sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
2012: ano de Veneziano ou RC? Ato I: o PT
O título acima, que reinaugura as postagens desse blog depois de mais de um ano em hibernação, pretende demonstrar como eu penso as três grandes tendências da política paraibana hoje e que permearão os futuros embates polítcos paraibanos, em especial o de 2012 que se avizinha.
A primeira, é a irremediável polarização entre as duas principais lideranças que emergiram no pós-2004 e que caminham para ser os dois protagonistas principais da cena política paraibana nos próximos anos: Veneziano Vital e Ricardo Coutinho.
A segunda, decorrente da primeira, é o rebaixamento de Cássio Cunha Lima a, mesmo com a vitória para o Senado em 2010 e a recente posse, figura caudatária dessa polarização.
A terceira, é a consolidação do PT como partido sem projeto de poder e a reboque dos interesses externos à legenda.
A segunda e a terceira hipóteses decorrem da primeira. Em meio a essa polarização, cujo ápice acontecerá em 2014, todos esses atores serão ou já estão por ela consumidos. Veneziano Vital, pela liderança consolidada em todo o estado e única opção do maior partido paraibano, o PMDB, arrebanhará a oposição e o exército de descontentes que serão deixados pelo caminho ou desiludidas com a mudanças efetivadas; e Ricardo Coutinho, pela capacidade de "agregação" que o cargo de governador lhe dá, mesmo que implantando algumas mudanças de modo traumático, será candidato à reeleição, o que deixará poucos espaços para outros projetos.
Apresentadas as hipóteses principais, resta desenvolvê-las, o que faremos a partir de hoje e nas próximas duas postagens. Partiremos de trás para frente. Primeiro o PT, depois Cássio Cunha Lima e, por fim, a polarização Veneziano-Ricardo Coutinho.
Para onde pode ir o PT dividido?
O que chama mais a atenção em relação ao PT é o absoluto descompasso entre a situação que vive do partido nos planos nacional e estadual. Nacionalmente, o PT amplia sua hegemonia e é cada vez mais uma força de influência crescente, agora sob a liderança emergente de Dilma Rousseff, e que conta ainda com a força quase mítica de Lula, que deve emprestar todo o seu prestígio, agora livre das amarras do cargo de presidente e recauchutado pela vitória sobre o câncer, para avançar sobre o espólio tucano em São Paulo e ampliar a influência do PT em outros espaços.
No Nordeste, o PT se consolida cada vez mais como a segunda estrutura partidária depois do PSB. O partido governa hoje, por exemplo, o maior e mais importante estado da região, a Bahia, além de Sergipe, e tem presença decisiva em Pernambuco, Ceará, Piauí, estados onde elegeu senadores em 2010, e Maranhão, cujo vice-governador pertence aos quadros do partido.
Na Paraíba, entretanto, o PT não consegue se apresentar como uma força alternativa aos embates que se desenrolam no estado. Envolvido numa disputa interna que se arrasta há anos, o partido de Lula na Paraíba é uma força que nem aliados (quem são eles?) nem os adversários (quem são eles?) levam muito a sério, exatamente por isso: o PT está perfilado, formal e informalmente, nos dois grandes agrupamentos que na Paraíba se dividem entre os agora “ricardistas” e “as oposições”.
E isso se aprofundou com a eleição de Ricardo Coutinho ao governo do estado. Depois da posse do ex-petista, formou-se uma maioria no diretório estadual que conduziu o PT para a oposição, maioria que conta desde o início da atual legislatura com os três deputados estaduais que foram eleitos em 2010.
Como o deputado federal Luís Couto e seu grupo mantem-se indiferentes à essa posição hegemônica, não reconhecendo na prática a autoridade do Diretório Regional sobre seu grupo e seu mandato, seus aliados no partido participam tanto do governo estadual quanto da administração ricardista de João Pessoa, o que aprofunda ainda mais a divisão e as constradições internas do partido.
Mantida essa situação, é difícil acreditar que haja alguma perspectiva de que o PT dividido possa desempenhar papel relevante no embate eleitoral de 2012 no seu principal reduto que é João Pessoa e onde ainda pode sonhar com um bom resultado eleitoral.
No atual estágio desse embate interno, que tende a se tornar cada vez mais público na medida em que a data fatal para uma definição se aproxima, é difícil imaginar que diante de um fogo cruzado cada vez mais duro, o hoje pré-candidato petista, Luciano Cartaxo, tenha alguma perspectiva de vitória.
E as dúvidas sobre o resultado dessa disputa são reveladoras dos limites políticos e eleitorais de uma agremiação partidária que chegou aonde chegou porque soube manter sua unidade, mesmo diante das grandes divergências internas: o partido é de situação ou de oposição em João Pessoa? Se lança um candidato de oposição, como vai explicar ao eleitorado que não apenas apoiou a atual administração pessoense, como dela participou por oito anos, tendo o próprio candidato petista assumido a condição de líder na Câmara de Vereadores do atual governador quando este era ainda prefeito - é bom os petistas não esquecerem, pois no devido tempo os eleitores serão lembrado disso? E, caso lançado, Luciano Cartaxo terá o apoio da maioria do Diretório Municipal do partido? Será possível impedir o “fogo amigo” contra o candidato do próprio partido? Os petistas na administração hoje na administração municipal por indicação formal do partido entregarão seus cargos?
E se o PT apoiar a reeleição do atual prefeito, Luciano Agra, em que medida o partido terá forças para evitar a pecha de ser ele mera linha auxiliar do PSB na Paraíba? Como explicar ao eleitorado que o PT apóia um prefeito e candidato à reeleição do PSB e faz oposição ao governo estadual comandado pelo mesmo partido e apoiado pela mesma composição partidária? Qual será o comportamento dos deputados estaduais e da maioria do Diretório Regional diante dessa definição? Farão campanha para o prefeito ricardista, tendo sido eles até agora críticos incisivos tanto da administração municipal quanta da estadual?
Essas contradições me parecem insanáveis num processo eleitoral cujo desenvolvimento deve ser duro. E, ao que parece, não havendo possibilidades de superá-las, isso coloca em sérias dúvidas o projeto eleitoral do PT em João Pessoa e, portanto, em toda a Paraíba.
Enfim, apesar do caminho aberto para o crescimento eleitoral em 2012 numa cidade estratégica, e cuja vitória mudaria por completo o status do partido na relação de forças paraibana, mantida a divisão as perspectivas não são boas para o PT. Essa divisão não apenas limita o partido em termos políticos e organizativos, afasta a possibilidade de arregimentar aliados de peso para construir com ele uma aliança, que amplie a base social do petismo na capital.
Mas, diante do dilema interno, essa é uma questão menor para o partido. Unido, o PT pode vislumbrar um cenário onde possa ser finalmente protagonista. Dividido, será sempre presa fácil de aliados e adversários.
Eu volto com a análise do papel de Cássio Cunha Lima.
Tem 54 anos, nasceu em Patos, capital do sertão paraibano, e é professor do Departamento de História da UFPB.
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Vou esperar pela análise sobre Cássio. O que já foi adiantado vai contra todas as expectativas.
ResponderExcluirBlog do Professor Tim
ResponderExcluirPadre e deputado federal do PT, Luís Couto, é um importante ativista dos direitos humanos e defensor da Teologia da Libertação -ala da Igreja Católica que fez uma opção preferencial pelos mais pobres.
Quanto a Cássio Cunha Lima, com todos os defeitos, é um político moderno e antenado na defesa de um novo pacto federativo, com maior autonomia para estados e municípios.
Respeitosamente,
Professor Tim ou timraimundo.blogspot.com
Nova Russas - Ceará.