sexta-feira, 19 de março de 2010

O PT, Jose Maranhão e a questão da vice: o presente e o futuro

O PT paraibano deseja indicar novamente o candidato a vice-governador na chapa do PMDB de José Maranhão. É legítimo que qualquer partido tenha pretensões de ocupar o máximo de espaço político. Em grande medida, nós podemos dizer que é para isso que os partidos existem e isso é o que aproxima todos os partidos, diferenciando-os as proposições programáticas que estabelecem o caráter e os objetivos do poder.

Entretanto, para que isso aconteça não basta apenas que os partidos proclamem os seus desejos em resoluções partidárias. É preciso que, acompanhado dessa vontade política, seja demonstrada a força necessária para que suas pretensões se estabeleçam sobre a dos outros partidos, que também, obviamente, desejam a mesma coisa.

O PT na Paraíba vive esse dilema. Propõe-se a manter o espaço conquistado na chapa de 2006, indicando o mesmo nome que há quatro anos compôs com o então senador José Maranhão a chapa para o governo, mas não mostra forças suficientes para tornar efetiva sua reivindicação.

Como eu já disse aqui, os argumentos do PT – especialmente do interessado mais direto, o atual vice-governador, Luciano Cartaxo – se resumem a afirmar a força do governo Lula e do tempo de TV que o partido dispõe, o que, convenhamos, não é pouca coisa, mas tem pouco a ver com a força que o partido dispõe no estado: dois deputados estaduais, um deputado federal, 6 prefeitos, sendo que a prefeita da mais importante cidade comandada por petistas – Pombal – não segue a orientação partidária e vive às turras com o próprio partido na cidade.

Não bastasse isso tudo, o PT está literalmente rachado ao meio, e suas lideranças vivem se atacando publicamente. A principal liderança do PT no estado, o deputado federal Luis Couto, acompanhado de seu grupo que controla os cargos que o partido detém na prefeitura de João Pessoa, divergem frontalmente das orientações da atual direção regional, ao ponto de, para acomodar seus interesses, defenderem dois palanques para o PT e sua candidata a presidente na Paraíba.

É bom registrar que esse mesmo grupo não diz um pio contra a aliança nacional do PT com o PMDB, ao contrário, não só vêem nisso sinal de "amadurecimento" de ambos os partidos, como propalam aos quatro ventos que o PMDB será um importante aliado para a construção do novo modelo de desenvolvimento que o governo Lula – e o de Dilma Rousef, futuramente – tentam colocar em prática! Coisas do petismo paraibano...

Assim sendo, se as bases políticas do PT na Paraíba já são frágeis, a sua divisão o torna uma caricatura do que o partido é no plano nacional. Isso fica claro quando o grupo minoritário, não perdendo a oportunidade de criar mais confusão no interior do PT, continua a defender a proposta que foi derrotada na eleição interna do PT, qual seja, o apoio à candidatura de Ricardo Coutinho ao governo – que, é sempre bom lembrar, conta com o apoio do PSDB e do DEM, inimigos históricos do PT e de Lula.

Escutei num dos programas de rádio de João Pessoa o anúncio da formalização dessa iniciativa por parte de um destacado membro do grupo de Luís Couto, e o argumento apresentado revela o alto grau de diversionismo que essa banda do PT esboça como principal forma de fazer a disputa interna: defendem o apoio à candidatura de Coutinho como uma “reação” à desmoralização a que estão sendo submetidos o vice-governador e o PT por conta da recusa do PMDB em aceitar a indicação da manutenção de Luciano Cartaxo no cargo que ele ocupa atualmente. É risível porque também é patético.

A ação não apenas objetiva criar confusão interna dentro do PT, mas ajudar a direcionar baterias ameaçadoras contra o PMDB, reforçando a frágil posição que ocupa Luciano Cartaxo, que parece não se sentir confortável com a defesa que o grupo majoritário faz da sua candidatura. O ato de buscar a todo custo ser candidato, mesmo com a recusa de José Maranhão e do PMDB, diz muito do nível político do PT paraibano. E da fragilidade política do atual vice-governador, que age como um animal de estimação rejeitado que, mesmo sendo empurrado para fora de casa, insiste em permanecer, mesmo que para isso tenha que enfiar suas unhas nas pernas do dono da casa.

Além desse movimento interno, que o grupo de Luis Couto aparentemente recebe de bom grado, vendo nisso a oportunidade de estimular o racha no grupo majoritário, Cartaxo busca sustentação fora do PT, especificamente na Rainha da Borborema, e, mais especificamente ainda, na família Vital do Rego.

É mesmo o que lhe resta. Não sei bem por que, mas escrevendo isso, senti aquela entranha sensação de déjà vu. Analisando bem, é isso mesmo: eu já assisti esse filme em algum lugar.

Em 2006, como o PSB já tornou público, Cartaxo conseguiu a sua indicação para vice-governador depois de não apenas se comprometer com a candidatura a governador de Ricardo Coutinho, em 2010, mas de assinar um documento, firmando ali a assinatura do seu compromisso. Isso tudo sem o conhecimento e à revelia do PT, partido de Luciano Cartaxo.

Estranhamente inserido de última hora entre os candidatos do PT, o ex-líder de Coutinho na Câmara de Vereadores foi um tértius que só foi indicado depois do impasse gerado por conta da indicação do vice, e dos continuados vetos colocados por Ricardo Coutinho aos nomes apresentados pelo PT, inclusive à candidatura de Luís Couto. Como é surpreendente a política! Agora sabemos como Cartaxo viabilizou sua candidatura a vice. Veja abaixo cópia do documento e do "compromisso público" secreto.

Dois anos e meio depois, Cartaxo não contou conversa e desdenhou do documento assinado e se jogou nos braços de José Maranhão, renegando o apoio dado àquele que foi, na verdade, o responsável por sua ascensão ao cargo de vice-governador, mesmo que Cartaxo, antes de 2006 e depois de várias tentativas, não tenha conseguido sequer se eleger deputado estadual.

Hoje, no rastro da indefinição sobre a candidatura do prefeito de Campina Grande, Cartaxo cava o seu lugar e tem novamente a boa acolhida de um aliado externo interessado em evitar que a vice-governadoria caia nas mãos de alguém que possa, em 2014, criar dificuldades para a sua candidatura ao governo.

O problema dessa estratégia é que em cada eleição é plantada a semente da próxima. No caso, para essa semente germinar, é necessário vencer a eleição para o governo estadual, caso contrário, os projetos envolvidos ameaçam ruir antes do tempo. Depois disso, o que se plantou em 2010 precisa ser muito bem cuidado, especialmente se houver um governador disposto a regar a semente para que ela vire planta e floresça.

E é isso que está em jogo agora. José Maranhão quer não apenas ter o controle sobre suas alianças, indicando um vice de sua confiança, mas estabelecer as condições de conduzir a sua sucessão. É por isso que ele não vai entregar a vice a Luciano Cartaxo, porque, além de fragilizar sua candidatura em 2010, isso significaria perder o controle das definições a respeito de quem vai sucedê-lo.

Caso José Maranhão se reeleja em 2010 e se afaste para concorrer ao Senado em 2014, a ascensão de Cartaxo ao cargo de governador abriria, pelo menos, duas hipóteses para o futuro das disputas eleitorais: 1) ele apoiaria Veneziano Vital, mantendo o acordo que atos e palavras demonstram que foi celebrado, ou 2) ele seria candidato à reeleição, depois de declarar que não resistiu às “pressões” internas para que o PT lançasse candidato ao governo. Com o governo nas mãos, o que ele teria a perder?

Nas duas hipóteses, José Maranhão deixaria de ser peça-chave na condução de sua sucessão, a não ser que ele resolvesse permanecer no cargo. Portanto, o que está em jogo hoje não é apenas a disputa de 2010. Todos os atores importantes (aqueles que estão envolvidos no tabuleiro de xadrez da política paraibana) enxergam muito mais à frente, especialmente quem está no controle do processo.

Caso não seja Veneziano Vital o vice, dificilmente será Luciano Cartaxo, que entrou no desesperado (e perigoso) jogo da intimidação, o que fragiliza ainda mais a sua candidatura, pois insere um elemento que ainda não existia: a desconfiança.

Até o início de abril, teremos todos os futuros jogadores em campo. Por ora, vale a pena lembrar para os candidatos a vice de José Maranhão, um ditado popular: quem tudo quer...

2 comentários:

  1. Esse é um grande beco sem saída para o PT, que recebeu promessa falsa de Maranhão durante o processo interno. Muitos simplesmente sabiam onde isso ia parar e fecharam os olhos. Depois que Rodrigo ganhou, Maranhão mostrou as garras e quer ver o PT pelas costas. Ele quer se aproveitar do PT, da imagem de Lula e Dilma e não dar nada em troca, pois quer fazer o seu e o de seu partido, em segundo lugar.
    O PT simplesmente vai se dar mal, pode começar uma derrocada, e Rodrigo Soares pode ser o 1º a pular do barco, como foi o comandante para o naufrágio.

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  2. Não sei porque o PT ainda acredita em Luciano Cartaxo. Ele sempre foi como Ricardo Coutinho quando era do PT, e nunca ajudou a construir o partido. Apoiou Cícero Lucena quando era prefeito, traiu a candidatura do PT (Avenzoar) em 2004 para apoiar Ricardo, tanto que foi lider dele na Câmara, e assinou esse documento de compromisso com Ricardo em 2006, sem que nem mesmo o PT soubesse. Não merece um pingo de confiança. Para atingir o poder esse rapaz passa até por cima da mãe.

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