sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

SER OU NÃO SER GOVERNO: O PT da Paraíba novamente na encruzilhada

Participei ontem à noite de uma live com a ex-deputada Estela Bezerra e com o também professor da UFPB, Geraldo Barbosa, a convite do canal de Youtube Roda de Conversa. Tratamos sobre conjuntura nacional, governo Lula e muito pouco sobre a política local. 

Fiz a primeira exposição e Estela falou em seguida. Quando chegou a vez da ex-deputada estadual, o mediador Sebastiao Costa a apresentou da seguinte maneira: 

— Estela Bezerra, nossa futura prefeita de João Pessoa, se Deus quiser — disse Costa, enquanto a ex-deputada abria um sorriso. — Vamos rezar toda noite, viu Estela? Bezerra nem disse nem que sim nem que não, mas deixou a janela aberta. 

— Sim, vamos rezar, principalmente para que nessa Região Metropolitana, que deu uma guinada para ultradireita, a gente possa, nesses dois anos de gestão da União (governo Lula) e de gestão do partido, reverter esse quadro. João Pessoa sempre foi uma cidade progressista. 

Na segunda parte da conversa, a possibilidade da candidatura de Estela voltou a ser tratada. Foi quando eu lembrei que o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, que teve seu mandato renovado pela Direção Nacional por mais dois anos, defendeu recentemente que o Partido dos Trabalhadores apoiasse a reeleição de Cícero Lucena, estabelecendo como única condição a mudança do atual prefeito pessoense para um partido da base de apoio a Lula, provavelmente o PDT. 

A opinião de Jackson Macedo deve ser levada a sério. A julgar pela trajetória recente, tem grandes chances de sair vencedora, mesmo que isso cause a proverbial divisão interna, postura com a qual o PT da Paraíba já se acostumou, e acho que até incorporou essa condição política como um fato com o qual filaidos e lideranças convivem sem muita dificuldade. Os insatisfeitos manterão suas posições, enquanto a legenda passeia de uma mão a outra nas eleições que se sucedem na Paraíba — isso, diga-se, muito antes de João Azevedo se eleger governador. 

E esse é o problema, o “X” da questão. O centro das dificuldades do PT na Paraíba não está em fazer alianças com quem quer que seja, desde que delimitadas ao campo político nacional e, mais importante, a uma estratégia que tenha como objetivo inserir o partido entre as grandes forças políticas do estado, para acumular forças visando conquistar o governo, como acontece na maioria dos estados do Nordeste. 

Aqui na Paraíba, o PT praticamente se tornou linha auxiliar dos partidos e grupos políticos que comandam governos e prefeituras importantes — foi assim com Cássio, a partir de 2000, foi assim com Maranhão, a partir de 2009, foi assim com Ricardo Coutinho. E permanece assim com João Azevedo. 

Não é obra do acaso, portanto, que, enquanto o PT do Piauí, do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Bahia, apenas para citar os estados em que o partido conquistou governos estaduais e alcançou a posição de uma das forças hegemônicas, têm cada vez mais relevância política, na Paraíba foi submetido a sucessivas derrotas, ao ponto de, na eleição de 2018, não eleger sequer um deputado para a Assembleia Legislativa. É bom lembrar que Cida Ramos e Luciano Cartaxo, os dois eleitos, ingressaram no partido recentemente. 

Volto a repetir: o problema do PT é o salve-se quem puder, é a fragmentação que dilui a força política e simbólica do partido numa miríade de interesses individuais, que é o resultado da ausência de qualquer projeto de poder que volte a transformar o partido no que ele já foi um dia, na Paraíba e no Brasil — ou vocês acham que o levou o PT a conquistar a Presidência da República em cinco eleições e vários governos estaduais no Nordeste, não foi resultado do acúmulo de experiências, de derrotas e vitórias que resultaram na formação de lideranças partidárias e populares? Foi isso que deixou de existir na Paraíba. 

Volto a insistir: o PT pode fazer uma aliança de médio e longo prazos com João Azevedo, e até apoiar Cícero Lucena para prefeito de João Pessoa, mas isso não pode ser, em primeiro lugar, um arranjo sem transparência para acomodar lideranças e grupos internos. Isso não cabe em um partido com as características do PT, com a base social que tem. Em segundo lugar, é necessário discutir um alinhamento minimamente programático que leve em conta como o PT pensa e propõe para a Paraíba. O partido tem de explicar as razões da aliança. Em terceiro lugar, que o partido tenha lugar na composição das chapas futuras, seja na eleição de 2024, principalmente em João Pessoa, seja na sucessão de João Azevedo, em 2026. Só não pode ser uma aliança em que João Azevedo e Cícero Lucena ofereçam cargos em seus governos em troca do lustre lulista e do tempo de TV do partido. 

Aí, seria enterrar de vez o PT na Paraíba.

Um comentário:

  1. Análise lúcida! Ou o PT da Paraíba, notadamente nas grandes cidades, apresenta-se como alternativa programática de poder político, ou será mera linha auxiliar de projetos dos outros. Os interesses individuais não podem sucumbir o partido.

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