sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A difícil vitória de João Azevedo deu fôlego à oposição de direita na Paraíba


Apesar de derrotada, a oposição de direita a João Azevedo saiu inegavelmente fortalecida da eleição de 2022 na Paraíba. Enquanto o governador obteve menos de 40% dos votos no primeiro turno (39,65%), a soma da votação de Pedro Cunha Lima (23,90%) e Nilvan Ferreira (18,68%) ultrapassou os 42% (42,58). Aliás, não fosse a manutenção do apoio do Republicanos no segundo turno, que esteve por um triz, talvez quem estivesse sentado hoje na cadeira de governador fosse Pedro Cunha Lima.

É bom lembrar que o apoio do Republicanos foi também decisivo para vitória de um de outra figura expressiva da direita paraibana para o Senado, Efraim Filho. Ambos, João Azevedo e Efraim, têm dívidas a serem pagas com Hugo Motta e Cia — ao apoiar a candidatura de Adriano Galdino para mais quatro anos na Presidência da Assembleia, e nomear o professor Antônio Roberto de Araújo Souza para a Secretaria de Educação, João Azevedo começou a saldar seus compromissos com o Republicanos.

Os resultados da eleição de 2022 em João Pessoa e Campina Grande, as duas maiores cidades do estado, cidades onde João Azevedo sofreu derrotas acachapantes tanto no primeiro quanto no segundo turnos, dão uma ideia das dificuldades políticas que o governador enfrentará para a travessia até 2024. Na capital, Azevedo obteve apenas 29,20%, no primeiro turno, resultado inferior, por exemplo, ao obtido por Cássio Cunha Lima 20 anos atrás (30,49%), quando ele concorreu ao governo. Com uma semelhança e uma diferença substanciais: tanto Cássio quanto João Azevedo contaram com o apoio de Cícero Lucena, Cássio foi candidato de oposição. Ou seja, em 2022, mesmo reunindo as duas máquinas políticas e administrativas, João Azevedo teve desempenho semelhante ao de Cássio, em 2002.

2022 trouxe outras surpresas para a política paraibana. No ano passado, ocorreu o que, até 2018, era inimaginável em João Pessoa: um Cunha Lima não só vencer uma eleição majoritária na cidade, fato inédito, como fazê-lo por uma margem de quase 20%. Na capital paraibana, Pedro Cunha Lima obteve 58,11% dos votos no segundo turno contra 41,89% de João Azevedo), praticamente invertendo os resultados das três eleições anteriores em que um membro do clã disputou o governo (Ronaldo, em 1990, e Cássio, em 2002 e 2006). Nessas eleições, a melhor votação havia sido até então do patriarca da família com 43,41% no segundo turno da eleição de 1990, na qual Ronaldo enfrentou Wilson Braga. Em 2002 e 2006, Cássio sequer chegou aos 40%.

Em Campina, basta o registro da recuperação da votação dos Cunha Lima no segundo turno de 2022, que voltou ao patamar obtido por Cássio na cidade em 2002 e 2006 (74,24% e 69,25%, respectivamente). Antes, em 1990, Ronaldo Cunha Lima havia alcançado a incrível marca de 82,84% na Rainha da Borborema. Em 2014, porém, Cássio obteve a mais baixa votação na cidade: 62,51%. Notem que, apesar das expressivas votações, havia se estabelecido uma tendência de queda persistente na votação dos Cunha Lima em Campina Grande. Com os 67,36% obtidos na cidade por Pedro Cunha Lima, já é possível considerar a hipótese de que os Cunha Lima retomaram o fôlego para voltar a ocupar o espaço que pertenceu à família antes da ascensão de Ricardo Coutinho, em 2011.

Será preciso esperar pelos passos que o grupo pretende dar nos próximos anos, sobretudo em 2024. O equilibrismo de Pedro Cunha Lima, em 2022, acabou se mostrando a melhor estratégia para levá-lo ao segundo turno, numa disputa marcada por uma inédita fragmentação de candidaturas ao governo. Em 2024, caso consiga reunir as mesmas forças de direita que o apoiaram no segundo turno — como se viu, a “neutralidade” de Nilvan Ferreira foi como um risco n’água, — Pedro pode se converter em dos nomes favoritos a ganhar a eleição em João Pessoa, uma das cidadelas do bolsonarismo na Paraíba, ao lado de Campina.  

2024 será uma equação política difícil ser resolvida para todas as forças políticas da Paraíba. O que é bom porque renderá muitos artigos por aqui.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

O ETERNO RETORNO? Luciano Cartaxo se lança candidato pelo PT à prefeitura de João Pessoa


Durante entrevista concedida ontem no início da noite de ontem (23) à rádio Arapuã, o ex-prefeito de João Pessoa e deputado estadual eleito, Luciano Cartaxo, deixou claro que o Partido dos Trabalhadores é da base de apoio do governo na Assembleia. Cartaxo, como se sabe, indicou a esposa, Maísa Cartaxo, candidata a vice-governadora na chapa de oposição liderada pelo senador emedebista, Veneziano Vital, na eleição passada. Para demonstrar alinhamento, o hoje petista elogiou o governador em várias ocasiões.

E tem mais. Pelas críticas ácidas feitas ao atual prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, Cartaxo será o candidato do PT à prefeitura de João Pessoa, em 2024. O silêncio da banda do PT liderada por Ricardo Coutinho até agora parece atestar que o caminho para a candidatura de Luciano Cartaxo está livre.

Resta saber como Cartaxo e o PT pretendem administrar as relações políticas com João Azevedo, já que Cícero Lucena é candidato à reeleição e mantem firme a aliança com o governador. Aliás, João Azevedo deve sua eleição em grande medida ao apoio de Cícero Lucena, em João Pessoa. Em Campina, João Azevedo obteve 32,64%, ao passo que em João Pessoa, Azevedo chegou a 41,89%, quase 10% percentuais a mais numa cidade que tem 260 eleitores a mais — quem ainda tiver dúvida, compare o desempenho obtido por Jair Bolsonaro em João Pessoa com o obtido em Campina Grande no segundo turno (49,90% e 48,17%, respectivamente, o que fez a Capital tirar da Rainha da Borborema o título de cidade mais bolsonarista da Paraíba).

Sobre a candidatura de Luciano Cartaxo à prefeitura de João Pessoa, das duas, uma: ou ele pretende repetir a estratégia que o então deputado estadual pelo PT, Anísio Maia, adotou em 2020 e ser novamente linha auxiliar de Cícero Lucena, ou ele pretende romper com João Azevedo em algum momento depois de iniciado o ano da eleição para ter mais liberdade de crítica e chances eleitorais.

Ou nenhuma das duas. Quem conhece Luciano Cartaxo sabe que ele não pensará duas vezes em negociar a desistência da candidatura — como fez em 2018 — caso perceba que não tem chances de vitória. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Hugo Motta, Cícero Lucena e a "geopolítica" eleitoral de 2026

Na última ocasião em que comentamos a política paraibana, tentamos projetar o cenário, ainda longínquo, de 2026. Por enquanto, nosso esforço continuará centrado no bloco governista, ou seja, PSB, de João Azevedo, Progressistas, de Lucas Ribeiro e Cícero Lucena, e Republicanos, de Hugo Motta e Adriano Galdino. 

Já indicamos que a reeleição de João Azevedo consolidou essa aliança e, pelo percurso conflituoso de rachas e embates públicos, sobretudo entre Progressistas e Republicanos, a formação da chapa com Lucas Ribeiro na condição de vice ajudou a criar uma nova pax política na Paraíba.

Relembrando. A posição estratégica de Lucas Ribeiro o coloca desde já no papel de personagem central em qualquer cenário que se projete para 2026. Como João Azevedo não deve cometer o erro de permanecer no governo, Ribeiro deve assumir o cargo de governador. Temos, então, duas vagas na futura chapa já previamente definidas. Lucas deve ser candidato à reeleição e João Azevedo candidato a senador.

Restarão duas vagas para acomodar o conjunto de forças políticas vitorioso em 2022. O desafio de Lucas Ribeiro, entretanto, parece hoje muito mais fácil do que foi o que João Azevedo teve de enfrentar na eleição do ano passado. Além de duas vagas para o Senado, é bom lembrar que do bloco de forças vitorioso em 2022, será necessário acomodar Hugo Motta, presidente do Republicanos, e Cícero Lucena (caso este se reeleja prefeito de João Pessoa). E mais: com o campinense Lucas Ribeiro na condição de candidato a governador, o mais provável é que Adriano Galdino fique novamente sem espaço na chapa e opte por ser candidato a permanecer na presidência da Assembleia por mais quatro anos e eleger o irmão Murillo, com ainda mais facilidade.

Notem que os dois potenciais candidatos a compor a chapa governista são Cícero Lucena (ou Laura Emília ou Messinho Lucena), que é de João Pessoa, e Hugo Motta, que é de Patos, o que conformaria uma distribuição geográfica dos sonhos de qualquer estrategista. Uma inversão deve ser considerada? Sem dúvida.

Em qualquer situação, trata-se de uma equação de fácil resolução, se tudo correr até sem sobressaltos, sobretudo se João Azevedo não fizer um governo desastroso, fato que tenderia a implodir a aliança governista. Fora isso, será necessário observar os passos de Hugo Motta. Além de ser jovem, o que o permite esperar é improvável que ele se disponha a enfrentar um governador candidato à reeleição.

A oposição fica para a próxima.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

NAÇÃO EM TRANSE: os impasses brasileiros por trás da tentativa de golpe bolsonarista de 2023

Enquanto acompanhava as imagens de bolsonaristas invadindo o Congresso na tarde de ontem, foi impossível não lembrar dos eventos de 17/06/2013. Na tarde-noite daquele dia, o Congresso também foi invadido, não com a violência e a abrangência verificadas no ataque de ontem, que se estendeu às sedes dos poderes
Executivo e Judiciário. Os tempos ainda eram outros. A criança que nasceu naquele dia cresceu e sua face adulta e a do horror bolsonarista.

Enfim, é impossível entender 2023 sem estabelecer seus vínculos com 2013. As mobilizações de 2013 anteciparam as mobilizações que desaguaram no golpe de 2016; o golpe de 2016 antecipou a ascensão do bolsonarismo e a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018; a eleição de Jair Bolsonaro foi o corolário, a realização de um projeto, pensado, como sempre, de fora para dentro, mas executado com apoio interno, de destruição de qualquer projeto de inserção soberana do Brasil no mercado mundial, de abandono de qualquer possibilidade do país se tornar um "global player". No ponto final desse projeto está uma passagem de retorno à completa subordinação econômica, uma espécie de retorno aos fins do século XIX, que é onde nós já estamos, por exemplo, se considerarmos a participação da indústria nacional na formação do PIB brasileiro, que é inferir a 10%. Isso para não mencionarmos outros retrocessos históricos.

Eis a raiz do impasse brasileiro, que é muito mais do que uma crise institucional provocada por lunáticos e celerados golpistas. A nazificacão do bolsonarismo é à brasileira, ou seja, é apenas no plano de algumas ideias, é periférica, é de uma religiosidade mística que aproxima evangélicos e católicos, dissolvendo suas diferenças e os unindo numa única corrente de valores e ideias políticas realizada pela adesão a um conservadorismo antimoderno e - eles vão achar estranhíssimo - anti-liberal. Essa aparente dissonância me faz pensar - para o estranhamento de alguns, talvez de muitos - que o bolsonarismo é uma manifestação legítima do padrão cultural da chamada pós-modernidade. Talvez não seja obra do acaso que um dos termos preferidos pelos bolsonaristas no debate público seja "narrativa".

Voltando ao fio da meada, há muito de estrutural, para usar uma expressão em desuso, nos acontecimentos de ontem. O apelo à intervenção das Forças Armadas, ou seja, a um golpe militar, é um apelo não apenas ao retorno de Jair Bolsonaro ao poder. É mais do que isso. Trata-se de um apelo ao papel que Jair Bolsonaro aceitou cumprir tão bem no exercício da Presidência, que ajudou a corroer por dentro ainda mais as instituições da República, a consciência democrática nacional e, mais ainda, as riquezas do nosso território. 

Parece um paradoxo nesse caso apelar a instituições que, em tese, existiriam para defender a soberania nacional. No caso de países de modernização retardatária, como o Brasil, as Forças Armadas em geral incorporaram projetos (autoritários) de desenvolvimento e industrialização. Nas últimas décadas, as maior parte da oficialidade das Forças Armadas no Brasil se converteu de corpo e alma ao neoliberalismo. O projeto dela é o projeto de Paulo Guedes. Apesar da retórica, essa oficialidade tem pouco a ver com os "tenentes" que assumiram o poder em 1964. São tão entreguistas quanto Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. Existem, claro, injunções de ordem geopolítica, mas não cabe estender ainda mais esse texto. 

Enfim, o bolsonarismo não é só a negação de qualquer projeto de país, de qualquer projeto de desenvolvimento e reindustrialização, de soberania nacional. Ao contrário. Como eu tenho chamado a atenção, não é uma escolha aleatória os bolsonaristas se auto-atribuírem o epíteto de "patriotas". Ontem que eles jamais se dizem "nacionalistas". Enquanto a noção de pátria e mais territorial e simbólica, a ideia de nação é muito mais abrangente, incluindo a própria ideia de "pátria". Nação é povo, identidade nacional, soberania, economia e desenvolvimento, e muitas vezes se afirma na oposição a outras nações. Para o nacionalismo, a nação tem interesses. Mas, sobretudo, nacionalismo é, sobretudo, unidade nacional. Sem ela, não pode haver a nação. Por isso, o varguismo e os militares de 1964 eram patriotas, mas também nacionalistas. Já o bolsonarismo é a negação de tudo isso. Jair Bolsonaro jamais se preocupou com a reunificação do país. Mais uma vez, foi o contrário disso. Seu governo foi um tensionamento permanente sempre em busca de um inimigo a ser combatido (a "esquerda", o PT, o "comunismo", e Globo, a Folha, o Congresso, o STF). 

O bolsonarismo sofreu um grande golpe ontem, ao atravessar o Rubicão do golpe. No desespero, deram o passo nesse jogo que parecia de espera. Será um erro, porém, imaginar que a divisão da sociedade nacional será arrefecida pela derrota do golpe. Essa divisão ainda perdurará por muito tempo ainda e, enquanto o impasse entre os que desejam a dissolução da nação, a fragmentação completa dos interesses nacionais numa miríade de interesses individuais, todos subjugados à financeirização da economia nacional, e os que, com maior ou menor ênfase, lutam por manter as bases mínimas da nação brasileira.

O Brasil precisa de um novo projeto de nação. Talvez falte isso à biografia de Lula, que, por enquanto, está conseguindo transformar o limão que o bolsonarismo lhe ofereceu ontem numa limonada, o que é um alívio nesse sol cáustico de uma crise estrutural, cujo desenlace nos levará ou de volta ao século XIX ou nos abrirá as portas para o século XXI. E não apenas como um país democrático.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

2026 vem aí


A vitória de João Azevedo, em 2022, também definiu o nome do candidato à sucessão do governador reeleito. 

A não ser um acontecimento fortuito e imprevisível altere essa tendência, ou João Azevedo realize um governo desastroso que o obrigue a desistir da candidatura ao Senado, Lucas Ribeiro deve assumir a condição de governador, em 2026, para tentar se reeleger no cargo — ou alguém duvida que, caso esse roteiro se concretize, ou seja, João Azevedo se afaste em abril de 2026 para ser candidato ao Senado, deixando o caminho livre, Lucas Ribeiro seja mesmo candidato a governador? 

Essa, entretanto, é apenas parte de um jogo que vai durar três anos e meio e sequer começou a ser jogado, mas tem muita gente, como é por demais natural, almejando participar dele. Com a provável ascensão de Lucas Ribeiro ao governo, passa a ser um problema a acomodação da atual senadora, Daniela Ribeiro. 

 Em outra situação, ela seria candidata à reeleição, mas com o filho ocupando a vaga de governador na chapa, o mais provável é que tanto ela quanto Aguinaldo sejam obrigados a abandonar qualquer pretensão de disputar uma das vagas de senador. 

Ou seja, com Lucas Ribeiro no governo, dois fortes nomes que poderiam ocupar uma das vagas na chapa majoritária podem ser considerados cartas fora do baralho. 

Notem que, caso a hipótese apresentada acima se concretize — Lucas Ribeiro, candidato a governador, e João Azevedo candidato ao Senado — restarão duas vagas na chapa majoritária governista a serem preenchidas: a vaga de vice-governador e a outra de Senador. 

Nesse caso, dois candidatos — pode ser uma candidata e um candidato — devem preencher as condições (eleitorais, políticas e, digamos, geopolíticas) para compor essa aliança eleitoral. 

Como minha bola de cristal começou a se apagar, eu volto outro dia para terminar essas projeções de cenários.