quarta-feira, 15 de julho de 2009

RICARDO ATRAVESSOU O RUBICÃO?

......................Julio Cesar atravessando o Rio Rubicão

Aqueles que ainda mantêm as sinceras esperanças de uma chapa alternativa e de esquerda nas eleições de 2010, com Ricardo Coutinho liderando essa aliança contra os esquemas tradicionais da política paraibana, podem abandoná-las. Ricardo está embalado definitivamente nos braços de Cássio Cunha Lima, apesar dos esforços desesperados dos ciceristas em demonstrar o contrário, e de alguns petistas que temem estar entrando numa "barca furada", com sérias chances de perderem o discurso e a disputa interna que se avizinha.

E isso não só os fatos cuidam de demonstrar com toda a nitidez possível – vejam por quem Ricardo Coutinho anda sendo recebido de maneira entusiasmada por todo o interior do estado –, assim como pessoas bastante próximas do prefeito de João Pessoa já tem a celebração dessa aliança como favas contadas. Porque haveria eu, então, de insistir na tese em contrário? É possível debater a realidade, não brigar com ela.

Alguns desses ricardistas têm até o cuidado de esboçar alguma justificativa política; outros, nem isso. Nos dois casos, é clara a opinião de que só com a aliança com os Cunha Lima seria capaz de neutralizar o poderoso projeto de reeleição que o governador José Maranhão monta atualmente. No afã ricardista de realizar essa aliança, já está lançada a chapa dos sonhos: Ricardo governador e Ivandro Cunha Lima vice! Eis que se pronunciam mudanças políticas de profundidade na pequenina!

Impressiona como o apelo ao pragmatismo político supera de longe qualquer veleidade ideológica, qualquer linha política nas trajetórias construídas dos sujeitos em disputa, qualquer esforço de restabelecer o que sempre separou e, para mim, continua a separar, a esquerda da direita. Estão todos os ricardistas embebidos pelo que se convencionou chamar na academia de fim da política! Eis o solo em que eles pisam: o terreno onde já não existem diferenças fundamentais e que alianças são meros estratagemas para se chegar ao poder, mesmo que elas neguem o sentido mais profundo de um projeto de mudança. Talvez seja por isso que, como um mantra, Armando Abílio vive agora a falar de orçamento democrático e participação popular. Ele deve entender muito disso mesmo! As companhias, pelo jeito, fazem um bem danado para as idéias.

Os ricardistas estão equivocados. Essa será uma decisão que representará uma espécie de “travessia do Rubicão” na trajetória política de Ricardo Coutinho, uma decisão sem volta. Essa aliança o tornará prisioneiro de um grupo decadente e sem perspectiva na vida política paraibana. Ele será consumido por ele, e não o contrário, e Ricardo será transmutado em mais um cassista, assim como são e foram tantos outros (Cozete, Cícero...)

Essa passagem trágica da história romana que, en passant, fizemos referência acima, deu início a uma guerra civil quando o general Júlio César atravessou com suas tropas o Rio Rubicão e dirigiu-se para Roma para acabar com a República e instaurar uma ditadura. O Rubicão não era, portanto, uma fronteira natural, dado sua inexpressividade como rio, mas uma fronteira política cuja existência estava ligada à proteção da República Romana e de sua democracia. Atravessá-lo com tropas e sem autorização da República significava uma declaração de guerra. Foi, portanto, a obsessão de Júlio César pelo poder que destruiu a República Romana. Quando ele finalmente atravessou o Rubicão e pronunciou a conhecida expressão alea jacta est (a sorte está lançada), estava se referindo a si próprio, mas ele também lançara junto a sorte da democracia em Roma.

Quando Ricardo finalmente transpor o seu Rubicão ao oficializar a aliança com os Cunha Lima, sua sorte estará lançada. Com ela também a sorte de um projeto político que, no médio prazo, se tornará inexequível, a não ser que uma outra liderança surja e tenha, além da legitimidade necessária, a coragem de enfrentar esse desafio. Não mais Ricardo. Ele terá perdido a legitimidade e, com ela, a oportunidade histórica. Júlio César venceu a guerra civil que se estabeleceu em seguida à sua decisão de transpor o Rubicão, e entrou para a história como o gênio militar invencível que tornou o Império Romano maior do que fora o Império de Alexandre, o Grande. Mas, Júlio César ficou também conhecido como o "Ditador Perpétuo" que destruiu a democracia em Roma. Foi o preço que ele pagou por sua ambição desmedida. E governou até ser traído e morto por Brutus, seu filho adotivo, e por Caio Cássio, general que combateu Júlio Cesar e por quem foi derrotado, tornando-se depois seu aliado. Caio Cássio tinha como um dos seus amigos o filósofo e político Marco Túlio Cícero. Não há, obviamente, comparação possível entre os personagens. Quanto aos nomes, são apenas coincidências antroponímicas, nada mais.

Na Paraíba, portanto, o jogo volta a ser jogado entre os jogadores de sempre, com Maranhão e o PMDB, de um lado, e os Cunha Lima, com Ricardo Coutinho, de outro. Resta à esquerda paraibana agora, portanto, o desafio nacional de impedir que o PSDB volte ao poder. Unir-se em torno desse objetivo é o que dará sentido à luta política em nosso estado de hoje em diante.

Um comentário:

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