quinta-feira, 2 de julho de 2009

AS OPÇÕES DE CÁSSIO CUNHA LIMA

Acho que o maior dilema de Cássio Cunha Lima a respeito do seu futuro político mais imediato deve ser se ele sai ou não do PSDB. Se essa decisão não implicasse em problemas para os seus aliados com mandato, que ainda terão que se manter filiados a esse partido por conta da Lei da Fidelidade Partidária, certamente essa decisão seria muito mais fácil. Porque, se considerarmos as atitudes do ex-governador e os esforços feitos durante sua permanência no Governo da Paraíba para uma aproximação política com o presidente Lula, além da conhecida desconfiança da direção nacional do PSDB em relação à fidelidade de Cássio, não seria difícil adivinhar qual seria a mais importante decisão anunciada pelo ex-governandor no seu retorno dos Estados Unidos.

É também fácil de constatar o incômodo que deve ser para o ex-governador permanecer num partido que tem apenas um governador no Nordeste, Teotônio Vilela Filho, cuja chance de se reeleger é mínima para o Governo de Alagoas, em 2010, numa região onde o presidente Lula alcança mais de 90% de aprovação e onde sua candidata a presidente, a até então desconhecida Dilma Roussef, já ultrapassa José Serra, o candidato do PSDB, – isso a um ano e três meses da eleição. A expectativa é que ela obtenha no Nordeste, com a desistência de Ciro Gomes em seu favor, uma expressiva diferença difícil de ser superada em outras regiões do país.

Esses dois fatores, articulados a uma quase completa escassez das máquinas de governo nas três instâncias (Federal, Estadual e Municipal), deixam muitas dúvidas a respeito do futuro político do ex-governador, caso ele se mantenha no PSDB. Distante dos Governos Federal e Estadual, Cássio provavelmente vai sentir com mais força agora o quanto foi pesada a derrota do PSDB e do DEM nas eleições de 2008, na Paraíba. Porque, excetuando-se, por enquanto, João Pessoa, mas cujo prefeito se elegeu numa frente contra o partido do governador, quase todos os principais colégios eleitorais da Paraíba tem Prefeituras controladas por aliados do Governador José Maranhão. E, considerando-se que, tradicionalmente, um considerável contingente de prefeitos de pequenas cidades, mesmo os eleitos pelos partidos atualmente na oposição – e a maior parte dos prefeitos considerados cassistas estão nesse meio – têm uma "propensão" a apoiar o governador de plantão, qualquer que seja ele, a situação do ex-governador nem de longe se assemelha a dos últimos embates estaduais (2002 e 2006).

Para quem não está acostumado a remar contra a maré...

É claro que, como um político sagaz, Cássio vem sabendo se movimentar num quadro que lhe é amplamente desfavorável. Ele sabe, por exemplo, tanto quanto José Maranhão, o quanto ter expectativa de poder é um fator aglutinador. Por isso, a meu ver, a primeira parte da estratégia cassista almeja um duplo objetivo: a manutenção do apoio (formal, isto é, sem nenhuma ação concreta) à candidatura de Cícero Lucena objetiva manter de pé seu vínculo partidário e a porta aberta no PSDB, caso, por exemplo, Cássio avalie, até o fim de setembro, que a vitória da candidatura de José Serra se apresente viável ou que uma mudança de partido lhe provoque mais inconvenientes e prejuízos políticos.

Por outro lado, os acenos a Ricardo servem para manter a expectativa de poder do seu grupo visando imobilizar, até que o quadro se defina, possíveis aderentes a Maranhão. Qualquer que seja sua opção futura, Cássio procura manter a todo custo pelo menos uma parte considerável do seu espólio. É da indefinição, portanto, sobre quem vai ser o próximo governador que se alimenta, por enquanto, a estratégia cassista, e o discurso amplamente disseminado de que Ricardo Coutinho só vence com o apoio do ex-governador compõe parte decisiva dessa estratégia. Quem mudar de lado agora e tomar a decisão errada...

Além disso, o apoio à candidatura de Ricardo Coutinho pode representar não apenas um palanque competitivo para o governo – que Cássio ainda não tem - para dar suporte a sua candidatura ao Senado. Como conseqüência disso, ele ainda consegue o afastamento dessa disputa de um dos dois únicos concorrentes (o outro seria Veneziano) com força para desbancá-lo nessa disputa caso compusessem uma mesma chapa para o Senado. Além disso, e tão importante quanto, o apoio a Ricardo representaria um meio de aproximação com a candidatura de Dilma Roussef. e, portanto, com o esquema do presidente Lula, neutralizando-os na disputa estadual

Portanto, nos dois casos, a dúvida principal de Cássio – e o provável principal motivo de sua viagem para os EUA, mais do que a propalada necessidade de descanso e do aprendizado em inglês – remete a quem será o ou a futuro (a) Presidente da República, se Serra ou Dilma. Cássio provavelmente foi ganhar tempo, esperando o quadro nacional amadurecer para que ele possa tomar uma decisão com a maior segurança e o menor risco possível.

Senão, vejamos. Em termos estritamente pragmáticos, se o ex-governador tem como certa sua eleição para o Senado, sua vitória como filiado ao PSDB, associada a uma vitória de Dilma, o prenderia na oposição por todo o seu mandato por conta da Lei da Infidelidade Partidária. E se Lula for candidato em 2014... Dessa maneira, ele teria que enfrentar suas prováveis futuras pretensões eleitorais a prefeito de Campina e a governador, em 2012 e 2014, respectivamente, num partido de oposição. Cássio ainda tem fôlego para isso? Por outro lado, uma vitória de Cássio num partido como, por exemplo, o PTB – ou seja, um partido que é governo seja quem ganhe, – associada à vitória de Serra, sua filiação petebista certamente não seria o óbice a uma aproximação futura com um improvável governo serrista.

Em termos políticos mais gerais, não deve passar ao largo da análise do governador o processo de renovação por que passa a política nordestina, hoje, e que teima em não chegar à Paraíba, em grande medida pela habilidade tanto de Cássio como de Maranhão. Creio que esse processo não se trata de um fenômeno cuja determinação esteja exclusivamente associada à ascensão de Lula ao poder. Trata-se de um esgotamento do modelo tradicional da política nordestina. Novas lideranças estão surgindo em todos os estados e ousando confrontar essa estrutura.

O fator determinante para tornar viável eleitoralmente essas alternativas, sem dúvida, foi o governo Lula e suas políticas de combate à pobreza, que solidarizou parcelas expressivas da população mais pobre com Lula e seus candidatos. De origem marcadamente urbana e de classe média, essas forças já alcançavam uma influência crescente nas grandes cidades nordestinas, mas careciam de vínculos com essa população mais pobre do interior da região. O governo Lula produziu esse encontro, e quem subestimar esse fenômeno pode se dar mal, pois só ele pode explicar, por exemplo, a vitória do PT na Bahia contra o esquema tradicionalíssimo do coronel eletrônico Antonio Carlos Magalhães. Eis o elemento, digamos, estrutural que falta às análises da política paraibana e que, é claro, apresentou-se aqui de maneira superficial. Talvez eu volte a abordar essa questão de maneira mais detida no futuro.

Na Paraíba, faltaria a ousadia necessária de um candidato capaz de expressar e de produzir essa alternativa. Ou seja, articulado ao processo de mudança que foi detonado, em vários campos, depois da vitória de Lula, em 2002, e que só com a vitória de Dilma poderá ter continuidade, e que só com a vitória de governadores comprometidos com esse projeto daria a ele a consistência necessária para aprofundar as mudanças.

Por isso, acredito ser grande a possibilidade de Cássio Cunha Lima sair do PSDB e se filiar a um dos partidos da base de Lula. Seria um esforço para dar sobrevida e perspectiva à sua liderança política e ao seu projeto familiar. Com esse movimento, Cássio abriria caminho para uma reaproximação com a esquerda, retomando um contato que havia se iniciado em 2001, quando ele esteve muito próximo de sair do PMDB para se filiar ao mesmo PTB que hoje lhe abre portas e janelas.

Em 2001, a opção de Cássio foi pelo PSDB e pelo apoio à candidatura de Serra à Presidência da República, para confrontar o candidato de Maranhão com outras duas poderosas máquinas, a do Governo Federal e a "máquina eleitoral" do PSDB, isto é, o poderio econômico daquele partido, o que quase lhe custou uma eleição para governador, até então tida como certa.

Agora, Cássio Cunha Lima deve estar diante do mesmo dilema. Repetirá ele o mesmo erro?

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