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Cartaxo preferiu a companhia de outros braços |
Ter sangue-frio na política não é para qualquer um. Paciência
também. O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, anunciou hoje sua desfiliação do PT. Ele passa a compor os quadros do Partido
Social Democrático (PSD).
Ao fazer isso, Cartaxo não resistiu ao medo de enfrentar em
João Pessoa o governador Ricardo Coutinho sem ter a certeza de contar com o apoio formal
do PSDB de Cássio Cunha Lima.
Numa conjuntura nacional em que tanto o PT quanto o governo federal se
mostram acuados pelo cerco midiático.
Cartaxo
viabiliza aliança com PSDB em 2016
O novo partido de Luciano Cartaxo tem pouca ou quase nenhuma
identidade política e ideológica com o PT, mesmo compondo a base de apoio do
governo de Dilma Rousseff.
O seu presidente é Gilberto Kassab, que foi vice-prefeito
e prefeito de São Paulo eleito quando ainda pertencia aos quadros do antigo PFL (ex-PDS, ex-Arena),
depois Dem.
O PSD foi criado como ponte para atrair deputados filiados a
partidos oposicionistas, especialmente Dem e PSDB, que não conseguiam sobreviver longe do governo. O presidente do PSD na
Paraíba, Rômulo Gouveia, por exemplo, era um tucano-cassista quando se filiou ao partido.
Portanto, Cartaxo faz mais que uma mudança partidária. Ele
muda também de campo político no país, e em momento de muita incerteza e de reconfiguração da própria esquerda.
Ao optar por se compor com partidos mais à
direita do espectro político nacional, Cartaxo abandona não apenas a disputa com o PSB
pela base social do campo da esquerda, que é expressiva numa cidade como João
Pessoa. Ele permite que ela se unifique contra ele.
Por isso, o governador Ricardo Coutinho tem muito a ganhar
com a saída de Cartaxo do PT.
No anúncio feito hoje, Cartaxo esqueceu de avisar a plateia que
estava entregando de bandeja o apoio do PT – que tem o maior tempo de TV e governa
o país, lembremos disso, – ao governador Ricardo Coutinho, que agradece
sorridente presente tão inesperado,
Ou alguém acha que o PT vai ficar mudo diante da atitude de Cartaxo. O PT vai fazer a prefeito pessoense uma pesada crítica política, especialmente por conta do fortalecimento da aliança com os tucanos.
E com a viabilização do apoio formal do PSDB ao ex-petista, Cartaxo
acaba também contribuindo em outros aspecto com a estratégia de RC, que desde o início do ano procura
empurrá-lo para a posição que ele, finalmente, assumiu hoje, isolando-o à
direita e aliado ao mais legítimo tradicionalismo político paraibano.
RC vai reproduzir em João Pessoa, no próximo ano, a
polarização que o levou à vitória por ampla margem na cidade, em 2014.
Enfim, a decisão de Luciano Cartaxo de sair do PT apenas é o corolários de uma trajetória pendular que ele incorporou desde que sentou na cadeira de prefeito.
E ela pode mostrar outra coisa: que a vitória de Cartaxo em 2012 não foi mais que um relâmpago em um dia ensolarado.
PS. Com sua saída do PT, Cartaxo praticamente esvazia a candidatura de
Manoel Jr., que depende muito do apoio de Cásiso e do PSDB para se viabilizar.
A questão agora é
saber se José Maranhão também está nesse acordo, o que é muito difícil, mas não
impossível. Caso Maranhão não esteja, o enfraquecimento de Manoel Jr. pode levar o PMDB de volta para os braços do PSB. É o que veremos nas próximas semanas.)