sexta-feira, 27 de abril de 2012

PSB em frangalhos: unidade só acontece em torno de Agra

Política é mesmo imprevisível. Quem diria que, há um ano atrás, o PSB não apenas enfrentaria imensas dificuldades  para manter a prefeitura da capital, como suas principais lideranças, o governador Ricardo Coutinho e o prefeito Luciano Agra, estariam em vias de um racha que pode coloca-los definitivamente em palanques opostos e dividir o hoje mirrado espólio eleitoral do esquema governista em João Pessoa?

Depois da expressiva vitória conquistada na cidade em 2010 e da vitória para o governo, a eleição de 2012 para prefeito da capital parecia um passeio com RC no controle das duas principais máquinas administrativas do estado.

Mesmo com as fragilidades que Luciano Agra apresenta como candidato, era inimaginável que, de favorito, o PSB passasse à condição de coadjuvante na eleição pessoense.

Como explicar um racha dessas proporções? Em primeiro lugar, é necessário levar em conta o desgaste do governador e do seu governo, o que diminui drasticamente sua influência eleitoral ao ponto de permitir o questionamento de sua liderança, até então intocada.

É a fragilidade atual de RC que lhe abriu o flanco para a contestação política de sua liderança. Essa fragilidade – momentânea? – fez com que os até então dóceis e obedientes “companheiros” colocassem as unhas de fora e revelassem o acúmulo de insatisfações decorrentes da ultracentralização ricadista nas questões administrativas e partidárias.

Contando possivelmente a ambiguidade e a insegurança de Luciano Agra, cujos vai-e-vem mostram o quanto ele é sujeito a pressões – na frente de RC ele se submete e jura lealdade ao “projeto”, encorajado pelos aliados mais próximos ou com projetos conflitantes com o de RC, Agra volta ao “volta Agra,” – o governador excluiu o prefeito do projeto eleitoral ao indicar Estelizabel Bezerra.

Com isso, RC mexeu no vespeiro dos diversos projetos que ansiavam por abrir asas: o do próprio Agra, de Nonato Bandeira e de Bira, todos encorajados a alçar novos voos na política disputando a prefeitura da Capital depois de 2010.

Os três se uniram em torno de Agra, sendo que o único que não depende de RC para ser candidato é Bandeira, no PPS. E o que tudo indica, o projeto só sai unido se for em torno de Luciano Agra, só para quem, imagino, Nonato Bandeira retira sua candidatura, num acordo que pressupõe apoio ao candidato do PPS caso não Agra não convença RC.

Portanto, nisso reside a viabilidade da candidatura da situação na capital: a disposição de RC de aceitar o “volta Agra” como um projeto que tem base nas insatisfações a respeito de como o governador lida com os diversos projetos individuais no “coletivo”. Isso sé se dará se RC reconhecer que, fragilizado politicamente, ele não consegue emplacar Estela Izabel com seu esquema dividido. Ou seja, a única chance de RC não perder na capital é manter-se unido a Agra e, com isso, manter unidas na eleição as máquinas da prefeitura e do governo estadual.

Do contrário, vai ser um passeio da oposição.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Carta ao PT e aos petistas


Filiei-me ao PT há 15 anos atrás, em 1997. Antes, havia militado no PCdoB, partido no qual entrei ainda adolescente nos estertores da Ditadura Militar, em 1984, e no qual militei por dez anos, quando me afastei por divergências na condução do partido. Portanto, minha vida política e partidária sempre foi na esquerda, quando abracei as causas que sempre considerei as mais generosas não apenas para o povo brasileiro, mas para a humanidade.
Ainda secundarista, enfrentei os mais ardorosos debates sobre alianças partidárias. No PCdoB, fui acusado por petistas de traição de classe por defender a chamada Frente Democrática que elegeu Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, o que pôs fim a 21 anos de Ditadura Militar.

Nessa trajetória pós-ditadura, ainda vi o PT se recusar a assinar a Constituição de 1988, que muitos iriam defender quando o neoliberalismo chegou ao poder nos anos 1990; vi ainda muitos petistas se engalfinharem numa luta interna denunciando outros petistas por defenderem – vejam só! – uma aliança com os comunistas do PCdoB. 

Veio 1989 e o Lula-lá tomou conta do Brasil, apaixonando sua juventude que abraçou a causa das reformas sociais e econômicas que representava a candidatura de Lula, amparada numa coligação de esquerda que envolvia o PT, o PSB e o PCdoB. Só. Desses partidos nasceu uma maiores movimentos de massa da história brasileira. Milhões de brasileiros foram às ruas, reproduzindo o que acontecera na campanha pelas Diretas, Já e, depois, pela eleição de Tancredo Neves. Dessa vez, defendendo um programa de reformas de esquerda que chamávamos à época de “estruturais” que jamais voltaram a constar nos programas de Lula. 

Paradoxalmente, durante o ano de 1989 e nos seguintes, a esquerda entraria em crise: queda do Muro de Berlim, fim da URSS, ascensão de uma nova direita mundial que empunhava a bandeira do neoliberalismo, “globalização”. Essa intensa mudança, como não poderia ser diferente, provocaria desorientação política e crise ideológica. Muitos na esquerda deram crédito ao veredito do “Fim da história” e imaginaram a eternização da sociedade liberal e da hegemonia americana. 

O PT foi um dos partidos que mais foi atingido por essa onda conservadora, mas ela permitiu que o PT depurar-se e amadurecer sua verdadeira “vocação” como partido. Da confusão inicial dos primeiros anos da década de 1990, o PT evoluiu lentamente para um neokeynesianismo de esquerda e, abandonando a retórica do socialismo, que nunca foi definido até hoje com clareza, o PT abraçou o “desenvolvimentismo com distribuição de renda”, projeto que, necessariamente, se ampara na ampliação das bases sociais e políticas da nova aliança. 

Já no PT, eu ainda lembro a cara feia dos remanescentes da esquerda petista olhando com cara feia para a indicação do grande empresário José Alencar para a vice de Lula, que durante os oito anos foi mais à esquerda e mais corajoso ao defender o corte de juros do que os acomodados em seus cargos membros da “esquerda petistas”, um dos fundamentos do receiturário neoliberal que Lula manteve intocado até a crise de 2008, quando – Lula é mesmo um homem de “fortuna”! – abriu-se uma oportunidade histórica para finalmente dar início à transição para um novo modelo de desenvolvimento, que Dilma Rousseff herdou como principal tarefa de governo.

Eis uma narrativa que pretende resumir a trajetória do PT e o sentido dessa organização partidária hoje. O PT continua sendo um partido de esquerda, tanto no sentido que o termo adquiriu após a Revolução Francesa, de 1789, quanto na imposição estratégica defensiva da crise de fin de siècle, iniciada depois de 1989, exatos 200 anos depois. Continua de esquerda porque, hoje, todo “Neokeynesianismo” é de esquerda, orientado por projetos de distribuição de renda, de controle sobre o capital rentista, e de soberania.

Infelizmente, aqui na Paraíba, alguns petistas entenderam essas mudanças políticas na trajetória do PT como o fim das fronteiras que separavam a esquerda da direita e passaram a agir orientados unicamente pelo pragmatismo político. Desesperados por entrar no jogo do poder, mesmo que fosse pela porta dos fundos, engalfinharam-se numa luta fraticida em defesa de interesses externos ao partido, dividindo-o, imobilizando-o, tornando o PT uma caricatura de partido, desmoralizando sua tradição e sua história. 

Jamais compreenderam o que estava em jogo e o que dava sentido à existência do PT, não por conta de uma disposição ideológica desse ou daquele dirigente, mas por conta da base social que é o que dá suporte à existência de qualquer partido. É claro que a Direção Nacional do PT é sempre mais “permissiva” quando se trata de estados mais “periféricos” como a Paraíba. É fácil imaginar a resposta de Lula a uma proposta de Paulo Maluf para uma troca de apoio em cidades importantes de São Paulo. Mas, o PT da Paraíba também tem história e é de origem primordialmente urbana.

Ao invés de, na Paraíba, afirmarem um projeto e uma aliança de centro-esquerda, como, aliás, acontece em todo o Nordeste, se jogam nos braços do PP, um partido mais que conservador, de direita, um legítimo representante do latifúndio e do agronegócio. Participar com o PP de alianças políticas é uma coisa. Outra é tê-lo encabeçando-as.

E para não me taxarem de “esquerdista”, digo logo que as alianças na Paraíba devem comportar os partidos mais ao centro, se possível confluindo para o PT como partido aglutinador, como aconteceu com o PSB, só que, nesse caso, com adversários nacionais do governo Lula, o que tornou impraticável uma aliança em 2010, mesmo considerando ser um PSB um partido do “núcleo duro” da aliança nacional lulista. 

Essa é uma carta que representa uma desistência, uma derrota, uma descrença com os destinos do PT na Paraíba. Desfilio-me do PT depois de 15 anos de filiado, quando acompanhei derrotas e, finalmente, pude viver a alegria que foi eleger Lula em 2002. E, com todos os percalços e limitações de uma base tão ampla quanto necessária para sustentar um governo sob o fogo cerrado da grande imprensa e das elites econômicas. Percebi no decorrer dos últimos 10 anos o amadurecimento do projeto em andamento, que se encaminha para alcançar, com a lentidão com que sempre são feitas as mudanças no Brasil, sempre graduais como Lula percebeu desde cedo, os objetivos de um desenvolvimento econômico e social ancorado num projeto de nação. 

Eis o desafio histórico que a atual direção do PT da Paraíba jamais levará em consideração. Saio do PT, mas permaneço um ardoroso apoiador desse projeto.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

PT faz opção por aliança conservadora na Paraíba


Frei Anastácio e Enivaldo Ribeiro: símbolos da nova aliança do PT-PP
O PT da Paraíba não toma jeito mesmo. Aqui, o partido de Lula chafurda na lama do pragmatismo e da desorientação política, incapaz de dar forma a um projeto de poder que tenha consistência e se mostre confiável ao eleitorado. 

Depois da escolha de um candidato a prefeito de João Pessoa que não tem a mínima identidade com a política, a história e a trajetória do partido ("O que pensa esse rapaz?", diria o filósofo Paulo Arantes), agora vem a decisão do PT de Campina Grande de apoiar Daniela Ribeiro, do malufista PP.

Quem acha que isso é apenas uma troca de apoios, desconsidera o perfil à direita que tem Luciano Cartaxo. Com Durval Ferreira, estará formado um par mais que perfeito!

Alguns dirão: “Mas o PP faz parte da base de apoio do governo Lula!”. Correto, mas o PP tem uma posição marginal num governo que se diz de centro-esquerda, além de ser ele um dos esteios do conservadorismo que impediu e impede o governo Lula, e agora Dilma, de avançarem. Façam um levantamento em quantas cidades importantes o PT apoiará o PP no país inteiro. E o motivo é político. 

Recentemente, vi muitos petistas-lucianistas criticarem o parecer emitido pelo então deputado federal do PCdoB e atual Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, a respeito do novo Código Florestal, qualificando-o de estar em consonância com os interesses da “bancada ruralista”, a bancada dos latifundiários e do agronegócio.

Pois bem. Dos 38 deputados federais que tem o PP na Câmara dos Deputados, nada menos que 29 pertencem a essa bancada (para conferir a veracidade da informação, clique aqui). Se não bastasse isso, Daniela Ribeiro, a nova musa do PT campinense, é neta de nada mais nada menos que Agnaldo Veloso Borges, que foi uma liderança proeminente do “Grupo da Várzea”, que aglutinou latifundiários da Zona da Mata e Brejo durante a ditadura. 

Para quem não se lembra, o Grupo da Várzea é responsabilizado pelos assassinatos de João Pedro Teixeira e Margarida Maria Alves, apenas para citar os casos mais famosos.

Agora me digam: é possível a um eleitor comum enxergar alguma lógica nas decisões de um partido que, por quase oito anos, participa de um governo e depois lança ou apoia um candidato/a de “oposição”? 

Em João Pessoa, o PT apoiou e participou do governo Ricardo Coutinho/Luciano Agra, indicou secretários, deu sustentação no parlamento, e agora lança um candidato de oposição, que já foi nada menos que líder do governo na Câmara de Vereadores. 

Em Campina, o PT faz a mesma coisa, com a agravante de aliar-se ao conservadorismo político no estado, numa composição que promete espalhar-se por toda a Paraíba.

A decisão tomada pelo PT ontem em Campina é uma demonstração da falta de consistência da esquerda paraibana, que aposta no pragmatismo de uma aliança com a direita para tentar vencer eleições. 

As lideranças do PT da Paraíba não fazem jus à tradição que o PT fundou no Brasil, nem muito menos aos esforços de Lula e Dilma Rousseff para conquistarem mais soberania e independência ao Brasil, mesmo com a resistência de conservadores da estirpe dos Ribeiro, em Campina Grande.

Eu pensei que o PT tinha chegado ao fundo do poço. Mas estava enganado.

domingo, 22 de abril de 2012

Cassismo revigorado: RC e Cássio chegraram a um acordo?



A mudança no secretariado promovida pelo governador Ricardo Coutinho na semana passada, seguida de fatos que a sucederam, são um sintoma claro de que o ex-governador e atual senador Cássio Cunha Lima passa a ter uma influência no governo estadual proporcional à importância que teve na eleição de 2010. Cunha Lima já indicara nomes de importantes secretários, mas a maioria situada na equipe técnica, ou seja, secretários de pouca capacidade de ação política.

Com a indicação de Harrinson Targino para a Educação, por exemplo, uma Secretaria que sozinha concentra ¼ do orçamento estadual, o governador Ricardo Coutinho atende tanto ao apetite cassista para ter mais espaço no governo, quanto a busca de uma solução negociada para o conflito com a UEPB, que lhe tem produzido um sério desgaste em Campina Grande. 

É certo que Targino, nem muito menos Cássio, não aceitariam tal incumbência para dar seguimento a uma pendenga que só cria desgaste para o governo. Com um cassista na secretaria, Cunha Lima assume para si a não apenas a responsabilidade de superar o impasse, mas também o compartilhamento de um possível desgaste. Cássio aceitou tanto compartilhar o governo quanto os problemas de ser governo.

Tanto que o que se viu em seguida ao anuncio foi um Cássio Cunha Lima em plena vitalidade retórica, saindo do autoexílio em que se encontrava desde o início de 2011. Cássio falou muito na semana passada. Deu entrevistas, polemizou e entrou no debate sobre a a lei da autonomia da UEPB com a autoridade de ter sido o seu criador. E a favor da posição governo. 

Numa dessas entrevistas, discordou, sem esquecer das amabilidades com que sempre trata os aliados políticos, de ninguém mais que a reitora Marlene Alves, pivô do confronto que opôs a comunidade da UEPB e o governo RC. Disse que, mantida a interpretação da UEPB, chegará um tempo que a universidade terá para si 100% do orçamento. Cássio deu a senha e um acordo deve ser produzido em breve sobre a questão.

Essa é uma mudança importante que certamente terá reflexos no futuro das disputas políticas no estado. Acena antes de tudo para a consolidação da aliança de Cunha Lima com RC, que até então parecia estremecida por conta da forte concentração político-administrativa nas mãos do governador. 

Se for isso mesmo, temos uma injunção óbvia como consequência: RC será o candidato de Cássio em 2014, numa aliança eleitoral que começa desde já. O Calcanhar de Aquiles cassista (Campina Grande) vai ser protegido para evitar tanto a derrota do PSDB quanto a vitória do principal adversário do projeto de reeleição do governador. 

A eleição de Campina era uma equação política de difícil resolução para RC: uma vitória cassista em Campina, sem o apoio do governador, aumentaria em demasia a autonomia de Cássio; uma derrota, por outro lado, significaria aumentar o peso da oposição no xadrez eleitoral do estado. Com o ex-governador tucano inelegível, mas ainda influente o bastante, um Ricardo Coutinho encalacrado numa crise que impede o governo de produzir frutos políticos, a alternativa que restou ao governador foi compartilhar a administração com Cunha Lima. 

O próximo desafio a ser enfrentado por Cássio é ajudar no impasse em que se encontra a base parlamentar governista na Assembleia Legislativa, acuada pela dificuldade de defender medidas impopulares, especialmente as que atingem o funcionalismo. 

Cássio terá que “domar” o estilo bonarpatista de Ricardo Coutinho – esse será um capítulo da história política paraibana que merecerá estudos, – que, sem força política própria e agindo no puro voluntarismo, acaba governando de crise em crise. Mas essa talvez seja uma questão de sobrevivência para RC. 

Se Cássio veio para ficar, resta o governador se adaptar. E acho que ele está cada vez mais propenso a isso. Portanto, é lícito também supor que RC é cada vez menos RC.

sábado, 14 de abril de 2012

Pesquisa Consult: Maranhão avança, mesmo em meio à dúvida sobre sua candidatura; Estelizabel cresce

TSE definirá se esse confronto pode mesmo se efetivar

A eleição para prefeito de João Pessoa guarda algumas semelhanças com a eleição de Campina Grande. A primeira delas, é que os candidatos de oposição nas duas cidades são políticos conhecidos e com experiência em embates eleitorais; a segunda delas é que, pelo lado da situação, figuram duas mulheres, ex-secretárias, consideradas “técnicas”, mas que não foram ainda testadas nas urnas.

Outra semelhança foi revelada com a divulgação da pesquisa Consult neste sábado. Como em Campina Grande, os dois principais candidatos de oposição partem na frente, e com números muito aproximados. Em João Pessoa, José Maranhão (PMDB) lidera com um percentual de 27,6%, exatamente o mesmo percentual que obteve Daniela Ribeiro (PP), em Campina Grande (27,7).

O segundo colocado em João Pessoa, Cicero Lucena (PSDB), com 20,4%, senão representa o mesmo resultado obtido por Romero Rodrigues (também do PSDB), 24,9%, está dentro da margem de erro, que é de 3%, ou seja, um “empate técnico”.
Situação semelhante vivem as candidatas da situação. 

Na pesquisa divulgada hoje, Estelizabel Bezerra obtém 7,7%, o que representa um outro “empate técnico” se compararmos com o desempenho de Tatiana Medeiros, do PMDB: 11,7%.

Avaliação da Pesquisa de João Pessoa

A única diferença do quadro eleitoral campinense em relação ao de João Pessoa diz respeito ao candidato do PT, Luciano Cartaxo, que conseguiu chegar aos 10,4%, um resultado que representa crescimento fora da margem de erro, isso se compararmos com as últimas pesquisas DataVox e Jornal da Paraíba , quando o candidato petista obteve 3%.

O crescimento de Cartaxo era previsível por conta da superexposição do candidato após a vitória obtida na eleição petista que ratificou sua candidatura, mas ficou bem abaixo das expectativas que algumas lideranças ligadas ao deputado petista tinham. O problema para Cartaxo é: mantido esse patamar, a direção nacional do PT pode retirar-lhe o apoio e jogar a legenda nos braços do PSB. Vamos esperar como o quadro evolui até julho.

Como não há parâmetro de pesquisas anteriores para comparar com o desempenho de Estelizabel Bezerra, pode-se considerar que ela obteve um resultado expressivo. Ainda amplamente desconhecida do eleitorado pessoense, Estela ainda encontra dificuldades de ter se afastado de suas funções de Secretária de Planejamento da PMJP muito cedo, o que representou uma dificuldade a mais na sua exposição pública.

Por outro lado, as dúvidas constantemente lançadas a respeito de se ela seria ou não a candidata, o que, ao que parece, só foi definitivamente resolvido na semana passada, deve ter tido alguma influência sobre o desempenho de Bezerra. Mesmo assim, a candidata do PSB já está empatada tecnicamente com Luciano Cartaxo.

E ainda tem potencial para crescer mais. Um fato a ser salientado é que, representando uma administração que, assim como a do prefeito Veneziano Vital, é bem avaliada pelo eleitorado, ainda existe um grande espaço a ser ocupado pela candidata do PSB.

Além disso, não desconsideremos o apoio das duas poderosas máquinas que estarão unidas para impulsionar a candidata de RC em João Pessoa. Além disso, apesar do desgaste, o governador ainda conta com algum prestígio em meio ao eleitorado.

Cícero Lucena manteve a mesma posição onde se encontrava nas pesquisas anteriores: rondando os 20 pontos percentuais. Talvez isso se deva à ausência do senador tucano do noticiário nas últimas semanas, o que é um comportamento estranho para um candidato com pretensões de vitória.

A questão é saber se Lucena será capaz de transpor esse patamar de maneira a assegurar sua presença no segundo turno. Caso contrário, o senador pode começar a avaliar suas chances de vitória e, portanto, suas estratégias eleitorais. José Maranhão vai esperar ansioso por essa decisão.

A maior surpresa aparece lá na frente, com a expressiva liderança de José Maranhão. Pela primeira vez, Maranhão consegue não apenas ultrapassar Cícero Lucena como obter uma vantagem superior a 7 pontos percentuais, o que é uma vantagem fora da margem de erro e, portanto, não há como colocar em dúvida a liderança maranhista. Nas pesquisas anteriores onde Cícero Lucena aparecia sempre à frente de Maranhão, a diferença se manteve dentro da margem de erro.

E bom não esquecer que a pesquisa foi realizada apenas um pouco depois da decisão do TRE que não aprovou as contas de campanha do ex-governador, o que, em tese, o torna inelegível. 

E, o que poderia representar um balde de água fria nas expectativas de vitória de Maranhão, pode ter sido interpretado pelo eleitorado oposicionista como um ato de perseguição a um candidato com um viés claramente anti-ricardista, algo muito semelhante ao que aconteceu a
Cássio Cunha Lima depois de sua cassação pelo mesmo TRE.

O resultado dessa pesquisa, sem dúvida, representa uma pressão a mais sobre o TRE e TSE, que podem apreciar um recurso do PMDB para viabilizar a candidatura de José Maranhão. Caso possa ser candidato e consolidada a posição de liderança atual, Maranhão cria as condições para ir com peso para o segundo turno.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um "projeto", duas visões: as decisões de Nonato Banderia e Luciano Agra

RC: entre dois projeto
A manutenção candidatura do agora ex-Secretário de Comunicação da Paraíba, Nonato Bandeira, continua sendo o grande enigma da eleição municipal de João Pessoa.

Reafirmada após a entrega do cargo na quinta-feira passada e da entrevista coletiva concedida hoje, a candidatura de Bandeira terá pela frente o duro desafio de se tornar viável e, portanto, de ser alternativa real para o bloco comandado por Ricardo Coutinho.

E viabilidade é algo que parece ser a grande dúvida que se apresenta para a pretensão do pré-candidato do PPS, ou seja, se Bandeira converterá em intenção de voto o apoio político que ele parece ter de partidos da base governista e setores da imprensa pessoense.

Tanto que o jornalista Luiz Torres fez questão de salientar essas dúvidas que muitos nutrem em relação à candidatura de Nonato Bandeira. Segundo Torres, o que para muitos seria um ato de loucura – abandonar a condição de super-secretário do governo para aventurar-se numa disputa onde são mínimas as chances de vitória – foi tratado como um ato de abnegação e dedicação ao “projeto”.

Coincidentemente, é também em nome da preservação desse projeto que Luciano Agra mostra constantes atos de altruísmo político. Segundo ele, todos devem estar subordinados a ele. Só que, nesse caso, Bandeira aparentemente faz o caminho inverso.

Enquanto Luciano Agra abre mão de sua postulação em nome de um “projeto” (de poder), Nonato mantém sua candidatura também justificando a mesma coisa. É um desprendimento raro de se ver nos dias de hoje e, certamente, digno de nota.

Pode-se dizer que são visões diferentes sobre a mesma questão. Se for isso mesmo, está explicado por quê Agra e Bandeira são de partidos diferentes, mesmo compondo o mesmo grupo político. Mas, mesmo aqui, o que é a desgraça do atual prefeito – ser do PSB, o partido controlado pelo governador, – vem a ser a salvação de Bandeira.

Enquanto este finca o pé, abandona o governo para ser candidato e aparentemente peita o governador, Agra mostra resignação, mesmo desejando ser candidato. A questão é saber porque Agra não é tão bom para o bem do “projeto” quanto Estelizabel Bezerra parece ser.  

Será que essas atitudes aparentemente desconexas podem explicar uma outra coisa? Ou seja, o motivo pelo qual Luciano Agra foi o ungido à condição de vice de Ricardo Coutinho em 2008, que era uma maneira de ser prefeito de João Pessoa sem ter voto, e porque Nonato Bandeira foi preterido. Imagine se ao invés de Agra, o prefeito hoje fosse Bandeira, e RC desejasse uma outra candidatura? O “altruísmo” de Bandeira seria colocado à prova.

Em tempo: Apenas para registro: em termos práticos, a manutenção da candidatura de Nonato Bandeira assegura pelo menos que dois partidos não engrossem o caldo da oposição na eleição de João Pessoa: o próprio PPS e o PTB. Se Nonato não fosse candidato, abriria espaço, no mínimo, para a candidatura do oposicionista deputado estadual Jandhuy Carneiro, ou, piora ainda, que o PPS apoiasse Cícero Lucena numa articulação nacional entre o partido de Roberto Freyre e PSDB. No caso do PTB, que abriga o vereador oposicionista Tavinho Santos, a candidatura de Nonato Bandeira é o caminho menos traumático para que Armando Abílio, mais conhecido como “Mãe Diná”, transite para os braços do ricardismo sem dá muito na vista. Se isso for pouco, a candidatura de Bandeira ajuda na realização do segundo turno e na ampliação dos apoios a Estelizabel Bezerra, o verdadeiro “projeto” do ricardismo na eleição de 2012 em João Pessoa.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Decisão do TRE sobre Maranhão beneficia estratégia ricardista


O TRE decidiu reprovar ontem as contas de campanha do ex-governador José Maranhão. Em razão da decisão tomada pelo TSE ainda este ano de considerar reprovação de contas de campanha fato impeditivo para registros de candidatura, José Maranhão está hoje inelegível.

Desconsiderando a possibilidade de aceitação do recurso que o candidato do PMDB diz que vai impetrar junto ao TSE, vamos nos concentrar aqui numa breve análise das repercussões eleitorais do afastamento do ex-governador da disputa.

O primeiro fato que merece reflexão é se, na ausência de Maranhão, a disputa tenderá a acentuar a polarização entre as candidaturas de Cícero Lucena, do PSDB, e de Estelizabel Bezerra, do PSB.

O segundo é se Luciano Cartaxo terá força suficiente para evitar essa polarização que pode levar sua candidatura a pique por conta do antagonismo crescente entre oposição e ricardismo.

Voltemo-nos para essas duas questões. Do lado do eleitorado oposicionista, qual candidatura de oposição melhor expressa o espírito desse eleitorado: Cícero Lucena ou Luciano Cartaxo? Não tenho dúvida que Cícero Lucena tem muito mais condições de ocupar esse espaço.

Primeiro, pela trajetória de confronto com Ricardo Coutinho, seja como prefeito seja como oposicionista. Segundo, pelas amabilidades que Lucena vem trocando com o próprio José Maranhão desde 2011, demonstrando a existência de uma afinidade tática entre ambos.

E terceiro, pela condição de líder nas pesquisas que Lucena ostenta hoje, o que lhe dará inevitavelmente a condição de desaguadouro natural daqueles que tendem a se agarrar à candidatura do atual senador tucano como melhor alternativa para derrotar o esquema ricardista: lideranças de partidos oposicionistas (vejam o que já disse hoje o vereador Tavinho Santos, do PTB) e candidatos a vereador do PMDB.

Enfim, ou por razões eleitorais, por proximidades políticas anteriores e, em menor grau, por razões ideológicas, Cícero Lucena tende ocupar o vácuo deixado pelo afastamento de José Maranhão da disputa.

A chance de Luciano Cartaxo não ser engolido pela polarização entre tucanos e socialistas é convencer parte do eleitorado que antipatiza com o PSDB e toda tradição política que ele representa. A questão é saber se ele disputa sozinho esse espaço, ou se Estelizabel Bezerra, de um partido da base lulista-dilmista também é capaz de atrair esse eleitorado.

Ou seja, Cartaxo terá dificuldades tanto do lado do eleitorado oposicionista, por conta do peso que Cícero Lucena, que tem grandes possibilidades de contar com o apoio de José Maranhão, quanto do lado do eleitorado de esquerda, que pode “nacionalizar” a disputa em João Pessoa e optar por um voto útil para derrotar o tucano.

Enfim, a saída de Maranhão da disputa, caso ele se confirme, acaba jogando água no moinho de Cícero Lucena e de Ricardo Coutinho, que desejaram sempre criar uma disputa maniqueísta em 2012. 

Vamos ver no que isso vai dar.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Pesquisa serve para analisar o momento; e projetar o futuro

Antes de tudo, quero agradecer aos sites que publicam os textos aqui postados de forma permanente: Paraíba Online, de Campina Grande, e GiroPB, de João Pessoa, e também aos que o fazem ocasionalmente: Blog Polêmica PB e Blog do Dercio. Recentemente, tive o prazer de ver minhas postagens no Blog de Luiz Torres e, no último sábado, no Blog de Helder Moura. 

Neste último, o texto em que analiso os resultados da pesquisa Consult para a eleição municipal de Campina Grande rendeu alguma polêmica entre os leitores do Blog. Até o momento em que publico esta postagem, 20 comentários  já tinham sido inseridos comentando o texto. Entre eles, o do professor Marcelo Ramos.

O texto abaixo é uma resposta aos questionamentos do referido leitor. Além de dar continuidade à polêmica a respeito da análise da última pesquisa Consult, detalho abaixo alguns aspectos que foram relevados no texto anterior.

Vamos à leitura. E à polêmica.


PESQUISA SERVE PARA ANALISAR O MOMENTO; E PROJETAR O FUTURO

A análise da política eleitoral nunca é totalmente isenta, já que ela necessariamente se prende a resultados. Diante de uma pesquisa para uma eleição que acontece daqui a seis meses o que devemos fazer? 

Acho que, pelo menos, considerar duas coisas óbvias: 1) que a pesquisa, como sempre se repete, traduz uma circunstância, um momento da disputa; 2) que a pesquisa pode indicar tendências. Do contrário, querer congelar o resultado obtido no final de março e projetá-lo de maneira arbitrária para as eleições que só acontecem em outubro, isso sim, parece torcida.

Dito isto, passo a discutir os questionamentos do prof. Marcelo Ramos.
1. Quanto à citação do caso da eleição de Recife, em 2008, que o professor chama de “comparação simplória”. Não fiz comparação alguma. Primeiro, porque são dois processos fortemente separados no tempo e no espaço. Espaciamente, Campina é muito diferente de Recife, e isso não inclui apenas a distância geográfica; temporalmente, a eleição de Recife já aconteceu. Ou seja, o que aconteceu em Recife em 2008 serve apenas de parâmetro para julgar algo muito concreto: a capacidade de um prefeito bem avaliado eleger um sucessor relativamente desconhecido. Ponto. Se isso vai se repetir em Campina Grande, como eu disse no meu texto, quem vai responder é a campanha.

2. O professor Marcelo Ramos faz comparações entre João da Costa e Tatiana Medeiros, obviamente tentando avultar o papel do atual prefeito de Recife e subestimar a trajetória da médica candidata. Ora, João da Costa foi vereador e secretário de Recife, mas alguém tem dúvida que sua eleição no primeiro turno decorreu do grande prestígio da administração do então prefeito João Paulo? É esse a questão. Exclua João Paulo do pleito e veja o que sobraria para Costa. Enfim, sem João Paulo, nem Lula elegeria João da Costa em 2008. Tanto que hoje o atual prefeito de Recife mostra grandes dificuldades eleitorais para se reeleger, enquanto João Paulo teria mais facilidades para manter a prefeitura nas mãos do PT.

3. O meu interlocutor cita o fato, mais uma vez, em demérito de Tatiana Medeiros, de que a candidata do PMDB “tem uma curva de crescimento maior na rejeição que na intenção de votos”. Nesse ponto, ele esqueceu de dizer que a rejeição de Tatiana Medeiros, com 11,5% de rejeição, é igual a de Daniela Ribeiro (9,4%) e Romero Rodrigues (10,9%), diferenças situadas dentro da margem de erro. Ora, de onde provem a “rejeição” a Tatiana Medeiros? Do eleitorado cassista que rejeitará um candidato apoiado por Veneziano Vital em qualquer circunstância. E quanto mais crescer a intenção de voto em Tatiana Medeiros, mais ela será rejeitada por esse eleitorado. É só isso que explica porque a candidata mais desconhecida entre os que disputam com chances de vitória a eleição é a “mais” rejeitada.

4. O professor fala que eu “menti” quando fiz referência a pesquisas anteriores para indicar uma série histórica e concluir pelo crescimento de Tatiana Medeiros, negando que a Consult tenha feito pesquisas antes dessa última anunciada. Devo dizer que o professor cometeu um engano, não sei se proposital ou se foi um ato falho, “esquecendo” da última pesquisa realizada pelo instituto Datavox, em dezembro último. Mais estranho ainda foi fazer uso do que ele criticou em mim. Sem a “série histórica” da Consult, o professor escolheu a pesquisa do sistema Paraíba para concluir que a diferença entre Daniela e Tatiana “aumentou” de 15 para 16%. Um aumento realmente digno de nota!

Mas, professor, minha referência de pesquisa era outra. Em dezembro do ano passado, o instituo Datavox, publicou uma pesquisa sobre as eleições de Campina com os seguintes resultados:

Daniela Ribeiro – 23,3
Diogo Cunha Lima – 16,2
Romero Rodrigues – 14,9
Rômulo Gouveia – 9,3
Guilherme Almeida – 4,4
Dra. Tatiana Medeiros – 4,2
José Luiz – 1,6
Manoel Ludgério – 0,9
Fernando Carvalho – 0,7
Arthur Almeida (Bolinha) – 0,6
Marlene Alves (Reitora) – 0,5
Alexandre Almeida – 0,2

Como se vê acima, em comparação com a pesquisa da Consult (final de março de 2012), Daniela Ribeiro permanece estacionada, tendo crescido dentro da margem de erro, Romero Rodrigues incorporou quase a totalidade do eleitorado de Diogo Cunha Lima, e Tatiana Medeiros cresceu mais de 7%, ou seja, um crescimento próximo dos 160%, fora da margem de erro e, portanto, um crescimento consistente.

Agora, se Tatiana Medeiros continuará crescendo, se disputará o segundo turno ou se vencerá as eleições isso, como eu disse, dependerá da campanha. Por ora, basta especular se os 35% dos eleitores que avaliam a administração de Campina como ótima e boa votarão na candidata de Veneziano, levando-a para o segundo turno, quando serão disputados os 40% dos que a avaliam como regular.

Enfim, essa análise apenas confirma o que eu já apontei em meu blog sobre as eleições de Campina: ganha a eleição quem for mais competente em convencer o terço de eleitores campinenses que não são nem cassistas nem anticassistas. E esse é o desafio de Daniela Ribeiro: não ser engolida pela polarização que já tem um protagonista muito importante: o prefeito Veneziano Vital.