quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Luciano Cartaxo preferiu a companhia de outros braços

Cartaxo preferiu a companhia de outros braços
Ter sangue-frio na política não é para qualquer um. Paciência também. prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, anunciou hoje sua desfiliação do PT. Ele passa a compor os quadros do Partido Social Democrático (PSD). 

Ao fazer isso, Cartaxo não resistiu ao medo de enfrentar em João Pessoa o governador Ricardo Coutinho sem ter a certeza de contar com o apoio formal do PSDB de Cássio Cunha Lima. 

Numa conjuntura nacional em que tanto o PT quanto o governo federal se mostram acuados pelo cerco midiático.

Cartaxo viabiliza aliança com PSDB em 2016

O novo partido de Luciano Cartaxo tem pouca ou quase nenhuma identidade política e ideológica com o PT, mesmo compondo a base de apoio do governo de Dilma Rousseff. 

O seu presidente é Gilberto Kassab, que foi vice-prefeito e prefeito de São Paulo eleito quando ainda pertencia aos quadros do antigo PFL (ex-PDS, ex-Arena), depois Dem.

O PSD foi criado como ponte para atrair deputados filiados a partidos oposicionistas, especialmente Dem e PSDB, que não conseguiam sobreviver longe do governo. O presidente do PSD na Paraíba, Rômulo Gouveia, por exemplo, era um tucano-cassista quando se filiou ao partido.

Portanto, Cartaxo faz mais que uma mudança partidária. Ele muda também de campo político no país, e em momento de muita incerteza e de reconfiguração da própria esquerda.

Ao optar por se compor com partidos mais à direita do espectro político nacional, Cartaxo abandona não apenas a disputa com o PSB pela base social do campo da esquerda, que é expressiva numa cidade como João Pessoa. Ele permite que ela se unifique contra ele.

Por isso, o governador Ricardo Coutinho tem muito a ganhar com a saída de Cartaxo do PT.

No anúncio feito hoje, Cartaxo esqueceu de avisar a plateia que estava entregando de bandeja o apoio do PT – que tem o maior tempo de TV e governa o país, lembremos disso, – ao governador Ricardo Coutinho, que agradece sorridente presente tão inesperado,

Ou alguém acha que o PT vai ficar mudo diante da atitude de Cartaxo. O PT vai fazer a prefeito pessoense uma pesada crítica política, especialmente por conta do fortalecimento da aliança com os tucanos.

E com a viabilização do apoio formal do PSDB ao ex-petista, Cartaxo acaba também contribuindo em outros aspecto com a estratégia de RC, que desde o início do ano procura empurrá-lo para a posição que ele, finalmente, assumiu hoje, isolando-o à direita e aliado ao mais legítimo tradicionalismo político paraibano.

RC vai reproduzir em João Pessoa, no próximo ano, a polarização que o levou à vitória por ampla margem na cidade, em 2014. 

Enfim, a decisão de Luciano Cartaxo de sair do PT apenas é o corolários de uma trajetória pendular que ele incorporou desde que sentou na cadeira de prefeito. 

E ela pode mostrar outra coisa: que a vitória de Cartaxo em 2012 não foi mais que um relâmpago em um dia ensolarado.

PS. Com sua saída do PT, Cartaxo praticamente esvazia a candidatura de Manoel Jr., que depende muito do apoio de Cásiso e do PSDB para se viabilizar. 

A questão agora é saber se José Maranhão também está nesse acordo, o que é muito difícil, mas não impossível. Caso Maranhão não esteja, o enfraquecimento de Manoel Jr. pode levar o PMDB de volta para os braços do PSB. É o que veremos nas próximas semanas.)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A força de Luciano Cartaxo

Cartaxo vai para a disputa contra o PSB. Sentado na cadeira de prefeito.
Há uma visível euforia no eleitor ricardista. Ela se deve ao presumível rompimento da aliança com o PT e ao consequente lançamento de candidatura do PSB à prefeitura de João Pessoa no próximo ano.

E nada melhor que a inauguração de grandes e importantes obras de concreto armado para despertar e manter levantado o ânimo dessa militância que se prepara para mais uma batalha.

Mas, é bom que os socialistas evitem cometer os mesmos erros que levaram adversários de Ricardo Coutinho à derrota, tanto em 2010 quanto em 2014: a soberba, o “salto alto”.

No ano passado, os cassistas riam das chances de reeleição de RC da mesma maneira que muitos ricardistas , hoje, embevecidos pelo bom momento político e administrativo de Ricardo Coutinho, ensaiam assumir essa postura.

Em razão disso, não custa nada lembrar duas coisas: 1) quem enfrentará Luciano Cartaxo será provavelmente João Azevedo, e não Ricardo Coutinho; 2) será a gestão de Luciano Cartaxo que estará em julgamento no próximo ano, e, novamente, não a de Ricardo Coutinho.

Da mesma maneira que o eleitor, para o bem e para o mal, separa a administração municipal da federal, também separa da estadual. Eleição não é uma disputa entre esferas de poder e cada uma tem sua própria dinâmica.

E são vários os casos em que governadores muito bem avaliados foram derrotados em suas respectivas capitais.

O contrário também é verdadeiro. Em 2012, por exemplo, o PT administrava duas grandes capitais nordestinas (Recife e Fortaleza) e foi derrotado por candidatos apoiados por governadores, coincidentemente também do PSB (Eduardo Campos e Cid Gomes, este último à época no partido).

Ali, nós tivemos a conjunção de gestões municipais com problemas de avaliação e que tinham como contraponto candidatos apoiados por gestões estaduais muito bem avaliadas.

E é essa a grande questão: o que Luciano Cartaxo terá a mostrar para o eleitorado em termos de realizações de sua gestão? Ele conseguirá convencer que João Pessoa continuou avançando ou prevalecerá a ideia de que a capital retroagiu? Que seu trabalho merece ser aprofundado ou não?

A estratégia de Cartaxo parece ser a de tentar dar à sua administração um perfil mais voltado à periferia e com a população mais pobre: construção de casas populares, creches, postos de saúde.

Já imaginaram o peso dessas imagens no guia eleitoral? Os depoimentos que podem render?

Sem esquecer as grandes obras, como a reurbanização da Lagoa, que deve ser o grande marco da gestão a ser entregue às véspera da eleição.

Além da obra da Beira-Rio, que impedirá os alagamentos frequentes durante a época de chuvas e consolidará o trabalho que que visa acabar com os engarrafamentos naquela área, especialmente com a duplicação da avenida que dá acesso ao Altiplano.

Do ponto de vista político, a consolidação da candidatura de Manoel Jr tende a ser benéfica a Cartaxo, exatamente porque tem Cássio e Maranhão como seus principais fiadores – talvez só seja possível entender essa aproximação entre os dois observando os arranjos promovidos lá por cima, em Brasília.

Tem a ver com 2018? O tempo dirá.

Mesmo sem claras divergências com Luciano Cartaxo, o certo é que Manoel Jr. não pretende reforçar o projeto do governador em João Pessoa, especialmente se tiver Cássio como um dos seus principais “conselheiros”.

E nesse quadro, Cartaxo pode ter um alento no segundo turno se enfrentar o candidato do PSB, já que antes tudo parecia indicar uma perigosa situação de isolamento para o petista.

E se Cartaxo fizer um esforço para atrair Maranhão...


Enfim, como disse o próprio governador durante essa semana, muita água ainda vai rolar por baixo dessa ponte.