segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O novo status político de Cássio Cunha Lima



Daremos continuidade à análise começada na última postagem sobre as três grandes tendências da política paraibana. Começamos com o PT. Agora, trataremos do papel do Ex-governador e atual Senador pelo PSDB, Cássio Cunha Lima.

Como eu já adiantei, considero que a manutenção da aliança PSDB/PSB no governo tende a tornar Cássio figura caudatária da polarização que se consolida a cada dia entre o governador Ricardo Coutinho e o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital.

Essa tese, como eu esperava, não tem nada de consensual entre os observadores mais atentos da cena política paraibana. Muito pelo contrário, em certo sentido ela nada contra a corrente, pois o senador tucano saiu fortalecido depois da eleição de 2010, não apenas porque se elegeu e tomou posse, mas porque para muitos foi o grande responsável pela vitória ricardista.

Daí porque recebi a honrosa discordância de Rubens Nóbrega que, via i-meio, saudou a retomada do blog e divergiu “quanto às possibilidades futuras de Cássio. Acho que ele ainda tem gás para continuar na proa desse barco à deriva chamado Paraíba.” Outro importante analista que fez referência a essa opinião foi Gilvan Freire que em seu último artigo para o WSCOM (clique aqui) sugere meditação sobre ela. Um dos leitores do blog (Zé Mário) postou um comentário dizendo que iria esperar pelo texto que agora é publicado: “O que já foi adiantado [sobre Cássio] vai contra todas as expectativas”, finalizou ele.

Cássio pode ter caído em sua própria armadilha

Em 2010, Cássio Cunha Lima agiu como sobrevivente ou agiu com o único objetivo de evitar a vitória de José Maranhão e o PMDB aliando-se a um antigo adversário político? Não acho que a motivação cassista tenha sido o rancor, mesmo que por vezes a disputa política na Paraíba tenha ganhado ares de uma contenda pessoal. Até 2008, o cassismo caminhava para um inevitável isolamento, tanto nacionalmente como localmente.

À exceção dos aliados tradicionais, como o Dem de Efraim Moraes e os cassistas espalhados por todos os partidos, Cunha Lima não tinha expectativa de ampliar sua base de apoio e tenderia a ficar isolado à direita num Nordeste onde a esquerda se fortalecia cada vez mais. Por isso, quebrar a unidade do bloco liderado pelo PMDB, que até 2008 reuniu José Maranhão, Veneziano Vital e Ricardo Coutinho num mesmo palanque, era estratégico para as pretensões de Cunha Lima.

Especialmente porque evitaria que Veneziano Vital e RC fossem candidatos numa mesma chapa para o Senado, em apoio a José Maranhão para o governo, o que, ninguém duvida, seria uma chapa quase imbatível.

Por esse motivo, como já analisamos neste blog, Cunha Lima iniciou uma aproximação com o então prefeito de João Pessoa antes mesmo da eleição de 2008 e que acabou resultando na coligação vitoriosa entre PSDB-PSB para o Governo da Paraíba e em sua eleição para o Senado.

Acontece que a grande e principal mudança que a eleição de Ricardo Coutinho promoveu foi a ascensão das duas grandes lideranças políticas gestadas até 2004 e que depois do resultado assumiram a condição de figuras de proa da política paraibana. De alguma maneira, o cassismo dependia do maranhismo para dar sobrevida à gangorra política que alimentou as disputas eleitorais na Paraíba de 1990 para cá.

E vice-versa. Foram 30 anos, desde que Ronaldo Cunha Lima se elegeu governador em 1990, em que o estado da Paraíba foi governado por esses dois grupos políticos, e continuaria assim caso José Maranhã tivesse logrado êxito em sua postulação ao governo em 2010. E se assim fosse, Cássio Cunha Lima continuaria sendo o único contraponto de peso a arregimentar o projeto oposicionista, dando a ele expectativa de poder no contraponto a José Maranhão.

A vitória ricardista quebrou a gangorra e colocou o atual governador na liderança de um grupo político do qual faz parte o senador Cássio Cunha Lima e, se sua administração não for um fracasso, assumirá a condição de candidato “natural” do grupo, mesmo com o beicinho que fazem muitos cassistas hoje. Estes não devem se preocupar, pois, para quem conhece o modus operandi ricardista, uma parte expressiva deles será acomodada no devido tempo e lugar.

E caso o governo RC seja uma tragédia, quem tem mais potencial para liderar uma chapa oposicionista, Veneziano Vital ou Cássio Cunha Lima? Quem vem assumindo a condição de maior antagonista da administração de RC, um antagonismo que é alimentado intencionalmente pelos próprios ricardistas, quando compram a disputa pública com Veneziano Vital? Cunha Lima terá condições morais de se reivindicar oposicionista no futuro com esse espaço em grande medida ocupado por Vital do Rego hoje? Enfim, o espaço da oposição já tem dono.

No caso da substituição de lideranças, o mesmo aconteceu no PMDB. A ascensão de Veneziano Vital à condição de maior liderança do partido no estado só aconteceu por conta da derrota de José Maranhão. Caso o ex-governador tivesse vencido, Veneziano teria que esperar um pouco mais para assumir essa condição. E em quatro anos acontece muita coisa. Hoje, Veneziano Vital é o candidato de consenso do PMDB a governador em 2014.

Ou seja, não sobram muitas alternativas a Cássio Cunha Lima a não ser observar o desenrolar da administração ricardista, mantendo um silêncio estratégico, inclusive sobre acontecimentos vitais transcorridos no governo. Silêncio que motiva acenos do próprio PMDB, e do próprio José Maranhão, que amansou bastante o discurso em relação ao seu ex-maior adversário. Há inclusive quem defenda uma aliança de Cássio Cunha Lima e Veneziano Vital, em apoio a este último, em 2014.

Enfim, Cássio Cunha Lima transformou-se numa noiva do qual só se espera apoio. Tanto do lado do ricardismo quanto do lado de Veneziano Vital. Mas quem faz isso não se enxerga nele (Cunha Lima) uma alternativa real, pelo menos por enquanto e até que ele rompa com o atual governador, o que, se um dia acontecer, não será antes de 2012.

Cunha Lima passou por muitas turbulências políticas e pessoais nos últimos anos. Talvez ele ganhe um pouco de calma em sua vida. A calma daqueles que tem importância política, mas estão fora do jogo. Pelo menos por enquanto.

Depois eu volto para tratar da polarização Veneziano Vital-RC.

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