Mais um prova de que tucanos gostam mesmo é da "massa cheirosa", segundo expressão da jornalista serrista da Folha, Eliane Catanhede, que será eternizada para definir com quem os tucanos preferem ter contato mais direto. Em Campina Grande, José Serra não foi à Feira da Prata, nem visitou o bairro das Malvinas. Nem mesmo foi à Praça da Bandeira. Ao contrário, optou pelo aconchego dos eleitores do Shopping Iguatemi.
Em João Pessoa, fez o mesmo. Foi para um corpo-a-corpo com o eleitorado "cheiroso" do Manaíra Shopping. Aliás, vele salientar que eu não tenho nada contra os freqüentadores de shopping. Quando não há jeito, eu também apareço por lá para misturar-me àquela massa cheirosa da Praça da Alimentação, que é o melhor lugar daquele shopping, para "degustar" um chope.
Mas, convenhamos, Shopping não é o lugar da massona, a não ser pelos trabalhadores e trabalhadoras que ali labutam todos os dias para ganhar a vida.
Mas, a atitude de Serra de ir ao shopping ao invés de se misturar com o povão, pode revelar duas coisas: ela exprime, de um lado, o receio de submeter o candidato do PSDB ao constrangimento, por exemplo, de uma vaia pública caso ele visitasse um lugar freqüentado majoritariamente por pessoas pobres, num território onde Dilma Rousseff avança celeremente e já ultrapassa a casa dos 50%, como é a Paraíba – e o que eles esperavam de uma situação em que os dois principais candidatos a governador da Paraíba apóiam a candidata petista?
De outro lado, ela demonstra o alto grau de autismo político a que são vítimas a elite econômica, incluindo uma parcela expressiva da classe média alta, a grande imprensa e, por fim, os partidos que as representam (PSDB-Dem). Eles estão fechados no seu mundinho elitista e, ou não querem ou não conseguem enxergar que a realidade está mudando.
Os mais ricos, porque se acostumaram com a idéia do "ponha-se no seu lugar!", situação que começou a mudar com a eleição de Lula, um ex-migrante nordestino e ex-operário que saiu da Senazala, sem passar pela Casa-Grande, para governa um país inteiro. O que mais essa elite odeia é essa "mistura" que hoje começa a ser promovida em ambientes que antes eram dominados exclusivamente por eles: nas faculdades particulares, através do Prouni, que financia a permanência de estudantes de baixa renda; nas universidades públicas, através das cotas sociais e raciais, que reserva parte de suas vagas a negros, índios e a estudantes pobres; ou através da ascensão de milhões à "nova classe média" brasileira, proveniente do amplo crescimento da participação dos salários na renda nacional.
Outro dia, escutei o seguinte comentário de uma senhora que sentava ao meu lado durante um vôo de volta a João Pessoa: "É impressionante a quantidade de pessoas que nunca andaram de avião e agora fazem isso. Você nota pelo jeito e pelas roupas delas". Como sempre, apesar do cuidado com que eram ditas essas palavras, exalava um claro desconforto com aquela situação. Mas, excluindo isso, aquela senhora constatava um fato óbvio: os pobres andam hoje cada vez mais de avião. Por isso, eles só chegam lotados hoje em João Pessoa.
Quanto ao "autismo" da grande imprensa, é claro que parte do "oposicionismo" dela tem a ver com a política de redistribuição das verbas de publicidade promovida pelo governo Lula, que já comentamos neste blog (clique aqui). Lula tirou das grandes empresas de comunicação para distribuir essas verbas de maneira mais democrática. Hoje, toda e qualquer rádio do interior tem anúncios do Governo Federal. Antes, só a Rede Globo, por exemplo, abocanhava sozinha quase 90% das verbas de TV. Isso durante o governo FHC. Hoje, ela leva pouco mais de 52% dessas verbas. E por aí vai.
Mas, o tratamento que essa mídia dá à informação, com suas explícitas manipulações, é prova de que ela vive em outro mundo, que não o do avanço contínuo da internet como alternativa de acesso à informação. É principalmente isso que tem levado à perda de importância da grande imprensa como "formadora de opinião" e, portanto, de perda de importância política para definir embates eleitorais no país. Com a internet, o 4º poder está definhando no mundo todo.
No caso dos "jornalões" e revistas, a tendência é que esse avanço da internet os leve um dia à extinção. Comprar jornal está se tornando cada vez mais um luxo, especialmente porque não se adquire com sua compra uma informação de qualidade. E isso explica essa postura de "autismo político" desses meios de comunicação, já que eles são cada vez mais dirigidos para os seguimentos mais ricos, cuja opinião os jornais e revistas precisam continuar não só formando, mas alimentando os velhos preconceitos de classe para manter o vinculo político e ideológico. É um mundo imaginário o que lemos nos jornais. Enquanto isso, no mundo real, o Brasil vive os seus melhores momentos, ainda que precise avançar muito, muito ainda.
Quanto ao PSDB e o Dem, que sempre representaram tanto a grande imprensa quanto as classes mais abastadas, esses partidos viveram a fantasia nos últimos 4 anos de retornarem ao poder, pois acreditavam piamente que, como Lula não poderia mais ser candidato, não haveria ninguém à altura, nem do seu prestígio nem de sua importância histórica.
Lula era único, e virara um mito durante o seu governo, sendo apenas as características "carismáticas" do atual presidente o que tornara possível a ascensão da esquerda ao poder no Brasil. Um erro que vai custar caro à oposição. Não só Lula está demonstrando que seu prestígio será transferido, como está derrotando politicamente todos aqueles que se opuseram ao seu governo. Será uma vitória histórica para a esquerda no Brasil e no mundo, na América Latina em particular, porque será a vitória não apenas de Lula, mas de um projeto de país que está em gestação. E isso o povo compreende cada vez mais.
Nesses últimos 4 anos essa oposição chamou o bolsa família de "esmola", um argumento bem ao gosto das classes ricas e médias que, claro, dão apenas, quando dão, moedinhas de 25 centavos como esmolas aos mendigos que encontram pelas ruas, e qualificam de "vagabundos" todo aquele que se recusa a receber os salários de miséria que sempre foram pagos por elas, preferindo permanecer no Bolsa família.
Da mesma maneira, derrubaram a CPMF, que geraria mais de 40 bilhões de reais para serem aplicados na saúde, sob o argumento de que ela encarecia os preços. Ninguém até hoje viu qualquer produto ter seu preço rebaixado, mas os mais ricos tanto deixaram de pagar essa "contribuição" para a saúde dos mais pobres, como tiraram do seu caminho um eficiente meio de identificar sonegadores.
Também foram contra as cotas raciais e sociais, argumentando defenderem o universalismo dos seus princípios liberais, mas não apresentam uma alternativa sequer para inserir os mais mais pobres no mundo do trabalho qualificado. Ao contrário, querem que as vagas dos ensino superior público, de longe o de maior qualidade, especialmente dos cursos que formam profissionais de melhor remuneração no mercado de trabalho, continuem reservadas aos mais ricos.
E etc, etc, etc...
Agora, perplexos, não entendem como vão perder essa eleição, uma certeza que eles só alimentaram no seu mundo particular, o mundo criado pela grande imprensa, que é um pouco parecido com o mundo dos shopping centers. Um mundo onde as classes médias desejam realizar seus mais intensos sonhos de consumo, um mundo climatizado, colorido, brilhante e iluminado.
Que José Serra continue visitando shopping centers. Nesse mundo, ele já ganhou a eleição.
Vou usar uma expressão futebolística: "essa foi na medalha". Brincadeira, mano! - bem paulista, não?. Agora você foi fundo com a sua análise. "... Bate forte o tambor, eu quero é tic tic tic ta!...". Por outro lado, ao tempo em que lia esta coluna, de soslaio ouvia a chamda de abertura da representante-mor do PIG que exultava: "O maior PIB dos últimos 15 anos - referia-se ao primeiro (salvo melhor juízo) trimestre deste ano medido pelo IBGE." Num primeiro momento vibrei e paripasso raciocinei: vão "esconder" a matéria. Não deu outra. Uma informação dessas, tu achas Christiano, que a 'elite' daria/faria com satisfação e serviria como prato principal no horário nobre? Nem em Parságada, companheiro! Fui, danado prá Catende!
ResponderExcluirA propósito, onde andará o Gilson? As apostas ainda estão em aberto?
Kd o Gilson? Kiz apostar. Só falava em aposta. Ricudiculariza institutos tipo Vox Populi e Sensus, e agora muda de discurso e pergunta o que está acontecendo com as pesquisas para presidente.
ResponderExcluirIsso é o que dá fazer análises por paixão. Politica e pesquisa se faz e analisa com razão.