O debate sobre a corrupção
Fazenda Cuiá: desapropriação em tempo recorde e valores questionados pelo MP |
Um primeiro aspecto a ser ressaltado diz respeito ao contraponto que normalmente era utilizado pelo padrinho da nova candidata do PSB, Ricardo Coutinho, para se diferenciar dos outros candidatos: Estelizabel Bezerra dificilmente poderá fazer uso do discurso da “ética” para ressaltar seus atributos como candidata.
Isso porque a atual administração pessoense está acuada por denúncias de superfaturamento e, em pelo menos uma delas, o caso da Fazenda Cuiá, já existe uma ação do Ministério Público contra a desapropriação do terreno, que custou R$ 10.792.500, e que, segundo o MP, valeria na realidade R$ 3.783.784.
Além do sobrepreço de mais de sete milhões, o terreno em questão é área de proteção ambiental, o que não permitiria a desapropriação para outros usos. Acresça-se a isso o fato da transação ter sido realizada nos estertores da disputa para o Governo da Paraíba, em 2010, disputa que, como todos sabem, envolveu o ex-prefeito de João Pessoa, a quem o principal fiador da negociação, Luciano Agra, sucedeu.
O problema para o PSB é que a ação do Ministério Público dá outra conotação à denúncia, antes tratada como de interesse eleitoral para os adversários do PSB. Provavelmente, em 2012 essa questão será esmiuçada em detalhes, e nós não sabemos ainda a amplitude do impacto que ela terá no eleitorado.
Outras questões de menos relevo no debate sobre corrupção, que deve dominar os debates eleitorais neste ano, provavelmente serão apresentas pela oposição para demonstrar que o caso do Cuiá, o “calcanhar de Aquiles” dos ricardistas, não foi um caso isolado. Enfim, Estelizabel Bezerra poderá contra-atacar, mas apenas para se defender, e não mais para mostra-se uma candidata “diferente”, aspecto que RC cultivou durante toda sua vida pública.
Interesse público na ocupação do espaço urbano
A desapropriação da Fazenda Cuiá guarda outras ramificações com outra questão em que não se observou grandes mudanças nos oito anos de gestão socialista: a questão da ocupação do espaço urbano e sua associação com os interesses comerciais e imobiliários.
Nesse ponto, o caso tão rumoroso quanto do Cuiá, e ainda pouco explicado, como foi a desapropriação do Aeroclube do Bessa pode ser um ponto de partida para um debate de grande envergadura na eleição de 2012.
Pista do Aeroclube destruída. Para quê tanta pressa? |
A ação da prefeitura pessoense foi justificada à época pela insegurança que um aeroporto causa, mesmo destinado à pequenas aeronaves, por estar instalado em área densamente povoada – fosse, por exemplo, a Tam que o utilizasse quem teria coragem de agir, como acontece com o Aeroporto de Congonhas, que é localizado no coração de São Paulo?
Nessa pendenga, não se levou em conta a ocupação irregular de prédios que foram construídos naquelas imediações nem o interesse de outras empresas em adquirir o terreno para nele construir um outro shopping.
A solução mais fácil foi destruir a pista do Aeroclube e oferecer de imediato a simpática ideia, especialmente para os moradores e futuros moradores da área, de substituir o feio Aeroclube pela construção de um parque ecológico.
Faltou dizer, entretanto, que com essa ação os poderosos interesses combinados de Roberto Santiago e dos donos de construtoras seriam atendidos – se é que os dois não sejam também uma coisa só: o Manaíra Shopping continuaria monopolizando comercialmente a região e que mais da metade da área desapropriada seria vendida para a construção de prédios residenciais nas imediações do parque.
A questão de Aeroclube pode ser didática para apresentar o grave problema da forma como o espaço urbano pessoense foi ocupado nos últimos anos, questão que existia antes da ascensão de RC ao cargo de Prefeito, mas que se aprofundou despois disso.
Vejam o que aconteceu no Altiplano, com o verdadeiro paredão de edifícios que se constrói atualmente, alguns com mais de 40 andares (!), como o que Luíza, que estava no Canadá, ganhou de presente, por ser apenas Luíza, e por estar no Canadá no período que seu pai produzia um anúncio para a TV – bobagens que enriquecem...
O apreço da cidade por preservar-se evitando a construção de “espigões” para preservar do seu bem estar estão indo pro beleléu, tudo em nome do interesse de grandes construtoras.
A questão nesse debate será: José Maranhão, Cícero Lucena ou Luciano Cartaxo – se este for candidato – serão um contraponto a isso ou se deixarão levar pelos interesses de potenciais financiadores de campanha? Seria esse, por exemplo, um bom momento para José Maranhão mostrar que ser novo não é ser moderno...
Mobilidade urbana: para onde vai João Pessoa?
Eis uma questão que eu gostaria de ter uma resposta durante os debates de 2012. Pelo menos em termos de mobilidade urbana, a grande questão é saber onde nós estaremos daqui a 10 anos. E, também nesse debate, uma coisa é certa: não dá para compatibilizar os interesses dos donos de empresas de transporte com as soluções para enfrentar o caos que já se instala nas vias públicas de João Pessoa.
Paredão do Altiplano |
No anúncio das ações destinadas a melhorar o trânsito pessoense feitas pelo prefeito Luciano Agra no ano passado não foi mencionado os VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), se restringido ele à preferência pelo BRT (Bus Rapid Transit) e à crítica à implantação do Metrô. Segundo Agra, ainda há muito a desenvolver no sistema atual, baseado exclusivamente em ônibus.
Agra só esqueceu de mencionar que esse sistema (o BRT), já está em saturação na cidade que o criou há quase 40 anos atrás, Curitiba! A capital paranaense tinha, à época, uma população um pouco menor (650 mil hab.) da que João Pessoa tem atualmente.
Mas, certamente, não tinha a quantidade de automóveis que trafegam pelas ruas de capital paraibana nesse ano da graça de 2011. Há 40 anos, a quantidade de veículos não era um grave problema para cidades do porte de Curitiba, mas hoje se constitui na origem de toda problemática de trânsito, problema que se aprofundou nos últimos anos com o aumento do consumo e da produção de veículos.
Um detalhe fundamental também não pode ser esquecido: Curitiba é uma cidade que se preparou para o futuro planejando o seu crescimento urbano. Nesse caso, estamos pelos menos uns 40 anos atrasados em relação à capital paranaense e a prova disso é que estamos pensando em soluções da década de 1970.
O BRT também foi pensado como solução para o trânsito de São Paulo na década de 1990 durante a gestão Pitta-Maluf (o Fura-fila). E tornou-se apenas um paliativo, e os problemas com o trânsito só fazem se aprofundar, especialmente por conta dos baixo investimento em novas linhas de metrô.
E se o metrô é uma questão para o futuro (próximo) – quanto tempo leva para construir um sistema desses? – o VLT é uma questão do presente. Comparado com o BRT, o VLT tanto é uma solução mais eficiente, porque é mais rápido, quanto é mais barata, se considerarmos os seus impactos de longo prazo.
Além disso, ele é movido por uma energia limpa, diferente dos poluidores ônibus que enfeiam e poluem nossa cidade.
Mas, quem terá coragem de confrontar os poderosos interesses dos empresários de transporte público?
Enfim, são essas as grandes questões que espero serem debatidas em 2012. Estelizabel Bezerra será confrontadas com elas e terá que oferecer respostas. Delas depende o futuro de sua candidatura.
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