Não foi por acaso que a iniciativa da apresentação da Agenda
Brasil foi feita via Renan Calheiros e o Senado. A intenção é fortalecer o Presidente
do Senado não apenas como interlocutor privilegiado do governo, mas como alguém
que tem responsabilidade política e institucional.
Renan já foi escolhido e aceitou o papel para ser o anti-Eduardo
Cunha, o Presidente da Câmara que, de uma hora para outra, virou pó porque não
soube entender o mecanismo de funcionamento histórico a respeito de como são promovidas
as grandes mudanças no Brasil, assunto que, aliás, Lula é um grande mestre.
O método sempre teve por princípio evitar os grandes
enfrentamentos, cujo desfecho, especialmente nesse caso, tem sempre um quê de
imprevisibilidade.
Eduardo Cunha foi sempre estimulado pela grande mídia a enfrentar
Dilma e o PT, mas sempre foi mantido na rédea curta.
Mesmo antes do acordo
pretendido ser anunciado, Eduardo Cunha fá havia sido devidamente rifado e
espera apenas que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, não sem um
certo prazer, emparedar Cunha, que deve ser afastado da Presidência da Câmara
para que a nova ordem se estabeleça sem muitos sobressaltos.
Notem que o clima já mudou também no TCU, outro espaço onde
o “golpe” prosperava: ontem, Dilma ganhou mais 15 dias para se “explicar”. Alguém
tem dúvida que lá também Dilma se salvou?
Até mesmo os vazamentos da Lava Jato deram um tempo – sem a
audiência da Globo e Folha o delegados aecistas ficam sem palanque.
Restará o último bastião do aecismo, que é o TSE, o último
recurso para que “novas eleições” sejam realizadas. Como Gilmar Mendes sempre
foi mais obediente a FHC e à Globo, o futuro da chapa Dilma-Temer estará assegurado
por lá também.
Resta observar as implicações políticas da incorporação da
Agenda Brasil por Dilma.
A
peemedebização do governo Dilma
Logo após a eleição de 2014 numa entrevista que ganhou
notoriedade ao Manhattan Connection, da Globo News, porque, entre outras
coisas, ajudou a desfazer um velho preconceito em relação aos votos dos mais
pobres no Brasil pós-Lula, o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor
do livro A Cabeça do Brasileiro, chamou
a atenção para o papel do PMDB na política brasileira.
Na ocasião, Almeida comparou o Brasil com a América Latina
radicalizada politicamente, em especial a Argentina.
Segundo ele, falta à
Argentina um partido como o PMDB, que é, desde 1985, o principal fiador, vamos
chamar assim, da estabilidade política no Brasil e que, gestão a gestão, vem
permitindo a governabilidade.
O que não acontece na Argentina desde 1930, onde só
presidentes peronistas conseguiram concluir seus mandatos até hoje.
Depois do impeachment de
Collor – governo do qual o PMDB não participou formalmente, diga-se de passagem
– o PMDB foi peça-chave nos governos FHC, Lula e Dilma.
E quando ameaçou ir para a oposição contra Dilma, foi um
fator decisivo de instabilidade política que deu asas aos que um dia sonharam
com o impeachment da atual presidenta.
Vê-se agora porque a opção para o enfrentamento da crise
política nunca foram mobilização das ruas.
Lula ameaçava, mas continuou a “aconselhar” Dilma a uma reaproximação
com o PMDB. Até que o “ponto ótimo” fosse atingido.
E será o PMDB novamente o partido que, reaglutinado em torno
de Renan Calheiros e Michel Temer – é bom ninguém esquecer o vice-presidente, que
certamente foi decisivo ao não estimular a radicalização golpista – quem desempenhará
novamente o papel que promoverá a estabilidade política ao país, depois de
quase 10 meses de uma confusão que nos aproximou muito de uma grave crise
institucional.
No entanto, é bom observar o que se segue: o PMDB certamente
tem sido determinante para a estabilidade política no Brasil, mas a um custo político
muito alto por conta de sua marca predominantemente conservadora.
É um erro, portanto, pensar que o PMDB é movido apenas pelo fisiologismo.
Não foi apenas o PMDB a ser decisivo para impedir que
determinadas políticas de viés mais transformador, como reforma agrária e
reforma política, por exemplo, prosperassem durante os governos petistas, cujas
bases parlamentares eram um verdadeiro samba-d0-criolo-doido ideológico.
Ainda
hoje é assim.
Mas, pelo peso que sempre ocupou nas bancadas de sustentação,
certamente o PMDB foi decisivo para manter os governos petistas “nos eixos”.
Por isso, mesmo sendo a “Geni” da política brasileira, o
PMDB, cuja formação predominantemente é de centro, e mesmo que comporte até políticos
de esquerda, como Roberto Requião, continua sendo essencial ao conservadorismo
no país.
Enfim, diante da fragilidade do governo Dilma, o PMDB terá
um papel cada vez mais decisivo para levar o governo à frente e concluí-lo em
2018, encarcerado no conservadorismo do PMDB.
E mesmo que a tal “Agenda Brasil” não seja totalmente
aprovada e posta em execução – ela não foi elaborada para isso mesmo porque, em
toda negociação, os bons negociadores pedem o máximo para conseguirem o possível*,
– o governo Dilma perde as condições para criar um novo ciclo de crescimento
suficientemente forte para arrancar-lhe da inação política.
É o fim do ciclo do PT.
PMDB e
PT
Essa situação deve promover uma reacomodação de forças
internas no PT. Muita gente deve abandonar o partido até 2018.
É bem provável que um novo partido
deva nascer dessa crise, talvez um partido-frente de centro-esquerda que
consiga acomodar os insatisfeitos com a saída negociada para a crise, dentro e fora do PT.
Mesmo assim, Dilma e Lula conseguirão manter o PT com alguma
força política e eleitoral. E a possível candidatura de Lula deve sirvir principalmente para isso.
O certo é que, nessa situação, o petismo que não rejeita o
PMDB, normalmente que tem os peemedebistas com adversários nos seus estados, como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, só para citar dois exemplo, ganhará força no PT e essa aliança pode ser consolidada em alguns estados.
A Paraíba pode ser um deles.
Mesmo sem muito tempo para curar
as feridas abertas desde 2010, aprofundadas em 2012 e 2014, se o PT paraibano,
leia-se Luciano Cartaxo, for habilidoso o suficiente pode disputar com o PSB o apoio do PMDB, em 2016, especialmente se
tiver visão estratégica, de médio e longo prazos, que é o que falta muito ao
partido.
As condições vão amadurecer ainda, mas é preciso se preparar
para elas.
* Essa lógica, claro,
não inclui setores do sindicalismo do serviço público federal, especialmente a
Andes.
Pertinente sim, e nada nais conservador que um liberal no poder, a voz da história atesta. Um pequeno retoque apenas, na minha modéstia opinião, é ver com claridade o surgimento do trabalhismo no Brasil, a fundação do PT e suas ligações com setores conservadores europeus, disfarçadamente progressistas, a exemplo a intelectualidade religiosa, que desde sempre serve o Estado do Vaticano. Atentai bem, nossa sociedade não discute os temas nacionais, e também políticos mais profundamente, pois sempre foi adestrada a obedecer, essa sim é a logica, que nunca foi alvo de nenhum movimento revolucionário, muito menos de setores que se auto intitulam "de esquerda". O Brasil, governado por liberais, PMDB, PSDB e PT, desde a redemocratização nunca discutiu democraticamente grandes temas, sempre concentrou poder de forma autocrática, não priorizou o desenvolvimento regional, não investiu em educação como ferramenta de desenvolvimento de médio e longo prazo, e transformou a maquina pública em um monstro que devora mais de 42% do PIB anualmente, fazendo nosso país ter quase a metade de tudo que produz gerido pelo poder público de forma temerária, historicamente. De fato, o Brasil não é um país sério.
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