comoção na cidade e protestos populares resultaram em incêndios de residências e perseguições a políticos do antigo Partido Republicano da Paraíba. Aproveitando o clima de comoção provocado pelo assassinato do popular governador da Paraíba, foi proposto foi à Assembleia Legislativa a mudança do nome secular da capital paraibana: de Parahyba do Norte para João Pessoa. Cinco dias depois, o erro história estava consumado. A Paraíba ganhou uma nova bandeira para representá-la, com as faixas vermelha, a nos lembrar do sangue derramado, e preta, o luto da tragédia. E o NEGO, que relembra o apoio que João Pessoa negou à candidatura de Júlio Prestes, uma atitude política corajosa, sem dúvida, mas que teria se perdido nos escaninhos da História não fosse a tragédia passional e os ventos tempestuosos que ela ajudou a soprar.

Apesar de achar improvável que seja aprovada qualquer mudança de nome, considero que é hora de nos debruçarmos sobre esse dilema para enfim tentar superá-lo. Nomes de cidades não são alterados sem o calor dos grandes acontecimentos, a não ser que haja um inconformismo majoritário na população, o que não é o caso.

Conhecer mais a fundo um capítulo da história da cidade é uma boa justificativa para o plebiscito que o advogado Raoni Vita pede que o TRE realize no próximo ano sobre a manutenção ou não do nome da capital paraibano em atendimento à determinação constitucional.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

SER OU NÃO SER GOVERNO: O PT da Paraíba novamente na encruzilhada

Participei ontem à noite de uma live com a ex-deputada Estela Bezerra e com o também professor da UFPB, Geraldo Barbosa, a convite do canal de Youtube Roda de Conversa. Tratamos sobre conjuntura nacional, governo Lula e muito pouco sobre a política local. 

Fiz a primeira exposição e Estela falou em seguida. Quando chegou a vez da ex-deputada estadual, o mediador Sebastiao Costa a apresentou da seguinte maneira: 

— Estela Bezerra, nossa futura prefeita de João Pessoa, se Deus quiser — disse Costa, enquanto a ex-deputada abria um sorriso. — Vamos rezar toda noite, viu Estela? Bezerra nem disse nem que sim nem que não, mas deixou a janela aberta. 

— Sim, vamos rezar, principalmente para que nessa Região Metropolitana, que deu uma guinada para ultradireita, a gente possa, nesses dois anos de gestão da União (governo Lula) e de gestão do partido, reverter esse quadro. João Pessoa sempre foi uma cidade progressista. 

Na segunda parte da conversa, a possibilidade da candidatura de Estela voltou a ser tratada. Foi quando eu lembrei que o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, que teve seu mandato renovado pela Direção Nacional por mais dois anos, defendeu recentemente que o Partido dos Trabalhadores apoiasse a reeleição de Cícero Lucena, estabelecendo como única condição a mudança do atual prefeito pessoense para um partido da base de apoio a Lula, provavelmente o PDT. 

A opinião de Jackson Macedo deve ser levada a sério. A julgar pela trajetória recente, tem grandes chances de sair vencedora, mesmo que isso cause a proverbial divisão interna, postura com a qual o PT da Paraíba já se acostumou, e acho que até incorporou essa condição política como um fato com o qual filaidos e lideranças convivem sem muita dificuldade. Os insatisfeitos manterão suas posições, enquanto a legenda passeia de uma mão a outra nas eleições que se sucedem na Paraíba — isso, diga-se, muito antes de João Azevedo se eleger governador. 

E esse é o problema, o “X” da questão. O centro das dificuldades do PT na Paraíba não está em fazer alianças com quem quer que seja, desde que delimitadas ao campo político nacional e, mais importante, a uma estratégia que tenha como objetivo inserir o partido entre as grandes forças políticas do estado, para acumular forças visando conquistar o governo, como acontece na maioria dos estados do Nordeste. 

Aqui na Paraíba, o PT praticamente se tornou linha auxiliar dos partidos e grupos políticos que comandam governos e prefeituras importantes — foi assim com Cássio, a partir de 2000, foi assim com Maranhão, a partir de 2009, foi assim com Ricardo Coutinho. E permanece assim com João Azevedo. 

Não é obra do acaso, portanto, que, enquanto o PT do Piauí, do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Bahia, apenas para citar os estados em que o partido conquistou governos estaduais e alcançou a posição de uma das forças hegemônicas, têm cada vez mais relevância política, na Paraíba foi submetido a sucessivas derrotas, ao ponto de, na eleição de 2018, não eleger sequer um deputado para a Assembleia Legislativa. É bom lembrar que Cida Ramos e Luciano Cartaxo, os dois eleitos, ingressaram no partido recentemente. 

Volto a repetir: o problema do PT é o salve-se quem puder, é a fragmentação que dilui a força política e simbólica do partido numa miríade de interesses individuais, que é o resultado da ausência de qualquer projeto de poder que volte a transformar o partido no que ele já foi um dia, na Paraíba e no Brasil — ou vocês acham que o levou o PT a conquistar a Presidência da República em cinco eleições e vários governos estaduais no Nordeste, não foi resultado do acúmulo de experiências, de derrotas e vitórias que resultaram na formação de lideranças partidárias e populares? Foi isso que deixou de existir na Paraíba. 

Volto a insistir: o PT pode fazer uma aliança de médio e longo prazos com João Azevedo, e até apoiar Cícero Lucena para prefeito de João Pessoa, mas isso não pode ser, em primeiro lugar, um arranjo sem transparência para acomodar lideranças e grupos internos. Isso não cabe em um partido com as características do PT, com a base social que tem. Em segundo lugar, é necessário discutir um alinhamento minimamente programático que leve em conta como o PT pensa e propõe para a Paraíba. O partido tem de explicar as razões da aliança. Em terceiro lugar, que o partido tenha lugar na composição das chapas futuras, seja na eleição de 2024, principalmente em João Pessoa, seja na sucessão de João Azevedo, em 2026. Só não pode ser uma aliança em que João Azevedo e Cícero Lucena ofereçam cargos em seus governos em troca do lustre lulista e do tempo de TV do partido. 

Aí, seria enterrar de vez o PT na Paraíba.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Pré-candidatura de Cida Ramos à prefeitura de João Pessoa inviabiliza pretensão de Luciano Cartaxo

A deputada estadual Cida Ramos (PT) lançou hoje seu nome na disputa pela Prefeitura de João Pessoa. A decisão representa um balde de água fria na estratégia governista, que começou com a concessão de espaços na mídia à postulação do também deputado  estadual, Luciano Cartaxo. 

Claro que Cartaxo teve antes de rezar o pai nosso e reafirmar seu apoio a João Azevedo, o que já soou paradoxal: como um deputado declaradamente governista ganha espaços, tão generosos quanto incomuns, para anunciar uma candidatura de oposição ao principal aliado do governador? 

 E não só. O que se viu depois foi o impulsionamento de uma polarização entre Cartaxo e Cícero Lucena que, de tão artificial, só mobilizou do lado governista o também deputado estadual Hervazio Bezerra, cujo filho, Léo Bezerra, luta desesperadamente para se manter como vice-prefeito na chapa do atual prefeito pessoense. Do lado de Cartaxo, o que se viu foi um retumbante silêncio no PT sobre a postulação do ex-prefeito. 

Cartaxo carecia de tanto apoio dentro do PT que, no último sábado, o presidente estadual do partido, Jackson Macedo, desautorizou sem cerimônia sua candidatura, defendendo o apoio à reeleição de Cicero Lucena, decretando, assim, sua morte prematura (da candidatura do ex-prefeito). Enfim, sem o apoio de Jackson, Cartaxo fica sozinho e sem a companhia de qualquer outra liderança do PT. 

Resta agora saber se, depois do lançamento da pré-candidatura de Cida Ramos, Jackson Macedo manterá essa disposição ou se reafirmará o que disse em 6 de janeiro ao programa radiofônico 360 Graus, quando defendeu que o PT deveria lançar uma candidatura de oposição em João Pessoa:
 
 “O PT tem que estar pronto, tem que estar preparado para disputar a eleição no máximo de municípios que puder disputar, de modo muito especial aqui em João Pessoa.”

Diferente de Luciano Cartaxo, a candidatura de Cida Ramos conta com amplo o apoio da militância e da base social do PT, que teriam grandes dificuldades de votar no atual prefeito de João Pessoa, um notório conservador, ex-tucano e ex-cassista. Seria um completo e anunciado desastre político. 

 E não só. Quem conhece o PT sabe que Cida Ramos não faria o movimento anunciado hoje caso não contasse com a chancela, por exemplo, do deputado federal Luiz Couto. Além disso, ela é muito bem articulada e conta com a simpatia de expressivas lideranças nacionais do PT. Enfim, ainda que haja muita água para passar por baixo dessa ponte até que o quadro de candidaturas se consolide, ao se lançar na disputa, a deputada petista avança a primeira peça no tabuleiro de 2024. Ninguém na imprensa pode, por exemplo, ignorar a partir de hoje sua candidatura. 

Com tempo para articular dentro e fora do PT, o que ela não teve em 2016, Cida entra na disputa por um lugar no segundo turno.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

JOÃO AZEVEDO ENTRE A CRUZ E A ESPADA: o que há por trás da provável saída de Cícero Lucena do Progressistas

Entre uma especulação e outra sobre uma possível saída do Progressistas de Aguinaldo e Lucas Ribeiro, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, se encontra diante de um novo impasse no seu projeto, acalentado desde que se elegeu Senador em 2006, de voltar a ser governador da Paraíba, depois de ter assumido o cargo por alguns meses quando sucedeu Ronaldo Cunha Lima, em 1994.

Tenho afirmado por aqui que a inesperada (até abril do ano passado) ascensão de Lucas Ribeiro à condição de candidato e depois de vice-governador da Paraíba, atrapalhou os planos de João Azevedo para tornar Cícero Lucena seu sucessor.

Quem acompanha política na Paraíba sabe que os estrategistas do governador trabalharam seriamente com a hipótese de que João Azevedo não teria adversários à altura para enfrentar seu projeto de reeleição.

Nesse cenário, João Azevedo, Cícero Lucena e Aguinaldo Ribeiro montariam tranquilamente a chapa dos sonhos dos três: Azevedo seria candidato à reeleição, Ribeiro ao Senado e Cícero indicaria o vice, em comum acordo com o governador - o nome do secretário Deusdeth Queiroga foi apontado durante muito tempo como o nome mais provável.

Como todo mundo sabe, faltou combinar com os russos. A resistência do Republicanos em apoiar a candidatura de Aguinaldo Ribeiro e a insistência de Efraim Filho em manter sua candidatura ao Senado, além do até então considerado improvável lançamento de Veneziano, ao lado de Ricardo Coutinho para o Senado, sob as bênçãos de Lula, entornaram água no chopp da estratégia governista. De uma hora para outra, o cenário de uma reeleição fácil mudou e João Azevedo, de franco favorito, passou a assumir uma posição mais frágil. 

A mudança definitiva no plano de voo aconteceu quando, em um surpreendente movimento, Aguinaldo Ribeiro exigiu a indicação do candidato a vice na chapa de João Azevedo, e fez isso com a faca no pescoço da candidatura de Daniella Ribeiro ao governo. 

João Azevedo, Cícero Lucena e o Republicanos tiveram de ceder a Aguinaldo, e Lucas Ribeiro assumiu a vaga de candidato a vice. Eleito, se os planos de Aguinaldo derem certos, Lucas Ribeiro será o futuro governador da Paraíba e, obviamente, candidato à reeleição, plano que só não se concretizará se João Azevedo repetir o mesmo erro cometido por Ricardo Coutinho, em 2018. 

Eis as razões para a mudança de humor do atual prefeito de João Pessoa, que podem de novo atrapalhar seus planos de se tornar governador da Paraíba. O fim da lua-de-mel entre Aguinaldo Ribeiro e Cícero Lucena produzirá consequências para o atual bloco governista, dividindo-o até 2026? 

Caso reeleito em João Pessoa, Cícero Lucena vai aceitar ser novamente uma posição periférica ou vai enfrentar a provável candidatura de Lucas Ribeiro ao governo, ao lado do Republicanos? E João Azevedo vai trabalhar por Cícero ou por Lucas Ribeiro, que significa lutar pela manutenção do bloco de aliança que o elegeu governador?

Depois eu volto para tratar mais sobre as alternativas de Cícero Lucena.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

A inevitável candidatura de Daniella Ribeiro à Prefeitura de Campina Grande?

Durante a visita que fez a Campina Grande, nesta quinta-feira (9), João Azevedo foi questionado a respeito da candidatura de Daniella Ribeiro à Prefeitura de Campina Grande na eleição do próximo ano e se a senadora do PSD teria seu apoio:
 
“Vocês têm que perguntar a ela [sobre a candidatura]. De nossa parte, não tenha dúvida de que terá o nosso apoio”, respondeu o governador.

A julgar pelo desempenho de João Azevedo em Campina na última eleição (32,6% no segundo turno!), que contava com o então vice-prefeito da cidade, Lucas Ribeiro na posição de seu candidato a vice-governador, as perspectivas de vitória da senadora no segundo maior colégio eleitoral do estado são, hoje, quase nulas, sobretudo se for mantida, como se prenuncia, a aliança entre os grupos do também senador, Veneziano Vital, e do prefeito Bruno Cunha Lima. Na última e única vez em que participou da disputa, em 2012, ficou em terceiro lugar, atrás de Tatiana Medeiros, que foi ao segundo turno, com Romero Rodrigues.

Não é preciso dizer que os tempos são outros, porém, é necessário também acrescentar que talvez Daniella Ribeiro talvez não tenha outra alternativa, a não ser a candidatura. Já lembrei em texto anterior que Lucas Ribeiro provavelmente deve assumir o cargo de governador da Paraíba, em 2026, e, claro, ser candidato à reeleição, fato que inevitavelmente exigirá de Daniella Ribeiro o sacrifício de sua reeleição ao Senado para viabilizar a ampliação das composições, sobretudo com o Republicanos, em apoio ao filho.

Sendo assim, o bloco de apoio à futura candidatura de Lucas Ribeiro ao governo terá a obrigação de ir à disputa eleitoral na Rainha da Borborema, senão para ganhar, mas, pelo menos, evitar um resultado desastroso na eleição, que possa criar dificuldades para Lucas Ribeiro.

Daniella Ribeiro é, inquestionávelmente, o nome de maior projeção eleitoral que dispõe o bloco de apoio a João Azevedo na cidade. Com o apoio da máquina estadual, a candidatura da senadora terá condições de, no mínimo, ultrapassar a votação que João Azevedo obteve na cidade na eleição do ano passado.

Além disso, existe a liderança do eleitorado de oposição ao grupo hoje liderado por Bruno Cunha Lima em Campina Grande, nunca menor que 1/3, como demonstrou novamente a votação do pessoense João Azevedo. 

E Romero Rodrigues?

Por falar no grupo Cunha Lima, será preciso ainda saber a posição de Romero Rodrigues e qual sua pretensão. Vai apoiar Bruno Cunha Lima e indicar o vice, o que poderá ser lido como uma antecipação da candidatura do atual prefeito de Campina para a eleição de governador de 2026? Nesse caso, como reagirão Pedro e Cássio Cunha Lima?

No caso da implosão do grupo Cunha Lima com o lançamento da candidatura de Romero Rodrigues à prefeitura da Rainha da Borborema, talvez, a depender dos compromissos do ex-prefeito com Lucas Ribeiro, a candidatura de Daniella Ribeiro pode ser dispensável. 

O problema é que os Ribeiro não poderão esperar pelo claudicante Romero, que já deu inúmeras provas de que, pelos costumeiros ziguezagues e indecisões, é a versão campinense de Luciano Cartaxo. Como não acredito em movimentos ousados de Romero Rodrigues, ele deve alimentar publicamente suas genuínas dúvidas para, ao final, como de praxe, anunciar seu apoio à reeleição de Bruno Cunha Lima.

Em qualquer caso, a candidatura de Daniella Ribeiro deve começar a ser construída desde já.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Manutenção de Cicinho Lima na Secretaria de Cultura será demonstração de desprezo de João Azevedo pelo setor

Nos últimos quatro anos, o Brasil passou a conhecer o bolsonarismo para além das aberrações ditas antes pelo líder máximo desse movimento, Jair Bolsonaro. Mesmo que antecipassem o que seria o bolsonarismo no poder, no dia a dia o desastre civilizatório promovido, tanto pelo governo quanto por sua rede que atua no submundo da internet, mostrou-se muito além do que nossa imaginação conseguiria prever. 

Sua face mais horrenda se mostrou por inteiro durante a pandemia quando o anticientificismo bafejou seu hálito de morte sobre todos nós. O anticientificismo é a coluna mestra que sustenta o bolsonarismo porque incentiva seus membros a "pensarem por si só", ou seja, no fosso de sua ignorância, e a desconfiarem de toda informação, mesmo que amparada em fatos. Foi assim que se formou esse exército de cavaleiros do Apocalipse, um dos quais ateou fogo ao próprio corpo e morreu em "protesto" contra Alexandre de Morais, ontem, em Brasília - é nisso que dá quando a política se transforma em religião e o mundo passa a ser visto, mesmo que através do espelho, como uma luta entre o bem e o mal. 

Os ataques à universidade, sempre apresentada como um espaço de maconheiros esquerdistas, decorre desse ódio à ciência e ao pensamento científico. Manifestações desse tipo, por si só, demonstram que o culto à ignorância é parte fundamental de um movimento que nada tem a oferecer a sesu seguidores que não ódio, o que os leva a ter uma visão cínica da política, que deixa de ter qualquer limite ético.

A cultura foi outro setor que recebeu ataques constantes do bolsonarismo, antes e depois de assumir o poder. A Lei Rouanet sintetizava preconceito e desiformação sobre quemm produzia cultura no Brasil. Primeiro, a Cultura perdeu status de ministério e virou secretaria, inicialmente sem vínculo nem com qualquer ministério ou com a Presidência da República. Depois passeou pelo Ministério da Cidadania e acabou no Ministério do Turismo. Afora o desmonte institucional de órgãos como a Fundação Palmares, Funarte, Iphan a Ancine. Foram seis secretários ao longo do governo. O último, um capitão da PM. Entre os secretários de cultura, a atriz Regina Duarte e o ator Ricardo Frias. Um deles, Ricardo Alvin, talvez tenha sido o que melhor revelou as influências do governo na área: ele chegou a copiar quase integramente trecho de um discurso de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler. 

Goebels: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será desprovida de sentimentalismo e objetiva, será nacional com um grande pathos e será ao mesmo tempo imperativa e vinculante – ou não será".

Alvin: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada".

O presidente da Fundação Palmares, o jornalista Sérgio Camargo, que é negro, chamou o movimento negro de “escória maldita”.

Por essa razão, é absolutamente injustificável a nomeação do cantor de forró bolsonarista, Cicinho Lima, para a Secretaria Executiva de Cultura do governo da Paraíba. Cicinho Lima foi candidato a deputado estadual pelo PL de Jair Bolsonaro e fez intensa campanha para Nilvan Ferreira e pela reeleição de Jair Bolsonaro. Mas, não só. Cicinho Lima anunciou apoio à candidatura de Pedro Cunha Lima no segundo turno. 

“O candidato Pedro Cunha Lima assumiu compromissos que fazem parte da pauta de nós conservadores que apoiamos o presidente Bolsonaro, e também demandas que defendi durante a campanha a deputado estadual. Vale salientar que estamos com um Governo já de 12 anos ( 8 anos de Ricardo e 4 anos de João) e acho que a Paraíba precisa de mudança. Vamos à vitória com Bolsonaro presidente e Pedro governador”, comentou Cicinho Lima"

Isso foi em 15 de outubro. Quinze dias depois, no dia da eleição, o bolsonarista mostra que mesmo um bolsonarista (esperto) e muda de posição e declara voto em João Azevedo. Um apoio cujo acerto que deve ter custado caro, sobretudo para quem vai lidar com cultura nos próximos quatro anos.

Não precisa dizer que João Azevedo ganhou a eleição e tem legitimidade para governar, montar seu secretariado de acordo com o perfil que pretende dar ao seu governo, porém, caso o governador deseje demonstrar que não tem o mesmo desprezo que Jair Bolsonaro provou ter pela cultura, evitará manter Cicinho Lima no cargo. 

A cultura da Paraíba agradece.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Cícero Lucena no Republicanos?

De repente, setores da imprensa paraibana começaram a se perguntar: o Progressistas é o partido mais adequado para o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, permanecer para disputar a reeleição, em 2024? É claro que quando essa pergunta é feita passa longe pela cabeça do jornalista a preocupação com a identidade política e ideológica de Lucena. Por isso, até o PDT, que pertence ao outro lado do espectro ideológico do país, é colocado ao lado do Republicanos entre as alternativas para uma possível mudança partidária do prefeito pessoense. E que ninguém duvide: o PDT está de portas abertas para Cícero. Tudo isso é, cada vez mais, parte da nossa cultura política - e jornalística.

A pergunta, então, parece pertinente: Cícero Lucena precisa mesmo mudar de partido? Trocar o Progressistas, partido claramente em ascensão política na Paraíba, que em breve deve assumir o governo estadual com Lucas Ribeiro, por outra agremiação? 

2024 e 2026

Tendo a achar que sim, e por duas razões: uma, levando em conta a eleição de 2024; a outra, a de 2026. 

Ao mesmo tempo em que interessa a Cícero Lucena uma dispersão do campo bolsonarista em várias candidaturas, como aconteceu em 2020 - assim, por exemplo, Cícero teria mais chances de novamente ir ao segundo turno e enfrentar Nilvan Ferreira, - interessa em igual medida o máximo de unidade do lado governista. 

No atual bloco governista, o deputado federal e presidente estadual do PSB, Gervásio Maia, já disse que o partido pode lançar candidato em João Pessoa. O deputado estadual do Republicanos, Wilson Filho, novamente "deixa seu nome à disposição". 

No caso de Maia, o objetivo parece mais limitado a desalojar o atual vice-prefeito, Léo Bezerra, da posição estratégica. E a situação de Bezerra pode se tornar insustentável em razão da opção do pai, Hervázio, pela candidatura a senador de Efraim Filho - a julgar pelo que acontece hoje com Ricardo Barbosa, Léo Bezerra tem mesmo o que temer.
No caso da candidatura de Wilson Filho vai ser preciso saber quais são os objetivos do Republicanos para a eleição seguinte, a de governador, o que, por óbvio, ainda é muito cedo. Já afirmei em texto anterior que Hugo Motta tem pretensões de disputar o governo do estado. 

Como é jovem, porém, esse projeto pode esperar - e é sempre bom esperar sentado numa cadeira de Senador. Se essas forças concluírem que o melhor é permanecerem juntas em 2026, Cícero Lucena pode migrar para o Republicanos sem mais problemas, e reforçar o partido na aliança para viabilizar a reeleição de Lucas Ribeiro, ou indicando um(a) vice, ou sendo candidato a senador ao lado de João Azevedo, deixando a indicação do vice para Hugo Motta.

No caso do PT, ainda vai ser preciso avaliar se será conveniente para Cícero Lucena ter o apoio do partido já no primeiro turno, o que dependerá do desempenho na economia do governo Lula. Nesse caso, um discurso de "frente ampla" contra o bolsonarismo em João Pessoa poderá ser de grande utilidade.