sábado, 28 de janeiro de 2012

RC deve oferecer vaga de vice em João Pessoa ao PT

Luís Couto precisa de Ricardo. E vice-versa.
Tenho escutado algumas opiniões de que a insistência do PPS em manter a candidatura de Nonato Bandeira seria uma encenação para, na verdade, forçar sua indicação para a vice e fechando a chapa com dois ricardistas, como aconteceu em 2008.

Não acredito na plausibilidade dessa tese porque ela é conspiratória demais para o meu o gosto. Tudo bem que RC parece tomado uma espécie de megalomania política depois de sua heróica vitória em 2010, mas, convenhamos, o governador ainda não perdeu o senso da realidade.

Primeiro, RC deve reconhecer hoje que não está com essa bola toda para fechar uma chapa com dois membros de seu agrupamento político. 


A mudança do candidato em pleno ano de eleição mostra bem o reconhecimento das grandes dificuldades que ele terá para manter o controle da prefeitura de João Pessoa, dificuldade em parte gerada pelo início cheio de conflitos e mudanças de rumos que seu governo provocou no plano estadual.

Além disso, RC precisa manter o máximo possível a unidade de sua base de apoio, especialmente porque deve enfrentar dois candidatos que, por enquanto, mantém boas expectativas de vitória e de poder.

Se essas expectativas forem mantidas, RC vai ter que “adular” mais seus aliados. Não é por outro motivo, a não ser vender mais caro o apoio mais à frente, que partidos dessa base encenam hoje o lançamento de candidaturas próprias.

Damião Feliciano, por exemplo, “libera” o PDT para debater essa possibilidade; Armando Abílio (epa!) aproveita o lançamento da candidatura de Nonato Bandeira para estabelecer mais do que laços, uma sólida ponte por onde pretende fazer o caminho de volta para o território ricardista e deixar
na mão o vereador oposicionista Tavinho Santos.

Até o PPB, do indefectível governista Durval Ferreira, ensaia uma aliança com o PT, para certamente abandoná-la depois que o partido de Lula rejeitar o apoio a Daniela Ribeiro em Campina.

Enfim, as dificuldade atuais de RC encorajam os aliados a desembainharem a faca e aponta-la para o pescoço do governador. Nada que uma boa conversa não resolva – Sargento Dênis, do PV, que assinou manifesto de apoio ao defenestrado Luciano Agra, que o diga.

Enfim, todos buscam mais espaços, coisa que RC tem de sobra para oferecer tendo o governo do estado e a Prefeitura nas mãos. E é essa a linguagem que a maioria dos partidos na Paraíba quer finalmente ouvir sair da boca do governador. 2112 vai ser uma festa! 

E que ninguém subestime o poder de atração dos cargos que podem estar à disposição de potenciais aliados. Como dizia ACM, o poder é “afrodisíaco”. 


É só lembrar, por exemplo, a coligação de 14 partidos que a frágil candidatura do hoje deputado federal, Ruy Carneiro, a prefeito de João Pessoa em 2004, candidatura que contava com o apoio, como conta hoje Estelizabel Bezerra, do então governador (Cássio Cunha Lima) e do então prefeito (Cícero Lucena). Carneiro montou uma aliança em seu apoio, que incluía PSDB, PFL (hoje Dem), PDT, PTB, PL (hoje PR), PP, PV, PSL, PRP, PTN, PTdoB, PRTB, PRONA, e PTC.

Não é surpresa, mas vale o registro quase folclórico, que na lista acima, à exceção do PSDB, todos os outros devem apoiar a candidata de RC em 2012 e, em caso de eleição de um candidato de oposição, seja quem for, em menos de três meses estarão todos eles nos braços do eleito. É esse o jogo que todos dominam perfeitamente, especialmente Maranhão, Lucena e Coutinho.

O PT de RC

 
Entretanto, o único partido que não será seduzido apenas com a oferta de cargos será o PT – partido que, aliás, já conta com uma infinidade deles na Prefeitura, em posição periférica, é verdade.

Envolvido numa disputa interna para lançar candidato ou apoiar Estelizabel Bezerra, Luís Couto e seus aliados dentro do PT precisam mais do que um discurso de apoio à continuidade da administração do PSB, aliado nacional histórico.

Não dá para Luís Couto confrontar a proposta de candidatura própria, que tem a simpatia da ampla maioria dos filiados petistas, com uma simples definição de apoio. O PT precisa de mais, para neutralizar o discurso da volta do"protagonismo petista" na Paraíba.

Não é só por isso. A favor da candidatura própria existe um poderoso grupo que pode confrontar de igual para igual a influência de Luís Couto e das máquinas estadual e municipal, especialmente porque conta com a simpatia da direção nacional do PT. 

Eduardo Campos, governador de Pernambuco: aliança com PT ou PSDB em 2014?
Desconfiada com os movimentos de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, e do PSB, partido que tem alianças com o PSDB além do que o pragmatismo político recomenda, a direção nacional do PT não vê com simpatias o crescimento do PSB, especialmente no Nordeste, tradicional reduto lulista.

É esse fato que oferece, por enquanto, força interna ao grupo liderado pelo ex-deputado estadual e atual presidente do PT na Paraíba, Rodrigo Soares. E isso só será definitivamente resolvido até o fim de 2013. Mas, isso é assunto para depois. Por enquanto, mantenhamos o foco na eleição para Prefeitura de João Pessoa. 


Como RC precisa do apoio do PT ainda no primeiro turno – primeiro para eliminar a candidatura do seu ex-líder na Câmara de Vereadores, Luciano Cartaxo, e, segundo, para obter o apoio simbólico do PT e contar com o tempo de TV do partido ,–  o governador precisa ajudar Luís Couto nessa disputa interna, e não atrapalhar, como aconteceu em 2009, quando, desesperado pelo apoio de Cassio, colocou em segundo plano a disputa interna no PT.

Para tanto, se quiser mesmo contar de maneira séria com o apoio do partido de Lula, RC vai ter que abrir mais espaço para o PT na chapa, na atual e na futura administração. Diante dessa realidade, Luís Couto terá um discurso para fazer vencer a tese de apoio à aliança como PSB, além do apoio da máquina administrativa da prefeitura e do governo do estado.

Sem isso, dificilmente RC contará com o apoio do PT. Pelo contrário, terá um candidato do partido ávido por derrota-lo em João Pessoa.

Mais ainda. Acredito que a intenção atual de RC é estreitar os laços com o PT já de olho em 2014, quando espera ter o partido também em sua chapa, provavelmente com Luiz Couto candidato ao Senado, e em apoio à reeleição de Dilma Rousseff. E, anotem aí, terá se Eduardo Campos figurar na vice na chapa de reeleição da presidente.

Essa travessia começa agora. Por isso, RC deve oferecer a vaga de vice ao PT. E tem que ser logo. Março, quando o PT decide sua posição, já está aí.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

As chances de Cícero

Cícero será figura-chave na eleição de 2012
O senador Cícero Lucena viveu um calvário em 2010. No ano em que pretendia finalmente ser candidato a governador presenciou seu maior pesadelo virar realidade.

Do submundo dos boatos, Lucena viu emergir com toda força a dolorosa realidade onde até as mais profícuas amizades são atropeladas pelo cálculo político: o aliado das muitas batalhas políticas travadas juntos desde 1990, Cássio Cunha Lima, a quem não cansava de chamar de “irmão”, não apenas aderiu à candidatura do maior adversário político, Ricardo Coutinho, como levou o próprio partido que era presidido por Lucena a apoiar seu desafeto.

Abandonado, isolado e desautorizado, Lucena refugiou-se na campanha para presidência para acompanhar de longe a eleição de RC para o governo que, num último esforço, tentou evitar apoiando publicamente o candidato do PMDB, José Maranhão, so segundo turno.

Como desgraça pouca é bobagem, Lucena ainda viu o grande aliado José Serra, até o início de 2010 favoritíssimo para a Presidência da República, ser derrotado mais uma vez, agora por Dilma Rousseff, até bem pouco tempo a desconhecida candidata de Lula. 


Derrota que foi também de lideranças nacionais do partido, especialmente no Nordeste, que também atingiu o PSDB com uma redução drástica da bancada do partido no Congresso.

Definitivamente, 2010 será um ano a ser esquecido para Cícero Lucena. E RC pretendeu  que o pesadelo cicerista continuasse depois que tomou posse. Depois de passar com o trator pilotado por Cássio Cunha Lima por cima do senador tucano em 2010, RC, como quem come o prato frio da vingança, foi tirando-lhes os aliados mais próximo: o deputado estadual João Gonçalves e, para deixar queixos no chão e mostrar que tudo se tornou possível na política paraibana, Hervázio Bezerra, também amigo, líder na Câmara de Vereadores e Secretário de Lucena quando este fora Prefeito. Bezerra não apenas deixou de ser vereador para tornar-se deputado, mas também líder do governo do PSB! Para os descrentes, os bois estavam voando nos céus paraibanos!

Mas, em política, assim como na farmacologia, como bem sabe o governador, doses excessivas de remédio podem se tornar veneno. E o povo começou a enxergar as chagas de Lucena expostas – e RC com o chicote na mão. E quanto mais descontentes o governador gerava, mais simpatizantes Cícero Lucena começou a arrebanhar.

E, ironia das ironias, o tucano, desmoralizado nas últimas eleições por Ricardo Coutinho em João Pessoa, começou a ser saudado como o anti-Ricardo exatamente nas ruas da cidade que antes o antipatizava. Mais ainda: uma parcela expressiva dessa população começou a desejar vê-lo retornar ao cargo de Prefeito, que ocupara por oito anos antes da ascensão de RC.  Ricardo, ao tentar destruir de vez Cícero, deu o impulso que lhe faltava para renascer.

Limites e possibilidades da candidatura de Cícero Lucena

Hoje, Cícero Lucena é candidatíssimo. Hoje. Esse detalhe é importante porque o discurso dos dois principais candidatos de oposição, o próprio Cícero e José Maranhão (depois trataremos aqui da candidatura do ex-governador peemedebista), parecem estar em compasso de espera para ver qual estratégia adotar quando tiverem que decidir de verdade seus destinos em 2012: se ambos saem candidatos ou compõem-se numa aliança.

Tudo depende daquilo que alimenta seus passaportes eleitorais: o desgaste de RC. Caso o governador consiga frear a perda de popularidade, é difícil dizer se os dois manterão suas candidaturas.

Nesse caso, o mais provável é que se componham e com Maranhão na cabeça da chapa, já que o peemedebista, além de maior capacidade de ampliação, pessoalmente está obrigado a arriscar tudo em 2012 para recobrar o prestígio perdido em 2010. E JM não tem muitas oportunidades pela frente. 


O horizonte para Cícero Lucena também não é muito alvissareiro. Em 2014, quando enfrentará o imenso desafio de se reeleger para o Senado e encontrará imensas dificuldades para realizar esse projeto, caso a aliança Cássio-Ricardo se mantenha. Mas Cícero não tem ainda o limitador da idade como Maranhão.

Entretanto, caso o governador mantenha altos níveis de rejeição ao seu governo, os dois serão candidatos a ocupar o espaço reservado à oposição nessa disputa. E Cícero Lucena terá pela frente a oportunidade de testar sua liderança e passar por um teste eleitoral que finalmente confronte sua administração de oito anos com os oito anos de gestão do PSB.

Cícero tem a vantagem de ser considerado o candidato ideal para os ricardistas, já que eles consideram que a gestão do PSB é superior em realizações e avanços se comparada com a do tucano.

Além desse ponto, existe o debate, digamos, “ético”, que deve ter um grande peso nessa eleição. Lucena tem contra si diversas acusações de corrupção, muitas por se provar, é bem verdade, e uma imagem marcante que pode ser devastadora numa campanha: a prisão realizada pela Polícia Federal durante a chamada Operação Confraria.

Nesse campo, Cícero Lucena equilibrou o jogo depois das várias denúncias de corrupção contra a Prefeitura de João Pessoa, especialmente no rumoroso Caso Cuiá. 


Se esse campo da disputa for explorado e se tornar o centro dos debates eleitorais em João Pessoa, o que é mesmo provável que aconteça, teremos um lamaçal a escorrer para dentro das casas dos eleitores em pleno horário nobre, o que torna difícil prever a reação deles.

Legitimarão a disputa ou procurarão outras alternativas? José Maranhão e Luciano Cartaxo vão esperar para ver o que sobre para eles desse embate.

Nesse aspecto, a candidatura de Cícero Lucena é peça-chave nessa disputa, pois ela permitirá um contraponto em vários campos com o ricardismo, mas de resultados imprevisíveis. 


O Senador pode ser beneficiário do desgaste das administrações ricardista, mas pode sucumbir diante da exposição de suas fragilidades eleitorais. Para saber se uma coisa ou outra, Lucena terá que pagar para ver.

A maior dificuldade de Lucena reside no caso de uma eventual ida para o segundo turno contra a candidata ricardista. Terá, com certeza, o apoio de José Maranhão, mas, sendo do PSDB, é mais do que improvável que este receba o apoio do PT, que aderirá, mesmo a contragosto do grupo oposicionista, a Estelizabel Bezerra. 


A unidade da oposição, nesse caso, estaria quebrada. Num quadro assim, o fundamental será o desempenho eleitoral dos candidatos de oposição que não forem para o segundo turno e a conjuntura eleitoral criada imediatamente após essa eleição.

Enfim, Cícero Lucena tem o campo aberto de incertezas e possibilidades. Resta saber o quão ele está disposto a se arriscar.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A miragem da candidatura de Nonato Bandeira

Ilhado no PPS e sem o aval de Luciano Agra, Bandeira foi novamente preterido
 Conheci Nonato Bandeira ainda quando éramos estudantes durante minha curta passagem pelo curso de Comunicação da UFPB. Eu era um afoito calouro. Bandeira, um veterano, ao lado de um célebre grupo que incluía, entre outros colegas, Derval Golzio, hoje professor, meu amigo e colega de UFPB, e Luiz Henrique, apelidado pelos dirigentes da universidade à época de “chapéu de couro, atualmente jornalista em Goiás.

Os três compuseram o maior, mais amplo, mais provocativo e mais inteligente grupo de anarquistas que conheci na vida.

Por isso mesmo, aglutinou em torno deles uma míriade de estudantes oriundo de várias matizes, entre eles os à época proclamados comunistas, como o hoje advogado Marcos Alves (Marquinhos), Eder Dantas, hoje professor no curso de Pedagogia da UFPB, e Antônio Radical, hoje professor de história da Rede Pública e conhecido dirigente do PSTU da Paraíba, todos seduzidos pelos encantos autogestionários de um movimento estudantil que acabara de sair da ditadura e começava a se defrontar com outros inimigos menos visíveis.

Na liderança intelectual desse grupo pontuava Nonato Bandeira, cuja verve irônica e sagaz era mais destruidora e difícil de combater do que o discurso chapado de trotskistas ou paratrotskistas, como Coriolano Coutinho, ainda estudante de Administração, e seu irmão, já funcionário da UFPB.

O ano de 1987 foi o “ano de ouro” do anarquismo na UFPB: o grupo transformou o CA (Centro Acadêmico) de Comunicação numa “autogestão” e, no final do ano, o próprio DCE (Diretório Central dos Estudantes), que seria presidido por mim no ano seguinte. 1987 foi também o ano em que entrei para o curso de Comunicação para, dois anos depois, migrar definitivamente para o de História, desencantado com o futuro trabalho de jornalista onde a ausência do exercício da liberdade intelectual é a marca da profissão, a não ser para raros jornalistas.

Nonato Bandeira terminou o curso e ingressou no mundo. Os sonhos descompromissados do jovem anarquista deram lugar ao pragmatismo da luta pela sobrevivência. Nonato se transformara em jornalista e, no Correio da Paraíba, sua inteligência e sagacidade seriam logo aproveitas.

Algum tempo depois, folheando um exemplar do Correio, deparei-me com um sugestivo título de um artigo na página de opinião do jornal: “Viva a imprensa burguesa!” Logo abaixo, a autoria: Nonato Bandeira, que saudava no seu corrosivo texto a liberdade de imprensa sem citar os donos dela, obviamente. Bandeira abandonara o Anarquismo e resolvera fazer política, no sentido pleno do que isso significa.

Nonato candidato

 
A ascensão à condição de super-secretário que Nonato Bandeira tem hoje acompanhou a ascensão política do seu chefe, Ricardo Coutinho, como, aliás, de todo o “Coletivo”. Mas, com um detalhe: Bandeira é, de longe, o mais perspicaz e inteligente assessor de RC, e por isso pode ensaiar voos próprios, mesmo com limitada capacidade de manobra.

E, se isso pode ser considerada sua principal qualidade, pode ser também sua desgraça. Bandeira é um ótimo “operador político”, mas, ao que parece, sua atuação não o permitiu ir além disso. Bandeira foi decisivo, por exemplo, na estratégia que primeiro levou RC à Prefeitura e, depois, ao Governo do Estado. E isso não apenas por dentro da imprensa.

Foi ele o principal defensor no interior do “Coletivo” da aliança com Cássio Cunha Lima, quando boa parte do agrupamento torcia o nariz para ela, colocando seu pescoço na guilhotina naquela que era uma operação de alto risco, mas que resultou na vitória que catapultou RC à condição de principal protagonista político da Paraíba, ao lado de Veneziano Vital. Nesses momentos-chave, qual a contribuição de Luciano Agra ou Estelizabel Bezerra?

Entretanto, mesmo com todas esses relevantes serviços prestados, Nonato Bandeira foi preterido por duas vezes seguidas. A primeira, na reeleição de RC, quando este indicou Luciano Agra para vice, mesmo sabendo de suas limitações políticas. Agora, na sucessão de Agra, Bandeira novamente viu seus projetos irem para o ralo quando Eslelizabel Bezerra foi ungida candidata do governador e do prefeito de João Pessoa.

Duas vezes preterido, não é a toa que Bandeira insiste em espernear, mesmo sabendo de suas limitadas chances. A não ser que tudo mude, ou seja, RC mude de opinião, o Secretário de Comunicação do governo tem reduzidas chances de assumir a condição de candidato situacionista. E eu passo a levantar a seguir alguns motivos.

O primeiro, é a indisposição de RC. Na origem disso, existem alguns aspectos que transcendem as desconfianças do governador em relação a Bandeira e que se localizam, de uma lado, na capacidade de agregação do candidato do PPS, bem como na estratégia eleitoral que RC monta.

Quanto ao primeiro aspecto, é relevante ressaltar que Nonato Bandeira conta com a firme oposição do prefeito Luciano Agra, seu adversário dentro do “Coletivo”, ao seu nome. E isso, por si só, é um óbice cujas dificuldades de superação parecem intransponíveis.

Esse conflito entre Agra e Bandeira se desenrola desde a primeira administração ricardista na prefeitura e chegou ao seu ápice na definição do candidato a vice-prefeito na eleição de 2008, quando Luciano Agra venceu a “disputa” no interior do Coletivo. Nesse aspecto, considero que Agra engoliria qualquer coisa, menos Nonato Bandeira candidato. E trata-se de ninguém menos que o prefeito da cidade, que renunciou à disputa da reeleição em nome do “projeto do PSB”.

Um outro aspecto relevante a depor contra a candidatura de Nonato Bandeira são suas dificuldades de ampliar o arco de apoio de sua eventual candidatura. Sendo do PPS, partido de oposição ao governo Dilma e ao PT, Bandeira candidato anularia a possibilidade de ter o PT como aliado, não apenas no primeiro, mas também no segundo turno.

E se o candidato a ser enfrentado no segundo turno for José Maranhão, do PMDB, as chances de um candidato do PPS ter apoio do PT numa disputa para prefeito de capital seriam ZERO. E, numa disputa que promete ser acirradíssima, esse apoio pode ser decisivo, inclusive se vier no pacote a presença no palanque do hoje carequinha Lula.

É bom lembrar que o PPS não faz oposição apenas ao governo Dilma – aliás, uma oposição mais enfática do que a que fazem PSDB e Dem, – mas ao de Eduardo Campos, em Pernambuco, estado originário das duas principais lideranças do PPS, Roberto Freire e Raul Jungmann, ambos deputados federais.

É por esse motivo que o PPS, sem a candidatura de Nonato, tende a apoiar inclusive o oposicionista Cícero Lucena, por mais que esperneiem os cassistas alojados no partido. Bandeira pena também por ter sido alojado fora do PSB e num partido de oposição.

Uma terceira e última dificuldade para Nonato Bandeira é quanto ao perfil do candidato. Estelizabel Bezerra é considerada “técnica” e mulher; Bandeira é “político” e, numa eleição que tende a ser dominada por homens, não agrega muito ser mais um deles. A estratégia ricardista, além da defesa da administração atual, é centrar o debate na história e nas características pessoais dos candidatos.

Enfim, Bandeira deve se contentar com o papel que tem hoje na política e na administração, que, aliás, não é pequeno. Sua insistência em manter a candidatura o fragilizará ainda mais diante do governador e do “coletivo”. Resta-lhe retira-la imediatamente para estancar o “fogo amigo” e depois abandonar o PPS, um partido da nova direita brasileira.

Nonato Bandeira não tem asas para um voo próprio por um outro motivo, este bem mais simples: sem Ricardo Coutinho, o que sobraria dele, afinal? Nesse caso, até Armando Abílio conseguiria adivinhar o futuro de Bandeira. Longe dele, de preferência.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Os problemas de Estelizabel

Na postagem anterior, tratamos das qualidades da nova candidata do PSB, Estelizabel Bezerra, especialmente comparada com o atual prefeito, Luciano Agra. Agora, tratemos das dificuldades que ela deve enfrentar na trajetória para a prefeitura.

O debate sobre a corrupção



Fazenda Cuiá: desapropriação em tempo recorde e valores questionados pelo MP


Um primeiro aspecto a ser ressaltado diz respeito ao contraponto que normalmente era utilizado pelo padrinho da nova candidata do PSB, Ricardo Coutinho, para se diferenciar dos outros candidatos: Estelizabel Bezerra dificilmente poderá fazer uso do discurso da “ética” para ressaltar seus atributos como candidata.

Isso porque a atual administração pessoense está acuada por denúncias de superfaturamento e, em pelo menos uma delas, o caso da Fazenda Cuiá, já existe uma ação do Ministério Público contra a desapropriação do terreno, que custou R$ 10.792.500, e que, segundo o MP, valeria na realidade R$ 3.783.784.

Além do sobrepreço de mais de sete milhões, o terreno em questão é área de proteção ambiental, o que não permitiria a desapropriação para outros usos. Acresça-se a isso o fato da transação ter sido realizada nos estertores da disputa para o Governo da Paraíba, em 2010, disputa que, como todos sabem, envolveu o ex-prefeito de João Pessoa, a quem o principal fiador da negociação, Luciano Agra, sucedeu.

O problema para o PSB é que a ação do Ministério Público dá outra conotação à denúncia, antes tratada como de interesse eleitoral para os adversários do PSB. Provavelmente, em 2012 essa questão será esmiuçada em detalhes, e nós não sabemos ainda a amplitude do impacto que ela terá no eleitorado.

Outras questões de menos relevo no debate sobre corrupção, que deve dominar os debates eleitorais neste ano, provavelmente serão apresentas pela oposição para demonstrar que o caso do Cuiá, o “calcanhar de Aquiles” dos ricardistas, não foi um caso isolado. Enfim, Estelizabel Bezerra poderá contra-atacar, mas apenas para se defender, e não mais para mostra-se uma candidata “diferente”, aspecto que RC cultivou durante toda sua vida pública.
Interesse público na ocupação do espaço urbano

 
A desapropriação da Fazenda Cuiá guarda outras ramificações com outra questão em que não se observou grandes mudanças nos oito anos de gestão socialista: a questão da ocupação do espaço urbano e sua associação com os interesses comerciais e imobiliários. 

Nesse ponto, o caso tão rumoroso quanto do Cuiá, e ainda pouco explicado, como foi a desapropriação do Aeroclube do Bessa pode ser um ponto de partida para um debate de grande envergadura na eleição de 2012. 



Pista do Aeroclube destruída. Para quê tanta pressa?
Se no caso da Fazenda Cuiá, a situação foi resolvida através de um “acerto consensual” entre as partes, no caso do Aeroclube a pressa da Prefeitura em colocar abaixo um bem privado, encrustado numa das áreas mais valorizadas da capital paraibana e próxima de grandes empreendimentos comerciais, como o Manaíra Shopping, deixou dúvidas na cabeça do cidadão comum se aquela ação estava orientada pelo interesse público ou foi movida por outros interesses menos nobres.

A ação da prefeitura pessoense foi justificada à época pela insegurança que um aeroporto causa, mesmo destinado à pequenas aeronaves, por estar instalado em área densamente povoada – fosse, por exemplo, a Tam que o utilizasse quem teria coragem de agir, como acontece com o Aeroporto de Congonhas, que é localizado no coração de São Paulo?

Nessa pendenga, não se levou em conta a ocupação irregular de prédios que foram construídos naquelas imediações nem o interesse de outras empresas em adquirir o terreno para nele construir um outro shopping.

A solução mais fácil foi destruir a pista do Aeroclube e oferecer de imediato a simpática ideia, especialmente para os moradores e futuros moradores da área, de substituir o feio Aeroclube pela construção de um parque ecológico.

Faltou dizer, entretanto, que com essa ação os poderosos interesses combinados de Roberto Santiago e dos donos de construtoras seriam atendidos – se é que os dois não sejam também uma coisa só: o Manaíra Shopping continuaria monopolizando comercialmente a região e que mais da metade da área desapropriada seria vendida para a construção de prédios residenciais nas imediações do parque.

A questão de Aeroclube pode ser didática para apresentar o grave problema da forma como o espaço urbano pessoense foi ocupado nos últimos anos, questão que existia antes da ascensão de RC ao cargo de Prefeito, mas que se aprofundou despois disso.

Vejam o que aconteceu no Altiplano, com o verdadeiro paredão de edifícios que se constrói atualmente, alguns com mais de 40 andares (!), como o que Luíza, que estava no Canadá, ganhou de presente, por ser apenas Luíza, e por estar no Canadá no período que seu pai produzia um anúncio para a TV – bobagens que enriquecem...

O apreço da cidade por preservar-se evitando a construção de “espigões” para preservar do seu bem estar estão indo pro beleléu, tudo em nome do interesse de grandes construtoras.

A questão nesse debate será: José Maranhão, Cícero Lucena ou Luciano Cartaxo – se este for candidato – serão um contraponto a isso ou se deixarão levar pelos interesses de potenciais financiadores de campanha? Seria esse, por exemplo, um bom momento para José Maranhão mostrar que ser novo não é ser moderno...

Mobilidade urbana: para onde vai João Pessoa?

Eis uma questão que eu gostaria de ter uma resposta durante os debates de 2012. Pelo menos em termos de mobilidade urbana, a grande questão é saber onde nós estaremos daqui a 10 anos.  E, também nesse debate, uma coisa é certa: não dá para compatibilizar os interesses dos donos de empresas de transporte com as soluções para enfrentar o caos que já se instala nas vias públicas de João Pessoa.



Paredão do Altiplano


No anúncio das ações destinadas a melhorar o trânsito pessoense feitas pelo prefeito Luciano Agra no ano passado não foi mencionado os VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), se restringido ele à preferência pelo BRT (Bus Rapid Transit) e à crítica à implantação do Metrô. Segundo Agra, ainda há muito a desenvolver no sistema atual, baseado exclusivamente em ônibus.

Agra só esqueceu de mencionar que esse sistema (o BRT), já está em saturação na cidade que o criou há quase 40 anos atrás, Curitiba! A capital paranaense tinha, à época, uma população um pouco menor (650 mil hab.) da que João Pessoa tem atualmente.

Mas, certamente, não tinha a quantidade de automóveis que trafegam pelas ruas de capital paraibana nesse ano da graça de 2011. Há 40 anos, a quantidade de veículos não era um grave problema para cidades do porte de Curitiba, mas hoje se constitui na origem de toda problemática de trânsito, problema que se aprofundou nos últimos anos com o aumento do consumo e da produção de veículos.

Um detalhe fundamental também não pode ser esquecido: Curitiba é uma cidade que se preparou para o futuro planejando o seu crescimento urbano. Nesse caso, estamos pelos menos uns 40 anos atrasados em relação à capital paranaense e a prova disso é que estamos pensando em soluções da década de 1970.

O BRT também foi pensado como solução para o trânsito de São Paulo na década de 1990 durante a gestão Pitta-Maluf (o Fura-fila). E tornou-se apenas um paliativo, e os problemas com o trânsito só fazem se aprofundar, especialmente por conta dos baixo investimento em novas linhas de metrô.

E se o metrô é uma questão para o futuro (próximo) – quanto tempo leva para construir um sistema desses? – o VLT é uma questão do presente. Comparado com o BRT, o VLT tanto é uma solução mais eficiente, porque é mais rápido, quanto é mais barata, se considerarmos os seus impactos de longo prazo.

Além disso, ele é movido por uma energia limpa, diferente dos poluidores ônibus que enfeiam e poluem nossa cidade.

Mas, quem terá coragem de confrontar os poderosos interesses dos empresários de transporte público?

Enfim, são essas as grandes questões que espero serem debatidas em 2012. Estelizabel Bezerra será confrontadas com elas e terá que oferecer respostas. Delas depende o futuro de sua candidatura.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

As chances de Estelizabel


O anúncio de Estelizabel Bezerra como candidata à sucessão do prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, traz promove grandes alterações na disputa eleitoral desse ano. A primeira delas, é no perfil da candidata.

Diferentemente de Agra, Estelizabel é mais eloquente e mesmo sem ser uma “brastemp”, está há anos-luz do sucedido por ela. Dessa maneira, seja na campanha de TV seja nos debates, teremos uma candidata com muito mais potencial para defender a administração iniciada pelo governador Ricardo Coutinho. Agra era pouco objetivo e normalmente se perdia nos labirintos da insegurança e da frágil memória quando falava de sua própria administração. Sequer dominava os dados dela.

Nesse aspecto, Bezerra, que é a atual Secretária de Planejamento, não terá dificuldades em mostrar os dados, que certamente domina, de uma administração cuja aprovação supera os 60%, isso, sem entrar no mérito delas, em meio a todo tipo de denúncia a que foi submetida no último ano.

Boa avaliação que a própria imprensa de oposição deve ter ajudado a elevar mais ainda quando fez coro com um esforço de vitimização do prefeito Luciano Agra em sua relação com Ricardo Coutinho. O prefeito foi descrito como uma vítima do “coletivo”, como ingênuo “técnico” que se afogou na ambição de RC, como se Agra fosse um ogro. É bom lembrar que não fosse sua dedicação a Coutinho, o atual prefeito continuaria sendo um bom técnico da prefeitura, e nada mais. O homem virou prefeito pelo desejo de RC. Dessa pendenga, Agra sairá com a imagem recauchutada e com mais condições de ajudar sua companheira de partido. E tão fiel ao PSB e a RC quanto antes.  

Um segundo aspecto do perfil da nova candidata é ser ela mulher – e tão “técnica” quanto Agra e Dilma Rousseff, aspecto que encanta setores da classe média e mesmo de boa parte da imprensa. Ser mulher confere um charme e uma doçura que não combinava com a imagem de Luciano Agra, que não consegui imprimir emoção em suas declarações. Diante de um quadro em que os principais candidatos de oposição são homens, ser mulher pode ser uma atributo que pode ser notado pelo eleitor.

Um terceiro aspecto é que, mesmo atuando nos meandros da administração municipal há quase oito anos, Estelizabel Bezerra não pode ser considerada um quadro tradicional da política pessoense, como são Maranhão, Lucena e Cartaxo, todos com passagens por administrações, à exceção do candidato petista, que tem contra si o fato de ter sido nada mais nada menos que o líder na Câmara de Vereadores da primeira administração ricardista, tendo sido Vice-Governador e hoje deputado estadual. Enfim, esse será certamente um aspecto que será explorado pela campanha do PSB. Se terá um efeito decisivo, como teve em 2010, será uma outra história.

Por fim, Estelizabel Bezerra será a candidata de duas poderosas máquinas administrativas, a da prefeitura de João Pessoa e a do Governo do Estado. A eleição de 2010 demonstrou que isso por si só não basta, mas tem um peso inquestionável na hora de fazer campanha e arrebanhar apoios. E é algo que tanto José Maranhão quanto Cícero Lucena sabem o peso que tem numa disputa.

Vencido o óbice das limitações do candidato, Ricardo Coutinho e o PSB vão partir com toda força para o segundo estágio de sua estratégia: fazer Estlizabel Bezerra uma candidata conhecida e, se possível, levá-la pelo menos ao mesmo desempenho nas pesquisas a que chegou Luciano Agra, empatado que estava com José Maranhão e Cícero Lucena.

Na próxima postagem, analisarei os problemas e as possíveis dificuldades que enfrentará a candidata do PSB nessa disputa e que podem deixar esse jogo aberto e cheios de possibilidades até a apuração do último voto. Em seguida, falarei sobre as candidaturas de Cícero Lucena e José Maranhão. Depois eu volto.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Candidatura de Luciano Agra sucumbiu às suas próprias limitações eleitorais


No início de setembro do ano passado, escrevi um artigo para uma coluna que mantinha no extinto e pouco longevo site pontocríticopb intitulado Candidatura de Luciano Agra no fio da navalha, ocasião em que analisei as dificuldades da candidatura do prefeito pessoense. Entre outras coisa, escrevi:

“Nesse momento, os esforços atuais do prefeito tem em vista não a campanha em si, que só estará na rua daqui a uns nove meses, mas a disputa interna dentro do partido do governador, cujo controle que este exerce sobre o PSB é inquestionável”

Entre os problemas que enfrentava Agra, identifiquei, além da relação pouco amistosa com a retórica, a ausência de um estilo próprio de governar. O resultado era um desempenho frágil nas pesquisas do atual prefeito, associado a índices expressivos dos principais adversários e peso pesados da política paraibana, Cícero Lucena e José Maranhão.

Diante de um quadro não muito alvissareiro para o projeto político do governador Ricardo Coutinho, cuja derrota no principal reduto político e maior colégio eleitoral do estado seria um sério golpe para suas pretensões de reeleição, colocava em risco a candidatura de Agra.

Em setembro do ano passado, Agra começava a colocar a campanha na rua

Sobre essa questão, escrevi ainda no mesmo artigo:


“(...) Caso esse quadro persista e na medida em que o ano avance para o seu fim, a possibilidade de Luciano Agra ser substituído não pode ser desprezada.”

“Porque essa disputa será encarada pelo governador Ricardo Coutinho como de vida ou morte para o seu projeto de reeleição em 2014. Sendo assim, Coutinho precisará de um candidato que se mostre capaz não apenas de encarar o pleito, mas de vencê-lo.”

(...)Por isso, o desafio de Luciano Agra é mostrar-se viável primeiro para o PSB, o que significa dizer, Ricardo Coutinho. Ou seja, ele precisa desesperadamente ganhar fôlego eleitoral para que a contestação ao seu nome dentro do PSB não chegue ao ponto de se tornar irreversível.”

Enfim, apesar de considerar a hipótese da renúncia à candidatura pouco provável de acontecer, já que em qualquer outra situação que envolvesse um outro prefeito no cargo desejoso de postular sua reeleição tornaria isso um fato quase que consumado, não me surpreendi com o anúncio da desistência. Talvez porque eu tenha subestimado o senso de resignação de Agra.

Seu argumento para justificar a desistência (dedicar-se à administração) não encontra guarida nos esforços recentes do prefeito para ter maior visibilidade. No início de janeiro, portanto, há apenas poucos dias atrás, o prefeito brindou seus concidadãos com uma série de entrevistas concedidas a diversas rádios em que falou da administração, polarizou com Cícero Lucena, colocando em andamento uma estratégia eleitoral que deve ter continuidade, e reafirmou sua candidatura. O prefeito era e desejava ser candidato, não tenho dúvidas.

E talvez tenham sido exatamente essas entrevistas a pá de cal na candidatura do prefeito. Apesar de uma melhora patente na retórica, Agra precisaria avançar muito ainda para não comprometer sua candidatura durante a campanha, especialmente nos debates. E foram eles que ajudaram a definir a eleição em 2010, pelo menos no primeiro turno.

E o prazo para que os esforços do prefeito pessoense impulsionar a candidatura tivessem efeito deve ter se encerrado depois que resultados de pesquisas qualitativas e quantitativas pousaram nas mãos do governador. E os resultados não devem ter agradado em nada a RC. E isso certamente definiu o futuro de Agra como candidato e desaguou no anúncio feito no último sábado.

Aposto em Estelisabel

Como soldado fiel e disciplinado, Luciano Agra abandonou seu projeto para que o projeto mais geral do PSB não fosse comprometido. A questão mais relevante agora é saber quem vai sucedê-lo como candidato. Apostaria todas as minhas fichas em Estelaisabel Bezerra, atual Secretária de Planejamento da Prefeitura.

Estlizabel: a escolhida?

Primeiro, por ser mulher, aspecto que começa a ganhar relevo nesse tipo de escolha depois da eleição da primeira mulher presidente; segundo, porque tem um discurso articulado; terceiro, porque, depois do vereador Bira, parece ser ela o quadro mais agregador do coletivo; e por último, mas não menos importante, é da estrita confiança tanto de RC quanto de Luciano Agra - acredito que Agra vai exercer pelo menos o poder de veto nessa escolha.

Essa definição deve ser anunciada com a maior brevidade possível, pois o tempo urge. E não será uma tarefa fácil construir do zero uma candidatura já no ano da eleição.

Mas que ninguém se engane: seja quem for, estará no segundo turno.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O novo status político de Cássio Cunha Lima



Daremos continuidade à análise começada na última postagem sobre as três grandes tendências da política paraibana. Começamos com o PT. Agora, trataremos do papel do Ex-governador e atual Senador pelo PSDB, Cássio Cunha Lima.

Como eu já adiantei, considero que a manutenção da aliança PSDB/PSB no governo tende a tornar Cássio figura caudatária da polarização que se consolida a cada dia entre o governador Ricardo Coutinho e o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital.

Essa tese, como eu esperava, não tem nada de consensual entre os observadores mais atentos da cena política paraibana. Muito pelo contrário, em certo sentido ela nada contra a corrente, pois o senador tucano saiu fortalecido depois da eleição de 2010, não apenas porque se elegeu e tomou posse, mas porque para muitos foi o grande responsável pela vitória ricardista.

Daí porque recebi a honrosa discordância de Rubens Nóbrega que, via i-meio, saudou a retomada do blog e divergiu “quanto às possibilidades futuras de Cássio. Acho que ele ainda tem gás para continuar na proa desse barco à deriva chamado Paraíba.” Outro importante analista que fez referência a essa opinião foi Gilvan Freire que em seu último artigo para o WSCOM (clique aqui) sugere meditação sobre ela. Um dos leitores do blog (Zé Mário) postou um comentário dizendo que iria esperar pelo texto que agora é publicado: “O que já foi adiantado [sobre Cássio] vai contra todas as expectativas”, finalizou ele.

Cássio pode ter caído em sua própria armadilha

Em 2010, Cássio Cunha Lima agiu como sobrevivente ou agiu com o único objetivo de evitar a vitória de José Maranhão e o PMDB aliando-se a um antigo adversário político? Não acho que a motivação cassista tenha sido o rancor, mesmo que por vezes a disputa política na Paraíba tenha ganhado ares de uma contenda pessoal. Até 2008, o cassismo caminhava para um inevitável isolamento, tanto nacionalmente como localmente.

À exceção dos aliados tradicionais, como o Dem de Efraim Moraes e os cassistas espalhados por todos os partidos, Cunha Lima não tinha expectativa de ampliar sua base de apoio e tenderia a ficar isolado à direita num Nordeste onde a esquerda se fortalecia cada vez mais. Por isso, quebrar a unidade do bloco liderado pelo PMDB, que até 2008 reuniu José Maranhão, Veneziano Vital e Ricardo Coutinho num mesmo palanque, era estratégico para as pretensões de Cunha Lima.

Especialmente porque evitaria que Veneziano Vital e RC fossem candidatos numa mesma chapa para o Senado, em apoio a José Maranhão para o governo, o que, ninguém duvida, seria uma chapa quase imbatível.

Por esse motivo, como já analisamos neste blog, Cunha Lima iniciou uma aproximação com o então prefeito de João Pessoa antes mesmo da eleição de 2008 e que acabou resultando na coligação vitoriosa entre PSDB-PSB para o Governo da Paraíba e em sua eleição para o Senado.

Acontece que a grande e principal mudança que a eleição de Ricardo Coutinho promoveu foi a ascensão das duas grandes lideranças políticas gestadas até 2004 e que depois do resultado assumiram a condição de figuras de proa da política paraibana. De alguma maneira, o cassismo dependia do maranhismo para dar sobrevida à gangorra política que alimentou as disputas eleitorais na Paraíba de 1990 para cá.

E vice-versa. Foram 30 anos, desde que Ronaldo Cunha Lima se elegeu governador em 1990, em que o estado da Paraíba foi governado por esses dois grupos políticos, e continuaria assim caso José Maranhã tivesse logrado êxito em sua postulação ao governo em 2010. E se assim fosse, Cássio Cunha Lima continuaria sendo o único contraponto de peso a arregimentar o projeto oposicionista, dando a ele expectativa de poder no contraponto a José Maranhão.

A vitória ricardista quebrou a gangorra e colocou o atual governador na liderança de um grupo político do qual faz parte o senador Cássio Cunha Lima e, se sua administração não for um fracasso, assumirá a condição de candidato “natural” do grupo, mesmo com o beicinho que fazem muitos cassistas hoje. Estes não devem se preocupar, pois, para quem conhece o modus operandi ricardista, uma parte expressiva deles será acomodada no devido tempo e lugar.

E caso o governo RC seja uma tragédia, quem tem mais potencial para liderar uma chapa oposicionista, Veneziano Vital ou Cássio Cunha Lima? Quem vem assumindo a condição de maior antagonista da administração de RC, um antagonismo que é alimentado intencionalmente pelos próprios ricardistas, quando compram a disputa pública com Veneziano Vital? Cunha Lima terá condições morais de se reivindicar oposicionista no futuro com esse espaço em grande medida ocupado por Vital do Rego hoje? Enfim, o espaço da oposição já tem dono.

No caso da substituição de lideranças, o mesmo aconteceu no PMDB. A ascensão de Veneziano Vital à condição de maior liderança do partido no estado só aconteceu por conta da derrota de José Maranhão. Caso o ex-governador tivesse vencido, Veneziano teria que esperar um pouco mais para assumir essa condição. E em quatro anos acontece muita coisa. Hoje, Veneziano Vital é o candidato de consenso do PMDB a governador em 2014.

Ou seja, não sobram muitas alternativas a Cássio Cunha Lima a não ser observar o desenrolar da administração ricardista, mantendo um silêncio estratégico, inclusive sobre acontecimentos vitais transcorridos no governo. Silêncio que motiva acenos do próprio PMDB, e do próprio José Maranhão, que amansou bastante o discurso em relação ao seu ex-maior adversário. Há inclusive quem defenda uma aliança de Cássio Cunha Lima e Veneziano Vital, em apoio a este último, em 2014.

Enfim, Cássio Cunha Lima transformou-se numa noiva do qual só se espera apoio. Tanto do lado do ricardismo quanto do lado de Veneziano Vital. Mas quem faz isso não se enxerga nele (Cunha Lima) uma alternativa real, pelo menos por enquanto e até que ele rompa com o atual governador, o que, se um dia acontecer, não será antes de 2012.

Cunha Lima passou por muitas turbulências políticas e pessoais nos últimos anos. Talvez ele ganhe um pouco de calma em sua vida. A calma daqueles que tem importância política, mas estão fora do jogo. Pelo menos por enquanto.

Depois eu volto para tratar da polarização Veneziano Vital-RC.