sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Manutenção de Cicinho Lima na Secretaria de Cultura será demonstração de desprezo de João Azevedo pelo setor

Nos últimos quatro anos, o Brasil passou a conhecer o bolsonarismo para além das aberrações ditas antes pelo líder máximo desse movimento, Jair Bolsonaro. Mesmo que antecipassem o que seria o bolsonarismo no poder, no dia a dia o desastre civilizatório promovido, tanto pelo governo quanto por sua rede que atua no submundo da internet, mostrou-se muito além do que nossa imaginação conseguiria prever. 

Sua face mais horrenda se mostrou por inteiro durante a pandemia quando o anticientificismo bafejou seu hálito de morte sobre todos nós. O anticientificismo é a coluna mestra que sustenta o bolsonarismo porque incentiva seus membros a "pensarem por si só", ou seja, no fosso de sua ignorância, e a desconfiarem de toda informação, mesmo que amparada em fatos. Foi assim que se formou esse exército de cavaleiros do Apocalipse, um dos quais ateou fogo ao próprio corpo e morreu em "protesto" contra Alexandre de Morais, ontem, em Brasília - é nisso que dá quando a política se transforma em religião e o mundo passa a ser visto, mesmo que através do espelho, como uma luta entre o bem e o mal. 

Os ataques à universidade, sempre apresentada como um espaço de maconheiros esquerdistas, decorre desse ódio à ciência e ao pensamento científico. Manifestações desse tipo, por si só, demonstram que o culto à ignorância é parte fundamental de um movimento que nada tem a oferecer a sesu seguidores que não ódio, o que os leva a ter uma visão cínica da política, que deixa de ter qualquer limite ético.

A cultura foi outro setor que recebeu ataques constantes do bolsonarismo, antes e depois de assumir o poder. A Lei Rouanet sintetizava preconceito e desiformação sobre quemm produzia cultura no Brasil. Primeiro, a Cultura perdeu status de ministério e virou secretaria, inicialmente sem vínculo nem com qualquer ministério ou com a Presidência da República. Depois passeou pelo Ministério da Cidadania e acabou no Ministério do Turismo. Afora o desmonte institucional de órgãos como a Fundação Palmares, Funarte, Iphan a Ancine. Foram seis secretários ao longo do governo. O último, um capitão da PM. Entre os secretários de cultura, a atriz Regina Duarte e o ator Ricardo Frias. Um deles, Ricardo Alvin, talvez tenha sido o que melhor revelou as influências do governo na área: ele chegou a copiar quase integramente trecho de um discurso de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler. 

Goebels: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será desprovida de sentimentalismo e objetiva, será nacional com um grande pathos e será ao mesmo tempo imperativa e vinculante – ou não será".

Alvin: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada".

O presidente da Fundação Palmares, o jornalista Sérgio Camargo, que é negro, chamou o movimento negro de “escória maldita”.

Por essa razão, é absolutamente injustificável a nomeação do cantor de forró bolsonarista, Cicinho Lima, para a Secretaria Executiva de Cultura do governo da Paraíba. Cicinho Lima foi candidato a deputado estadual pelo PL de Jair Bolsonaro e fez intensa campanha para Nilvan Ferreira e pela reeleição de Jair Bolsonaro. Mas, não só. Cicinho Lima anunciou apoio à candidatura de Pedro Cunha Lima no segundo turno. 

“O candidato Pedro Cunha Lima assumiu compromissos que fazem parte da pauta de nós conservadores que apoiamos o presidente Bolsonaro, e também demandas que defendi durante a campanha a deputado estadual. Vale salientar que estamos com um Governo já de 12 anos ( 8 anos de Ricardo e 4 anos de João) e acho que a Paraíba precisa de mudança. Vamos à vitória com Bolsonaro presidente e Pedro governador”, comentou Cicinho Lima"

Isso foi em 15 de outubro. Quinze dias depois, no dia da eleição, o bolsonarista mostra que mesmo um bolsonarista (esperto) e muda de posição e declara voto em João Azevedo. Um apoio cujo acerto que deve ter custado caro, sobretudo para quem vai lidar com cultura nos próximos quatro anos.

Não precisa dizer que João Azevedo ganhou a eleição e tem legitimidade para governar, montar seu secretariado de acordo com o perfil que pretende dar ao seu governo, porém, caso o governador deseje demonstrar que não tem o mesmo desprezo que Jair Bolsonaro provou ter pela cultura, evitará manter Cicinho Lima no cargo. 

A cultura da Paraíba agradece.

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