domingo, 27 de junho de 2010

Com uma negociação chancelada pelo presidente nacional do PT, Maranhão consegue fechar os últimos detalhes de sua estratégia. Rodrigo Soares colhe os frutos de uma boa condução partidária

O acordo que resultou na definição do nome do deputado e presidente do PT-PB, Rodrigo Soares, como o candidato a vice-governador na chapa do PMDB revela, antes de tudo, o bom jogador que é José Maranhão. Se tudo caminhasse para uma definição sem a tensão gerada nos últimos dias por ele próprio ao "indicar" o nome de Vital do Rego Filho ele não teria conseguido três coisas:

Primeiro, a repercussão que teve o anúncio, feito na abertura do encontro petista pelo próprio presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, o que foi antecedido por uma reunião entre Maranhão e dirigentes do PT que, ao que parece, não foi difícil já que ainda cedo todos os participantes chegaram sorridentes ao Hotel Caiçara, revelando que para Maranhão, que discursou efusivamente após Dutra, a indicação de Rodrigo Soares não tinha sido um sapo que ele deveria engolir. Toda imprensa estava lá para registrar o anúncio da decisão;

Segundo, José Maranhão não ia entregar a vice ao PT sem um compromisso mais claro da direção nacional do partido em relação ao palanque da candidata a presidente de Lula, Dilma Rousseff, na Paraíba. Como uma minoria cada vez menos expressiva continuava defendendo não apenas que o PT, mas também que Rousseff tivesse dois palanques no estado, Maranhão cuidou logo de cortar as asas de Ricardo Coutinho nesse ponto.

Com a chancela do presidente nacional do PT, que não viria à Paraíba caso o problema da indicação da vice não tivesse sido criado, segundo suas próprias palavras no discurso que fez durante o encontro, Maranhão assegurou que Dilma Rousseff virá à Paraíba para pedir votos apenas em cima do seu palanque. Ricardo Coutinho que se contente com Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, num palanque sem presidenciável. Ou então, que peça votos para José Serra, loucura que ele não vai fazer.

Ou seja, Ricardo Coutinho vai ficando cada vez mais acuado e isolado à direita, o que inviabiliza seu discurso de renovação. Enquanto isso, Maranhão vai conseguindo senão unir, mas construir uma amplíssima maioria dentro do PT em seu favor, além de isolar e neutralizar a minoria petista que ameaçava se rebelar. Agora, nenhum petista ousará subir no palanque do PSB.

Terceiro, com o acordo José Maranhão negociou com clareza o papel de Veneziano Vital na eleição. Diante do "prejuízo" de não ter nenhum campinense na chapa, Maranhão assegurou que a campanha na Rainha da Borborema tenha Veneziano como o principal protagonista, não se justificando a partir de agora, por exemplo, o discurso de que uma expressiva derrota, se acontecer – que é tudo que Maranhão deseja evitar, – será por conta do bairrismo campinense.

Se o candidato a governador peemedebista perder por pouco em Campina Grande terá atingido o objetivo eleitoral; se vencer, Veneziano terá reafirmado sua força na cidade; se vencer por muito (20 mil votos, digamos) tornaria a futura candidatura a governador do atual prefeito de Campina Grande em 2014 um fato consumado. E se Maranhão olhar apenas para sua reeleição, esse discurso – o de que Veneziano Vital será seu candidato a governado caso vença em Campina – tenderá a ser um poderoso atrativo para convencer os eleitorado campinense.

Portanto, longe de sair fragilizado por não ter conseguido "impor" sua vontade na definição da chapa majoritária, José Maranhão soube reverter a pressão dos aliados em seu favor. Diante da reação da direção do PT e de Veneziano Vital ao "anúncio" de uma chapa com Vital Filho na vice, Maranhão conseguiu fechar os detalhes que realmente importavam para colocar sua estratégia eleitoral em ação.

Como bom jogador, não pagou para ver diante dos riscos envolvidos. "Jogou verde" para tentar criar o fato consumado, mas sabia desde o início onde ele podia chegar. Sem dúvida que ele achava que o melhor para sua chapa era ter um vice de Campina, mas sabia das dificuldades e soube jogar com elas. E acabou atingindo seus objetivos na negociação.

Ressalte-se nesse episódio a firmeza da direção do PT. Desde Josenilton Feitosa, o secretário do PT, que, como sempre, foi corajoso ao se expor para expor o que o PT pensava a cada ataque que recebia, a Rodrigo Soares, que soube se movimentar com tranqüilidade num campo minado, foi firme quando teve que ser firme, e paciente para não se expor na hora errada.

Soube esperar e resistiu à tensão, coisa que, por exemplo, Luciano Cartaxo não conseguiu. Na hora H, Cartaxo tremeu nas bases e não agüentou a pressão. Fez o correto, pois viabilizou a superação de um aparente impasse. Mas mostrou não estar à altura da posição que ocupa, tanto no PT quanto na sociedade. Seguidamente, cometeu todos os erros que alguém em sua posição e com seus objetivos não poderia cometer.

Rodrigo Soares, por outro lado, teve tranqüilidade porque tinha clareza desde o início do que queria, que era se eleger deputado federal. Depois disso, o que caísse na rede seria peixe. Ninguém pode acusá-lo de deslealdade nem de oportunismo. Ainda consolidando sua posição como liderança interna do PT, Soares sabia de suas limitações nesse campo. Soube, por isso e antes de qualquer coisa, unir o PT em torno dele. E de quebra ainda pode dizer, sem que isso soe como uma insinceridade, que abandonou seu projeto pessoal para abraçar um projeto partidário, uma alfinetada em quem não foi capaz de fazer isso (quem?).

As portas da grande política estão abertas para Rodrigo Soares. E ele vai adentrá-las. Com O Príncipe, de Maquiavel, como livro de cabeceira (quem me conhece, sabe que isso é um elogio) e com um jovem professor que ainda tem cara de menino como principal conselheiro. Como me disse ontem por telefone outro importante assessor de outro grande político paraibano: "Esse rapaz vai longe".

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O PT e Veneziano merecem mais de José Maranhão do que pedidos de sacrifícios


Se vier a concretizar-se o "anúncio" que o governador José Maranhão fez na última terça, 22, de que o deputado Vital do Rego Filho seria o seu vice teríamos duas implicações políticas sérias. A primeira, seria uma aberta desconsideração pela posição do PT, já repetida ad nauseam em todas as ocasiões e por diversas instâncias partidárias há pelo menos 1 ano. O tal anúncio impôs de imediato um desafio para o PT: mostrar que o partido não é uma mera linha auxiliar do PMDB e do governador José Maranhão na Paraíba. Além disso, seria a comprovação de que não haveria limites para o PMDB fazer imposições ao PT pelo apoio a Dilma Rousseff. O que já aconteceu em Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Maranhão não foi suficiente?

Nos 2 primeiros estados o PT retirou dois candidatos competitivos, Fernando Pimentel e Lindbergh Farias, que desistiram de disputar o governo para concorrerem ao Senado e, assim, viabilizar o apoio aos candidatos do PMDB (Helio Costa e Sergio Cabral); no Maranhão foi pior: a direção nacional do PT chegou a intervir para que o partido no estado retirasse o apoio a Flavio Dino, candidato a governador pelo PCdoB, aliado histórico de Lula e do PT, para emprestá-lo a Roseana Sarney, que concorre à reeleição. Tudo isso para garantir o apoio do PMDB a Dilma Roussef.

Na Paraíba, o PT vai fazer o mesmo? Dobrar-se aos exclusivismos do PMDB e renunciar aos seus objetivos partidários? Aqui, seria pior já que não haveria compensação eleitoral. Seria sacrifício mesmo, já que lançar candidato do partido ao Senado implicaria, a essa altura do campeonato, a proclamação de uma derrota anunciada.

A segunda implicação política do citado "anúncio" do governador José Maranhão diz respeito a Veneziano Vital. O prefeito de Campina Grande renunciou ao objetivo de ser candidato a governador em 2014? Sim, porque essa é a conseqüência imediata caso Vital do Rego Filho seja mesmo confirmado na vice de José Maranhão.

A não ser que Vital do Rego Filho venha a ser um vice de mentirinha, que não poderá sequer assumir o cargo durante o governo para garantir a candidatura do irmão. E terá de renunciar quando José Maranhão se afastar para ser candidato ao Senado na próxima sucessão. Uma engenharia política de difícil realização, convenhamos.

Ou seja, confirmada a indicação do vice, os papéis dos irmãos se invertem: Vital do Rego Filho será o candidato a governador, pois estará no cargo em 2014, e Veneziano, a figura de proa do grupo e o responsável pela ascensão política de Vital Filho, assumirá então o papel de coadjuvante, pois viverá à sombra do irmão. Não poderá nem sucedê-lo.

Por mais qualidades políticas que Vital Filho tenha – e isso pode ser comprovado pela sua atuação parlamentar no Congresso, o que mostra sua vivacidade e capacidade argumentativa, – ele não consegue ser páreo para o irmão. Sem argumento melhor, eu diria ser uma questão de justiça para com a liderança ascendente de Veneziano Vital. Se Maranhão quer acenar para Campina, acene para o futuro e desde já faça indicações de que Veneziano Vital terá o seu apoio.

Pelo que representam, Veneziano Vital e o PT merecem mais. E, para o bem de sua própria candidatura, José Maranhão saberá reconhecer isso, pois nesse caso quero crer que a raposa política "jogou verde para colher maduro", como se diz por aí.

A reação do PT e de Veneziano Vital foram firmes o suficiente para demonstrar que o governador pode muito, mas não pode tudo. Uma aliança política só funciona direito se todos os que estão nela fazem acordos que os deixam satisfeitos. Impor sacrifícios a aliados é a melhor maneira de fazê-los cruzar os braços durante os embates. E isso é o pior que pode acontecer para José Maranhão.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Rodrigo Soares será vice por que o PT se une cada vez mais em torno dele. E Maranhão sabe disso.


Políticos e setores da imprensa interessados em alijar o PT da vaga de vice do governador José Maranhão destilam seu veneno, entre outras coisas, ao imputar ao partido a responsabilidade pela derrota de 2006. Bem conveniente essa posição. Com isso, querem jogar para debaixo do tapete o desastre que foi a condução política da campanha de 2006, cujos erros vão desde a amadora produção e condução do programa eleitoral ao tratamento dado aos problemas com a candidatura ao Senado de Ney Suassuna.

Agindo assim, primeiro procuram excluir as responsabilidades dos dirigentes do PMDB durante aquela campanha; segundo, tentam diminuir forçadamente o peso político do partido do presidente Lula, que certamente é mais importante que o chamado "peso eleitoral", pois a força do PT reside exatamente nisso: nunca foi um partido "dono" de votos, de currais eleitorais, sendo a escolha do seu eleitor baseada sempre em critérios mais políticos, por vezes ideológicos.

Há por trás de posições como essas tanto um ranço conservador quanto o interesse de manter esses grupos no comando das decisões eleitorais futuras. E é esse o aspecto mais relevante: o que está em jogo não é mais 2010, mas 2014. Como previsto, a candidatura de Ricardo Coutinho afunda no lamaçal dos seus novos aliados e na incoerência do sue próprio discurso de renovação. E a não ser que o PMDB cometa os mesmo erros de 2006, essa eleição são favas contadas.

Eu já disse aqui que o vice ideal para a chapa peemedebista seria Veneziano Vital. Não por ser campinense, mas pela personalidade política na qual o atual prefeito de Campina Grande se tornou e pela possibilidade de dar ao discurso maranhista ares de renovação, apontando para o fim de um ciclo político geracional e o início de outro. Isso sem dúvida era o aspecto mais importante. Ser de Campina Grande era o dado complementar que tornava a figura de Veneziano Vital o vice dos sonhos maranhistas.

Não sendo Veneziano Vital, qualquer político de Campina Grande cumpriria o mesmo papel? Qualquer um exprimiria como Veneziano Vital conseguiu e até hoje consegue exprimir o "espírito" do campinismo? É um erro imaginar o eleitor campinense como um eleitor alheio à política e à personalidade dos políticos. Ele não é um parvo cujo principal argumento para se ganhar o seu voto é apresentar-lhe a credencial "campinense". Ele não é como os ratos do conto dos irmãos Grimm – O Flautista de Hamelin – que seguem inebriados o som de uma flauta mágica que, ao invés de melodia, ressoa nos ouvidos de todos: "sou campinense".

O bairrismo campinense é político. Parte de uma lógica intrínseca que orienta suas escolhas: a de que, em meio à indiferenciação política promovida pelos partidos conservadores e pela própria imprensa, o melhor mesmo é optar por um candidato que tenha origem na cidade. Mas teria qualquer um a condição de representar esse espírito? Não acho. Ivandro Cunha Lima, Daniela Ribeiro ou Vital do Rego Filho despertam no campinense o mesmo entusiasmo que Veneziano Vital e Cássio Cunha Lima?

E depois. Não me consta que nenhum campinense seja candidato a governador e isso faz uma imensa diferença. Uma coisa é José Maranhão enfrentar Cássio Cunha Lima ao governo. Outra bastante diferente é enfrentar Ricardo Coutinho, mesmo com Ivandro Cunha Lima na vice, especialmente se Cássio Cunha Lima não puder ser candidato. Arrisco-me a um palpite sobre as eleições em Campina Grande: Cássio Cunha Lima e Vital do Rego Filho terão votações consagradoras para senador e, para o governo, quem ganhar, ganhará por estreita margem de votos.

Mesmo uma derrota por poucos votos será uma imensa vitória para José Maranhão. Ricardo Coutinho só tem chances se tiver, pelo menos, 70% dos votos de João Pessoa e Campina Grande. Em 2006, Cunha Lima anulou a diferença que Maranhão colocou em João Pessoa, vencendo as eleições nos pequenos municípios. A lógica da aliança ricardista é essa: vencer nos dois principais colégios eleitorais e impor uma diferença que seria difícil superar nos pequenos municípios.

O que está dando errado? A subestimação do grau de politização do eleitor e, por outro lado, a crença no pragmatismo desse mesmo eleitor que não levaria em conta alianças inconsistentes. Não se trata, nesse caso, de um veto do eleitor a qualquer aliança eleitoral, mas à incoerência delas. Ora, como dar crédito a alguém que ascendeu na política combatendo, pela esquerda, grupos e partidos que, de repente, tornam-se seus aliados?

É esse erro que José Maranhão pode repetir ao não levar em consideração a força política e simbólica que o PT tem hoje. Especialmente com o nome de Rodrigo Soares. Diferentemente de Luciano Cartaxo que, até se tornar vice-governador, era um obscuro vereador pessoense, Rodrigo Soares ganhou projeção estadual com uma brilhante atuação parlamentar que lhe deu projeção para postular um mandato de deputado federal.

Após vencer a eleição para a presidência do PT, tem sabido manter o equilíbrio e não apenas conservar a unidade da maioria petista que lhe dá sustentação, mas ampliar o apoio interno à política de alianças do partido, isolando seu principal antagonista que é o deputado federal Luiz Couto. Com a candidatura de Rodrigo Soares a vice-governador, abre-se inclusive o caminho para que seja restaurada a unidade petista. Além de tudo, Soares é o nome de referência da direção nacional do PT. Com ele na vice, como um petista fazer campanha na Paraíba para outro candidato, que não José Maranhão? Inclusive Dilma. Inclusive Lula

sábado, 12 de junho de 2010

No Ceara, partido de Ricardo Coutinho veta aliança com PSDB

O mesmo conselho que Ciro Gomes deu ao ex-prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, em sua ultima visita à Paraíba, pelo jeito não valeu para o seu partido no Ceará. Na Paraíba, Ciro disse para Coutinho ampliar ao máximo suas alianças.

No Ceará, entretanto, vetou a aliança do PSB com o PSDB em apoio ao irmao, o atual governador Cid Gomes. O mesmo aconteceu nos estados governados pelo PSB, Pernambuco e Rio Grande do Norte, onde PSDB e Dem são os principais adversários do PSB.

O caso do Ceara chama a atenção por que essa decisão representa o fim de uma longa convivência política entre Ciro Gomes e Tasso Jereissati, deixando isolado o ex-governador tucano que foi um dos responsáveis pela inserção de Ciro Gomes na política cearense.

Ou seja, enquanto no restante dos estados nordestinos todos os partidos que apóiam Lula fogem do PSDB e Dem como o diabo foge da cruz, na Paraíba o PSB de Ricardo Coutinho abriu-lhes o bracos para que eles se aconchegassem confortavelmente, o que evitou o isolamento e a derrota total dos tucanos - e por tabela, dos demos - paraibanos, dando-lhes sobrevida. O resultado è que de um futuro lustroso e promissor, Ricardo Coutinho abraçou o urso que vai lhe comer as entranhas e as perspectivas de tornar-se uma das grandes lideranças paraibanas.

Uma pena.

terça-feira, 8 de junho de 2010

PT FORA DA MAJORITÁRIA? PT SEM CANDIDATO A GOVERNADOR!

Ou a direção do PT já tem um acordo fechado com o governador José Maranhão e todas as declarações e movimentos protagonizados nos últimos dias pelo candidato do PMDB – associados aos comentários cada vez mais freqüentes de que a da vaga de vice será ocupada por mais um peemedebista – não passam de mis en scène para desviar o foco das atenções e confundir o adversário, ou tudo se encaminha mesmo para a exclusão do partido da vaga na chapa majoritária.

Primeiro, foram as declarações de deputados estaduais, como Raniery Paulino, e mesmo Benjamin Maranhão, sobrinho do governador, que defenderam uma chapa majoritária onde não constava nenhum nome do PT, o que foi sucedido por grande especulação da imprensa através de paginas de notícias e blogs de todas as matizes.

Na semana passada, o Blog do Décio chegou a usar a expressão "Eureka" para anunciar o entendimento do que seria um intricado quebra-cabeças o processo de formatação final da chapa maranhista para o govenro. Tudo, segundo ele, se encaminhava para que o deputado federal Vital do Rego Filho fosse o indicado para a cobiçada vaga de vice-governador na chapa maranhista.

Como eu acho que, em política, "onde há fumaça há fogo" o PT deve se precaver. Acho que seria uma desmoralização para o partido, especialmente para a atual direção, se o PT tiver que engolir em seco o que o PMDB tenta empurrar para o partido, isso depois de acomodados, é claro, os seus diversos interesses internos, e das outras siglas envolvidas na composição da chapa majoritária maranhista.

Já me referi aqui às dificuldades políticas de uma chapa majoritária de perfil marcadamente conservador como as que são apresentadas hoje, nelas excluída a participação de representantes do PT e com o perfil de candidatos como Wellington Roberto e Wilson Santiago. Se chapas assim ganham "capilaridade" eleitoral, o que pode ser tranquilamente suprido pela ação administrativa do governo estadual, ela perde em consistência, aumentando a distância do PMDB com o eleitorado lulista no estado e com o eleitor de perfil mais progressista, de centro-esquerda e de esquerda.

Por outro lado, os danos políticos à imagem do PT paraibano seriam graves, com inevitáveis repercussões eleitorais. Por isso, não acho que o apoio a José Maranhão deva acontecer em qualquer circunstância. Fora da majoritária, seria melhor o PT, por exemplo, não apoiar nenhum dos candidatos a governador, priorizando assim a eleição presidencial e as eleições parlamentares.

Isso ganharia forma na liberação dos seus filiados para optarem por qualquer uma das candidaturas ao governo que apóiam hoje Dilma Rousseff, incluindo aí o próprio José Maranhão, claro. Além do mais, isso tanto abriria a possibilidade de lançar uma candidatura avulsa para o Senado, a de Luis Couto, por exemplo, como permitiria o estabelecimento de bases para se refazer a unidade petista.

Como estamos na fase decisiva das definições, cabe ao PT começar a falar grosso. E mostrar ao PMDB que o apoio do partido é um luxo político e eleitoral que não deve ser desprezado. E mostrar também ao eleitorado que o partido não é linha auxiliar de ninguém, sendo movido exclusivamente por seus próprios objetivos estaduais e nacionais, que devem ser respeitados.

O PT tem sua história, sua importância política e a responsabilidade com os destinos do estado para preservar. É ela que dará autoridade política e moral para o atual governador enfrentar um embate que pode ser duro, especialmente se ele abre muito o flanco à esquerda.

sábado, 5 de junho de 2010

Na Paraíba, José Serra vai ao Shopping: o autismo político tucano

Mais um prova de que tucanos gostam mesmo é da "massa cheirosa", segundo expressão da jornalista serrista da Folha, Eliane Catanhede, que será eternizada para definir com quem os tucanos preferem ter contato mais direto. Em Campina Grande, José Serra não foi à Feira da Prata, nem visitou o bairro das Malvinas. Nem mesmo foi à Praça da Bandeira. Ao contrário, optou pelo aconchego dos eleitores do Shopping Iguatemi.

Em João Pessoa, fez o mesmo. Foi para um corpo-a-corpo com o eleitorado "cheiroso" do Manaíra Shopping. Aliás, vele salientar que eu não tenho nada contra os freqüentadores de shopping. Quando não há jeito, eu também apareço por lá para misturar-me àquela massa cheirosa da Praça da Alimentação, que é o melhor lugar daquele shopping, para "degustar" um chope.

Mas, convenhamos, Shopping não é o lugar da massona, a não ser pelos trabalhadores e trabalhadoras que ali labutam todos os dias para ganhar a vida.

Mas, a atitude de Serra de ir ao shopping ao invés de se misturar com o povão, pode revelar duas coisas: ela exprime, de um lado, o receio de submeter o candidato do PSDB ao constrangimento, por exemplo, de uma vaia pública caso ele visitasse um lugar freqüentado majoritariamente por pessoas pobres, num território onde Dilma Rousseff avança celeremente e já ultrapassa a casa dos 50%, como é a Paraíba – e o que eles esperavam de uma situação em que os dois principais candidatos a governador da Paraíba apóiam a candidata petista?

De outro lado, ela demonstra o alto grau de autismo político a que são vítimas a elite econômica, incluindo uma parcela expressiva da classe média alta, a grande imprensa e, por fim, os partidos que as representam (PSDB-Dem). Eles estão fechados no seu mundinho elitista e, ou não querem ou não conseguem enxergar que a realidade está mudando.

Os mais ricos, porque se acostumaram com a idéia do "ponha-se no seu lugar!", situação que começou a mudar com a eleição de Lula, um ex-migrante nordestino e ex-operário que saiu da Senazala, sem passar pela Casa-Grande, para governa um país inteiro. O que mais essa elite odeia é essa "mistura" que hoje começa a ser promovida em ambientes que antes eram dominados exclusivamente por eles: nas faculdades particulares, através do Prouni, que financia a permanência de estudantes de baixa renda; nas universidades públicas, através das cotas sociais e raciais, que reserva parte de suas vagas a negros, índios e a estudantes pobres; ou através da ascensão de milhões à "nova classe média" brasileira, proveniente do amplo crescimento da participação dos salários na renda nacional.

Outro dia, escutei o seguinte comentário de uma senhora que sentava ao meu lado durante um vôo de volta a João Pessoa: "É impressionante a quantidade de pessoas que nunca andaram de avião e agora fazem isso. Você nota pelo jeito e pelas roupas delas". Como sempre, apesar do cuidado com que eram ditas essas palavras, exalava um claro desconforto com aquela situação. Mas, excluindo isso, aquela senhora constatava um fato óbvio: os pobres andam hoje cada vez mais de avião. Por isso, eles só chegam lotados hoje em João Pessoa.

Quanto ao "autismo" da grande imprensa, é claro que parte do "oposicionismo" dela tem a ver com a política de redistribuição das verbas de publicidade promovida pelo governo Lula, que já comentamos neste blog (clique aqui). Lula tirou das grandes empresas de comunicação para distribuir essas verbas de maneira mais democrática. Hoje, toda e qualquer rádio do interior tem anúncios do Governo Federal. Antes, só a Rede Globo, por exemplo, abocanhava sozinha quase 90% das verbas de TV. Isso durante o governo FHC. Hoje, ela leva pouco mais de 52% dessas verbas. E por aí vai.

Mas, o tratamento que essa mídia dá à informação, com suas explícitas manipulações, é prova de que ela vive em outro mundo, que não o do avanço contínuo da internet como alternativa de acesso à informação. É principalmente isso que tem levado à perda de importância da grande imprensa como "formadora de opinião" e, portanto, de perda de importância política para definir embates eleitorais no país. Com a internet, o 4º poder está definhando no mundo todo.

No caso dos "jornalões" e revistas, a tendência é que esse avanço da internet os leve um dia à extinção. Comprar jornal está se tornando cada vez mais um luxo, especialmente porque não se adquire com sua compra uma informação de qualidade. E isso explica essa postura de "autismo político" desses meios de comunicação, já que eles são cada vez mais dirigidos para os seguimentos mais ricos, cuja opinião os jornais e revistas precisam continuar não só formando, mas alimentando os velhos preconceitos de classe para manter o vinculo político e ideológico. É um mundo imaginário o que lemos nos jornais. Enquanto isso, no mundo real, o Brasil vive os seus melhores momentos, ainda que precise avançar muito, muito ainda.

Quanto ao PSDB e o Dem, que sempre representaram tanto a grande imprensa quanto as classes mais abastadas, esses partidos viveram a fantasia nos últimos 4 anos de retornarem ao poder, pois acreditavam piamente que, como Lula não poderia mais ser candidato, não haveria ninguém à altura, nem do seu prestígio nem de sua importância histórica.

Lula era único, e virara um mito durante o seu governo, sendo apenas as características "carismáticas" do atual presidente o que tornara possível a ascensão da esquerda ao poder no Brasil. Um erro que vai custar caro à oposição. Não só Lula está demonstrando que seu prestígio será transferido, como está derrotando politicamente todos aqueles que se opuseram ao seu governo. Será uma vitória histórica para a esquerda no Brasil e no mundo, na América Latina em particular, porque será a vitória não apenas de Lula, mas de um projeto de país que está em gestação. E isso o povo compreende cada vez mais.

Nesses últimos 4 anos essa oposição chamou o bolsa família de "esmola", um argumento bem ao gosto das classes ricas e médias que, claro, dão apenas, quando dão, moedinhas de 25 centavos como esmolas aos mendigos que encontram pelas ruas, e qualificam de "vagabundos" todo aquele que se recusa a receber os salários de miséria que sempre foram pagos por elas, preferindo permanecer no Bolsa família.

Da mesma maneira, derrubaram a CPMF, que geraria mais de 40 bilhões de reais para serem aplicados na saúde, sob o argumento de que ela encarecia os preços. Ninguém até hoje viu qualquer produto ter seu preço rebaixado, mas os mais ricos tanto deixaram de pagar essa "contribuição" para a saúde dos mais pobres, como tiraram do seu caminho um eficiente meio de identificar sonegadores.

Também foram contra as cotas raciais e sociais, argumentando defenderem o universalismo dos seus princípios liberais, mas não apresentam uma alternativa sequer para inserir os mais mais pobres no mundo do trabalho qualificado. Ao contrário, querem que as vagas dos ensino superior público, de longe o de maior qualidade, especialmente dos cursos que formam profissionais de melhor remuneração no mercado de trabalho, continuem reservadas aos mais ricos.

E etc, etc, etc...

Agora, perplexos, não entendem como vão perder essa eleição, uma certeza que eles só alimentaram no seu mundo particular, o mundo criado pela grande imprensa, que é um pouco parecido com o mundo dos shopping centers. Um mundo onde as classes médias desejam realizar seus mais intensos sonhos de consumo, um mundo climatizado, colorido, brilhante e iluminado.

Que José Serra continue visitando shopping centers. Nesse mundo, ele já ganhou a eleição.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

José Maranhão e Cássio Cunha Lima: critérios para definir quem é quem na política paraibana e brasileira

Apesar de todo o debate em torno deles, poucos são os esforços de análise que procuram identificar onde estão localizados, hoje, no "amplo" arco político e ideológico brasileiro, José Maranhão, Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, as lideranças dos três principais partidos políticos da Paraíba (PMDB, PSDB e Dem).

Em geral, as apreciações feitas se restringem aos movimentos de cada um deles, às articulações, aos conchavos, enfim, ao turbilhão de acontecimentos que, por enquanto, antecedem ao início da campanha eleitoral. É como se apenas isso importasse e não houvesse espaço para o debate a respeito do que eles pensam, de como eles agem, seja no governo, seja na oposição. O pragmatismo, como é comum no meio jornalístico, excetuando-se honrosas exceções, como Rubens Nóbrega, invadiu a seara também dos "analistas políticos".

O desprezo por essas questões chega a tal ponto que parece que não existem diferenças entres eles, sendo apenas circunstanciais os aspectos que os opõem. E não vem a ser por outro motivo que para esses – infelizmente, ao que parece, a maioria – a aliança entre Ricardo Coutinho, um político até então considerado de esquerda, e Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, ambos representantes do conservadorismo político no estado e adeptos de práticas político-administrativas cujo combate foi exatamente o que deu projeção à ascensão do ex-prefeito de João Pessoa, como a apropriação familiar e patrimonialista da coisa pública, é um fato absolutamente normal e corriqueiro. Ser de esquerda ou de direita é apenas uma questão de ocasião.

Vamos fazer aqui um esforço de diferenciação entre eles para entender, se é que existem, as diferenças entre esses protagonistas políticos. Vamos começar por uma breve caracterização histórica de cada um deles e seus posicionamentos na correlação de forças atual na política nacional. Comecemos pelo governador José Maranhão.

Com origem na centro-esquerda trabalhista – o atual governador compôs os quadros do PTB até 1964, partido pelo qual se elegeu duas vezes deputado estadual. Como se sabe, o PTB era o partido de João Goulart e herdeiro do varguismo. O PSD, a outra base de apoio do varguismo, e a UDN compunham os partidos que abrigavam as lideranças políticas mais ao centro e mais à direita até 1964.

Em aliança com forças de esquerda, entre elas o antigo "partidão", o PCB, o PTB de João Goulart liderou uma ampla campanha por reformas de base e esse foi o principal motivo que o levou a ser derrubado pelo militares. José Maranhão filiou-se ao MDB em 1967, partido que reunia todas as personalidades e agrupamentos de oposição ao regime militar, inclusive os comunistas, instaurado pela força em 1º de abril de 1964. Nesse partido, que se tornou o PMDB em 1980, Maranhão permanece filiado até hoje.

O PMDB, por sua vez, converteu-se num partido-frente composto por grupos regionais, cuja composição hoje comporta uma miríade de posições políticas e ideológicas, expressas na atuação de personalidades que vão desde Roberto Requião, um político de centro-esquerda – nessa linhagem eu incluiria Antônio Mariz que, se vivo estivesse, provavelmente continuaria filiado ao PMDB, – a José Sarney, representante mais expressivo da política oligárquica que ainda subsiste no Nordeste. Como se sabe, Sarney entrou no PMDB para ser candidato a vice-presidente na chapa de Tancredo Neves, e foi membro da Arena e do PDS até 1984, tendo apoiado o regime militar.

Não é por outro motivo que o PMDB não consegue ter, como partido, uma posição unificada nacionalmente. Sua fração mais à esquerda – e minoritária, – ficou na oposição ao governo FHC, enquanto a mais à direita foi para a oposição a Lula. A maioria "flutua" num pragmatismo que é a marca do PMDB atualmente: tanto compôs a base de apoio de FHC como a de Lula.

Em 1994, em razão do erro cometido à época pela esquerda, o PMDB paraibano, como Mariz com candidato a governador, apoiou a candidatura de FHC. O PMDB, que ainda abrigava os Cunha Lima e José Maranhão, podia ter tido uma posição de neutralidade caso a esquerda, capitaneada pelo PT, tivesse resolvido apoiar a candidatura de Mariz.

Diferentemente do que dizem hoje, por conta de ser José Maranhão proprietário de terra, o atual governador votou a favor da reforma agrária na Constituinte de 1987-1988 e em questões importantes, como direito de greve, inclusive para os servidores públicos.

Foi um discreto deputado federal até 1994, quando, naquele ano, foi escolhido pelo próprio Antônio Mariz como companheiro de chapa na disputa para o Governo da Paraíba, Mariz que é hoje um ícone da centro-esquerda paraibana, cujo espaço deixado com sua morte Ricardo Coutinho foi competente ao conseguir ocupá-lo.

Mariz recusara a indicação do candidato a vice (Carlos Dunga) feita pelos Cunha Lima, estopim provável de uma contenda que se prolonga até hoje. Mesmo tendo permanecido no cargo de governador por quase 8 anos até agora (3 no primeiro mandato, quando assumiu o cargo depois da morte de Mariz, 3 no segundo, quando deixou o cargo para candidatar-se ao Senado e 2 incompletos no atual mandato), José Maranhão não conseguiu criar sucessores à altura de sua liderança. Seus herdeiros (dois sobrinhos) provavelmente não conseguirão dar seguimento à trajetória política do tio.

No segundo caso, estão Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, dois filhos de tradicionais famílias políticas paraibanas e filiadas aos dois maiores e mais importantes partidos conservadores do país.

O primeiro ao PSDB, o partido da conservadora elite paulista, com subsidiárias em outras partes do país (como a da Paraíba), e representante mais legítimo dos interesses do capital financeiro e, no plano externo, do alinhamento com os Estados Unidos; o segundo, ao Dem, o herdeiro dos golpistas da antiga UDN, que apoiou o golpe militar de 1964, para em seguida tornar-se Arena, depois PDS, depois PFL e agora Dem. Reúne a fina-flor da direita brasileira, entre o quais Jorge Bornshausen e Marco Maciel. Foi também líder destacado desse partido o "coronel-eletrônico" Antônio Carlos Magalhães.

O Dem, felizmente, é um partido que caminha para tornar-se inexpressivo, depois de ter abrigado o reacionarismo da política brasileira, especialmente nordestina. Seu destino é ser como o velho PDS, que já foi PPR, PPB e hoje PP.

Da mesma maneira Cássio Cunha Lima, que foi um jovem que rapidamente envelheceu na política. Entretanto, estreou nela gerando grandes expectativas. Quando estudante universitário, participou do movimento estudantil de maneira discreta, mas se alinhando ao PCdoB quando estudante de Direito da antiga Urne, hoje UEPB. Recebeu inclusive o apoio dos comunistas do PCdoB na sua primeira eleição, em 1986, quando disputou uma vaga de Deputado Constituinte, tendo sido eleito pelo PMDB aos 23 anos, um dos deputados mais jovens do país.

Assim como José Maranhão, também eleito para Constituinte, Cunha Lima votou pela reforma agrária e pelo direito de greve. Como Maranhão, ganhou a qualificação feita pelo do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), que acompanhou o posicionamento dos constituintes, de "defensor do povo".

Mas, Cunha Lima, como eu disse, logo envelheceu. Abandonou a atividade parlamentar para se dedicar à administração pública. Elegeu-se prefeito de Campina Grande, em 1988, quando sucedeu o próprio pai, Ronaldo Cunha Lima, dando seguimento a uma "dinastia" que duraria 20 anos (1983-2003) e só foi interrompida pela vitória do atual prefeito da cidade, Veneziano Vital.

Em 1992, após o impeachment de Fernando Collor, Cunha Lima assumiu a Superintendência da Sudene no governo Itamar Franco, de onde saiu marcado por várias denúncias de corrupção e apadrinhamento. Depois, elegeu-se deputado federal e prefeito de Campina Grande por mais duas vezes.

Por um breve momento, flertou com o PT e iniciou uma aproximação calculada, cujo objetivo foi impedir a candidatura de Cozete Barbosa à prefeitura de Campina Grande. Cozete havia tido um grande desempenho eleitoral para o senado dois anos antes, em 1998, e seria forte candidata a dirigir os destinos da Rainha da Borborema na eleição de 2000.

Entretanto, o memento-chave que define a situação política tanto de José Maranhão quanto de Cássio Cunha Lima foi, sem dúvida, 2002, quando o país inteiro se dividiu novamente entre a esquerda e a direita na campanha presidencial. Cássio Cunha Lima tinha diante de si a oportunidade histórica de optar por alinhar-se a posições mais à esquerda, filiando-se a um partido, se não de esquerda, pelo menos de centro-esquerda. Como eu disse, havia se aproximado do PT, quando ofereceu, em 2000, os destinos da prefeitura de Campina Grande quando se afastou do cargo de prefeito para concorrer ao governo.

Entretanto, como si viu, isso era apenas teatro. Cássio Cunha Lima não só não podia prescindir do apoio da máquina pública, como deu forma exata ao seu conservadorismo político, deixando-se "seduzir" pelos milhões que o PSDB podia oferecer-lhe para campanha, tanto quanto pelo apoio da máquina do governo federal (FHC), ao apoiar a candidatura de José Serra, em 2002.

Cunha Lima selara seu destino: aninhara-se definitivamente nos braços da direita brasileira e paraibana, especialmente seu mais leal companheiro desde então, Efraim Moraes, e todo o séquito de políticos conservadores que o acompanha.

Enquanto isso, José Maranhão, então governador, conduziu o PMDB paraibano para os braços de Lula e deu importante contribuição tanto para eleição do petista na Paraíba, quanto para a consolidação do seu governo. Por exemplo, retrocedendo um pouco: onde estava cada um quando houve a tentativa de derrubar Lula durante a chamada "crise do mensalão"?

Despindo-nos dos preconceitos políticos largamente arraigados, e pelo equívoco bastante comum de tratar o Nordeste ainda sob o domínio político das antigas oligarquias rurais, como se o Nordeste tivesse não tivesse se modernizado – e feito isso reproduzindo e potencializando aqui as piores tendências do desenvolvimento brasileiro, – cabe uma pergunta: de que lados estão essas forças políticas na Paraíba nessa batalha histórica que o Brasil vive hoje?

Uma batalha entre aqueles que desejam e lutam hoje para construir um país baseado num sólido projeto de nação, sob a égide, finalmente, de um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda e independência nacional, contra aqueles que anseiam por manter o Brasil no caminho que ele sempre trilhou no último século, caminho mantido à força pelo conservadorismo e autoritarismo das nossas elites econômicas, que sempre impediram a construção de qualquer projeto de mudanças estruturais no Brasil, para manter intocados o latifúndio, a concentração de renda, a dependência externa, a subserviência aos interesses do Império Americano.

São todos iguais? É exatamente em momentos como os que vivemos hoje que se delineiam nossas verdadeiras convicções. É quando sabemos quem é quem. Uma coisa, por exemplo, é a retórica esquerdista vazia ou carregada de preconceitos políticos, sem substância e por vezes irresponsável; outra é a consistência prática de uma trajetória moldada não pelo esquerdismo fácil, moralista e de classe média, mas pela consistência de uma trajetória originalmente construída em outro momento histórico, onde a política fazia algum sentido e as diferenças eram mais perceptíveis do que são hoje. Felizmente, esses tempos parecem estar voltando.

Os adeptos do pragmatismo, especialmente na esquerda, vão ter que se acostumar aos novos tempos que virão, onde essas diferenças vão ficar cada vez mais nítidas. Hoje, para muitos deles, até o apresentador Tony Show virou modelo de independência e "republicanismo", como eu ouvi da boca de um assíduo participante petista de programas de rádio via telefone. Para seu deslumbre, ganhou minutos de fama e os elogios de Tony Show. Ah, essa nossa esquerda!

Enfim, em futuro próximo, eles terão que se posicionar, ou seja, terão que voltar a fazer a verdadeira política, que deixará de ser mera retórica para ganhar uma dimensão prática quando chegar a hora do "vamos ver" no Brasil. Ou vocês acham que, caso Dilma Rousseff vença, o seu governo não aprofundará o modelo de desenvolvimento que ela diz representar e que Lula começou a implantar?

Por mais que se busque tornar irrelevante esse debate, no final das contas é disso que se trata. Sem maniqueísmos, mas com a clareza política de que a vitória de um ou de outro projeto afetará definitivamente nosso futuro como país. Para mim, definitivamente não é a mesma coisa a vitória de Dilma Rousseff ou de José Serra, bem como não é a mesma coisa a eleição de aliados ou adversários desse projeto na Paraíba.

Ricardo Coutinho mantém, por razões de ordem estritamente eleitorais, o apoio a Dilma Rousseff, mas no seu pragmatismo atual, não tenho dúvidas que, se fosse vantajoso apoiar José Serra hoje, ele o faria. É uma questão puramente matemática, onde as razões de ordem política ou ideológicas inexistem. Mas, independente de qualquer coisa, ele é o candidato de José Serra na Paraíba, e isso diz muito para mim.

E isso por que eu continuo acreditando que a prática é, senão o único, mas o mais importante critério da verdade.